PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “…Está perto o Reino dos céus…” (cf. Mateus 3, 2) No Evangelho deste segundo domingo de Advento ressoa o convite de João Baptista: «Fazei penitência porque o Reino dos céus está próximo!» (Mt 3, 2). Com estas mesmas palavras Jesus dará início à sua missão na Galileia (cf. Mt 4, 17); e este será também o anúncio que os discípulos deverão levar na sua primeira experiência missionária (cf. Mt 10, 7). O Evangelista Mateus quer assim apresentar João como aquele que prepara o caminho a Cristo que vem, e aos discípulos como continuadores da pregação de Jesus. Trata-se do mesmo anúncio jubiloso: vem o reino de Deus, aliás, está próximo, está no meio de nós! Esta palavra é muito importante: «O reino de Deus está no meio de vós», diz Jesus. E João anuncia aquilo que Jesus dirá depois: «O reino de Deus veio, chegou, está no meio de vós». Esta é a mensagem central de cada missão cristã. Quando um missionário vai, um cristão vai a anunciar Jesus, não vai fazer proselitismo, como se fosse um torcedor que procura mais seguidores para a sua equipa. Não, vai simplesmente para anunciar: «O reino de Deus está no meio de vós!». E assim o missionário prepara a estrada a Jesus, que encontra o seu povo. Mas o que é este reino de Deus, este reino dos céus? São sinónimos. Nós pensamos imediatamente em algo que diz respeito ao além: a vida eterna. Certamente, isto é verdade, o reino de Deus prolongar-se-á sem fim além da vida terrena, mas a boa nova que Jesus nos traz — e que João antecipa — é que não devemos esperar o reino de Deus no futuro: aproximou-se, de qualquer maneira já está presente e podemos experimentar desde agora a sua força espiritual. «O reino de Deus está no meio de vós!» dirá Jesus. Deus vem para estabelecer o seu domínio na nossa história, no hoje de cada dia, na nossa vida; e ali onde ele for acolhida com fé e humildade germinam o amor, a alegria e a paz. A condição para fazer parte deste reino consiste em realizar uma transformação na nossa vida, ou seja, converter-nos todos os dias, um passo em frente cada dia... Trata-se de deixar os caminhos, confortáveis e enganadores, dos ídolos deste mundo: o sucesso a todo o custo, o poder em detrimento dos mais débeis, a sede das riquezas, o prazer a qualquer preço. E de abrir, ao contrário, o caminho ao Senhor que vem: Ele não tira a nossa liberdade, mas doa-nos a verdadeira felicidade. Com o nascimento de Jesus em Belém, é o próprio Deus que vem habitar no meio de nós para nos libertar do egoísmo, do pecado e da corrupção, destas atitudes que são do demónio: procurar o sucesso a todo o custo, procurar o poder em detrimento dos mais débeis, ter sede das riquezas e procurar o prazer a qualquer preço. O Natal é um dia de grande alegria também exterior, mas é sobretudo um evento religioso para o qual é necessária uma preparação espiritual. Neste tempo de Advento, deixemo-nos guiar pela exortação do Batista: «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas!», diz-nos (v. 3). Nós preparamos o caminho do Senhor e endireitamos as suas veredas, quando examinamos a nossa consciência, quando perscrutamos as nossas atitudes pecaminosas que mencionei, que não são de Deus: o sucesso a todo o custo; o poder em detrimento dos mais débeis; a sede das riquezas; o prazer a qualquer preço. Que a Virgem Maria nos ajude a preparar-nos para o encontro com este Amor-sempre-maior, que é aquele que traz Jesus, que na noite de Natal se faz pequenino, como uma semente caída na terra. E Jesus é esta semente: a semente do Reino de Deus. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, na Praça de São Pedro, Roma, no dia 4 de Dezembro de 2016)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

EM DESTAQUE

 


SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO
 
A Igreja celebra, no dia 8 de Dezembro, a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria. Esta solenidade anuncia que Maria, no momento da sua concepção, foi preservada da mancha do pecado original.
Este acontecimento, que a Igreja contempla com admiração e grande alegria, é o início de uma nova história da qual também nós fazemos parte: a história da redenção iniciada por Deus no lar de Ana e Joaquim, pais de Maria. Deus não se rende diante do pecado e do mal; mas, no seu desígnio de amor, está decidido a recriar todas as coisas.
Maria, mulher da nossa condição humana, faz parte do Seu plano salvador desde toda a eternidade. O próprio Deus anunciou a sua extraordinária missão: diante do pecado dos nossos primeiros pais, prometeu solenemente a salvação: "Porei inimizade entre ti [Satanás] e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; esta te ferirá a cabeça, e tu a ferirás o calcanhar" (Gen 3,9-15.20).
No jardim do Éden, destruído pelo pecado, Deus restaura os laços de comunhão rompidos pelo pecado e, com um novo começo, continua a sua história de amor pela humanidade, prometendo a vitória por meio dessa mulher que, já naquele momento, surge no horizonte como aquela que se tornará a mãe do Verbo eterno, o Filho do Pai que se fará homem para salvar a humanidade!
A Imaculada Conceição de Maria, que ocorreu tantos séculos depois dessa promessa, é, portanto, o alvorecer de uma nova história, de uma nova humanidade.
Maria é a primeira dos redimidos. Deus Pai aplica a Ela, antecipadamente, os méritos da paixão, morte e ressurreição de Cristo: um mistério de graça, de amor gratuito, um mistério de incomparável beleza que as ciladas de Satanás e as suas constantes tentativas de semear a tragédia na história não podem destruir!
São Lucas, no seu Evangelho (Lc 1,26-38), narra o facto pelo qual Deus preservou Maria do pecado original e A tornou "cheia de graça": ser a Mãe de Jesus, o Filho de Deus.
Em Portugal a Solenidade da Imaculada Conceição é feriado nacional, em reconhecimento da importância desta data na espiritualidade e identidade do país.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria foi proclamado no dia 8 de Dezembro de 1854, através da bula ‘Ineffabilis Deus’, na qual o Papa Pio IX declara a santidade da Virgem Santa Maria, desde o primeiro momento da sua existência, sendo preservada do pecado original.
Em Portugal, a primeira celebração do culto da Imaculada Conceição aconteceu na Sé Velha de Coimbra, no dia 8 de Dezembro de 1320, depois de D. Raimundo Evrard, bispo diocesano da altura, ter assinado, no dia 17 de Outubro de 1320, a constituição diocesana que instituiu a festividade da Conceição de Maria.
Esta festividade ganhou maior destaque, em 1385, aquando da batalha de Aljubarrota. Em honra desta esta vitória, o Santo Condestável – São Nuno de Santa Maria - fundou a igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, e fez consagrar aquele templo a Nossa Senhora da Conceição.
D. João IV, atento a uma religiosidade que também já envolvera a construção de monumentos como o Mosteiro da Batalha, o Convento do Carmo e o Mosteiro da Conceição, coroou a Imagem de Nossa Senhora da Conceição, de Vila Viçosa, como Rainha e Padroeira de Portugal, em 1646.
 
 


