Caros irmãos e irmãs:
Dirijo uma cordial
saudação a todos, especialmente ao Arcebispo Metropolita Elpidophoros e ao
Cardeal Tobin, a quem agradeço por terem escolhido organizar este encontro, no
contexto da sua peregrinação. Bem-vindos. Lamento o atraso.
Esta manhã, havia várias
reuniões agendadas. No entanto, estou muito feliz por poder passar este momento
convosco, neste lindo lugar, em Castel Gandolfo.
Vieram dos Estados
Unidos, que, como sabeis, é o meu país de origem, fazendo esta viagem, que
pretende ser um retorno às raízes, às fontes, aos lugares e às memórias dos
Apóstolos Pedro e Paulo, em Roma, e do apóstolo André, em Constantinopla.
É, também, uma forma de
experimentar, de modo novo e concreto, a fé que nasce da escuta do Evangelho,
da experiência do Evangelho que os Apóstolos nos transmitiram (cf. Rm 10,16). É significativo que a sua peregrinação
se realize neste ano, em que celebramos o 1700º aniversário do Concílio de
Niceia. O Credo, adoptado pelos Padres reunidos, permanece - juntamente com os
acréscimos feitos pelo Concílio de Constantinopla, em 381 - a herança comum de
todos os cristãos, para muitos dos quais o Credo é parte integrante das suas
celebrações litúrgicas. Além disso, por uma coincidência providencial, este ano
os dois calendários em uso nas nossas Igrejas coincidem, de modo que pudemos
cantar em uníssono o Aleluia Pascal: "Cristo ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!"
Estas palavras proclamam
que as trevas do pecado e da morte foram vencidas pelo Cordeiro imolado, Jesus
Cristo, nosso Senhor. Isto inspira-nos grande esperança, porque sabemos que
nenhum grito das vítimas inocentes da violência; nenhum lamento das mães que
choram os seus filhos ficará sem ser ouvido. A nossa esperança está em Deus e,
precisamente porque bebemos constantemente da fonte inesgotável da sua graça,
somos chamados a ser testemunhas e portadores dela. A Igreja Católica celebra o
nosso Ano Jubilar, cujo lema, escolhido pelo meu predecessor, o Papa Francisco,
é ‘Peregrinantes in Spe’, isto é, peregrinos na esperança. Eminência,
Metropolita Elpidophoros, o seu próprio nome diz-nos que é um portador de
esperança! Espero que a sua peregrinação vos confirme a todos na esperança que
nasce da fé no Senhor Ressuscitado!
Aqui em Roma, tivestes-vos
em oração junto aos túmulos de Pedro e Paulo. Agora que ides visitar a Sé de
Constantinopla, peço-vos que transmitais as minhas saudações e meu abraço, um
abraço de paz, ao meu venerável irmão Patriarca Bartolomeu, que tão gentilmente
participou da Santa Missa, no início do meu pontificado. Espero encontrar-vos
novamente, dentro de alguns meses para participar da comemoração ecuménica do
aniversário do Concílio de Niceia.
A vossa peregrinação é um
dos frutos abundantes do movimento ecuménico que visa restaurar a plena unidade
entre todos os discípulos de Cristo, segundo a oração do Senhor, na Última
Ceia, quando Jesus disse: «para que todos sejam um» ( Jo 17, 21). Às vezes, tomamos por óbvios estes
sinais de partilha e comunhão que, embora ainda não signifiquem a plena
unidade, já manifestam o progresso teológico e o diálogo na caridade que
caracterizaram as últimas décadas. Em 7 de Dezembro de 1965, na véspera da
conclusão do Concílio Vaticano II, o meu predecessor, São Paulo VI, e o
Patriarca Atenágoras assinaram uma Declaração Conjunta, apagando da memória e
da vida da Igreja as sentenças de excomunhão que se seguiram aos acontecimentos
de 1054. Antes disso, uma peregrinação como a vossa provavelmente nem sequer
teria sido possível. A obra do Espírito Santo criou, nos corações, a prontidão
para dar tais passos, como um prenúncio profético da unidade plena e visível.
Nós, também, por nossa vez, devemos continuar a implorar ao Paráclito, ao
Consolador, a graça de seguir o caminho da unidade e da caridade fraterna.
A unidade entre os
crentes, em Cristo, é um dos sinais do dom divino da consolação; a Escritura
promete que "em Jerusalém serão consolados" (Is 66,13). Roma, Constantinopla e todas as
outras sedes não são chamadas a disputar a primazia, para não corrermos o risco
de nos encontrarmos como os discípulos que, no caminho, no momento em que Jesus
anunciava a sua iminente paixão, discutiram sobre quem entre eles era o maior
(cf. Mc 9,33-37).
Na Bula de Proclamação do Ano Jubilar, o Papa Francisco observou que “este Ano Santo abrirá caminho para outro aniversário fundamental para todos os cristãos: em 2033, celebrar-se-ão dois mil anos da Redenção realizada através da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus” (Spes non confundit, 6). Espiritualmente, todos nós precisamos retornar a Jerusalém, a Cidade da Paz, onde Pedro, André e todos os Apóstolos, depois dos dias da Paixão e Ressurreição do Senhor, receberam o Espírito Santo, no Pentecostes, e de lá deram testemunho de Cristo, até os confins da terra. Que o retorno às raízes da nossa fé nos permita, a todos, experimentar o dom da consolação de Deus e nos permita, como o Bom Samaritano, derramar sobre a humanidade de hoje o óleo da consolação e o vinho da alegria. Obrigado. (cf. Santa Sé)