PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… O Senhor esteve a meu lado e deu-me força…” (cf. II Timóteo 4, 17) A segunda leitura da Liturgia do dia apresenta-nos a exortação de São Paulo a Timóteo, seu colaborador e filho dileto, na qual reconsidera a própria existência de apóstolo totalmente consagrado à missão (cf. 2 Tm 4, 6-8.16-18). Vendo já próximo o fim do seu caminho terreno, descreve-o com referência a três estações: o presente, o passado, o futuro. O presente, interpreta-o com a metáfora do sacrifício: «a hora já chegou de eu ser sacrificado» (v. 6). No respeitante ao passado, Paulo indica a sua vida passada com as imagens do «bom combate» e da «corrida» de um homem que foi coerente com os próprios compromissos e responsabilidades (cf. v. 7); por conseguinte, para o futuro confia no reconhecimento por parte de Deus, que é «juiz justo» (v. 8). Mas a missão de Paulo só resultou eficaz, justa e fiel graças à proximidade e à força do Senhor, que fez dele um anunciador do Evangelho a todos os povos. Eis a sua expressão: «Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem» (v. 17). Nesta narração autobiográfica de São Paulo reflecte-se a Igreja (…) Em Paulo, a comunidade cristã encontra o seu modelo, na convicção de que é a presença do Senhor que torna eficaz o trabalho apostólico e a obra de evangelização. A experiência do Apóstolo dos gentios recorda-nos que nos devemos comprometer nas actividades pastorais e missionárias, por um lado, como se o resultado dependesse dos nossos esforços, com o espírito de sacrifício do atleta que não pára, nem sequer diante das derrotas; mas por outro lado, sabendo que o verdadeiro sucesso da nossa missão é dom da Graça: é o Espírito Santo que torna eficaz a missão da Igreja no mundo. Hoje, é tempo de missão e de coragem! Coragem para reforçar os passos vacilantes; de retomar o gosto de se consumir pelo Evangelho; de readquirir confiança na força que a missão tem em si. É tempo de coragem, mesmo se ter coragem não significa ter garantia de um sucesso. É-nos pedida a coragem para lutar, não necessariamente para vencer; para anunciar, não necessariamente para converter. É-nos pedida a coragem de sermos alternativos no mundo, sem contudo jamais sermos polémicos ou agressivos. É-nos pedida a coragem de nos abrirmos a todos, sem nunca diminuir o absoluto e a unicidade de Cristo, único salvador de todos. É-nos pedida a coragem para resistir à incredulidade, sem nos tornarmos arrogantes. É-nos pedida também a coragem do publicano do Evangelho de hoje, que, com humildade, nem sequer ousava erguer os olhos ao céu, mas batia a mão no peito dizendo: «Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador». Hoje é tempo de coragem! Hoje é necessária coragem! A Virgem Maria, modelo da Igreja «em saída» e dócil ao Espírito Santo, nos ajude a sermos todos, em virtude do nosso Baptismo, discípulos missionários para levar a mensagem da salvação à inteira família humana. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Roma, Domingo, 23 de Outubro de 2016)

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXX DOMINGO COMUM

 

“…Jesus disse a seguinte parábola
para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros:
«Dois homens subiram ao templo para orar;
um era fariseu e o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim:
‘Meu Deus, dou-Vos graças
por não ser como os outros homens,
que são ladrões, injustos e adúlteros,
nem como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana
e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.
O publicano ficou a distância
e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu;
Mas batia no peito e dizia:
‘Meu Deus, tende compaixão de mim,
que sou pecador’.
Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa
e o outro não.
Porque todo aquele que se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado»…”
(cf. Lucas 18, 9-14)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO



- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 22 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs, bom dia. E boas-vindas a todos!
A ressurreição de Jesus Cristo é um acontecimento que nunca se acaba de contemplar e meditar; e quanto mais o aprofundamos, tanto mais ficamos cheios de admiração, atraídos como que por uma luz insustentável e ao mesmo tempo fascinante. Foi uma explosão de vida e de alegria que mudou o sentido de toda a realidade, de negativo para positivo; e, no entanto, não ocorreu de modo retumbante, e muito menos violento; mas suave, oculto, dir-se-ia, humilde.
Hoje, reflectiremos sobre o modo como a ressurreição de Cristo pode curar uma das doenças do nosso tempo: a tristeza. Invasiva e difundida, a tristeza acompanha os dias de muitas pessoas. Trata-se de um sentimento de precariedade, às vezes, de profundo desespero, que invade o espaço interior e parece prevalecer sobre qualquer ímpeto de alegria.
A tristeza tira sentido e vigor à vida, que se torna como que uma viagem sem rumo nem significado. Esta experiência, tão actual, remete-nos para a famosa narração do Evangelho de Lucas (24, 13-29), sobre os dois discípulos de Emaús. Desiludidos e desanimados, eles partem de Jerusalém, deixando para trás as esperanças depositadas em Jesus, que foi crucificado e sepultado. Inicialmente, este episódio mostra como que um paradigma da tristeza humana: o fim do objectivo no qual foram investidas tantas energias; a destruição daquilo que parecia ser o essencial da própria vida. A esperança dissipou-se; a desolação tomou posse do coração. Tudo implodiu em brevíssimo tempo, entre sexta-feira e sábado, numa dramática sucessão de acontecimentos.
O paradoxo é verdadeiramente emblemático: esta triste viagem de derrota e de regresso à normalidade realiza-se no mesmo dia da vitória da luz, da Páscoa que se consumou plenamente. Os dois homens viram as costas para o Gólgota, para o terrível cenário da cruz, ainda gravado nos seus olhos e no seu coração. Tudo parece perdido. É preciso voltar à vida de antes, mantendo um perfil discreto, na esperança de não serem reconhecidos.
Num determinado momento, um viandante aproxima-se dos dois discípulos: talvez um dos numerosos peregrinos que estiveram em Jerusalém, para a Páscoa. É Jesus ressuscitado, mas eles não O reconhecem. A tristeza ofusca o seu olhar; apaga a promessa que o Mestre tinha feito várias vezes: que seria morto e que ao terceiro dia ressuscitaria. O desconhecido aproxima-se e mostra-se interessado nas coisas que eles dizem. O texto refere que os dois «pararam, entristecidos» (Lc 24, 17). O adjectivo grego utilizado descreve uma tristeza integral: no seu rosto transparece a paralisia da alma.
Jesus ouve-os, deixando-os desabafar a própria desilusão. Depois, com grande franqueza, repreende-os por serem «insensatos e lentos de espírito em crer em tudo quanto os profetas anunciaram!» (v. 25), e, através das Escrituras, demonstra que Cristo devia sofrer, morrer e ressuscitar. No coração dos dois discípulos reacende-se o calor da esperança, e então, quando a noite cai e chegam ao destino, convidam o misterioso companheiro a permanecer com eles.
Jesus aceita e senta-se à mesa com eles. Em seguida, toma o pão, parte-o e oferece-o. Naquele momento, os dois discípulos reconhecem-no... mas Ele desaparece imediatamente da sua presença (vv. 30-31). O gesto do pão partido reabre os olhos do coração; ilumina novamente a visão ofuscada pelo desespero. E, então, tudo se esclarece: o caminho compartilhado, a palavra terna e forte, a luz da verdade... Imediatamente, a alegria se reacende; a energia flui, de novo, nos membros cansados; a memória volta a tornar-se grata. E os dois regressam, apressadamente, a Jerusalém, para narrar tudo aos outros.
«Verdadeiramente o Senhor ressuscitou» (cf. v. 34). Neste advérbio, verdadeiramente, cumpre-se o desfecho certo da nossa história de seres humanos. Não por acaso, é a saudação que os cristãos trocam no dia da Páscoa. Jesus não ressuscitou com palavras, mas com acções, com o seu corpo que conserva os sinais da paixão, selo perene do seu amor por nós. A vitória da vida não é uma palavra vã, mas um dado real, concreto.
A alegria inesperada dos discípulos de Emaús seja para nós uma doce admoestação, quando o caminho se torna duro. É o Ressuscitado que muda radicalmente a perspectiva, infundindo a esperança que preenche o vazio da tristeza. Nas sendas do coração, o Ressuscitado caminha ao nosso lado e por nós. Testemunha a derrota da morte; afirma a vitória da vida, não obstante as trevas do Calvário. A história ainda tem muito a esperar de bom!
Reconhecer a Ressurreição significa mudar o olhar sobre o mundo: voltar à luz para reconhecer a Verdade que nos salvou e nos salva.
Irmãs e irmãos: permaneçamos vigilantes, todos os dias, no enlevo da Páscoa de Jesus ressuscitado. Só Ele torna possível o impossível! (cf. Santa Sé) 

PARA REZAR


 

- SALMO 33

 

Refrão: O pobre clamou; o Senhor o ouviu.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. 

A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias.

O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam.