SÃO NICOLAU
 
A Igreja celebra, no dia 6 de Dezembro, a memória de São Nicolau, que é, também, o Padroeiro da Paróquia de Santa Maria da Feira.
Nasceu em Patara, uma cidadezinha marítima da Lícia, na Turquia meridional, no séc. III, numa família rica, que o educou na fé cristã.
A sua vida, desde a sua juventude, foi marcada pela obediência. Ainda muito jovem, ao ficar órfão de pai e mãe, Nicolau, recordando-se a passagem evangélica do “Jovem Rico”, usou toda a riqueza, herdade dos seus pais, para ajudar os mais necessitados, os doentes e os pobres.
Foi nomeado Bispo de Mira, no tempo do imperador Diocleciano; foi preso e exilado. Depois da sua libertação, em 325, participou no Concílio de Niceia e faleceu, em Mira, no ano de 343.
São muitos os episódios narrados sobre a vida e actividade de São Nicolau. Todos dão testemunho de uma vida ao serviço dos mais fracos, pequeninos e indefesos.
Uma das histórias mais antigas, transmitidas sobre a vida de São Nicolau, diz respeito a um seu vizinho de casa, que tinha três filhas, já na idade de se casar; mas não tinham dinheiro suficiente para comprar o dote. Para as livrar da prostituição, certa noite, Nicolau colocou dinheiro num pano e atirou-o pela janela da casa do vizinho, e saiu a correr para não ser visto. Graças àquele presente, a filha mais velha do vizinho conseguiu casar-se. O generoso benfeitor repetiu aquele gesto, outras duas vezes, mas, na terceira vez, o pai das jovens saiu rapidamente de casa, para saber quem era aquele benfeitor. Nicolau lhe pediu-lhe para não dizer nada a ninguém.
Outra história diz respeito a três jovens estudantes de teologia que se dirigiam para Atenas. O dono da hospedaria, onde os jovens tinham parado para passar a noite, roubou-os e matou-os, escondendo os seus corpos numa pipa. O Bispo Nicolau, que também viajava para Atenas, parou na mesma hospedaria e, enquanto dormia, teve uma visão sobre o crime cometido pelo dono. Então, recolhendo-se em oração, São Nicolau deu novamente a vida aos três estudantes e obteve a conversão do dono malvado.
Este episódio, como o da libertação misteriosa de Basílio - um rapaz sequestrado por piratas e vendido como escravo a um emir, que segundo a lenda, foi misteriosamente libertado por São Nicolau e apareceu na casa dos seus pais, com o ceptro de ouro do emir – contribuíram para difundir a fama de São Nicolau como padroeiro das crianças e dos jovens.
Durante os anos da sua juventude, Nicolau foi, em peregrinação, à Terra Santa. Passando pelos mesmos caminhos percorridos por Jesus, Nicolau rezou para poder fazer a mesma experiência, mais profunda e solidária, da vida e dos sofrimentos de Jesus. No caminho de regresso, houve uma tremenda tempestade e o navio, em que viajava, estava quase a naufragar. Nicolau pôs-se, discretamente, em oração e o vento e as ondas, de repente, acalmaram-se para admiração dos marinheiros, que temiam o pior.
Depois da morte de São Nicolau, o seu túmulo, em Mira, tornou lugar de peregrinação; as suas relíquias foram consideradas milagrosas, por causa de um misterioso líquido, chamado maná de São Nicolau, que saía lá de dentro. Quando, no século XI, Lícia foi dominada pelos Turcos, os venezianos procuraram apoderar-se das relíquias. Porém, foram precedidos pelos habitantes de Bari. Assim, levaram as relíquias para a Apúlia, em 1087. Dois anos depois, foi concluída a cripta da nova igreja, desejada pelo povo de Bari, no lugar onde estava o palácio do “catapano” (título do alto oficial militar e administrativo do Império Bizantino, especialmente no sul da Itália) bizantino. O papa Urbano II, escoltado pelos cavaleiros normandos, senhores da Apúlia, colocou as relíquias do Santo sob o altar, onde se encontram ainda hoje.
A translação das relíquias de São Nicolau teve um impacto extraordinário em toda a Europa. Na Idade Média, o seu santuário, na Apúlia, tornou-se uma importante meta de peregrinações, com o consequente resultado da difusão do culto de São Nicolau, chamado de Bari e não de Mira.

DA PALAVRA DO SENHOR



II DOMINGO DO ADVENTO

         

“…Tudo o que foi escrito no passado
foi escrito para nossa instrução,
a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras,
tenhamos esperança.
O Deus da paciência e da consolação vos conceda
que alimenteis os mesmos sentimentos uns para com os outros,
segundo Cristo Jesus,
para que, numa só alma e com uma só voz,
glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Acolhei-vos, portanto, uns aos outros,
como Cristo vos acolheu,
para glória de Deus.
Pois eu vos digo que Cristo Se fez servidor dos judeus,
para mostrar a fidelidade de Deus
e confirmar as promessas feitas aos nossos antepassados.
Por sua vez, os gentios dão glória a Deus pela sua misericórdia,
como está escrito:
«Por isso eu Vos bendirei entre as nações
e cantarei a glória do vosso nome»…”
(cf. Romanos 15, 4-9)

 

PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Homilia do XXXIII Domingo do Tempo Comum, no dia 16 de Novembro de 2025, na Basílica de São Pedro, Vaticano – Roma., dia mundial dos pobres.
 
Queridos irmãos e irmãs:
Nos últimos domingos do ano litúrgico, somos convidados a olhar para a história nos seus desfechos finais. Na primeira leitura, o profeta Malaquias vislumbra, na chegada do “dia do Senhor”, a entrada num novo tempo. Este é descrito como o tempo de Deus, em que, como um amanhecer que faz surgir um sol de justiça, as esperanças dos pobres e dos humildes receberão, do Senhor, uma resposta final e definitiva, e serão erradicadas, queimadas como se fossem palha, as obras dos ímpios e a sua injustiça, sobretudo em detrimento dos indefesos e dos pobres.
Como sabemos, esse sol de justiça que surge é o próprio Jesus. O dia do Senhor, com efeito, não é apenas o último dia da história, mas é o Reino que se aproxima de cada homem, no Filho de Deus que vem. No Evangelho, usando a típica linguagem apocalíptica do seu tempo, Jesus anuncia e inaugura esse Reino: na realidade, Ele mesmo é o senhorio de Deus que se faz presente no meio aos acontecimentos dramáticos da história. Por isso, eles não devem assustar o discípulo, mas torná-lo ainda mais perseverante no testemunho e consciente de que a promessa de Jesus é sempre viva e fiel: «não se perderá um só cabelo da vossa cabeça» (Lc 21, 18).
Irmãos e irmãs: esta é a esperança à qual nos agarramos, mesmo diante das vicissitudes nem sempre felizes da vida. Ainda hoje, «a Igreja prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha» (Lumen gentium, 8). E, onde todas as esperanças humanas parecem esgotar-se, torna-se ainda mais firme a única certeza, mais estável do que o céu e a terra, de que o Senhor não deixará que se perca nem um único cabelo da nossa cabeça.
Deus não nos deixa sozinhos nas perseguições, nos sofrimentos, nas dificuldades e nas opressões da vida e da sociedade. Ele manifesta-se como Aquele que toma partido por nós. Toda a Escritura é atravessada por este fio condutor que narra um Deus que está sempre do lado dos mais frágeis, dos órfãos, dos estrangeiros e das viúvas (cf. Dt 10, 17-19). E a proximidade de Deus atinge o ápice do amor no seu filho Jesus: por isso, a presença e a palavra de Cristo tornam-se júbilo e jubileu para os mais necessitados, pois Ele veio para anunciar aos pobres a boa nova e proclamar o ano da graça do Senhor (cf. Lc 4, 18-19).
Neste ano de graça, também nós participamos, precisamente hoje, de modo especial, ao celebrarmos o Jubileu dos Pobres com este Dia Mundial. Toda a Igreja exulta e se alegra, e em primeiro lugar a vós, queridos irmãos e irmãs, desejo transmitir com força as palavras irrevogáveis do próprio Senhor Jesus: «Dilexi te - Eu te amei» (Ap 3, 9). Sim, diante da nossa pobreza e pequenez, Deus olha-nos como ninguém mais e ama-nos com amor eterno. E a sua Igreja, ainda hoje, talvez especialmente neste nosso tempo tão ferido por antigas e novas pobrezas, quer ser «mãe dos pobres, lugar de acolhimento e justiça» (Exort. ap. Dilexi te, 39).
Quantas pobrezas oprimem o nosso mundo! Trata-se, primordialmente, de pobrezas materiais, mas também existem inúmeras situações morais e espirituais, que muitas vezes afectam sobretudo os mais jovens. E o drama que as atravessa todas, transversalmente, é a solidão. Ela desafia-nos a olhar para a pobreza de forma integral, certamente porque, às vezes, é necessário responder às necessidades urgentes, mas, de modo mais geral, é uma cultura da atenção que devemos desenvolver, justamente para quebrar o muro da solidão. Por isso, queremos estar atentos ao outro, a cada um, ali onde estamos e onde vivemos, transmitindo essa atitude já na família, para vivê-la concretamente nos locais de trabalho e de estudo, nas diferentes comunidades, no mundo digital, em toda parte, indo até aos confins e tornando-nos testemunhas da ternura de Deus.
Hoje, o nosso estado de impotência parece ser confirmado, em primeiro lugar, pelos cenários de guerra que, infelizmente, estão presentes em várias regiões do mundo. Mas a globalização dessa impotência nasce de uma mentira: da crença de que a história sempre foi assim e não pode mudar. O Evangelho, de modo diverso, diz-nos que é precisamente nas grandes perturbações da história que o Senhor vem salvar-nos. E nós, comunidade cristã, devemos ser, hoje, sinal vivo dessa salvação, no meio dos pobres.
A pobreza interpela os cristãos, e também todos aqueles que têm funções de responsabilidade na sociedade. Exorto, portanto, os Chefes de Estado e os Responsáveis das Nações a ouvirem o clamor dos mais pobres. Não poderá haver paz sem justiça, e os pobres recordam-nos isso de muitas maneiras: com a sua migração, bem como com o seu grito muitas vezes abafado pelo mito do bem-estar e do progresso que não tem todos em conta e que, em vez disso, esquece muitas criaturas, abandonando-as ao seu destino.
Aos agentes da caridade, aos muitos voluntários, a todos aqueles que se ocupam de aliviar as condições dos mais pobres, expresso a minha gratidão e, ao mesmo tempo, o meu encorajamento a terem cada vez mais consciência crítica na sociedade. Vós sabeis bem que a questão dos pobres remete ao essencial da nossa fé, que para nós eles são a própria carne de Cristo e não apenas uma categoria sociológica (cf. Dilexi te, 110). É por isso que «a Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes» (ivi, 75).
Comprometamo-nos todos. Como escreve o apóstolo Paulo aos cristãos de Tessalónica (cf. 2 Ts 3, 6-13), enquanto aguardamos o glorioso regresso do Senhor, não devemos viver uma vida voltada para nós mesmos e num intimismo religioso que se traduz no descompromisso para com os outros e a história. Pelo contrário, buscar o Reino de Deus implica o desejo de transformar a convivência humana num espaço de fraternidade e dignidade para todos, sem excluir ninguém. Está sempre à espreita o perigo de viver como viajantes distraídos, indiferentes ao destino final e desinteressados por aqueles que partilham o caminho connosco.
Neste Jubileu dos Pobres, deixemo-nos inspirar pelo testemunho dos Santos e das Santas que serviram Cristo nos mais necessitados e o seguiram no caminho da pequenez e do despojamento. Em particular, gostaria de propor novamente a figura de São Bento José Labre, que com a sua vida de “vagabundo de Deus” tem as características para ser o padroeiro de todos os pobres sem-abrigo. Que a Virgem Maria, que no Magnificat continua a recordar-nos as escolhas de Deus e se faz voz dos que não têm voz, nos ajude a entrar na nova lógica do Reino, para que na nossa vida de cristãos esteja sempre presente o amor de Deus que acolhe, perdoa, cuida das feridas, consola e cura. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 71

