sábado, 22 de fevereiro de 2025

SANTOS POPULARES

 


BEATA PIEDADE DA CRUZ ÓRTIZ
 
Piedade da Cruz Ortiz, filha de José e Tomásia, nasceu em Bocairente, Valência, Espanha, no dia 12 de Novembro de 1842, e foi baptizada, no dia seguinte, com o nome de Tomasa. Era a quinta de oito irmãos.
Na escola, destacou-se pela sua piedade, perseverança e talento para música. Aprender a bordar e tinha muito jeito para o teatro.
Aos dez anos fez a sua Primeira Comunhão. Olhando para trás, ela mesma narra os seus sentimentos desta forma: "Quando recebi a Sagrada Comunhão pela primeira vez, fiquei como que aniquilada e experimentei como Jesus estava a chamar-me para a Vida Religiosa". Este encontro com Cristo, na Eucaristia, marcou-a para sempre. Tomasina, como familiarmente a chamavam, desejava pertencer ao Senhor e viver para Ele.
Completou a sua formação humana e espiritual no Colégio Loreto, que as Religiosas da Sagrada Família de Bordéus tinham em Valência. Quando pediu para entrar no noviciado deste Instituto, o seu pai, considerando a situação política da época e a pouca idade de Tomasina, obrigou-a a voltar para casa.
Três aspectos caracterizaram esta etapa da sua vida em Bocairente: o seu espírito de piedade e de oração; a sua dedicação em fazer o bem às crianças pobres, aos idosos e aos enfermos; o seu compromisso de dar uma resposta ao que sentiu, profundamente, em si mesma, no dia da sua Primeira Comunhão.
Mais tarde, Tomasina pensou poder, finalmente, realizar o sonho da sua vida: consagrar-se ao Senhor. Entrou no Convento Carmelita de clausura, em Valência. Entretanto, uma doença obrigou-a a abandonar o noviciado e a voltar para casa. Depois de se recuperar, tentou voltar ao Convento e, infelizmente, ficou de novo doente.
A partir desses acontecimentos, Tomasina descobriu que Deus não a queria naquele caminho. Pediu-lhe, por isso, para que Ele a iluminasse para poder discernir, com clareza, qual era a Sua vontade. Rezava com fé e piedade: "Desejo viver para Ti, meu Jesus!...Mas, diz-me onde e como…”
Certa de que se sentia chamada a uma vida de consagração especial, mas incerta sobre onde Deus a queria, Tomasina foi para Barcelona. Ali, depois de muitas dificuldades, o Senhor respondeu à sua busca vocacional, fazendo-a viver uma profunda experiência mística, na qual o Coração de Jesus, mostrando-lhe o lado esquerdo ensanguentado, lhe disse: "Olha como os homens me trataram com a sua ingratidão. Queres ajudar-me a carregar esta cruz?". Tomasina respondeu: "Senhor, se precisares de uma vítima e me quiseres, estou aqui." Então, o Redentor disse-lhe: "Tem confiança!... Terei, sempre, misericórdia de ti e da tua Congregação."
Essa experiência foi crucial para Tomasina; deu-lhe tanta certeza que nunca mais desapareceu da sua mente e do seu coração. A partir daquele momento, ela entendeu que Deus lhe pedia para dar vida a um novo Instituto.
A questão, agora, era onde fundar, onde dar uma resposta positiva ao convite de Cristo para carregar a cruz dos mais pobres, dos que menos contam, neste mundo.
Foi o bispo D. Jaime Catalá quem sugeriu que ela abrisse o coração ao seu confessor e fizesse o que ele lhe dissesse. Com este gesto, Tomasina submeteu-se, com fé, à hierarquia da Igreja, para fazer a vontade de Deus.
As cheias do rio Segura - que, em 1884, destruíram os campos de Múrcia e fizeram deslocar as poucas congregações religiosas desta zona - orientaram-na para estes lugares de maior necessidade.
No mês de Março, Tomasina, acompanhada de três postulantes, partiu de Barcelona para Puebla de Soto, a um quilómetro de Alcantarilha, para fundar ali, com a autorização do Bispo de Cartagena-Múrcia, a primeira Comunidade de Terciários da Virgem do Carmo.
Os habitantes da zona rural de Múrcia ainda não se tinham recuperado da tragédia das cheias de 1884, quando a cólera chegou. Tomasina - que entretanto tinha assumido o nome religioso ‘Piedade da Cruz’  - e as suas Filhas multiplicaram-se na assistência às meninas doentes e órfãs, num pequeno hospital que ela chamou ‘A Providência’.
