PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “…O Filho do Homem deve ser elevado…” (cf. João 3, 14) A 14 de Setembro a Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. Talvez alguma pessoa não cristã nos pergunte: porque «exaltar» a cruz? Podemos responder que não exaltamos uma cruz qualquer, ou todas as cruzes: exaltamos a Cruz de Jesus, porque nela se revelou ao máximo o amor de Deus pela humanidade. É o que nos recorda o Evangelho de João na liturgia de hoje: «Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (3, 16). O Pai «deu» o Filho para nos salvar, e isto significou a morte de Jesus, e morte de cruz. Porquê? Por que foi necessária a Cruz? Por causa da gravidade do mal que nos mantinha escravos. A Cruz de Jesus exprime as duas coisas: toda a força negativa do mal, e toda a mansidão omnipotente da misericórdia de Deus. A Cruz parece decretar a falência de Jesus, mas na realidade marca a vitória. No Calvário, quantos o escarneciam dizendo: «se és Filho de Deus desce da cruz» (cf. Mt 27, 40). Mas era verdade o contrário: precisamente porque era o Filho de Deus Jesus estava ali, na cruz, fiel até ao fim ao desígnio de amor do Pai. E precisamente por isto Deus «exaltou» Jesus (Fl 2, 9), conferindo-lhe uma realeza universal. E quando dirigimos o olhar para a Cruz onde Jesus foi pregado, contemplamos o sinal do amor, do amor infinito de Deus por cada um de nós e a raiz da nossa salvação. Daquela Cruz brota a misericórdia do Pai que abraça o mundo inteiro. Por meio da Cruz de Cristo o maligno é vencido, a morte é derrotada, a vida é-nos doada, a esperança é-nos restituída. Isto é importante: por meio da Cruz de Cristo é-nos restituída a esperança. A Cruz de Jesus é a nossa única esperança verdadeira! Eis por que a Igreja «exalta» a santa Cruz, e eis por que nós cristãos abençoamos com o sinal da cruz. Ou seja, nós não exaltamos as cruzes, mas a Cruz gloriosa de Jesus, sinal do amor imenso de Deus, sinal da nossa salvação e caminho rumo à Ressurreição. E é esta a nossa esperança. Ao contemplar e celebrar a santa Cruz, pensamos com emoção nos tantos irmãos e irmãs nossos que são perseguidos e assassinados por causa da sua fidelidade a Cristo. Isto acontece especialmente onde a liberdade religiosa ainda não está garantida ou plenamente realizada. Mas acontece também em países e ambientes que em princípio tutelam a liberdade e os direitos humanos, mas onde concretamente os crentes, e sobretudo os cristãos, encontram limites e discriminações. Por isso hoje os recordamos e rezamos de modo particular por eles. No Calvário, aos pés da cruz, estava a Virgem Maria (cf. Jo 19, 25-27). É a Virgem das Dores, que amanhã celebraremos na liturgia. A ela confio o presente e o futuro da Igreja, para que todos saibam descobrir e acolher sempre a mensagem de amor e de salvação da Cruz de Jesus. (cf. Papa Francisco, Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Roma, 14 de Setembro de 2014)

sábado, 13 de setembro de 2025

EM DESTAQUE.

 


- FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
 
No dia 13 de Setembro de 335, foram consagradas, em Jerusalém, duas igrejas: a da Ressurreição e a do Gólgota (Martyrium). No dia seguinte, com uma cerimónia solene, houve a ostensão da Cruz, que a Imperatriz Helena, mãe do Imperador Constantino, havia encontrado, em 14 de Setembro de 320.
Em 614, Cosroes II, rei dos Persas, travou uma guerra contra os Romanos e, depois de derrotar Jerusalém, levou consigo, entre os diversos tesouros, também a Cruz de Jesus. Heráclio, imperador romano de Bizâncio, propôs um pacto de paz com Cosroes, que não aceitou.
Diante da sua negação, o imperador romano de Bizâncio entrou em guerra com ele e venceu, perto de Nínive, e pediu a restituição da Cruz, levando-a de volta a Jerusalém.
Se a Sexta-Feira Santa é dedicada à paixão e Crucificação do Senhor, a Festa da Exaltação da Santa Cruz celebra a cruz como instrumento de salvação, fonte de santidade e símbolo revelador da vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e o demónio. Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, não se glorifica a crueldade da Cruz, mas o Amor que Deus manifestou aos homens ao aceitar morrer na Cruz:
Disse o Papa Francisco: “Mesmo sendo Deus, Cristo humilhou-se, fazendo-se servo. Eis a exaltação da Cruz de Jesus!"
“…A Cruz de Jesus é a palavra com que Deus respondeu ao mal no mundo. Por vezes parece-nos que Deus não responde ao mal e fica em silêncio. Na realidade, Deus falou e respondeu; e a sua resposta é a Cruz de Cristo. Uma palavra que é amor, misericórdia, perdão. E também é Juízo. Deus julga amando-nos, Deus julga-nos amando-nos: se receber o seu amor salvo-me, se o recuso, condeno-me. Não por Ele mas por mim próprio, porque Deus não condena, antes ama e salva. A palavra da Cruz é a resposta dos cristãos ao mal que continua a atuar em nós e à nossa volta. Os cristãos têm de responder ao mal com o bem, tomando sobre si próprios a Cruz como Jesus…” (Papa Francisco, 30 de Março de 2013)
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXIV DOMINGO COMUM
            - FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

 

“…Cristo Jesus, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem,
humilhou-Se ainda mais,
obedecendo até à morte
e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem
no céu, na terra e nos abismos,
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai…”
(cf. Filipenses 2, 6-11)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO



- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 10 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Bom dia e obrigado pela vossa presença: um bonito testemunho!..
Hoje, contemplaremos o ápice da vida de Jesus, neste mundo: a sua morte, na cruz! Os Evangelhos atestam um detalhe muito precioso, que merece ser contemplado com a inteligência da fé. Na cruz, Jesus não morre em silêncio. Não se apaga lentamente, como uma luz que se consome; mas, deixa a vida com um grito: «Jesus, dando um forte grito, expirou» (Mc 15, 37). Aquele brado encerra tudo: dor, abandono, fé, oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o último sinal de uma vida que se entrega.
O grito de Jesus é precedido por uma pergunta, uma das mais dilacerantes que podem ser pronunciadas: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?». É o primeiro versículo do Salmo 22; mas, nos lábios de Jesus, adquire uma importância singular. O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta, agora, o silêncio, a ausência, o abismo. Não se trata de uma crise de fé, mas da última etapa de um amor que se oferece até ao fim. O clamor de Jesus não é desespero, mas sinceridade, verdade levada ao limite, confiança que resiste até quando tudo se cala.
Naquele momento, o céu obscurece-se e o véu do templo rasga-se (cf. Mc 15, 33.38). É como se a própria criação participasse dessa dor e, ao mesmo tempo, revelasse algo novo: Deus já não habita atrás de um véu; agora, o seu rosto é plenamente visível no Crucificado. É ali, naquele homem angustiado, que se manifesta o maior amor. É ali que podemos reconhecer um Deus que não permanece distante, mas atravessa a nossa dor até ao fim.
O centurião, um pagão, compreende-o. Não porque ouviu um discurso, mas porque viu Jesus morrer daquela maneira: «Este homem era verdadeiramente Filho de Deus!»  (Mc 15, 39). É a primeira profissão de fé depois da morte de Jesus. É o fruto de um brado que não se dispersou no vento, mas tocou um coração. Às vezes, o que não conseguimos proferir com palavras, expressamos com a voz. Quando o coração está cheio, clama. E isto nem sempre constitui um sinal de fraqueza, mas pode ser um acto profundo de humanidade.
Estamos habituados a pensar no grito como algo descontrolado, a reprimir. O Evangelho confere ao nosso grito um valor imenso, recordando-nos que pode ser invocação, protesto, desejo, entrega. Pode ser até a forma extrema da oração, quando já não temos palavras. Naquele clamor, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança!
Sim, porque também isto está inserido no grito: uma esperança que não se resigna. Grita-se quando se acredita que alguém ainda pode ouvir. Grita-se não por desespero, mas por desejo. Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Até no silêncio, estava convencido de que o Pai se encontrava presente. E assim, mostrou-nos que a nossa esperança pode gritar, até quando tudo parece perdido.
Então, gritar torna-se um gesto espiritual. Não é unicamente o primeiro acto do nosso nascimento, quando viemos ao mundo chorando; é também uma maneira de permanecer vivo. Grita-se quando se sofre, mas também quando se ama, quando se chama, quando se invoca. Gritar é dizer que estamos presentes, que não queremos apagar-nos no silêncio, que ainda temos algo a oferecer!
No caminho da vida, há momentos em que guardar tudo dentro pode consumir-nos lentamente. Jesus ensina-nos a não ter medo do grito, desde que seja sincero, humilde, orientado para o Pai. Quando nasce do amor, o brado nunca é inútil. E nunca é ignorado, se for oferecido a Deus. É um modo de não ceder ao cinismo, de continuar a acreditar que outro mundo é possível.
Amados irmãos e irmãs: aprendamos também isto do Senhor Jesus: aprendamos o clamor da esperança quando chega a hora da extrema provação. Não para ferir, mas para nos confiarmos. Não para gritar contra alguém, mas para abrir o coração. Se o nosso brado for verdadeiro, poderá ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento. Como para Jesus: quando tudo parecia acabado, na realidade a salvação estava prestes a começar. Se for manifestada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz sofrida da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se nascente de esperança, para nós e para quantos estiverem ao nosso lado. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 77