 

Refrão: Nos dias do Senhor, nascerá a justiça e a paz.

 

Ó Deus, dai ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.

Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.

Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.

O seu nome será eternamente bendito
e durará tanto como a luz do sol;
nele serão abençoadas todas as nações,
todos os povos da terra o hão de bendizer.


SANTOS POPULARES

 


BEATO MARCO ANTÓNIO DURANDO
 
Marco António Durando nasceu no dia 22 de Maio de 1801, em Mondovì, na província de Cuneo, na distinta família Durando, cujos membros se destacaram em carreiras militares e políticas e foram figuras proeminentes no Risorgimento [foi um movimento da história italiana que procurava unificar o país, entre 1815 e 1870, que era, até então, formado por pequenos Estados submetidos a potências estrangeiras] piemontês e italiano. A casa da família tinha vista para a Piazza Maggiore, perto da catedral e da Igreja da Missão. Ao contrário da sua mãe - uma pessoa muito piedosa que incutiu religiosidade e fé nos corações dos seus oito filhos - o seu pai tinha ideias liberais e era secular e agnóstico por natureza; dois filhos, em particular, absorveram as suas crenças, envolvendo-se nos acontecimentos do Risorgimento. Ocuparam posições de destaque, na vida política e militar. Tiago, um dos irmãos, foi ministro das Relações Exteriores no governo Rattazzi, em 1862. João fot general e líder das tropas papais. Desobedecendo às ordens do Papa Pio IX, em 1848, lideraou as tropas papais, através do rio Pó, para bloquear o caminho ao exército austríaco. Após retornar ao exército piemontês, participou, com o rei Carlos Alberto da Sardenha, na Batalha de Novara, na Expedição da Crimeia e nas Guerras de Independência.
Marco António herdou o talento da mãe. Com apenas quinze anos, expressou o desejo de ir em missão para a China. Entrou na Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo, que, na altura, estava a ser restabelecida em Itália.
Aos dezoito anos, fez os votos perpétuos e foi ordenado sacerdote em 12 de Junho de 1824. Permaneceu em Casale Monferrato durante cinco anos e, de 1829 até à sua morte, esteve na Casa, em Turim, onde se tornou superior após dois anos.
Mais do que a China, o seu destino eram as missões populares, onde dedicou-se intensamente à proclamação de Cristo. Apoiou e promoveu a recém-formada ‘Propaganda Fidei’, fundada em Lyon, em 1822; em 1855, no auge das suas funções como Visitador, inaugurou o Colégio Brignole-Sale para missões estrangeiras, com o objectivo de formar sacerdotes para as missões "ad gentes". Nos seus primeiros anos como sacerdote, o seu foco missionário foi absorvido pelas missões populares, que pregou em muitas aldeias piemontesas. Escapando do extremismo da frouxidão e do rigorismo jansenistas, o Padre Durando pregava a misericórdia de Deus, levando assim as pessoas à conversão, como relatou um cronista da missão de Bra: "As pessoas aglomeravam-se para ouvi-lo e permaneciam tão silenciosas e absortas na sua escuta como se não houvesse mais ninguém”. Nessas missões, não se limitava à pregação; mas, quando se deparava com situações de extrema pobreza, também intervinha concretamente, de acordo com os seus irmãos. Em Locana, por exemplo, fez com que "todo o legado missionário, consistindo em 700 liras, fosse convertido em farinha de milho para os pobres da aldeia", concretizando assim o ensinamento de São Vicente de Paulo de intervir "espiritual e corporalmente" em favor dos pobres.
A preocupação com os pobres era, portanto, outro aspecto da sua paixão missionária. Logo que foi eleito superior, reconheceu a utilidade de introduzir a Congregação das Filhas da Caridade, no norte da Itália, uma congregação nascida do carisma caritativo de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac, que tinha sido abolida pela Revolução Francesa e reorganizada posteriormente. As aparições da Medalha Milagrosa, em 1830, a Santa Catarina Labouré, noviça entre as Filhas da Caridade, podem ser consideradas, com razão, a origem do novo florescimento que varria essa comunidade.
A inteligência do Padre Durando residia na sua intuição. Ele solicitou a presença delas, no Piemonte e, em 1833, acolhidas pelo rei Carlos Alberto, elas começaram a assumir a responsabilidade por diversos hospitais, tanto militares, em Turim e Génova, como civis, em Carignano, Castellamonte e Turim. Em 1855, teve até a coragem de enviá-las para a retaguarda da Guerra da Crimeia, na qual o exército da Sardenha participava, para auxiliar os feridos. Ao mesmo tempo, difundiu a Associação Mariana da Medalha Milagrosa entre as jovens, e surgiram novas vocações: em apenas dez anos, 20 fundações foram criadas e 260 freiras juntaram-se à Ordem. O número de vocações era tão grande que, em 1837, o rei Carlos Alberto teve que colocar o convento de São Salvario, em Turim, à disposição delas. Com o crescimento do número de freiras, o Padre Durando pôde dotar a cidade de Turim de uma verdadeira rede de centros de caridade, chamados "Misericórdias", de onde as freiras, juntamente com as Damas da Caridade, partiam para prestar assistência domiciliar e auxílio aos pobres. Ao redor das Misericordias, surgiram diversas instituições, como os primeiros jardins-de-infância para crianças pobres, oficinas para meninas e orfanatos. O seu trabalho de assistência aos doentes e pobres, juntamente com a realização de diversas obras educativas, fez das Filhas da Caridade valiosas colaboradoras no desenvolvimento do catolicismo social na Itália.
Em 1837, com apenas trinta e seis anos, foi nomeado visitador da Província do Norte da Itália dos Missionários Vicentinos, cargo que ocupou durante 43 anos ininterruptos, até à sua morte. Consequentemente, teve que reduzir a sua participação nas missões, pois grande parte do seu tempo era dedicada à organização da congregação dos Missionários Vicentinos e à pregação de exercícios espirituais para os sacerdotes e clérigos, da diocese de Turim. A qualidade da sua direcção espiritual também atraiu a atenção de novas fundações que estavam a ser estabelecidas na capital da Sabóia. O Arcebispo, Monsenhor Fransoni, confiou-lhe a direcção das Irmãs de São José, que haviam chegado recentemente a Itália. Contribuiu para a redacção das regras das Irmãs de Santa Ana, fundadas pelo Servo de Deus Carlos Tancredi Falletti, Marquês de Barolo. Tornou-se guia espiritual das Clarissas Capuchinhas do novo mosteiro de Santa Clara. A Serva de Deus, Júlia Colbert, esposa do já mencionado Marquês de Barolo, que fundara um mosteiro para o resgate de mulheres perdidas - as Irmãs Penitentes de Santa Maria Madalena - escolheu o Padre Durando como conselheiro para o estabelecimento das regras e director da obra nascente.
Mas o acontecimento que a definiria, indelevelmente, como acontece com as obras de Deus, ocorreu, involuntariamente, em 21 de Novembro de 1865, festa da Apresentação de Maria: o Padre Durando pôde confiar as primeiras postulantes da nova "Congregação da Paixão de Jesus de Nazaré", mais conhecida como "Irmãs Nazarenas", à Serva de Deus Luísa Borgiotti. Às jovens que o procuraram, ansiosas por se consagrar a Deus, mas que não preenchiam certos requisitos canônicos para ingressar em comunidades religiosas, ele confiou a tarefa de servir aos que sofrem como membros sofredores de Cristo crucificado, visitando-os em suas casas, dia e noite.
O Padre Durando faleceu, em Turim, no dia 10 de Dezembro de 1880, aos 79 anos. Os seus restos mortais foram sepultados no "Santuarietto della Passione", anexo à Igreja da Visitação, em Turim, onde a comunidade nazarena, nutrida pela devoção à Paixão do Senhor, se dedicava ao serviço missionário aos que sofriam.
O Padre Marco António Durando foi beatificação pelo Papa João Paulo II, no dia 20 de Outubro de 2002.  A sua memória litúrgica é celebrada no dia 10 de Outubro. (cf. santi beati ) 
 

