SANTA
MADALENA SOFIA BARAT
Madalena Sofia Barat nasceu na noite do dia 12 de
Dezembro de 1779, em Joigny, na Borgonha, França, filha de Jacques Barat e de
Madeleine Fouffé Barat. Nasceu prematura, devido a um incêndio assustador que
arrasou a casa vizinha àquela em que moravam os seus pais. A sua mãe quase
perdeu a vida e Madalena, na iminência de morte, foi baptizada às cinco horas
da manhã do dia 13, na Igreja de São Teobaldo, que ficava a poucos metros da casa da família Barat.
Embora os seus pais tivessem já escolhido os seus padrinhos, sendo impossível
contactá-los àquela hora, pediram a Luísa Sofia Cédor, uma mulher da aldeia que
ia para a missa, que fosse a madrinha. O padrinho foi o seu irmão Luís,
de apenas doze anos, mas profundamente ligado à vivência dos ensinamentos
cristãos.
A família de Madalena exercia uma actividade económica
ligada, sobretudo, à vinha e ao bosque. Pertencia à pequena burguesia rural, em
ascensão social naquela época, e compreendia a importância dos estudos.
Madalena Sofia era magra, de baixa estatura para sua
idade, e era obrigada a subir a um banco para poder ver o pároco quando ensinava
o catecismo às crianças. Todavia, embora fosse fragil fisicamente, tinha uma
extraordinária força interior, que a tornava diferente das crianças da sua
idade. Tímida por natureza, as suas primeiras reacções eram bastante impulsivas.
Tinha sempre resposta pronta, na ponta da língua e, muitas vezes, respondia com
palavras mordazes. Gostava das diversões, e dos passeios pelos bosques e colinas.
Era dócil com os que a rodeavam e demonstrava o seu afecto com gestos de grande
espontaneidade.
Desde pequena, aprendia as orações com facilidade e
era sempre a primeira nas aulas de catecismo. O seu irmão e padrinho, estudante
de teologia, foi ordenado subdiácono (Nota: este degrau, no caminho para a
ordenação sacerdotal, já não existe) e nomeado professor da escola de Ivigny. Assumindo,
de verdade, o seu compromisso baptismal, Luís levou consigo a sua irmã, para
melhor a preparar para a vida. Percebendo que Madalena aprendia com rapidez as
matérias, Luís passou a ensinar-lhe, também, História antiga e moderna, Sagrada
Escritura, latim, grego, noções de italiano e de espanhol, e uns rudimentos de
hebraico.
Em 1789, com dez anos, Madalena fez a sua Primeira
Comunhão. Era piedosa e fervorosa, participando, diariamente, na celebração da Missa,
na sua paróquia. Aos 14 anos, decidiu fazer voto de virgindade, consagrando o
seu coração a Jesus.
Algum tempo antes, a família Barat – que aderira às
teorias do bispo Ypres, Cornélio Jansénio – decidiu abandonar o jansenismo - [é
uma doutrina religiosa, inspirada nas ideias do bispo de Ypres, que se
transformou num movimento tem carácter dogmático, moral e disciplinar, que
assumiu, também, contornos políticos, e se desenvolveu principalmente em França
e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII, no seio da Igreja Católica, que
considerou as suas teorias controversas e contrárias à fé católica] - graças à
mediação de Luís Barat, que tinha comprado, em Paris, durante uma das suas idas
à capital, umas imagens do Coração de Jesus e do Coração de Maria. Era diante
destas duas imagens que a família se reunia para a oração diária.
A Revolução Francesa perturbou a paz da família, do
país, da Igreja Católica, do mundo... Igrejas e conventos foram fechados. Os
cárceres encheram-se de sacerdotes e religiosos. Os bens dos Barat foram confiscados.
Luís foi preso, em Maio de 1793, e livrou-se da guilhotina por milagre.
Madalena Sofia demonstrou a sua força de carácter
ajudando a sua mãe a recuperar o ânimo. Porém, ela mesma ficou tão marcada pela
perversidade da perseguição aos católicos franceses que criou uma enorme repulsa
pela Revolução Francesa, que denominou como um “tempo de ódio contra Jesus
Cristo”. Ainda em 1840, só de ouvir cantar o Hino ‘A Marselhesa’ tremia de
raiva incontida; e, em 1848, associava todas as manifestações populares ao
período revolucionário do “Terror”.
Depois de Luís Barat ter sido libertado, em 1795, foi
ordenado sacerdote e foi para Paris, acompanhado de Madalena, onde,
clandestinamente, exercia o seu ministério e celebrava a Santa Missa. Madalena,
às escondidas, ensinava catecismo às crianças do bairro e continuava a fazer a
sua formação religiosa e profana, rodeada de algumas jovens, com as quais
começou um ensaio de vida em comum.