Refrão: Não esqueçais as obras do Senhor.

Escuta, meu povo, a minha instrução,
presta ouvidos às palavras da minha boca.
Vou falar em forma de provérbio,
vou revelar os mistérios dos tempos antigos.

Quando deus castigava os antigos, eles O procuravam,
tornavam a voltar-se para Ele
e recordavam-se de que Deus era o seu protetor,
o Altíssimo o seu redentor.

Eles, porém, enganavam-n’O com a boca
e mentiam-Lhe com a língua;
o seu coração não era sincero,
nem eram fiéis à sua aliança.

Mas Deus, compadecido, perdoava o pecado
e não os exterminava.
Muitas vezes reprimia a sua cólera
e não executava toda a sua ira.


SANTOS POPULARES

 


SANTA HILDEGARDA DE BINGEN
 
Hildegarda de Bingen (1098-1179) foi uma monja beneditina, conhecida como mística, teóloga, compositora, pregadora, poetisa, dramaturga e escritora. Foi ainda médica e naturalista, deixando inúmeros escritos sobre estas matérias.
O Papa Bento XVI, escreveu sobre ela: “…Hildegarda de Bingen viveu na Alemanha, no século XII. Nasceu em 1098, na Renánia, em Bermersheim, perto de Alzey, e faleceu, em 1179, com 81 anos de idade, não obstante a permanente fragilidade da sua saúde.
Hildegarda pertencia a uma família nobre e numerosa e, desde o nascimento, foi destinada pelos seus pais para o serviço de Deus. Com oito anos, para que recebesse uma adequada formação humana e cristã, foi confiada aos cuidados da mestra Judite de Spanheim, que se tinha retirado em clausura, no mosteiro beneditino de São Disibodo. Foi-se formando um pequeno mosteiro feminino de clausura, que seguia a Regra de São Bento.
Hildegarda recebeu o véu do Bispo Otão de Bamberg e, em 1136, com a morte da madre Judite, que era a Superiora da comunidade, as Irmãs de hábito chamaram-na para lhe suceder. Desempenhou esta tarefa fazendo frutificar os seus dotes de mulher culta, espiritualmente elevada e capaz de enfrentar, com competência, os aspectos organizativos da vida claustral. Alguns anos mais tarde, também devido ao número crescente de jovens mulheres que batiam à porta do mosteiro, Hildegarda fundou outra comunidade em Bingen, intitulada a São Ruperto, onde passou  o resto da sua vida.
O estilo com que exercia o ministério da autoridade é exemplar para cada comunidade religiosa: suscitava uma santa emulação na prática do bem, a ponto de, como resulta do testemunho do tempo, a Madre e as ‘filhas’ competiam na estima e no serviço recíprocos.
Já nos anos em que era superiora do mosteiro de São Disibodo, Hildegarda iniciara a ditar as visões místicas, que tinha há tempos, ao seu conselheiro espiritual, o monge Volmar, e à sua secretária, uma Irmã de hábito, à qual era muito afeiçoada: Richardis de Strade. Como acontece sempre na vida dos verdadeiros místicos, também Hildegarda quis submeter-se à autoridade de pessoas sábias para discernir a origem das suas visões, temendo que elas fossem fruto de ilusões e que não proviessem de Deus. Por isso, dirigiu-se à pessoa que, na sua época, gozava da máxima estima na Igreja: São Bernardo de Claraval. Ele tranquilizou e encorajou Hildegarda. Mas, em 1147, ela recebeu outra aprovação importantíssima. O Papa Eugénio III, que presidia a um Sínodo, em Trier, leu um texto ditado por Hildegarda, que lhe foi apresentado pelo Arcebispo Henrique, de Mainz. O Papa autorizou a mística a escrever as suas visões e a falar em público. A partir daquele momento, o prestígio espiritual de Hildegarda cresceu cada vez mais. Por isso, os seus contemporâneos atribuíram-lhe o título de «profetiza teutónica». Eis o selo de uma experiência autêntica do Espírito Santo, fonte de todo o carisma: a pessoa depositária de dons sobrenaturais nunca se vangloria disso, não os exibe mas, sobretudo, mostra total obediência à autoridade eclesial.
Cada dom distribuído pelo Espírito Santo, de facto, é destinado à edificação da Igreja, e a Igreja, através dos seus Pastores, reconhece a sua autenticidade. (…)
As visões místicas de Hildegarda assemelham-se às dos profetas do Antigo Testamento: exprimindo-se com as categorias culturais e religiosas da sua época, interpretava, à luz de Deus, as Sagradas Escrituras, aplicando-as às várias circunstâncias da vida. Deste modo, todos os que a escutavam, sentiam-se exortados a praticar um estilo de existência cristão coerente e empenhado. Numa carta a São Bernardo, a mística renana confessa: «A visão arrebata todo o meu ser: não vejo com os olhos do corpo, mas aparece-me no espírito dos mistérios... Conheço o significado profundo do que está exposto no Saltério, nos Evangelhos e nos outros livros, que me são mostrados na visão. Ela arde como uma chama no meu peito e na minha alma, e ensina-me a compreender profundamente o texto» (Epistolarium pars prima I-XC: CCCM 91).
As visões místicas de Hildegarda são ricas de conteúdos teológicos. Referem-se aos eventos principais da história da salvação e utilizam uma linguagem sobretudo poética e simbólica. Por exemplo, na sua obra mais conhecida, denominada Scivias, isto é «Conhece as vias», ela resume, em trinta e cinco visões, os acontecimentos da história da salvação, desde a criação do mundo até ao fim dos tempos. Com os traços característicos da sensibilidade feminina, Hildegarda, exactamente na secção central da sua obra, desenvolve o tema do matrimónio místico entre Deus e a humanidade, realizado na Encarnação. No madeiro da Cruz realizam-se as núpcias do Filho de Deus com a Igreja, sua esposa, cheia de graça e tornada capaz de doar a Deus novos filhos, no amor do Espírito Santo (cf. Visio tertiaPL 197, 453c). (…)
A mística renana é também autora de outros escritos, dois dos quais particularmente importantes porque descrevem, como o Scivias, as suas visões místicas: são o Liber vitae meritorum  (Livro dos méritos da vida) e o Liber divinorum operum (Livro das obras divinas), denominado também De operatione Dei.
Noutros escritos Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos mosteiros femininos da Idade Média, contrariamente aos preconceitos que ainda pesam sobre aquela época. Hildegarda ocupou-se de medicina e de ciências naturais, inclusive de música, sendo dotada de talento artístico. Compôs hinos, antífonas e cânticos, que foram reunidos sob o título Symphonia Harmoniae Caelestium Revelationum  (Sinfonia da harmonia das revelações celestiais), que eram executados jubilosamente nos seus mosteiros, difundindo uma atmosfera de serenidade, e que chegaram até nós. Para ela, toda a criação é uma sinfonia do Espírito Santo, que é alegria e júbilo em si mesmo.
A popularidade que circundava Hildegarda impulsionava muitas pessoas a interpelá-la. Por este motivo, dispomos de muitas suas cartas. A ela dirigiam-se comunidades monásticas masculinas e femininas, bispos e abades. Muitas respostas permanecem válidas inclusive para nós.
Quando o imperador Frederico Barba Roxa provocou um cisma eclesial, opondo três antipapas contra o Papa legítimo, Alexandre III, Hildegarda, inspirada pelas suas visões, não hesitou em recordar-lhe que também ele, o imperador, estava sujeito ao juízo de Deus. Com a audácia que caracteriza todos os profetas, ela escreveu ao imperador estas palavras da parte de Deus: «Ai desta conduta malvada dos ímpios que me desprezam! Escuta, ó rei, se quiseres viver! Se não, a minha espada trespassar-te-á!» (Ibid., p. 412).
Com a autoridade espiritual da qual era dotada, nos últimos anos da sua vida Hildegarda pôs-se em viagem, não obstante a idade avançada e as condições difíceis dos deslocamentos, para falar de Deus às populações. Todos a escutavam de bom grado, inclusive quando recorria a um tom severo: consideravam-na uma mensageira enviada por Deus. Exortava sobretudo as comunidades monásticas e o clero a uma vida em conformidade com a própria vocação. De modo particular, Hildegarda contrastou o movimento dos cátaros alemães. Eles — cátaros, à letra, significa «puros» — propugnavam uma reforma radical da Igreja, sobretudo para combater os abusos do clero. Ela repreendeu-os severamente por desejarem subverter a própria natureza da Igreja, recordando-lhes que uma verdadeira renovação da comunidade eclesial não se obtém tanto com a mudança das estruturas, quanto com um sincero espírito de penitência e um caminho concreto de conversão. Esta é uma mensagem que nunca devemos esquecer.(…) (cf. Papa Bento XVI, Audiência-Geral, 1 e 8 de Setembro de 2010)
A memória litúrgica de Santa Hildegarda de Bingen é celebrada no dia 17 de Setembro.
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sábado, 6 de setembro de 2025

