SÃO FILIPE ZHANG ZHIHE
Filipe Zhang Zhihe nasceu por volta de 1880, em Shangqingyu, na província chinesa de Shanxi. Entrou no Seminário Menor de Dongergou e, posteriormente, frequentou o Seminário Maior de Taiyuan, destacando-se como um aluno tenaz e diligente. Era também da Ordem Terceira de São Francisco.
Filipe frequentava os estudos teológicos quando, na China, as revoltas, lideradas pelos chamados Boxers - contrários à expansão ocidental e à religião cristã - começaram a multiplicar-se. No dia 17 de Junho de 1900, os Boxers destruíram uma igreja protestante: vendo o perigo iminente, muitos seminaristas regressaram às suas famílias.
Filipe, juntamente com quatro companheiros, preferiu permanecer na "Casa de São Pascoal", a sede da missão. Monsenhor Francisco Fogolla, vigário-geral de Shanxi, e o Bispo de quem era assistente, Monsenhor Gregório Maria Grassi, pensaram, no entanto, em colocá-los em segurança. Mas, assim que chegaram ao Portão Han-si, que levava para fora da cidade, foram reconhecidos por estarem a usar as suas batinas.
Os soldados do vice-rei Yu-Hsien, que apoiavam os Boxers, levaram-nos ao tribunal, onde foram persuadidos a negar Cristo e a fé. Todos os cinco recusaram: receberam então a canga (um instrumento de punição semelhante ao pelourinho ocidental) e foram expostos, até o anoitecer, aos insultos dos não cristãos.
No dia 5 de Julho, os seminaristas, juntamente com os dois bispos, os frades, as sete Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, responsáveis pelo orfanato da missão, e alguns criados, foram convidados, pelo vice-rei, a deixar a missão e ir para um lar mais seguro, chamado "Hotel da Paz Celestial". Na verdade, era uma prisão: os católicos foram fechados num pavilhão; os protestantes noutro.
Por volta das quatro horas da tarde do dia 9 de Julho de 1900, os soldados do vice-rei invadiram o pavilhão protestante, matando-os. Nesse momento, Monsenhor Grassi convidou todos a prepararem-se para a morte e concedeu-lhe a absolvição final.
Os Boxers, também, aproximaram-se e conduziram-nos ao palácio do vice-rei, onde foram condenados à morte. Conduzidos ao pátio, foram executados a golpes de sabre e armas de fogo. Filipe Zhang Zhihe tinha cerca de vinte anos.
Os cinco seminaristas foram beatificados no dia 24 de Novembro de 1946, pelo Papa Pio XII, juntamente com seus companheiros de martírio.
Três outros religiosos, dos Frades Menores Observantes, foram integrados no mesmo processo de beatificação e, portanto, foram beatificados na mesma ocasião: o Padre Cesidio Giacomantonio, morto em 4 de julho de 1900 em Hangzhou; o Monsenhor Antonino Fantosati e o Padre José Maria Gambaro, falecido três dias depois.
A memória litúrgica de todo o grupo foi marcada para 9 de Julho, dia do seu martírio.
Pouco mais de cem anos depois do seu martírio, o Papa João Paulo II autorizou a fusão das causas de vários mártires beatos, da China, incluindo Filipe Zhang Zhihe e os seus vinte e cinco companheiros.
Todos foram canonizados, pelo Papa João Paulo II, no dia 1 de Outubro de 2000. Na sua homilia, referindo o numeroso grupo de mártires da China, disse o Papa: «… "Os preceitos do Senhor dão alegria" (Sal. resp.). Estas palavras do Salmo responsorial reflectem bem a experiência de Agostinho Zhao Rong e dos 119 Companheiros, mártires na China. Os testemunhos que chegaram até nós deixam entrever neles um estado de espírito marcado por uma profunda serenidade e alegria.
Hoje, a Igreja agradece ao seu Senhor, que a abençoa e a imbui de luz com o esplendor da santidade destes filhos e filhas da China. Não é, porventura, o Ano Santo o momento mais oportuno para fazer resplandecer o seu testemunho heróico? A jovem Ana Wang, com catorze anos, resiste às ameaças do carnífice que a convida a renegar e, dispondo-se à decapitação, declara, com o rosto radiante: "A porta do Céu está aberta a todos" e murmura três vezes "Jesus". E Chi Zhuzi, com dezoito anos, grita destemido aos que acabavam de lhe cortar o braço direito e se preparavam para o esfolar vivo: "Cada pedaço da minha carne, cada gota do meu sangue vos repetirão que sou cristão".
Igual convicção e alegria testemunharam os outros 85 chineses, homens e mulheres de todas as idades e condições, sacerdotes, religiosos e leigos, que selaram a própria indefectível fidelidade a Cristo e à Igreja com o dom da vida. Isto aconteceu ao longo de vários séculos e em complexas e difíceis épocas da história da China. Esta celebração não é a ocasião oportuna para formular juízos sobre aqueles períodos históricos: poder-se-á e dever-se-á fazê-lo noutra circunstância. Com esta solene proclamação de santidade, a Igreja só deseja reconhecer que aqueles Mártires constituem um exemplo de coragem e de coerência para todos nós e honram o nobre povo chinês.
Nesta plêiade de Mártires, resplandecem também 33 missionários e missionárias, que deixaram a sua terra e procuraram introduzir-se na realidade chinesa, assumindo, com amor, as suas características, no desejo de anunciar Cristo e de servir aquele povo. Os seus túmulos estão lá, como que a significar a sua definitiva pertença à China, que eles, apesar dos seus limites humanos, amaram com sinceridade, despendendo por ela as suas energias. "Nunca fizemos mal a ninguém - responde D. Francisco Fogolla ao governador que se prepara para o golpear com a espada. - Ao contrário, fizemos o bem a muitos".