Trabalhando na reconstrução da Igreja aniquilada pela
revolução, Madalena confiou a sua orientação religiosa ao sábio e famoso Padre
José Varin, que lhe tinha sido apresentado pelo seu irmão Padre Luís. Este
sacerdote partilhou com ela o projecto de fundar uma congregação religiosa,
dedicada ao ensino e à educação, inspirada pela devoção ao Sagrado Coração de
Jesus. O Padre Varin escreveu acerca do seu primeiro encontro com Madalena:
‘…Encontrei uma jovem de temperamento muito delicado, extremamente modesta e
com uma grande timidez. Que pedra fundamental!... disse a mim mesmo,
respondendo ao sentimento interior que experimentei quando o seu irmão me falou
dela a primeira vez…Era sobre ela que Deus queria levantar o edifício da
Sociedade do seu Divino Coração…’
Percebendo as necessidades da época e motivada pela
novidade do projecto, Madalena, iluminada pelo Espírito de Deus, aceitou,
humildemente, ajudá-lo nesta missão, embora cheia de desconfiança nas suas
capacidades e na sua coragem: “Aceito tudo, sem compreender nem prever nada”.
O Padre Varin preparou para Sofia uma espécie de
noviciado, ao qual se uniram Octávia Bailly, uma sua companheira de estudos que
partilhava o seu gosto pela oração, a jovem senhora Loquet, habitante das
redondezas, muito devota e Margarida, criada da senhora Duval.
A Congregação do Sagrado Coração de Jesus - que tinha
por objectivo o ensino gratuito de meninas pobres - foi fundada em 21 de
Novembro de 1800. Juntamente com outras companheiras, Madalena tomou o hábito
da congregação, na capela da Rua Touraine, diante de um quadro de Nossa
Senhora. Apesar de ser a mais jovem - tinha apenas 23 anos - foi nomeada
superiora desta nova congregação. Em seguida, a Irmã Madalena Sofia partiu para
Amiens, para ensinar numa escola que, algum tempo depois, se tornou o primeiro
convento da congregação.
A Congregação do Sagrado Coração de Jesus rapidamente
reuniu mais seguidoras. Mas, também, enfrentou muitas dificuldades, até obter a
aprovação canónica definitiva. Para manter as escolas gratuitas, Madalena criava-as
aos pares: uma, para as meninas pobres; e outra, para as de classe média-alta,
que custeava a primeira. Assim, foi espalhando o carisma e a vocação da sua
congregação. As Irmãs da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, em resposta
ao convite de Cristo, abriram a sua actividade à dimensão missionária da Igreja
e partiram em Missão: missionárias enviadas pelo mundo.
A Madre Madalena Sofia percorreu a França em todas as
direcções - e do mesmo modo a Suíça e a Itália - para difundir a Instituição e
atender aos necessitados. O talento da sua firmeza e coragem; a sua formação e
o seu saber pouco comuns; a sua vontade indomável e o seu coração de mãe; as
suas virtudes austeras e profundas, granjearam-lhe fama, em todas as classes
sociais. Falava com nobres e príncipes, pobres e trabalhadores, sábios e
ignorantes, bispos e cardeais…
Quando, na Congregação não estava ainda estabelecida o
regime de clausura, Madalena Sofia ia, volta e meia, à sua aldeia natal de
Joigny. Costumava convidar, para a acompanhar, uma das religiosas de origem
mais aristocrática, para que esta ficasse a conhecer a pobreza da casa em que
nascera.
Um grande senhor encontrou-a, um dia, com a vassoura
na mão e interpelou-a: ‘Que faz, Madre- Geral?’ Ela respondeu: ‘ Senhor Duque,
o que teria feito durante toda a vida se tivesse ficado no lugar que me toca’. Um
bispo que a conhecia bem, disse dela: ‘A Madre Barat é a revelação da
humildade’.
Ao longo de 63 anos, a Madre Madalena Barat fundou 122
escolas, em 16 países. Como não podia visitar tantas fundações, mantinha
permanente contacto com elas, através das inúmeras cartas que escrevia.
Encarregava-se, também, da administração da Casa-Mãe e de atender as visitas
que chegavam para pedir-lhe conselho. Numa das suas cartas escreveu: “O
trabalho excessivo é um perigo para as almas imperfeitas; porém as perfeitas
obtêm, por esse meio, uma rica colheita”.
Em Dezembro de 1826, o Papa Leão XII aprovou
oficialmente a Sociedade do Sagrado Coração. Em 1864, aos 85 anos de idade, a
Madre Barat pediu ao Conselho-Geral da Congregação que permitisse que
renunciasse ao seu cargo. A assembleia, porém, não atendeu o seu pedido, mas
nomeou uma vigária-adjunta para a ajudar nos trabalhos da administração.
No dia 21 de Maio de 1865, estando na casa de Paris, a
Madre Madalena Sofia anunciou à comunidade a sua morte próxima, com estas
palavras: “Apresso-me a vir hoje, pois na quinta-feira vamos para o Céu”.
Efectivamente, sofreu um ataque e no dia 25 de Maio de
1865, Festa da Ascensão do Senhor, carregada de méritos e trabalhos pela glória
do Coração de Jesus, beijando o Crucifixo, a Madre Madalena Sofia Barat entregou
sua alma a Deus.
Vários milagres e muitas conversões aconteceram logo
depois do seu falecimento, atribuidos à sua intercessão.
Madalena Sofia Barat, religiosa da Congregação do
Sagrado Coração de Jesus, foi beatificada pelo Papa São Pio X, em 24 de Maio de
1908. Foi canonizada, no dia 24 de Maio de 1925, pelo Papa Pio XI.
A sua memória litúrgica celebra-se no dia 25 de Maio.