EM DESTAQUE:

 


*TEMPO DE ORAÇÃO PELO CUIDADO DA CRIAÇÃO
 
A Santa Sé desafiou os católicos a participarem na iniciativa "Tempo da Criação": um mês de oração e acção ecuménica, em defesa da Criação. É urgente o cuidado do ambiente, desta ‘Casa Comum que é a Terra. Esta iniciativa, com início no dia 1 de Setembro (Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação) decorre até ao dia 4 de Outubro.
Tema deste ano de 2025 é “Sementes de Paz e de Esperança”
O texto bíblico proposto para este ano, como alicerce da reflexão e da oração, é Isaías 32,14-18.
O profeta Isaías retratou a Criação desolada e sem paz, devido à falta de justiça e à quebra da relação entre Deus e os seres humanos. Esta descrição de cidades devastadas e terrenos desolados sublinha, de forma eloquente, o facto de os comportamentos destrutivos do ser humano terem um impacto negativo na Terra.
A nossa esperança: A Criação encontrará a paz quando a justiça for restabelecida.
Ainda há esperança e expectativa de uma Terra em paz. Esperar, num contexto bíblico, não significa ficar parado e calado, mas agir, rezar, mudar e reconciliar-se com a Criação e o Criador em unidade, metanoia (arrependimento) e solidariedade. (cf.Capuchinhos).
 


MENSAGEM DO PAPA LEÃO XIV
PARA O X DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELO CUIDADO DA CRIAÇÃO 2025

Sementes de paz e esperança
Queridos irmãos e irmãs!
O tema para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”. No décimo aniversário da instituição deste Dia de oração, que coincidiu com a publicação da Encíclica Laudato si’, encontramo-nos em pleno Jubileu, “peregrinos de Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire todo o seu significado.
Na sua pregação, Jesus usa com frequência a imagem da semente para falar do Reino de Deus e, na véspera da Paixão, aplica-a a Si mesmo, comparando-Se ao grão de trigo, que deve morrer para dar fruto (cf. Jo 12, 24). A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro. Pensemos, por exemplo, nas flores que crescem à beira da estrada: ninguém as plantou, mas elas crescem graças a sementes que foram parar ali, quase por acaso, e conseguem decorar o cinzento do asfalto e, até mesmo, penetrar na sua dura superfície.
Assim, em Cristo, somos sementes. Não só isso, mas “sementes de Paz e Esperança”. Como diz o profeta Isaías, o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto, árido e ressequido, num jardim, num lugar de repouso e serenidade: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto converter-se-á em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos» (Is 32, 15-18).
Estas palavras proféticas que, de 1 de Setembro a 4 de Outubro, acompanharão a iniciativa ecuménica do “Tempo da Criação”, afirmam com força que, junto à oração, são necessárias vontades e acções concretas que tornem perceptível esta “carícia de Deus” sobre o mundo (cf. Carta enc. Laudato si’, 84). Com efeito, a justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente actual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda da biodiversidade. Os fenómenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas, provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência (cf. Exort. ap. Laudate Deum, 5), sem ter em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados.
Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afecta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático.
E não basta: a própria natureza torna-se, por vezes, um instrumento de troca, uma mercadoria a negociar para obter ganhos económicos ou políticos. Nestas dinâmicas, a criação transforma-se num campo de batalha pelo controlo dos recursos vitais, como testemunham as zonas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas por causa das minas, a política da “terra queimada” [1] , os conflitos que eclodem em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias-primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social.
Estas várias feridas devem-se ao pecado. Não era certamente isso que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao homem criado à sua imagem (cf. Gn 1, 24-29). A Bíblia não promove «o domínio despótico do ser humano sobre a criação» (Carta enc. Laudato si’, 200). Pelo contrário, «é importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza» (ibid., 67).
A justiça ambiental - implicitamente anunciada pelos profetas - já não pode ser considerada um conceito abstracto ou um objectivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera protecção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, económica e antropológica. Para os que crêem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que, para os cristãos, tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.
Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. «Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã» (ibid., 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.
Entre as iniciativas da Igreja, que são como sementes lançadas neste campo, gostaria de recordar o projecto “Borgo Laudato si’” (Aldeia ‘Louvado sejas’), que o Papa Francisco nos deixou como herança, em Castel Gandolfo, uma semente que pode dar frutos de justiça e paz. Trata-se de um projecto de educação para a ecologia integral que visa ser um exemplo de como se pode viver, trabalhar e fazer comunidade aplicando os princípios da Encíclica Laudato si’.
Peço ao Todo-Poderoso que nos envie, em abundância, o seu «espírito do alto» (Is 32, 15), para que estas sementes e outras semelhantes possam dar frutos abundantes de paz e esperança.
A Encíclica Laudato si’ acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXIII DOMINGO COMUM         