sábado, 29 de novembro de 2025

EM DESTAQUE



*TEMPO DE ADVENTO
 
A Igreja, neste fim-de-semana de 29/30 de Novembro, inicia um novo ano litúrgico, que vai desde o 1º Domingo do Advento até à Solenidade de Cristo-Rei.
O Advento é o tempo litúrgico que prepara e precede o Natal . Nos ritos cristãos ocidentais, marca o início do novo ano litúrgico . O termo "Advento" vem do latim ‘adventus’, que significa ‘vinda’, ‘chegada’; mas, em sentido mais comum, é entendido como a espera do Senhor, preparação para o Natal: os fiéis renovam a alegre esperança do nascimento de Jesus.
Na tradição do Rito Romano da Igreja Católica, o Advento dura quatro domingos e é dividido em dois períodos. O primeiro período contempla a futura vinda de Cristo em glória, no fim dos tempos, desafiando os cristãos para a urgência da conversão e da penitência.
No segundo período, que começa no dia 17 de Dezembro, a liturgia concentra-se na vinda de Cristo,  pela sua Encarnação.
Acreditamos que, hoje, Jesus quer nascer no coração de cada fiel e, através dele, nascar no meio do mundo, em todas as realidades que precisam de ser salvas.
Durante o Advento, as vestes sagradas do sacerdote são roxas, com excepção do 3º Domingo, no qual o sacerdote pode usar paramentos cor-de-rosa. este domingo é chamado ‘Gaudete’, reflectindo o significado da antífona de entrada da Santa Missa, que cita uma passagem da Carta aos Filipenses onde São Paulo nos convida à alegria: “Alegrai-vos, sempre, no Senhor; repito: alegrai-vos!”.
Aqui, o caráter penitencial do Advento é ofuscado pela esperança da gloriosa vinda de Cristo.
 


 
*O PAPA LEÃO XIV, NA TURQUIA E NO LÍBANO
 
O Papa iniciou, no dia 27 de Novembro, a sua primeira viagem internacional, visitando a Turquia e o Líbano. Da visita constam várias celebrações ecuménicas e a evocação do 1700.º aniversário do Concílio de Niceia. Esta viagem decorre desde 27 de Novembro a 2 de Dezembro.
No primeiro dia da sua visita, em Istambul (antiga Constantinopla) o Papa vai participar em momentos de oração com membros da comunidade católica, antes de deslocar para Íznik, (antida Niceia) onde tem lugar um encontro ecuménico de oração, no local das escavações arqueológicas da Basílica de São Neófito. A cidade Niceia recebeu, no ano 325, 1º Concílio Ecuménico, com a missão de preservar a unidade da Igreja, perante correntes teológicas que negavam a plena divindade de Jesus Cristo e a sua igualdade com o Pai, reunindo cerca de 300 bispos, convocados pelo imperador Constantino. Os participantes acabaram por definir o ‘Símbolo de fé’, o Credo, que ainda hoje se professa nas celebrações eucarísticas dominicais.
O Papa vai encontrar-se, também, com o Patriarca Bartolomeu, na igreja de São Jorge, sede do Patriarcado de Constantinopla.
Depois da sua estada na Turquia, o Papa deslocar-se-á ao Líbano, um país martirizado pela violência da guerra.
O Papa Leão XIV leva uma mensagem de esperança, de “concórdia, diálogo e paz” ao Médio Oriente, sublinhando a importância da presença cristã na região.
De acordo com palavras do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, o Papa assume o “cajado do peregrino”, no rasto dos seus antecessores, preparando-se para esta visita com sentimentos de alegria para “confirmar na fé” as comunidades locais. (cf. agência ecclesia)

DA PALAVRA DO SENHOR

 


I DOMINGO DO ADVENTO     

“…Vós sabeis em que tempo estamos:
Chegou a hora de nos levantarmos do sono,
porque a salvação está agora mais perto de nós
do que quando abraçámos a fé.
A noite vai adiantada e o dia está próximo.
Abandonemos as obras das trevas
e revistamo-nos das armas da luz.
Andemos dignamente, como em pleno dia,
evitando comezainas e excessos de bebida,
as devassidões e libertinagens, as discórdias e os ciúmes;
não vos preocupeis com a natureza carnal,
para satisfazer os seus apetites,
mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo…”
(cf. Romanos 13, 11-14)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 26 de Novembro de 2025
 
Queridos irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
 
A Páscoa de Cristo ilumina o mistério da vida, permitindo-nos olhar para ele com esperança. Isto nem sempre é fácil ou óbvio. Em todas as partes do mundo, muitas vidas parecem difíceis, dolorosas, cheias de problemas e obstáculos a superar. No entanto, o ser humano recebe a vida como um dom: não a pede; não a escolhe; experimenta-a no seu mistério, desde o primeiro dia até ao último. A vida tem uma especificidade extraordinária: é-nos oferecida; não podemos dá-la a nós mesmos, mas deve ser alimentada, constantemente: é necessário um cuidado que a mantenha, dinamize, preserve, relance.
Pode dizer-se que a interrogação sobre a vida é uma das questões abissais do coração humano. Entramos na existência sem ter feito nada para o decidir. Desta evidência brotam, como um rio cheio, as perguntas de todos os tempos: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Qual é o derradeiro sentido de toda esta viagem?
Com efeito, viver invoca um sentido, um rumo, uma esperança. E a esperança age como o profundo impulso que nos faz caminhar no meio das dificuldades; que não nos faz desistir no cansaço da viagem; que nos torna certos de que a peregrinação da existência nos conduz para casa. Sem esperança, a vida corre o risco de parecer um parêntese entre duas noites eternas; uma breve pausa entre o antes e o depois da nossa passagem pela terra. Ao contrário, esperar na vida significa antecipar a meta; dar por certo aquilo que ainda não vemos e não tocamos; confiar e entregar-nos ao amor de um Pai que nos criou porque nos amou e nos quer felizes.
Caríssimos: no mundo, existe uma doença generalizada: a falta de confiança na vida. É como se nos tivéssemos resignado a uma fatalidade negativa, de renúncia. A vida corre o risco de não ser mais uma possibilidade recebida como dom, mas uma incógnita, quase uma ameaça da qual é preciso proteger-se para não ficar desiludido. Por isso, a coragem de viver e de gerar vida, de testemunhar que Deus é, por excelência, «o amante da vida», como afirma o Livro da Sabedoria  (11, 26), é hoje um apelo mais urgente do que nunca.
No Evangelho, Jesus confirma, constantemente, a sua solicitude em curar os doentes, sarar corpos e espíritos feridos, restituir a vida aos mortos. Agindo assim, o Filho encarnado revela o Pai: devolve a dignidade aos pecadores; concede a remissão dos pecados, incluindo todos, especialmente os desesperados, os excluídos, os distantes na sua promessa de salvação.
Gerado pelo Pai, Cristo é a vida e gerou vida sem se poupar, a ponto de nos oferecer a Sua, e convida-nos, também a nós, a dar a nossa vida. Gerar significa dar a vida a outrem. O universo dos seres vivos ampliou-se através desta lei que, na sinfonia das criaturas, conhece um admirável “crescendo” que culmina no dueto do homem e da mulher: Deus criou-os à própria imagem, confiando-lhes a missão de gerar, também, à sua imagem, isto é, por amor e no amor.
Desde os primórdios, a Sagrada Escritura revela-nos que a vida, precisamente na sua forma mais excelsa, a humana, recebe o dom da liberdade, tornando-se um drama. Assim, as relações humanas são marcadas, também, pela contradição, até ao fratricídio. Caim vê no irmão Abel um concorrente, uma ameaça, e na sua frustração não se sente capaz de o amar e estimar. E eis a inveja, o ciúme, o sangue (cf. Gn 4, 1-16). Ao contrário, a lógica de Deus é muito diferente. Deus permanece fiel, para sempre, ao seu desígnio de amor e vida; não se cansa de sustentar a humanidade, nem sequer quando, na esteira de Caim, ela obedece ao instinto cego da violência nas guerras, nas discriminações, nos racismos, nas múltiplas formas de escravidão.
Então, gerar significa confiar no Deus da vida e promover o humano, em todas as suas expressões: antes de tudo, na maravilhosa aventura da maternidade e da paternidade, até em contextos sociais em que as famílias lutam para suportar o peso do quotidiano, permanecendo muitas vezes bloqueadas nos seus projectos e sonhos. Nesta mesma lógica, gerar significa comprometer-se por uma economia solidária; procurar o bem comum equitativamente desfrutado por todos; respeitar e cuidar da criação; oferecer alívio mediante a escuta, a presença, a ajuda concreta e abnegada.
Irmãs e irmãos: a Ressurreição de Jesus Cristo é a força que nos sustenta neste desafio, mesmo onde as trevas do mal obscurecem o coração e a mente. Quando a vida parece esmorecida, bloqueada, eis que o Senhor Ressuscitado volta a passar, até ao fim dos tempos, e caminha ao nosso lado e por nós. Ele é a nossa esperança! (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 121

Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.

Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor.

Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.


SANTOS POPULARES

 


SÃO JOÃO DE CALÁBRIA
 
Algumas pessoas de São Vicente, ao entrarem em sua casa, tomavam a liberdade de levantar as testos das panelas para verificar "o que estava a ser cozinhado" e repreendiam o seu pai por fumar, como se esse vício fosse a origem da ruína da família. Essa lembrança marca toda a profundidade da pobreza em que ele nasceu e cresceu.
João nasceu em Verona, no dia 8 de Outubro de 1873. Foi o sétimo e último filho de Luí de Calábria, sapateiro, e de Ângela Foschio, empregada doméstica de grande fé, muito religiosa, de espírito gentil, piedade sincera, grande confiança em Deus e grande devoção a Nossa Senhora das Dores, tendo sido educada pelo padre Nicola Mazza, no seu Instituto para meninas pobres
O seu pai, com o seu trabalho de sapateiro, não conseguia providenciar comida suficiente para todos, e sua mãe também não, embora trabalhasse arduamente como lavadeira e passadeira.
A situação piorou com a morte prematura do pai, e ele teve de procurar um trabalho para ajudar no sustento da casa; mas, a família estava falida; foi despejada e acolhida por pura caridade. A mãe estava especialmente preocupada com o filho, que não conseguia encontrar um emprego adequado: ele queria ser padre, mas era sonhador e idealista demais, e estragava tudo o que empreendia, a ponto de ser sempre despedido, ao fim de alguns meses.
Um padre de Verona, o Padre Pedro Scapini, Pároco de São Lourenço, percebendo as virtudes do jovem, levou-o a sério e prometeu prepará-lo, em particular, para entrar no Seminário. E conseguiu, provando que o rapaz não era tolo, apesar da sua formação cultural ser marcada por muitas lacunas nos estudos e conhecimentos pouco adquiridos. Mesmo no Seminário, ele não conseguiu inspirar ninguém, pois, embora reconhecido por todos como bom, devoto e sensível. A sua falta de instrução continuava a ser um obstáculo intransponível. Debateram se seria apropriado que ele vestisse a batina e iniciasse os seus estudos teológicos e, para ganhar tempo, enviaram-no para o serviço militar. De uniforme, ele não foi excepção: desajeitado com armas, atrapalhado em exercícios militares, completamente inadequado para dar ordens e exigir obediência, descobriram a sua gentileza e sensibilidade ao tratar e confortar, especialmente, aqueles que sofriam de sífilis e doenças infecciosas. O debate sobre sua ordenação reabriu com o seu regresso ao Seminário, com os seus detractores a continuar a apontar as suas deficiências e os admiradores (principalmente o próprio Padre Scapini) exaltando os seus talentos e as suas qualidades. Por fim, prevaleceu esta última opção: ele foi ordenado sacerdote, no dia 11 de Agosto de 1901, aos 28 anos de idade.
O episódio que direcionou, decisivamente, a sua vida para a caridade - como aconteceu com Dom Bosco - envolveu uma criança cigana que tinha fugido do seu grupo, que ele acolheu, em sua casa, e confiou aos cuidados da sua mãe. Depois dela, vieram muitas outras, resgatadas das ruas e de uma vida de pobreza, e que frequentemente representavam um foco de travessuras, rasando a delinquência, que seguiram o exemplo das primeiras crianças. Ele chamava-as "Boas Crianças" e para as quais, em 1907, abriu a primeira instituição, pois a sua casa já não comportava todas.
Comentários pouco lisonjeiros e julgamentos pouco gentis começaram a surgir, especialmente dos seus irmãos, que apelidavam a sua preocupação com os pobres de pura e simples loucura. Tão maliciosos quanto esses são os comentários sobre sua nomeação como confessor do clero, desejada pelo bispo, que não deixou de notar como as pessoas se aglomeram no seu confessionário, em busca de absolvição e conselho, evidentemente pressentindo nele aquela santidade sacerdotal, que normalmente nunca passa despercebida pelo Povo de Deus.
Assim nasceram os "Pobres Servos da Divina Providência", seguidos, alguns anos depois, pelo ramo feminino, todos chamados a "mostrar ao mundo que a divina Providência existe; que Deus não é um estranho, mas é Pai e pensa em nós". Ele queria que eles actuassem nas áreas mais pobres, "onde não há nada de humano a se esperar", e designou, como seus tesouros, "criaturas abandonadas, rejeitadas e desprezadas: os idosos, os doentes, os pecadores", com o objectivo primordial de "reviver no mundo a fé e a confiança em Deus, Pai de todos, através do abandono total à sua divina Providência, em tudo o que diz respeito às necessidades da vida". Ao ensinar aos seus ‘filhos’ que "a primeira Providência é a cabeça no pescoço", ele exortava-os e encorajava-os: "Um retorno prático às fontes puras do Evangelho é urgentemente necessário... Ou se crê, ou não se crê; se não se crê, deve rasgar-se o Evangelho".
Uma franja dos seus ‘filhos’ não o poupou de amargura e decepção, mesmo após um apelo ao Vaticano que provocou uma "visita apostólica" que durou 12 anos. Em 3 de Dezembro de 1954, ele realizou o seu último acto de caridade, oferecendo a sua vida ao Senhor pelo Papa Pio XII, que estava a morrer. Faleceu no dia seguinte, enquanto o Papa, misteriosa e repentinamente, recuperou a saúde, vivendo em plena actividade por mais quatro anos.
O Padre João Calábria é conhecido como o "santo da Divina Providência", confiante e filialmente abandonado nas mãos de Deus Pai. Ele é também o santo da caridade, que abraça a vida machucada e ferida que encontramos ao longo do nosso caminho. Uma caridade repleta de compaixão e amor. O seu lema era "Santo ou morto", reflectindo o desejo de uma vida santa como fôlego da sua existência, vivendo a santidade como uma vivência radical do próprio baptismo e da vida cristã; uma santidade que nos conduz à verdadeira plenitude da vida.
Padre João Calábria fundou duas congregações: os Pobres Servos e as Pobres Servas da Divina Providência. Após a sua morte, surgiu, na América Latina, a Congregação das Missionárias dos Pobres. Além dessas congregações, há muitos leigos e leigas, irmãos e irmãs externos, alunos e diversos grupos que, juntos, formam a Família Calabriana, presente em 13 países, nos cinco continentes. Esse legado continua a inspirar e guiar a Igreja e o mundo contemporâneo na busca pela vivência autêntica do Evangelho e pela caridade em acção.
O Padre João de Calábria foi beatificado no dia 17 de Abril de 1988, pelo Papa João Paulo II que o canonizado no dia 18 de Abril de 1999. (cf. santi beati ) 
 

sábado, 22 de novembro de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXXIV DOMINGO COMUM

          - SOLENIDADE DE CRISTO REI    

“…Todas as tribos de Israel
foram ter com David a Hebron e disseram-lhe:
«Nós somos dos teus ossos e da tua carne.
Já antes, quando Saul era o nosso rei,
eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel.
E o Senhor disse-te:
“Tu apascentarás o meu povo de Israel,
tu serás rei de Israel”».
Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron.
O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor
e eles ungiram David como rei de Israel…”
(cf. II Samuel 5, 1-3)

PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 19 de Novembro de 2025
 
Queridos irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
Neste Ano jubilar, dedicado à esperança, estamos a reflectir sobre a relação entre a Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo actual, ou seja, os nossos desafios. Às vezes, Jesus, o Vivente, também nos quer perguntar: «Por que choras? Quem procuras?». Com efeito, os desafios não podem ser enfrentados sozinhos e as lágrimas constituem um dom de vida quando purificam os nossos olhos e libertam a nossa vista.
O evangelista João sugere, à nossa atenção, um detalhe que não encontramos nos demais Evangelhos: chorando diante do túmulo vazio, Madalena não reconheceu, imediatamente, Jesus ressuscitado, mas pensou que fosse o jardineiro. Efectivamente, já narrando o sepultamento de Jesus, no crepúsculo da sexta-feira santa, o texto era muito específico: «Ora, no lugar onde Ele fora crucificado, havia um jardim e, no jardim, um sepulcro novo, no qual ninguém ainda fora colocado. Ali, pois, depositaram Jesus, por causa da Preparação dos judeus e da proximidade do sepulcro» (Jo 19, 40-41).
Assim termina, na paz do sábado e na beleza de um jardim, a dramática luta entre as trevas e a luz, desencadeada pela traição, a prisão, o abandono, a condenação, a humilhação e a morte do Filho, que «tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim» (cf. Jo 13, 1). Cultivar e cuidar do jardim é a tarefa original (cf. Gn 2, 15) que Jesus levou a cabo. A sua última palavra na cruz – «Tudo está consumado» (Jo 19, 30) – convida, cada um, a reencontrar a mesma tarefa, a sua tarefa. Por isso, «inclinando a cabeça, entregou o espírito» (v. 30).
Então, amados irmãos e irmãs, Maria Madalena não estava completamente enganada, julgando que encontrara o jardineiro, o guardião do jardim! Na verdade, devia reouvir o seu nome e compreender a sua tarefa do Homem novo, aquele que, noutro texto joanino, diz: «Eis que renovo todas as coisas» (Ap 21, 5). Com a Encíclica ‘Laudato si’’, o Papa Francisco indicou-nos a extrema necessidade de um olhar contemplativo: se não for guardião do jardim, o ser humano torna-se seu devastador. Portanto, a esperança cristã responde aos desafios aos quais, hoje, toda a humanidade está exposta, permanecendo no jardim onde o Crucificado foi depositado como semente, para ressuscitar e dar muito fruto.
O Paraíso não está perdido, mas foi reencontrado. Assim, a morte e a ressurreição de Jesus são fundamento de uma espiritualidade da ecologia integral, fora da qual as palavras da fé permanecem sem influência sobre a realidade, e as palavras das ciências permanecem fora do coração. «A cultura ecológica não se pode reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição. Deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência» (Laudato si’, 111).
Por isso, falamos de uma conversão ecológica, que os cristãos não podem separar daquela inversão de rota que seguir Jesus exige deles. Sinal disto é o virar-se de Maria, naquela manhã de Páscoa: só de conversão em conversão passamos deste vale de lágrimas para a nova Jerusalém. Aquela passagem, que começa no coração e é espiritual, modifica a história, compromete-nos publicamente, activa a solidariedade que desde já protege pessoas e criaturas dos apetites dos lobos, em nome e pela força do Cordeiro Pastor.
Assim, hoje, os filhos e as filhas da Igreja podem encontrar milhões de jovens e de outros homens e mulheres de boa vontade que ouviram o clamor dos pobres e da terra, deixando-se tocar no coração. São numerosas, também, as pessoas que desejam, através de uma relação mais directa com a criação, uma nova harmonia que as leve além de tantas dilacerações. Por outro lado, ainda «os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia passa ao outro esta mensagem e uma noite a dá a conhecer à outra noite. Não são palavras nem discursos cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra, e a sua palavra, até aos confins do mundo» (Sl 18, 1-5a).
Que o Espírito nos conceda a capacidade de ouvir a voz de quem não tem voz. Então, veremos o que os olhos ainda não vêem: aquele jardim, ou Paraíso, para o qual nos dirigimos apenas acolhendo e cumprindo cada qual a sua tarefa. (cf. Santa Sé)
 

PARA REZAR

 


- SALMO 121

 

Refrão: Iremos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.

Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor.

Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.


SANTOS POPULARES


 

BEATO ALBERTO JOUBERT
 
Alberto Joubert nasceu em São Luís de Mrumbi, actual Moba, na República Democrática do Congo, no dia 21 de Novembro de 1908. Em documentos antigos sobre ele, o seu nome foi, erradamente, registado como Atanásio; pesquisas posteriores confirmaram que, na verdade, era o nome de um dos seus irmãos.
O seu pai, o Capitão Luís Leopoldo Joubert, era natural de Nantes, França. Serviu o exército francês e mais tarde, fez parte dos Zuavos Pontifícios [eram um batalhão de infantaria - mais tarde um regimento - dedicado à defesa dos Estados Papais. Nomeados em homenagem aos regimentos de zuavos franceses, os Zuavos Pontifícios eram formados, principalmente, por homens jovens, solteiros e católicos]. Fora enviado, em 1890, por Monsenhor Carlos Lavigerie, Arcebispo de Argel, fundador dos Padres Brancos e mais tarde cardeal, para proteger as caravanas dos missionários dos ataques dos traficantes de escravos. A ‘Sociedade dos Missionários da África’, conhecida por Padres Brancos, foi fundada, em 1868, é um instituto missionário composto por sacerdotes e religiosos que vivem em comunidade. O seu objectivo é anunciar o Evangelho aos homens do mundo africano. Desde as suas origens, esta congregação religiosa católica sempre dedicou uma atenção especial aos fiéis de origem islâmica. Estão presentes em 21 países africanos e, também, fora de África, que continua, no entanto, a ser a sua prioridade. Dedicam-se, também, a assistir migrantes africanos, na Europa e na América.
O Capitão Luís Joubert naturalizou-se congolês, depois de se ter casado com Inês Atakae, congolesa de nascimento, em 1888. O casal teve dez filhos, todos educados de acordo com os valores cristãos: dois morreram na infância e dois, Alberto e João, os mais novos, tornaram-se padres. Uma das suas filhas escolheu a vida religiosa, mas teve que abandoná-la por motivos de saúde.
Alberto passou os primeiros três anos da sua vida na sua aldeia natal, até que o flagelo da doença do sono obrigou todos os habitantes a mudarem-se para Santa Maria (actual Misenge), perto de Baudoinville (Kirungu), a oito quilómetros de distância.
Alberto recebeu o Sacramento da Confirmação, no dia 13 de Junho de 1915, naquela que foi a primeira catedral do Congo, a dois quilómetros da sua casa. Depois de frequentar a escola primária, aos doze anos, entrou no Seminário Menor, em Lusaka, a cerca de cinquenta quilómetros de Baudoinville.
Nesse mesmo ano, no dia 6 de Junho de 1920, o Papa Bento XV beatificou Carlos Lwanga e os seus companheiros, mártires de Uganda, que foram, posteriormente, canonizados em 1964. O Vigário Apostólico do Alto Congo, Monsenhor Victor Roelens, apresentou o exemplo do jovem Carlos e dos seus companheiros aos seminaristas: a sua coragem e fidelidade a Cristo impressionaram, profundamente, o jovem Alberto.
Na sua caminhada rumo à ordenação sacerdotal, o jovem dedicou-se, intensamente, à sua formação, moldando o seu carácter, tornando-se humilde e discreto. Todos o conheciam como filho do Capitão Joubert, mas ele não se interessava por honrarias e desejava crescer em obediência e disponibilidade.
Depois de entrar no Seminário Maior, no dia 23 de Novembro de 1925, para os estudos teológicos, nunca mais abandonou as suas vestes eclesiásticas que, para ele, eram um auxílio externo para viver com dignidade o dom do sacerdócio. Antes da ordenação sacerdotal, fez um ano de formação, em Lusaka, trabalhando na Missão de São Tiago, no Seminário Menor e em várias escolas.
Foi ordenado sacerdote no dia 6 de Outubro de 1935.
O Padre Joubert disponibilizou-se imediatamente para partir para as missões mais distantes. O seu primeiro destino foi Kasongo, a 750 quilómetros de Baudoinville; Ele permaneceu ali até 1937, quando foi designado para Kala, onde ficou até 1941. Em seguida, foi enviado para Lusaka, Moyo, Kabambare, Kibangula e, novamente, para Moyo, Mungombe, Kibanga e Fizi.
Para poder assistir as pessoas das aldeias mais distantes, caminhava dias inteiros para levar-lhes os Sacramentos e formar e encorajar os catequistas. Mesmo quando lhe foi atribuída a função de professor nos seminários menores de Lusaka e Mungombe, em momentos importantes, disponibilizou-se para ajudar os seus irmãos nas tarefas do ministério.
Os símbolos do seu serviço pastoral podem ser representados por alguns objectos: a Bíblia: a Palavra de Deus era a luz da qual extraía a força para as suas decisões e para a sua vida de oração, regular e constante; a caneta, sinal da sua preocupação com a educação, que ele também praticava como professor, nas aldeias para onde era enviado; ele acreditava que a educação era o alicerce de todo o desenvolvimento. Para animar os recreios dos seus alunos, frequentemente tocava violão, expressando, através da música, a sua alegria de viver em comunhão com os seus irmãos. Finalmente, a Cruz, sempre presente na sua vida, desde a sua fuga da sua aldeia natal até à sua morte.
O seu trabalho missionário não foi bem recebido pelos rebeldes Simba: inspirados pelo comunismo, opunham-se abertamente à liberdade, trazida pelos missionários, através do Evangelho. Certo dia, um grupo Simba foi a Kibanga procurar o Padre Joubert: capturaram-no e torturaram-no durante quinze dias; depois, levaram-no para Fizi, onde o libertaram. O seu ódio era alimentado pelo facto de que ele, apesar de ser negro, havia abraçado a nova religião, importada pelos "brancos".
Em Fizi, foi acolhido pelo Padre João Didonè, dos Missionários Xaverianos, que optara por permanecer, apesar das capturas e massacres, cada vez mais frequentes, de padres e religiosos. Durante dois meses, ajudou-o na sua missão.
O clima de ódio contra os missionários intensificou-se: os rebeldes acusaram-nos de esconder o "fonì", o transmissor de rádio, que alegavam usar para transmitir informações ao exército. Em 28 de Novembro de 1964, alguns Simba, liderados por Abedi Masanga, assassinaram dois religiosos xaverianos em Baraka: o Irmão Vitório Faccin e o Padre Luís Carrara. Na mesma noite, dirigiram-se para Fizi: foi a vez do Padre João Didonè, atingido, na testa, por uma bala. O Padre Alberto Joubert mal teve tempo de se aperceber o que estava a acontecer quando, também, foi atingido: caiu morto a dois metros do Padre Didonè, a poucos passos da casa religiosa.
Os Padres Xaverianos [são os membros da Pia Sociedade de São Francisco Xavier para as Missões Estrangeiras, uma congregação religiosa católica fundada por Guido Maria Conforti em 1895. A sua principal missão é anunciar o Evangelho a povos não-cristãos em todo o mundo, seguindo o exemplo de São Francisco Xavier] sempre consideraram os seus irmãos e o Padre Joubert como mártires.
Estes padre Xaverianos e o Padre Alberto Joubert foram beatificados, em Uvira, no dia 18 de Agosto de 2024, pelo Papa Francisco, em cerimónia presidida pelo Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, Arcebispo de Kinshasa, como delegado do Santo Padre.
Os restos mortais do Padre Alberto Joubert repousam na nova igreja de Fizi, no mesmo túmulo do Padre João Didonè.
A memória litúrgica do Beato Alberto Joubert é celebrada no dia 28 de Novembro.