Outras jovens chegaram, atraídas pelo modo de vida daquelas primeiras Terciárias Carmelitas. A casa tornou-se pequena; compraram, então, a casa de Alcantarilha. Uma nova comunidade também se abriu em Caudete... Tudo indicava que, finalmente, Tomasina havia encontrado o lugar onde poderia realizar a sua vocação.
Apesar disso... a cruz chegou, novamente. Era o sinal que ela havia pedido para saber que tudo isso vinha de Deus: "Ser fundada na tribulação" e o Coração de Jesus concedeu-a, abundantemente.
Embora a Virgem Maria ocupasse um lugar muito importante no coração e na vida de Tomasina, o seu carisma estava centrado no Coração de Cristo. E... os planos de Deus! Surgiram algumas tensões entre as comunidades de Alcantarilha e Caudete, já que a Congregação ainda não tinha aprovação diocesana.
Em Agosto, as Irmãs de Caudete foram a Alcantarilha e levaram as noviças, deixando a Madre Piedade sozinha com a Irmã Afonsa. Foram dias de dor intensa. A Fundadora, como sempre, refugiou-se na oração; prostrou-se diante de Cristo crucificado e ali permaneceu horas e horas, pregada aos seus pés. Ela sofre, mas não quebra, porque o barco da sua vida estava bem ancorado no Senhor.
Mais uma vez, recorreu à hierarquia eclesiástica, em busca de orientação e esclarecimento. Foi o Bispo Bryan y Livermore que enviou Tomasina e sua fiel companheira, Irmã Afonsa, ao Convento da Visitação dos Reais Salesianos em Orihua, para que ela fizesse um mês de exercícios espirituais e planeasse uma nova fundação, tendo o Santo Bispo como protector. Foi aqui que o Espírito Santo a iluminou profundamente, enchendo-a de força profética; mostrando-lhe o seu Carisma e o nome da sua nova Congregação, colocada sob o patrocínio de São Francisco de Sales.
E chegou a hora de Deus. Era o dia 8 de Setembro de 1890. Depois de muitas dificuldades e tribulações, nasceu, na Igreja, a Congregação das Irmãs Salesianas do Sagrado Coração de Jesus, uma Congregação onde o Coração de Jesus deseja ser amado, servido e compensado pelas ofensas recebidas dos homens. Amar, servir e reparar, ver o rosto do Senhor nas meninas órfãs, nos jovens trabalhadores, nos doentes, nos idosos abandonados... e ajudá-los a carregar a cruz.
Ela deixou-nos o seu Carisma, o carisma da sua Congregação: tornar visível aos homens, especialmente aos pobres, o amor do Pai providente, manifestado no Coração misericordioso de Jesus, aberto nos braços da Cruz.
Embora toda a vida da Madre Piedade tenha sido uma renúncia ao mundo, isso não significa que ela "fugiu" do mundo; permaneceu nele, fazendo o bem e lutando contra o mal. Testemunhas disso foram os muitos casamentos prestes a desfazerem-se e que redescobriram o dom da unidade e da comunhão; as muitas jovens que ela foi procurar nas fábricas, para prepará-las na escola dominical; as muitas meninas sem família que ela amava profundamente; os idosos solitários, os enfermos...
Ela viveu pobre e morreu pobre, sentada numa cadeira, porque "Ele - disse ela, apontando para o Crucifixo - morreu na cruz e eu não devo morrer na cama, mas no chão".
Ela morreu com o crucifixo colado aos lábios e a santa paz de Deus. Era sábado, 26 de Fevereiro de 1916. O povo simples exclamava, com profundo sentimento: "Morreu uma santa! Morreu a nossa mãe!".
A Madre Piedade da Cruz Órtiz (Tomasina) foi beatificada pelo Papa João Paulo II, em Roma, no dia 21 de Março de 2004. Na homilia, a seu respeito, o Papa disse: “…A Madre Piedade da Cruz Ortíz, nascida em Bocairente e fundadora das Salesianas do Sagrado Coração, em Alcantarilha, Múrcia, é um maravilhoso exemplo da reconciliação que nos propõe São Paulo na segunda leitura: "Foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo" (2 Cor 5, 19). Mas Deus pede a colaboração dos homens para levar a cabo a sua obra de reconciliação (cf. vv. 19-20). A Madre Piedade reuniu as diversas jovens desejosas de mostrar aos humildes e aos pobres o amor do Pai providente manifestado no Coração de Jesus, dando assim vida a uma nova família religiosa. Modelo de virtudes cristãs e religiosas, enamorada por Cristo, pela Virgem Maria e pelos pobres, deixa-nos o exemplo de austeridade, oração e caridade para com todos os necessitados…”
A memória litúrgica da Beata Piedade da Cruz Órtiz é celebrada no dia 26 de Fevereiro.