“…Seguia Jesus uma grande multidão.
Jesus voltou-Se e disse-lhes:
«Se alguém vem ter comigo,
sem Me preferir ao pai, à mãe,
à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs
e até à própria vida,
não pode ser meu discípulo.
Quem não toma a sua cruz para Me seguir,
não pode ser meu discípulo.
Quem de entre vós, que, desejando construir uma torre,
Não se senta primeiro a calcular a despesa,
para ver se tem com que terminá-la?
Não suceda que, depois de assentar os alicerces,
se mostre incapaz de a concluir
e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:
‘Esse homem começou a edificar,
mas não foi capaz de concluir’.
E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei
e não se senta primeiro a considerar
se é capaz de se opor, com dez mil soldados,
àquele que vem contra com ele com vinte mil?
Aliás, enquanto o outro ainda está longe,
manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz.
Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens,
não pode ser meu discípulo»…
(cf. Lucas 14, 25-33)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 3 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
No coração da narração da paixão, no momento mais luminoso e, ao mesmo tempo, mais tenebroso da vida de Jesus, o Evangelho de João apresenta-nos duas palavras que encerram um mistério imenso: «Tenho sede» (19, 28), e logo depois: «Tudo está consumado» (19, 30). Palavras últimas, mas carregadas de uma vida inteira, que revelam o sentido de toda a existência do Filho de Deus. Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não grita; não condena; não se defende. Pede, humildemente, aquilo que, sozinho, não pode, de modo algum, dar a si mesmo.
A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo atormentado. É também, e sobretudo, expressão de um desejo profundo: o de amor, de relação, de comunhão. É o grito silencioso de um Deus que, tendo querido partilhar tudo da nossa condição humana, se deixa atravessar, também, por esta sede. Um Deus que não se envergonha de mendigar um golo, porque, nesse gesto, diz-nos que o amor, para ser verdadeiro, também deve aprender a pedir e não apenas a dar.
‘Tenho sede’, diz Jesus, e assim manifesta a sua humanidade e também a nossa. Nenhum de nós pode bastar a si mesmo. Ninguém pode salvar-se sozinho. A vida “realiza-se” não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber. E, precisamente, nesse momento, depois de ter recebido, de mãos estranhas, uma esponja embebida em vinagre, Jesus proclama: ‘Tudo está consumado’. O amor tornou-se necessitado e, precisamente por isso, levou a cabo a sua obra.
Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal com a força, mas aceitando, até ao fim, a fraqueza do amor. Na cruz, Jesus ensina-nos que o homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante ao outro, mesmo quando este nos é hostil e inimigo. A salvação não está na autonomia, mas em reconhecer, com humildade, a própria necessidade e saber expressá-la livremente.
A realização da nossa humanidade no desígnio de Deus não é um acto de força, mas um gesto de confiança. Jesus não salva com um gesto clamoroso, mas pedindo algo que, sozinho, não se pode dar. E aqui abre-se uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser suficiente para si mesmo, então também a nossa sede – de amor, de sentido, de justiça – não é um sinal de fracasso, mas de verdade.
Esta verdade, aparentemente tão simples, é difícil de acolher. Vivemos numa época que premeia a autossuficiência, a eficiência, a prestação. No entanto, o Evangelho mostra-nos que a medida da nossa humanidade não é dada pelo que podemos conquistar, mas pela capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, também ajudar.
Jesus salva-nos mostrando-nos que pedir não é indigno, mas libertador. É o caminho para sair do escondimento do pecado, para reentrar no espaço da comunhão. Desde o início, o pecado gerou vergonha. Mas o perdão, o verdadeiro, nasce quando podemos olhar de frente para a nossa necessidade e não temer ser rejeitados.
A sede de Jesus na cruz é, portanto, também a nossa. É o grito da humanidade ferida que ainda busca água viva. E esta sede não nos afasta de Deus, mas une-nos a Ele. Se tivermos a coragem de reconhecê-la, podemos descobrir que, também, a nossa fragilidade é uma ponte para o céu. É precisamente no pedir – não no possuir – que se abre um caminho de liberdade, porque deixamos de pretender ser suficientes a nós mesmos.
Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculo, esconde-se uma alegria que o mundo não conhece. Uma alegria que nos devolve à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor.
Caros irmãos e irmãs: na sede de Cristo, podemos reconhecer toda a nossa sede. E aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que saber dizer: eu preciso. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando nos parece que não o merecemos. Não nos envergonhemos de estender a mão. É precisamente aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 89

 

Refrão: Ó Senhor, Vós tendes sido o nosso refúgio

              através das gerações

Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite.

Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
à tarde ela murcha e seca.

Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.


SANTOS POPULARES

 


BEATO FRANCISCO MARIA DA CRUZ JORDAN
 
João Baptista Jordan nasceu no dia 16 de Junho de 1848, na vila de Gurtweil, Alemanha. Embora tenha sentido o chamado para o sacerdócio, desde muito cedo, foi forçado a trabalhar como pintor e decorador para ajudar a sustentar financeiramente a sua família, muito pobre.
Graças à generosidade dos seus tutores e benfeitores, finalmente conseguiu entrar no Seminário aos 29 anos. Foi ordenado sacerdote no dia 21 de Julho de 1878. Após a sua ordenação, o Padre João Baptista não pôde exercer um cargo pastoral, na sua Diocese, devido às leis anticatólicas da Kulturkampf. Por isso, foi para Roma, para estudar línguas orientais, das quais já possuía algum conhecimento.
Em seguida, viajou para o Cairo e para o Líbano para aprofundar os seus estudos de línguas. Durante esse período, partilhou, com muitas figuras eclesiásticas, os sonhos que tinham despertado no seu coração.
Fez, também, uma peregrinação à Terra Santa e passou muito tempo a pensar e a rezar sobre a ideia que tinha começado a desenvolver-se: fundar uma congregação que unisse os católicos de todos os níveis, com o objectivo de defender e propagar a fé cristã.
Após o seu regresso a Roma, em Agosto de 1880, recebeu a bênção papal. Em seguida, começou a criar os dois níveis da Sociedade Apostólica Instrutiva, estabelecendo o primeiro nível em 8 de Dezembro de 1881. O nome foi posteriormente alterado para Sociedade Católica Instrutiva, para evitar controvérsias.
Após cerca de um ano, os seus planos materializaram-se na fundação de duas comunidades religiosas: a Sociedade do Divino Salvador, para homens; e sete anos depois, as Irmãs do Divino Salvador, para mulheres. Em 11 de Março de 1883, fez os seus votos religiosos, mudando o seu nome para Padre Francisco Maria da Cruz.
Passou o resto da sua vida a trabalhar, incansavelmente, para consolidar as suas fundações. Inicialmente, aceitou a Prefeitura Apostólica de Assam, na Índia, atribuída aos Padres Salvatorianos, pela Propaganda Fide.
[A Congregação para a Evangelização dos Povos  (em latimCongregatio pro Gentium Evangelizatione), também conhecida pelo seu antigo título, Sagrada Congregação para a Propagação da Fé (em latimSacra Congregatio de Propaganda Fide), ou simplesmente Propaganda Fide, foi um dicastério da Cúria Romana, que se ocupava das questões referentes à propagação da fé católica, no mundo inteiro.Com a Bula Inscrutabili Divinae, do dia 22 de Junho de 1622, o Papa Gregório XV criava a Congregação, com o nome de: Propaganda Fide. Esta congregação tem uma tarefa especificamente missionária: dar as directrizes, promover a formação de missionários, dar impulso e prover o sustento daqueles que estão em terras de missão, através das Obras Missionárias Pontifícias]
 