sábado, 15 de novembro de 2025

EM DESTAQUE:

 


*DIA MUNDIAL DOS POBRES: 16. NOVEMBRO.2025

MENSAGEM DO PAPA LEÃO XIV PARA O IX DIA MUNDIAL DOS POBRES

 

Tu és a minha esperança (cf. Sl 71,5)

1. «Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus» (Sl 71,5). Essas palavras emanam de um coração oprimido por graves dificuldades: «Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais» (v. 20), diz o Salmista. Apesar disso, o seu espírito está aberto e confiante, porque, firme na fé, reconhece o amparo de Deus e professa-o: «És o meu rochedo e a minha fortaleza» (v. 3). Daí deriva a confiança inabalável de que a esperança n’Ele não decepciona: «Em ti, Senhor, me refugio, jamais serei confundido» (v. 1).No meio das provações da vida, a esperança é animada pela firme e encorajadora certeza do amor de Deus, derramado nos corações pelo Espírito Santo. Por isso, ela não decepciona (cf. Rm 5, 5) e São Paulo pode escrever a Timóteo: «Pois, se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo» (1 Tm 4, 10). O Deus vivo é, verdadeiramente, o «Deus da esperança» (Rm 15, 13), que, em Cristo, pela sua morte e ressurreição, se tornou a «nossa esperança» (1 Tm 1, 1). Não podemos esquecer que fomos salvos nesta esperança, na qual precisamos permanecer enraizados.
 
2. O pobre pode tornar-se testemunha de uma esperança forte e confiável, precisamente porque professada numa condição de vida precária, feita de privações, fragilidade e marginalização. Ele não conta com as seguranças do poder e do ter; pelo contrário, sofre-as e, muitas vezes, é vítima delas. A sua esperança só pode repousar noutro lugar. Reconhecendo que Deus é a nossa primeira e única esperança, também nós fazemos a passagem entre as esperanças que passam e a esperança que permanece. As riquezas são relativizadas perante o desejo de ter Deus como companheiro de caminho, porque se descobre o verdadeiro tesouro de que, realmente, precisamos. Ressoam claras e fortes as palavras com que o Senhor Jesus exortou os seus discípulos: «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam» (Mt 6, 19-20).
 
3. A pobreza mais grave é não conhecer a Deus. Recordou-nos isso o Papa Francisco quando escreveu na Evangelii gaudium: «A pior discriminação que os pobres sofrem é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé» (n. 200). Há, aqui, uma consciência fundamental e totalmente original sobre como encontrar em Deus o próprio tesouro. Realmente, insiste o apóstolo João: «Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (1 Jo 4, 20).
É uma regra da fé e um segredo da esperança: embora importantes, todos os bens desta terra, as realidades materiais, os prazeres do mundo ou o bem-estar económico não são suficientes para fazer o coração feliz. Frequentemente, as riquezas iludem e conduzem a situações dramáticas de pobreza, sendo a primeira dessas ilusões pensar que não precisamos de Deus e conduzir a nossa vida independentemente d’Ele. Vêm-me à mente as palavras de Santo Agostinho: «Seja Deus todo motivo de presumires. Sente necessidade d’Ele para que Ele te cumule. Tudo o que possuíres fora d’Ele é imensamente vazio» (Enarr. in Ps. 85,3).
 
4. A esperança cristã, à qual a Palavra de Deus remete, é certeza no caminho da vida, porque não depende da força humana, mas da promessa de Deus, que é sempre fiel. Por isso, desde os primórdios, os cristãos quiseram identificar a esperança com o símbolo da âncora, que oferece estabilidade e segurança. A esperança cristã é como uma âncora, que fixa o nosso coração na promessa do Senhor Jesus, que nos salvou com a sua morte e ressurreição e que retornará novamente ao meio de nós. Esta esperança continua a indicar como verdadeiro horizonte da vida os «novos céus» e a «nova terra» (2 Pe 3, 13), onde a existência de todas as criaturas encontrará o seu sentido autêntico, visto que a nossa verdadeira pátria está nos céus (cf. Fl 3, 20).
Consequentemente, a cidade de Deus compromete-nos com as cidades dos homens, que, desde agora, devem começar a assemelhar-se àquela. A esperança, sustentada pelo amor de Deus, derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (cf. Rm 5, 5), transforma o coração humano em terra fértil, onde pode germinar a caridade para a vida do mundo. A Tradição da Igreja reafirma, constantemente, esta circularidade entre as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A esperança nasce da fé, que a alimenta e sustenta, sobre o fundamento da caridade, que é a mãe de todas as virtudes. E precisamos de caridade hoje, agora. Não é uma promessa, mas uma realidade para a qual olhamos com alegria e responsabilidade: envolve-nos, orientando as nossas decisões para o bem comum. Em vez disso, quem carece de caridade não só carece de fé e esperança, mas tira a esperança ao seu próximo.
 
