Ao longo deste tempo,
manteremos o olhar fixo em Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12,
2): n’Ele, encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano.
A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do
perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo
isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se
homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a
força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação,
encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa
história de salvação. Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no
anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38).
Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas
que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e
trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade
(cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim
de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu
o Senhor na sua pregação e permaneceu ao seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19,
25- 27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e,
conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos
Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Act 1,
14; 2, 1-4). Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc
10, 28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus
presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11, 20). Viveram em comunhão de vida
com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de
vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da
morte d’Ele (cf. Jo 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo
ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16, 15) e, sem temor
algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis
testemunhas. Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta
do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum
aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Act 2, 42-47).
Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho
que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com
o perdão dos seus próprios perseguidores. Pela fé, homens e mulheres
consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade
evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem
aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram
promotores de uma acção em prol da justiça, para tornar palpável a palavra do
Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos
(cf. Lc 4, 18-19). Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas
as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8),
confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a
dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública,
no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados. Pela fé, vivemos também
nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história.
(Bento XVI, Porta Fidei, nº 13)
PALAVRA COM SENTIDO
PALAVRA COM SENTIDO
“… Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo…” (cf. Lucas 3, 16)
“…Neste domingo depois da Epifania, celebramos o Baptismo de Senhor, fazendo memória grata do nosso Baptismo.
O Evangelho apresenta-nos Jesus nas águas do rio Jordão, no centro de uma maravilhosa revelação divina. São Lucas escreve: «Enquanto Jesus, tendo também Ele recebido o baptismo, estava em oração, o céu abriu-se e sobre Ele desceu o Espírito Santo em forma corpórea, como uma pomba; e do céu ouviu-se uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu enlevo”» (Lc 3, 21-22). Deste modo Jesus é consagrado e manifestado pelo Pai como o Messias, salvador e libertador.
Neste acontecimento — testemunhado pelos quatro Evangelhos — verificou-se a pas-sagem do baptismo de João Baptista, assente no símbolo da água, para o Baptismo de Jesus, «no Espírito Santo e no fogo» (Lc 3, 16). Com efeito, no Baptismo cristão o Es-pírito Santo é o principal artífice: é Ele que queima e destrói o pecado original, restitu-indo ao baptizado a beleza da graça divina; é Ele que nos liberta do domínio das trevas, ou seja do pecado, transferindo-nos para o reino da luz, ou seja do amor, da verda-de e da paz: este é o reino da luz. Pensemos a que dignidade nos eleva o Baptismo! «Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos realmente!» (1 Jo 3, 1), exclama o apóstolo João. Esta realidade maravilhosa de ser filhos de Deus comporta a responsabilidade de seguir Jesus, o Servo obediente, reproduzindo em nós mesmos os seus lineamentos: ou seja, mansidão, humildade e ternura. E isto não é fácil, especialmente quando ao nosso redor há tanta intolerância, soberba e dureza. Mas com a força que nos vem do Espírito Santo, isto é possível!
O Espírito Santo, recebido pela primeira vez no dia do nosso Baptismo, abre o nosso coração à Verdade, à Verdade inteira. O Espírito impele a nossa vida pelo caminho exigente mas jubiloso da caridade e da solidariedade para com os nossos irmãos. O Espírito confere-nos a ternura do perdão divino, permeando-nos com o vigor invencível da misericórdia do Pai. Não esqueçamos que o Espírito Santo é uma presença viva e vivificadora em quantos o recebem, reza em nós e enche-nos de alegria espiritual.
Hoje, festividade o Baptismo de Jesus, pensemos no dia do nosso Baptismo. Todos nós fomos baptizados, demos graças por esta dádiva! E dirijo-vos uma pergunta: quem de vós sabe a data do seu Baptismo? Certamente, nem todos a sabem. Por isso, convido-vos a ir à procura da data, por exemplo perguntando aos vossos pais, aos vossos avós, aos vossos padrinhos, ou então indo à paróquia. É muito importante sabê-la, porque se trata de uma data que deve ser festejada: é o dia do nosso renascimento como filhos de Deus. Portanto, eis o dever de casa para esta semana: ir cada qual à procura da data do próprio Baptismo. Celebrar este dia significa confirmar a nossa adesão a Jesus, assumindo o compromisso de viver como cristãos, membros da Igreja e de uma nova humanidade, na qual todos são irmãos.
A Virgem Maria, primeira discípula do seu Filho Jesus, nos ajude a viver com alegria e fervor apostólico o nosso Baptismo, acolhendo cada dia o dom do Espírito Santo, que nos transforma em filhos de Deus…” (Papa Francisco, Oração do Angelus, Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2016)