No primeiro Capítulo-Geral da Sociedade do Divino Salvador, em 1902, ele foi eleito Superior-Geral vitalício.
Continuou a estabelecer Comunidades do Divino Salvador por toda a Europa e nas Américas. De acordo com os seus planos, a sua Congregação deveria ser universal, de modo a usar todos os meios e métodos inspirados pelo amor de Cristo, para tornar o Salvador conhecido e amado por todos.
Padre Francisco da Cruz sabia que nada poderia fazer sem total confiança na Divina Providência. Isso é demonstrado no seu Diário Espiritual, um documento de grande interesse, que demonstra, claramente, o seu desejo de santidade.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, mudou-se para Friburgo, na neutra Suíça, para passar, ali, os seus últimos anos.
O Padre Francisco Maria da Cruz Jordan faleceu, na aldeia de Tafers, no dia 8 de Setembro de 1918. Os seus restos mortais são venerados na Cúria Geral da Sociedade do Divino Salvador, na Via della Conciliazione, em Roma, numa capela a ele dedicada.
Foi beatificado, pelo Papa Francisco, no dia 15 de Maio de 2021, na Basílica de São João de Latrão, em Roma, em celebração presidida pelo Cardeal Ângelo De Donatis, Vigário-Geral do Santo Padre para a Diocese de Roma, em nome do Papa.
A memória litúrgica do Beato Francisco Maria da Cruz Jordan é celebrada no dia 21 de Julho, aniversário da sua ordenação sacerdotal.

domingo, 31 de agosto de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXII DOMINGO COMUM       

“…Filho, em todas as tuas obras procede com humildade
e serás mais estimado do que o homem generoso.
Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te
e encontrarás graça diante do Senhor.
Porque é grande o poder do Senhor
e os humildes cantam a sua glória.
A desgraça do soberbo não tem cura,
porque a árvore da maldade criou nele raízes.
O coração do sábio compreende as máximas do sábio
e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria…
(cf. Ben-Sirá 3, 19-21. 30-31)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Sala Paulo VI, Vaticano - Roma, no dia 27 de Agosto de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Hoje, vamos meditar sobre uma cena que marca o início da paixão de Jesus: o momento da sua detenção, no horto das Oliveiras. O evangelista João, com a sua habitual profundidade, não nos apresenta um Jesus apavorado, que foge ou se esconde. Pelo contrário, mostra-nos um homem livre, que se aproxima e toma a palavra, enfrentando, abertamente, a hora em que se pode manifestar a luz do amor maior.
«Sabendo Jesus tudo o que Lhe ia acontecer, aproximou-se e disse-lhes: “A quem buscais?”» (Jo 18, 4). Jesus sabe!... No entanto, decide não recuar. Entrega-se. Não por debilidade, mas por amor. Um amor tão pleno, tão maduro, que não teme a rejeição. Jesus não é preso: deixa-se prender. Não é vítima de uma detenção, mas autor de um dom. Neste gesto encarna-se uma esperança de salvação para a nossa humanidade: saber que, até na hora mais obscura, podemos permanecer livres para amar até ao fim.
Quando Jesus responde «sou eu», os soldados caem por terra. Trata-se de uma passagem misteriosa, dado que, na revelação bíblica, esta expressão evoca o próprio nome de Deus: «Eu sou». Jesus revela que a presença de Deus se manifesta, precisamente, onde a humanidade experimenta a injustiça, o medo, a solidão. É exactamente ali que a verdadeira luz está disposta a brilhar, sem medo de ser dominada pelo avançar das trevas.
No coração da noite, quando tudo parece desabar, Jesus mostra que a esperança cristã não é evasão, mas decisão. Esta atitude é fruto de uma profunda oração, na qual não pedimos a Deus que nos poupe do sofrimento, mas que nos dê força para perseverar no amor, conscientes de que a vida, livremente oferecida por amor, não nos pode ser tirada por ninguém.
«Se é, pois, a mim que procurais, deixai que estes partam» (Jo 18, 8). No momento da sua prisão, Jesus não se preocupa em salvar-se a si mesmo: deseja, apenas, que os seus amigos possam ser livres. Isto demonstra que o seu sacrifício é um verdadeiro acto de amor. Jesus deixa-se apanhar e aprisionar pelos guardas só para poder deixar que os seus discípulos sejam livres.
Jesus viveu cada dia da sua vida como preparação para esta hora dramática e sublime. Por isso, quando ela chega, tem a força de não procurar uma saída. O seu coração sabe bem que perder a vida por amor não é um fracasso, mas possui uma misteriosa fecundidade. Como o grão de trigo que, precisamente ao cair na terra, não fica só, mas morre, tornando-se fecundo.
Até Jesus se sente inquieto diante de um caminho que parece levar, unicamente, à morte e ao fim. Mas, está igualmente convencido de que, no final, só uma vida perdida por amor se reencontra. É nisto que consiste a verdadeira esperança: não em procurar evitar a dor, mas em acreditar que, até no coração dos sofrimentos mais injustos, se esconde a semente de uma vida nova.
E nós? Quantas vezes defendemos a nossa vida, os nossos projectos, as nossas seguranças, sem nos darmos conta de que, agindo assim, ficamos sós. A lógica do Evangelho é diferente: só o que se dá floresce; só o amor que se torna gratuito pode restituir confiança até onde tudo parece perdido.
O Evangelho de Marcos fala-nos, também, de um jovem que, quando Jesus é preso, foge nu (cf. Mc 14, 51). É uma imagem enigmática, mas profundamente evocativa. Também nós, na tentativa de seguir Jesus, vivemos momentos em que somos surpreendidos e ficamos despojados das nossas certezas. São os momentos mais difíceis, nos quais somos tentados a abandonar o caminho do Evangelho porque o amor nos parece um percurso impossível. No entanto, será precisamente um jovem, no final do Evangelho, que anunciará a ressurreição às mulheres, não já nu, mas vestido com uma túnica branca.
Esta é a esperança da nossa fé: os nossos pecados e hesitações não impedem que Deus nos perdoe e nos restitua o desejo de O seguir de novo, para nos tornar capazes de oferecer a vida pelos outros.
Caros irmãos e irmãs: aprendamos, também nós, a entregar-nos à boa vontade do Pai, deixando que a nossa vida seja uma resposta ao bem recebido. Na vida não é necessário controlar tudo. É suficiente escolher, todos os dias, amar com liberdade. É nisto que consiste a verdadeira esperança: em saber que, até na obscuridade da provação, é o amor de Deus que nos sustenta, fazendo amadurecer em nós o fruto da vida eterna. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 67

 

Refrão: Na vossa bondade, Senhor, preparastes uma casa para o pobre.

Os justos alegram-se na presença de Deus,
exultam e transbordam de alegria.
Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome;
o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.

Pai dos órfãos e defensor das viúvas,
é Deus na sua morada santa.
Aos abandonados Deus prepara uma casa,
conduz os cativos à liberdade.

Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos,
restaurastes a vossa herança enfraquecida.
A vossa grei estabeleceu-se numa terra
que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.