5. O convite bíblico à esperança traz consigo o dever de assumir, sem demora, responsabilidades coerentes na história. Com efeito, a caridade é «o maior mandamento social» (Catecismo da Igreja Católica, 1889). A pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas. À medida que isso acontece, todos somos chamados a criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã, como fizeram, em todas as épocas, muitos santos e santas. Os hospitais e as escolas, por exemplo, são instituições criadas para expressar o acolhimento aos mais fracos e marginalizados. Eles deveriam fazer parte das políticas públicas de todos os países, mas as guerras e as desigualdades, frequentemente, ainda o impedem. Hoje, cada vez mais, as casas-família, as comunidades para menores, os centros de acolhimento e escuta, as refeições para os pobres, os dormitórios e as escolas populares tornam-se sinais de esperança: são tantos sinais, muitas vezes ocultos, aos quais, talvez, não prestemos atenção, mas que são muito importantes para se desvencilhar da indiferença e provocar o empenho nas diversas formas de voluntariado!
Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria que trazem consigo, levam-nos a tocar com as mãos a verdade do Evangelho. Por isso, o Dia Mundial dos Pobres pretende recordar, às nossas comunidades, que os pobres estão no centro de toda a acção pastoral. Não só na sua dimensão caritativa, mas igualmente naquilo que a Igreja celebra e anuncia. Através das suas vozes, das suas histórias, dos seus rostos, Deus assumiu a sua pobreza para nos tornar ricos. Todas as formas de pobreza, sem excluir nenhuma, são um apelo a viver concretamente o Evangelho e a oferecer sinais eficazes de esperança.
 
6. Este é o convite que emerge da celebração do Jubileu. Não é por acaso que o Dia Mundial dos Pobres seja celebrado no final deste ano de graça. Quando a Porta Santa for fechada, deveremos conservar e transmitir os dons divinos que foram derramados nas nossas mãos, ao longo de um ano inteiro de oração, conversão e testemunho. Os pobres não são objectos da nossa pastoral, mas sujeitos criativos que nos estimulam a encontrar sempre novas formas de viver o Evangelho, hoje. Diante da sucessão de novas ondas de empobrecimento, corre-se o risco de se habituar e resignar-se. Todos os dias, encontramos pessoas pobres ou empobrecidas e, às vezes, pode acontecer que sejamos nós mesmos a possuir menos, a perder o que antes nos parecia seguro: uma casa, comida suficiente para o dia, acesso a cuidados de saúde, um bom nível de educação e informação, liberdade religiosa e de expressão.
Promovendo o bem comum, a nossa responsabilidade social tem o seu fundamento no gesto criador de Deus, que dá a todos os bens da terra: assim como estes, também os frutos do trabalho do homem devem ser igualmente acessíveis. Com efeito, ajudar os pobres é uma questão de justiça, muito antes de ser uma questão de caridade. Como observa Santo Agostinho: «Damos pão a quem tem fome, mas seria muito melhor que ninguém passasse fome e não precisássemos ser generosos para com ninguém. Damos roupas a quem está nu, mas Deus queira que todos estivessem vestidos e que ninguém passasse necessidades sobre isto» (Comentário à 1 Jo, VIII, 5).
Desejo, portanto, que este Ano Jubilar possa incentivar o desenvolvimento de políticas de combate às antigas e novas formas de pobreza, além de novas iniciativas de apoio e ajuda aos mais pobres entre os pobres. Trabalho, educação, habitação e saúde são condições para uma segurança que jamais se alcançará com armas. Congratulo-me com as iniciativas já existentes e com o empenho que é manifestado diariamente a nível internacional por um grande número de homens e mulheres de boa vontade.
Confiemos em Maria Santíssima, Consoladora dos aflitos, e com Ela entoemos um canto de esperança, fazendo nossas as palavras do Te Deum: «In Te, Domine, speravi, non confundar in aeternum – Em Vós espero, Meu Deus, não serei confundido eternamente».
 
Vaticano, 13 de Junho de 2025, memória de Santo António de Lisboa, Patrono dos pobres
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXXIII DOMINGO COMUM      

“…Há-de vir o dia do Senhor,
ardente como uma fornalha;
e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores.
O dia que há-de vir os abrasará
– diz o Senhor do Universo –
e não lhes deixará raiz nem ramos.
Mas para vós que temeis o meu nome,
nascerá o sol de justiça,
trazendo nos seus raios a salvação…”
(cf. Malaquias 4, 1-2)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 12 de Novembro de 2025
 
Queridos irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
Acreditar na morte e ressurreição de Cristo e viver a espiritualidade da Páscoa incute esperança na vida e encoraja-nos a investir na bondade. Em particular, ajuda-nos a amar e a cultivar a fraternidade, que é, sem dúvida, um dos grandes desafios da humanidade contemporânea, como o Papa Francisco viu claramente.
A fraternidade surge de um dado profundamente humano. Somos capazes de nos relacionar e, se quisermos, sabemos construir laços autênticos entre nós. Sem relações, que nos apoiam e enriquecem desde o início da nossa vida, não poderíamos sobreviver, crescer ou aprender. Essas relações são muitas, diversas em forma e profundidade. Mas, é certo que a nossa humanidade se realiza plenamente quando estamos e vivemos juntos; quando somos capazes de experimentar laços autênticos, não formais, com as pessoas que nos rodeiam. Se nos isolarmos, corremos o risco de adoecer de solidão e até de um narcisismo que se preocupa com os outros apenas por interesse. O outro reduz-se, então, a alguém a quem tiramos, sem que nunca estejamos verdadeiramente dispostos a dar, a doar-nos.
Bem sabemos que, ainda hoje, a fraternidade não pode ser tomada como garantida: não é algo imediato. Muitos conflitos, tantas guerras espalhadas pelo mundo, tensões sociais e sentimentos de ódio demonstram isso mesmo. Contudo, a fraternidade não é um sonho belo e impossível; não é o desejo de alguns iludidos. Mas, para vencer as sombras que a ameaçam, devemos ir às fontes e, sobretudo, procurar a luz e a força n’Aquele que é o único que nos liberta do veneno da inimizade.
A palavra “irmão” vem de uma raiz muito antiga, que significa cuidar, preocupar-se, apoiar e sustentar. Aplicada a todo o ser humano, torna-se um apelo, um convite. Muitas vezes, pensamos que o papel de irmão, de irmã se refere ao parentesco, ao laço sanguíneo, ao fazer parte da mesma família. Na verdade, sabemos bem como o desentendimento, a ruptura e, por vezes, o ódio podem devastar as relações entre parentes, não apenas entre estranhos.
Isto demonstra a necessidade, hoje urgente como nunca, de reconsiderar a saudação com que São Francisco de Assis se dirigia a todas e a todos, independentemente das origens geográficas, culturais, religiosas ou doutrinais: ‘omnes fratres’ era a forma inclusiva com a qual São Francisco colocava todos os seres humanos no mesmo patamar, precisamente porque reconhecia o seu destino comum de dignidade, diálogo, acolhimento e salvação. O Papa Francisco reiterou esta abordagem do Pobrezinho de Assis, destacando a sua actualidade, depois de 800 anos, na Encíclica ‘Fratelli tutti’.
Este “todos” (tutti), que, para São Francisco, significava o sinal acolhedor da fraternidade universal, exprime um traço essencial do cristianismo, que, desde o princípio, foi a proclamação da Boa Nova destinada à salvação de todos, nunca de forma exclusiva ou privada. Essa fraternidade assenta no mandamento de Jesus, que é novo porque foi cumprido por Ele mesmo, o cumprimento superabundante da vontade do Pai: graças a Ele, que nos amou e Se entregou por nós, podemos, por nossa vez, amarmo-nos e dar a vida pelos outros, como filhos do único Pai e verdadeiros irmãos, em Jesus Cristo.
Jesus amou-nos até ao fim, diz o Evangelho de João (cf. 13, 1). À medida que a Paixão se aproxima, o Mestre sabe bem que o seu tempo histórico está a chegar ao seu fim. Teme o que está por acontecer; experimenta o mais terrível tormento e abandono. A sua Ressurreição, ao terceiro dia, é o início de uma nova história. E os discípulos tornam-se irmãos plenamente - depois de tanto tempo a conviver - não apenas quando experimentam a dor da morte de Jesus, mas, sobretudo, quando O reconhecem como o Ressuscitado, recebem o dom do Espírito e tornam-se Suas testemunhas.
Os irmãos e as irmãs apoiam-se, mutuamente, nas provações; não viram as costas aos necessitados: choram e alegram-se juntos, na perspectiva activa da unidade, da confiança e do acolhimento mútuo. Essa dinâmica é a que o próprio Jesus nos ensina: «que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (cf. Jo 15, 12). A fraternidade concedida por Cristo, morto e ressuscitado, liberta-nos da lógica negativa dos egoísmos, das divisões e das prepotências, e reconduz-nos à nossa vocação original, em nome de um amor e de uma esperança que se renovam todos os dias. O Ressuscitado mostrou-nos o caminho a percorrer com Ele, para nos sentirmos, para sermos “todos irmãos” (cf. Santa Sé)