SANTOS POPULARES



BEATA MARIA MADALENA DA PAIXÃO  
 
Constança Starace nasceu no dia 5 de Setembro de 1845, em Castellammare di Stabia. Era a mais velha dos seis filhos de uma família abastada. Educada segundo as virtudes e valores da fé cristã, primeiro, em casa e, depois, em vários colégios, Constança sentiu, desde muito jovem, o chamamento de Deus para a vida religiosa. Aos doze anos, entrou para o convento mas, aos catorze anos, teve de regressar a sua casa, devido a problemas de saúde.
Assim, ela tornou-se parte daquele grande grupo de jovens e de mulheres que viviam a sua consagração a Deus, permanecendo em sua casa, rezando, sofrendo e trabalhando nos seus bairros, irradiando uma espiritualidade que atraía grande número de fiéis. O povo chamava-as "monjas domésticas". A maioria delas inscreveu-se nas Ordens Terceiras Mendicantes, recebendo orientação e apoio espiritual.
Havia, também, no sul de Itália, particularmente em Nápoles e arredores, um numeroso grupo de ‘consagradas seculares’. Citamos algumas, das mais notáveis: Santa Maria Francisca das Cinco Chagas, terciária alcantarina, a "santa do Bairro Espanhol"; a Serva de Deus, Anastácia Hilário, terciária dominicana, a "pequena santa de Posillipo"; a Serva de Deus, Maria de Jesus Landi, terciária franciscana, fundadora do Templo e Obras da Coroada Mãe do Bom Conselho, em Capodimonte; a Venerável Genoveva de Troia, terciária franciscana, em Foggia; a Serva de Deus, Maria Ângela Crucificada (Maria Giuda), terciária franciscana do Bairro Mercato, em Nápoles; a Venerável Serafina de Deus, terciária carmelita, em Capri… Constança Starace, também, entrou numa Ordem, tornando-se Terciária das Servas de Maria, recebendo o hábito das mãos do Bispo diocesano, Francisco Xavier Petagna.
Ela ensinou catecismo e organizou a Pia União das Filhas de Maria. Então, a pedido do seu bispo e tendo obtido uma casa dos seus pais, ela utilizou-a para "acolher raparigas em perigo, deixando-as aos cuidados de uma pessoa piedosa, enquanto ela mesma visitava, frequentemente, a casa para educar as pequenas órfãs".
Em 1869, quando o número das jovens hóspedes ultrapassou 100, Constança Starace foi assistida por um grupo de Filhas de Maria, algumas das quais tomaram o hábito das Servas Terciárias de Maria e começaram a viver em comum, com ela. Alguns anos depois, em 1871, Monsenhor Petagna nomeou Constança Starace superiora, com o novo nome de Maria Madalena da Paixão: assim nasceu a Congregação das Irmãs Compassionistas Servas de Maria.
A congregação começou a espalhar-se, primeiro na Puglia e, depois, na Campânia. A Madre Madalena dedicou-se, até à sua morte, à formação espiritual das suas filhas e à liderança das actividades apostólicas e caritativas das casas que cresciam gradualmente.
Ela foi assistida e guiada pelo novo bispo de Castellammare di Stabia, também Terciário dos Servos de Maria: o Servo de Deus, Monsenhor Vicente Maria Sarnelli, que liderou a diocese de 1879 a 1897, quando se tornou Arcebispo de Nápoles.
O seu dinamismo, generosidade e trabalho incansável foram secretamente testados por severas provações. Após a tragédia da Primeira Guerra Mundial, embora bastante idosa e debilitada pela doença, dedicou-se, com inabalável generosidade, ao cuidado dos mais vulneráveis ​​e, especialmente, dos órfãos, doentes ou veteranos de guerra, que se encontravam em necessidade física e espiritual.
A sua autobiografia e a sua extensa correspondência, particularmente as cartas circulares às suas freiras e as endereçadas a Monsenhor Sarnelli, revelam uma alma de excepcional riqueza humana e espiritual; todos os seus escritos foram reunidos em seis volumes, impressos em edições limitadas para uso interno.
Em 1893, a congregação das Irmãs Compassionistas Servas de Maria obteve a filiação oficial à Ordem das Servas de Maria, como já havia acontecido alguns anos antes com outra instituição napolitana, estabelecida em Nocera, as Irmãs Servas de Maria das Dores, fundadas na mesma época pela Serva de Deus Maria Consiglia do Espírito Santo, nascida Emília Addatis.
A Madre Maria Madalena da Paixão faleceu no dia 13 de Dezembro de 1921, em Castellammare di Stabia. A sua duradoura reputação de santidade levou à abertura do processo de beatificação, conduzido na diocese de Castellammare di Stabia de 1939 a 1942.
Maria Madalena da Paixão foi beatificada, na Concatedral de Castellammare di Stabia, no dia 15 de Abril de 2007, pelo Cardeal Saraaiva Martins, Prefeito da Congregação Para a Causa dos Santos, representante do Papa Bento XVI.
Na sua homilia, o Cardeal disse: “…Para a Madre Maria Madalena Starace, Jesus era verdadeiramente "o Primeiro e o Último, o Vivente"; basta pensar que dedicava, num só dia, por vezes, oito horas; outras vezes, cinco horas contínuas para o diálogo com Deus. Ela dirigia o seu Instituto ajoelhada diante do altar, falando primeiro ao Senhor da vida de cada uma das fundações e dos problemas individuais das suas filhas.
Desde os anos da infância, vivida à sombra da mãe tão devota da Virgem das Dores, foi-se radicando no coração de Constança (assim se chamava no século a nossa Beata), o estímulo a uma relação interior com Jesus cada vez mais forte. Quem a orientou para as necessidades de se ocupar das necessidades da juventude foi o Pastor da Diocese, animado por santo zelo, D. Petagna, que não duvidou em lhe confiar a tarefa quer de dirigir um pequeno grupo de jovens da Piedosa União das Filhas de Maria, quer de ensinar o catecismo às crianças. O pequeno grupo cresceu, aumentaram as órfãs e também as jovens dispostas a unir-se ao apostolado realizado pela irmã Starace, até chegar à aprovação do novo Instituto das "Compassionistas" em 1871.
Sob a guia do novo Bispo, D. Sarnelli, a Madre Madalena completou o seu caminho espiritual, chegando até aos cumes da mística, treinando-se num rigoroso ascetismo e conseguindo motivar profundamente a sua intensa actividade apostólica. O seu critério fundamental apoiava-se na convicção - incutida nas suas religiosas e nas suas assistidas – de que o feliz êxito na assistência às pessoas idosas, na educação dos jovens, na doação de si a quantos necessitavam de ajuda e de conforto, estava ligado à santificação pessoal, à união profunda com Deus. À luz desta orientação é possível compreender o motivo da vitalidade do Instituto por ela fundado e a sua difusão nos vários continentes. (…)
Ao espírito de sacrifício e de disponibilidade para ser vítima do amor divino, a Beata Maria Madalena tinha sido predisposta pelo exemplo luminoso de Santa Margarida Maria Alacoque, beatificada por Pio IX, em 1864, quando ela tinha 19 anos de idade. O Coração de Jesus, vítima sacrificada por nós, juntamente com a dor do Coração da Mãe aos pés da Cruz, tornou-se o tema constante da reflexão espiritual da Madre Starace. Falava disto, podemos dizer, quotidianamente às suas Filhas, para as exortar à generosidade ao enfrentar os sacrifícios exigidos para realizar a união profunda com Deus. Às provações, a Madre Starace opunha a arma da oração, a aceitação da cruz e o abandono à vontade de Deus. "Da Cruz não se desce - escrevia - mas ressuscita-se quando tudo está cumprido".
Disto, surge também a sua decisão audaz de construir um templo para dedicar ao Coração de Jesus, na colina de Scanzano. Conseguiu-o pagando um preço altíssimo de sacrifícios e de humilhações, coroados pela consagração do Santuário, celebrada por D. Michele De Jorio, a 5 de Outubro de 1908….”
Os seus restos mortais estão preservados no Santuário do Sagrado Coração e Nossa Senhora das Dores, em Scanzano.
A memória litúrgica da Beata Maria Madalena da Paixão é celebrada no dia 5 de Setembro.
 

sábado, 23 de agosto de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXI DOMINGO COMUM   

“…Jesus dirigia-Se para Jerusalém
e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava.
Alguém perguntou-Lhe:
«Senhor, são poucos os que se salvam?»
Ele respondeu:
«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita,
porque Eu vos digo
que muitos tentarão entrar sem o conseguir.
Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta,
vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo:
‘Abre-nos, senhor’;
mas ele responder-vos-á: ‘Não sei donde sois’.
Então começareis a dizer:
‘Comemos e bebemos contigo
e tu ensinaste nas nossas praças’.
Mas ele responderá:
‘Repito que não sei donde sois.
Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade’.
Aí haverá choro e ranger de dentes,
quando virdes, no reino de Deus,
Abraão, Isaac e Jacob e todos os Profetas,
e vós a serdes postos fora.
Hão-de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul,
e sentar-se-ão à mesa do reino de Deus.
Há últimos que serão dos primeiros
e primeiros que serão dos últimos»…”
(cf. Lucas 13, 22-30)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Sala Paulo VI, Vaticano - Roma, no dia 20 de Agosto de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Hoje, reflectiremos sobre um dos gestos mais comoventes e luminosos do Evangelho: o momento em que Jesus, durante a última ceia, ofereceu um pedaço de pão àquele que está prestes a traí-lo. Não se trata apenas de um gesto de partilha, é muito mais: é a última tentativa do amor não se dar por vencido.
Com a sua profunda sensibilidade espiritual, São João narra-nos assim aquele instante: «Durante a ceia, quando o diabo já tinha posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a intenção de o entregar [...] sabendo Jesus que chegara a sua hora [...] levou até ao extremo o seu amor por eles» (Jo 13, 1-2). Amar até ao fim: eis a chave para compreender o coração de Cristo. Um amor que não se detém diante da rejeição, da desilusão, nem sequer da ingratidão.
Jesus conhece a hora, mas não a padece: escolhe-a. É Ele quem reconhece o momento em que o seu amor deverá passar através da ferida mais dolorosa: a da traição. E, em vez de recuar, de acusar, de se defender... continua a amar: lava os pés, molha o pão e oferece-o.
«É aquele a quem Eu der o bocado de pão que vou molhar» (Jo 13, 26). Com este gesto, simples e humilde, Jesus leva em frente e a fundo o seu amor. Não porque ignora o que acontece, mas precisamente porque vê com clareza. Ele compreendeu que a liberdade do outro - até quando se perde no mal - ainda pode ser alcançada pela luz de um gesto manso. Porque sabe que o verdadeiro perdão não espera pelo arrependimento, mas oferece-se primeiro, como dom gratuito, ainda antes de ser acolhido.
Infelizmente, Judas não compreende. Depois do pedaço de pão – diz o Evangelho – «entrou nele Satanás» (v. 27). Esta passagem impressiona-nos: como se o mal, até àquele momento oculto, se manifestasse depois de o amor ter mostrado o seu rosto mais desarmado. E, precisamente por isso, irmãos e irmãs, aquele pedaço de pão é a nossa salvação: porque nos diz que Deus faz tudo – absolutamente tudo – para nos alcançar, até na hora em que O rejeitamos.
É aqui que o perdão se revela em toda a sua potência, manifestando o rosto concreto da esperança. Não é esquecimento, nem debilidade. É a capacidade de deixar o outro livre; contudo, amando-o até ao fim. O amor de Jesus não nega a verdade da dor, mas não permite que o mal tenha a última palavra. Este é o mistério que Jesus realiza por nós, no qual, também nós, às vezes, somos chamados a participar.
Quantas relações se interrompem; quantas histórias se complicam; quantas palavras não ditas permanecem suspensas. No entanto, o Evangelho mostra-nos que há sempre uma maneira de continuar a amar, até quando tudo parece irremediavelmente comprometido. Perdoar não significa negar o mal, mas impedir que ele gere outro mal. Não significa dizer que nada aconteceu, mas fazer tudo o que for possível a fim de que não seja o rancor a decidir o futuro.
Quando Judas saiu da sala, «era noite» (v. 30). Mas, imediatamente depois, Jesus diz: «Agora foi glorificado o Filho do homem» (v. 31). A noite ainda estava presente, mas uma luz já começou a brilhar. E resplandece porque Cristo permanece fiel até ao fim, e, assim, o seu amor é mais forte do que o ódio.
Prezados irmãos e irmãs: também nós vivemos noites dolorosas e cansativas. Noites da alma, noites da desilusão, noites em que alguém nos feriu ou traiu. Nesses momentos, a tentação é fechar-nos, proteger-nos, retribuir o golpe. Mas o Senhor mostra-nos a esperança de que existe sempre outro caminho. Ensina-nos que podemos oferecer um pedaço de pão até a quem nos vira as costas. Que podemos responder com o silêncio da confiança. E que podemos ir em frente com dignidade, sem renunciar ao amor.
Hoje, peçamos a graça de saber perdoar, mesmo quando não nos sentimos compreendidos, até quando nos sentimos abandonados. Pois é precisamente naquelas horas que o amor pode alcançar o seu auge. Como Jesus nos ensina, amar significa deixar o outro livre - até de trair - sem nunca cessar de acreditar que até essa liberdade, ferida e perdida, pode ser erradicada do engano das trevas e restituída à luz do bem.
Quando a luz do perdão consegue filtrar-se pelas fendas mais profundas do coração, compreendemos que nunca é inútil. Mesmo que o outro não o aceite; ainda que pareça vão, o perdão liberta quem o concede: dissolve o ressentimento, devolve a paz, restitui-nos a nós próprios.
Com o simples gesto da oferenda do pão, Jesus mostra que cada traição pode tornar-se ocasião de salvação, se for escolhido como espaço para um amor maior. Não cede ao mal, mas vence-o com o bem, impedindo-o de extinguir o que há de mais verdadeiro em nós: a capacidade de amar. (cf. Santa Sé)
 

PARA REZAR



- SALMO 116

 

Refrão: Ide por todo o mundo, anunciai a boa nova.

 

Os céus proclamam a glória de Deus

E o firmamento anuncia a obras das suas mãos

O dia transmita ao outro esta mensagem

E a noite a dá a conhecer à outra noite.

 

Não são palavras nem linguagem

Cujo sentido se não perceba.

O seu eco ressoou por toda a terra

E a sua notícia até aos confins do mundo.

 

Como é admirável, ó Deus, a Vossa bondade

À sombra das vossas asas se refugiam os homens.

Podem saciar-se da abundância da Vossa casa

E Vós os inebriais com a torrente das Vossas delícias.

SANTOS POPULARES

 


SANTA JOAQUINA DE VEDRUNA
 
Joaquina nasceu em Barcelona, no dia 16 de Abril de 1783. Era filha de Lourenço de Vedruna e Teresa Vidal, pais de genuína fé cristã. Foi batizada no mesmo dia.
Desde a infância, sentia-se atraída pelo amor de Deus, a tal ponto que a sua mãe lhe perguntou como conseguia passar tanto tempo em oração; ela respondeu que tudo lhe falava de Deus: os alfinetes da sua renda de bilro lembravam-lhe os espinhos da coroa de Cristo crucificado, a quem ansiava por consolar com pequenos sacrifícios; da mesma forma, a linha de costura lembrava-lhe as cordas com que Jesus foi amarrado à coluna; as ervas daninhas nos canteiros representavam as suas próprias falhas e deficiências, a serem erradicadas.
Com estes sentimentos, tão profundos numa criança, Joaquina fez, aos nove anos, a sua Primeira Comunhão; aos doze decidiu consagrar-se ao Senhor entre as freiras carmelitas de clausura, de Barcelona. Devido à sua tenra idade, não foi aceite. No entanto, ela viveu a sua juventude tendo presente esse ideal, que lhe parecia ser o caminho principal da sua vida.
Porém, aos dezasseis anos, foi pedida em casamento por Teodoro de Mas, um jovem que também sentia um forte apelo à vida religiosa, mas foi impedido pelos seus pais, por ser o filho primogénito e o herdeiro de uma família nobre.
Joaquina, depois de um tempo de discernimento - ajudada pelo seu confessor, que lhe explicou ser essa era a vontade de Deus – aceitou. O casamento com Teodoro foi celebrado no dia 24 de Março de 1799.
A perfeita afinidade entre estas duas almas transformou o seu lar num oásis de paz e harmonia. O dia começava com ambos a ir à igreja e terminava, à noite, com a recitação do terço, acompanhados ao longo dos anos pelo coro dos seus nove filhos, criados com amor e incentivados na prática da virtude, pelo seu louvável exemplo.
Então, de 1803 a 1813, a Espanha esteve sob o domínio francês de Napoleão Bonaparte. Durante este período, o povo espanhol rebelou-se, em armas, contra esta ocupação. Teodoro de Mas, descendente de guerreiros valentes, também se voluntariou para defender o seu país. Esteve envolvido no cerco a um castelo, perto de Vich, onde realizou uma defesa árdua, com um grupo de patriotas, que os franceses não conseguiram capturar. Foi um período de intenso sofrimento para Joaquina de Vedruna, que estava ansiosa pela vida do marido, preocupada com os filhos e com a grande pobreza em que haviam caído.
Mas nada poderia abalar a sua ilimitada confiança na Providência e, sem jamais reclamar, ela nunca parou de rezar. Ao voltar da guerra, fisicamente debilitado, Teodoro de Mas faleceu, no dia 6 de Março de 1816. Naquela circunstância, a jovem viúva, de 33 anos, olhou para o grande crucifixo pendurado no seu quarto e sentiu que ele dizia: "Agora que perdeste o teu marido terreno, eu escolho-te como minha noiva".
Ela permaneceu em Barcelona, por mais alguns meses, para proteger os direitos dos seus filhos das exigências dos seus parentes e, depois, retirou-se para Vic, para a propriedade que herdara do seu marido, chamada "Manso Escorial", onde poderia cuidar melhor dos filhos e buscar a sua própria santificação.
Infelizmente, a mortalidade infantil era um flagelo, naquela época, e Joaquina sofreu muito com a morte de três dos seus filhos. Quatro deles ingressaram, posteriormente, na vida religiosa e dois casaram-se construindo famílias felizes. Tendo-se libertado dos compromissos familiares, Joaquina pensou que tinha chegado o momento de realizar o seu antigo sonho: entrar numa ordem religiosa de clausura. No entanto, o seu director espiritual, o Padre Estêvão de Olot, frade capuchinho de Vic, dissuadiu-a disso, dizendo-lhe que Deus não a queria num Mosteiro, mas como fundadora de uma congregação religiosa dedicada a cuidar dos doentes e da educação de meninas.
Mais uma vez, Joaquina curvou a cabeça em concordância e, no dia 6 de Janeiro de 1826, com 43 anos, fez a sua profissão como "Carmelita da Caridade", na capela episcopal de Vic, perante Dom Paulo de Jesus Corcuera, bispo da cidade de Vic, que tanto a havia encorajado e dado o seu nome à nova instituição.
Assim, no 26 de Fevereiro de 1826, juntamente com nove jovens aspirantes, depois de assistirem à missa, dirigiram-se ao "Manso Escorial", onde iniciaram a sua nova vida, de paz e fervor religioso.
O seu amor maternal foi transmitido às suas novas filhas, tornando-se um elemento fundamental no método educacional das "Carmelitas da Caridade". Superando dificuldades e sofrimentos, o Instituto foi crescendo, pouco a pouco, espalhando-se com uma densa rede de Casas, por toda a Catalunha, confirmando, como ela mesma disse, "que a Congregação não era obra sua, mas de Deus".
Em Setembro de 1849, sofreu o seu primeiro derrame, seguido por outros que a deixaram paralisada e, de acordo com a vontade de Deus, – como dizia ela - "inútil e desprezível" aos olhos dos outros.
No dia 28 de Agosto de 1854, aos 71 anos, após um novo ataque da doença, apresentou sintomas da cólera que dizimava a população, naquela época. E, rodeada pelo amor das suas Irmãs, adormeceu no Senhor.
Foi beatificada, no dia 19 de Maio de 1940, pelo Papa Pio XII; e canonizada, no dia 12 de Abril de 1959, pelo Papa João XXIII.
A memória litúrgica de Santa Joaquina de Vedruna é celebrada no dia 28 de Agosto.
 

sábado, 16 de agosto de 2025

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- SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
 
Queridos irmãos e irmãs: feliz festa!...
Os Padres do Concílio Vaticano II deixaram-nos um texto maravilhoso sobre a Virgem Maria, que me apraz reler convosco hoje, enquanto celebramos a festa da sua Assunção à glória do céu. No final do documento sobre a Igreja, o Concílio diz o seguinte: «…a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cf. 2 Pe 3, 10)» (Lumen gentium, 68).
Maria, que Cristo ressuscitado levou consigo, em corpo e alma, para a glória, brilha como ícone de esperança para os seus filhos peregrinos na história.
Como não pensar nos versos de Dante, no último canto do Paraíso? Na oração colocada na boca de São Bernardo, que começa com «Virgem mãe, filha do teu filho» (XXXIII, 1), o poeta louva Maria porque, aqui em baixo, entre nós mortais, Ela é «fonte vivaz de esperança» (ibid., 12), ou seja, fonte viva, transbordante de esperança.
Irmãs e irmãos: esta verdade da nossa fé está em perfeita sintonia com o tema do Jubileu que estamos a viver: «Peregrinos de esperança». O peregrino precisa de uma meta que oriente a sua viagem: uma meta bonita, atraente, que guie os seus passos e o revigore quando está cansado, que reavive sempre no seu coração o desejo e a esperança. No caminho da existência, esta meta é Deus, Amor infinito e eterno, plenitude de vida, de paz, de alegria e de todo o bem. O coração humano sente-se atraído por tal beleza e enquanto não a encontra não é feliz; e, efectivamente, corre o risco de não a encontrar se se perder no meio da “floresta escura” do mal e do pecado.
Mas, eis a graça: Deus veio ao nosso encontro; assumiu a nossa carne, feita de terra e, simbolicamente, digamos que a levou consigo «para o céu», isto é, para Deus. É o mistério de Jesus Cristo, encarnado, morto e ressuscitado pela nossa salvação; e, inseparável d’Ele, está também o mistério de Maria, a mulher de quem o Filho de Deus recebeu a carne, e o mistério da Igreja, corpo místico de Cristo. Trata-se de um único mistério de amor e, portanto, de liberdade. Assim como Jesus disse “sim”, Maria também disse “sim”, acreditou na palavra do Senhor. E toda a sua vida foi uma peregrinação de esperança com o Filho de Deus e seu, uma peregrinação que, através da Cruz e da Ressurreição, a conduziu à pátria, ao abraço de Deus.
Por isso, enquanto estivermos a caminho, como indivíduos, como família, em comunidade, especialmente quando as nuvens chegarem e o caminho se tornar incerto e difícil, levantemos o olhar, olhemos para Ela, nossa Mãe, e reencontraremos a esperança que não engana (cf. Rm 5, 5). (Papa Leão XIV, Oração do Angelus, Castel Gandolfo, 15 de Agosto de 2025)