SANTOS POPULARES



SANTO AFONSO RODRIGUES

Afonso Rodrigues nasceu na cidade de Segóvia, Espanha, no dia 25 de Julho de 1532. A sua família era profundamente cristã. O seu pai era comerciante de tecidos e a sua mãe, dona de casa, mãe de onze filhos. Afonso teve uma infância feliz; a sua família era unida e cheia de fé.
A vida de Afonso teve grandes contrariedades. Uma, profundamente marcante, foi a morte do seu pai. Aconteceu quando ele tinha apenas dezasseis anos. O pai faleceu de repente. Por causa disso, a sua mãe viu-se em dificuldades para sustentar os seus filhos. Afonso, a frequentar o Colégio dos Jesuítas, para ajudar a manter a casa, decidiu parar de estudar e começou a vender tecidos, aproveitando a carteira de clientes do seu falecido pai.
Sete anos depois, em 1555, quando a situação já se tinha normalizado, a sua mãe aconselhou-o a se casar. Afonso acolheu o conselho e casou-se. O casal teve dois filhos. Porém, mais uma vez, acontecimentos inesperados vieram bater à sua porta. A sua esposa ficou doente e veio a falecer. Depois, os seus dois filhos, adoeceram e morreram. Profundamente abatido por tamanhas perdas, Afonso perdeu o controlo dos negócios, perdeu o pouco que possuía e ficou sem crédito.
Sem rumo, Afonso tentou voltar a estudar, mas não conseguiu sair-se bem nas provas. Por isso, não foi aprovado para frequentar a Faculdade de Valência. Com mais esta perda na vida, Afonso mergulhou numa profunda depressão. Por isso, retirou-se na sua própria casa: fechou-se, rezou muito, meditou e jejuou. O tempo foi passando e um novo caminho começou a clarear no seu coração. Decidiu dedicar toda a sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos.
Animado por esta firme decisão, Afonso pediu para entrar na Companhia de Jesus, como irmão leigo: era o ano 1571. Afonso foi aceite e começou o noviciado que transformaria toda a sua vida. Como noviço, foi designado para viver e trabalhar no colégio dos jesuítas, em Palma, na ilha de Maiorca. Este colégio dedicava-se à formação dos padres. Ali, Afonso encontrou a sua realização total de vida. Viveu lá, durante quarenta e seis anos, até à sua morte.
No colégio, Afonso Rodrigues exerceu, unicamente, a função humilde e simples de porteiro. Porém, se a sua função não lhe trazia quase nenhum destaque, espiritualmente ele era dos mais elevados, entre todos os confrades. Na sua vida terrena, recebeu vários dons extraordinários. Teve, também, várias manifestações místicas: visões, profecias, milagres e o dom da cura.
Afonso Rodrigues, mesmo sendo porteiro, foi procurado para ser orientador espiritual de vários religiosos e leigos. Estes, procuravam-no por causa da sua sabedoria e do seu dom de conselho. Entre estes, dois se destacavam: o Padre Pedro Claver - mais tarde, canonizado - foi missionário na Colômbia e ficou conhecido como o grande evangelizador dos povos negros escravizados; e o Padre Jerónimo Moranto - também canonizado - missionário jesuíta, martirizado no México. Os dois seguiram sempre as preciosas orientações do porteiro, Afonso Rodrigues.
Após ter vivido uma vida simples, quarenta e seis anos totalmente dedicados ao serviço de Deus, da oração, da portaria do colégio e ao serviço aos irmãos por amor de Cristo, Afonso Rodrigues adoeceu. Sofreu dores muito fortes, durante mais de dois anos.
Faleceu no dia 31 de Outubro de 1617, no mesmo colégio onde dedicou a sua vida a Deus.
Afonso Rodrigues foi canonizado em 1888, pelo Papa Leão XIII, juntamente com Pedro Claver, seu fiel discípulo, que se tornara conhecido como o Apóstolo dos Escravos.
Santo Afonso Rodrigues deixou um legado valioso, além da sua vida santa: deixou uma pequena obra escrita com “apenas” três volumes, de grande valor teológico. Nela, relatou, detalhadamente, a riqueza da sua espiritualidade.
A memória litúrgica de Santo Afonso Rodrigues é celebrada no dia 31 de Outubro.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

EM DESTAQUE:

 


DIA MUNDIAL DAS MISSÕES: 19 DE OUTUBRO

*MENSAGEM DO PAPA LEÃO XIV

Queridos irmãos e irmãs,
Todos os anos, no Dia Mundial das Missões, a Igreja une-se em oração pelos missionários e pela fecundidade do seu trabalho apostólico.
Quando eu era padre e depois bispo missionário, no Peru, vi, com os meus próprios olhos, como a fé, a oração e a generosidade, demonstradas neste Dia, podem mudar comunidades inteiras.
Convido todas as paróquias católicas do mundo a participarem do Dia Mundial das Missões. As suas orações e a sua partilha generosa ajudarão a espalhar o Evangelho; a apoiar programas pastorais e catequéticos; a construir novas igrejas e a atender às necessidades de saúde e de educação dos nossos irmãos e irmãs, nos territórios de missão.
No dia 19 de Outubro, ao reflectirmos juntos sobre a nossa vocação baptismal de sermos “missionários da esperança entre os povos”, renovamos o nosso doce e alegre compromisso de levar Jesus Cristo, nossa Esperança, até os confins da Terra.
Obrigado! Obrigado por tudo o que fazeis para me ajudar a servir os missionários, ao redor do mundo. Deus vos abençoe.
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXIX DOMINGO COMUM

 

“…Permanece firme no que aprendeste
e aceitaste como certo,
sabendo de quem o aprendeste.
Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras;
elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação,
pela fé em Cristo Jesus.
Toda a Escritura, inspirada por Deus,
é útil para ensinar, persuadir, corrigir
e formar segundo a justiça.
Assim o homem de Deus será perfeito,
bem preparado para todas as boas obras.
Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo,
que há de julgar os vivos e os mortos,
pela sua manifestação e pelo seu reino:
Proclama a palavra,
insiste a propósito e fora de propósito,
argumenta, ameaça e exorta,
com toda a paciência e doutrina…”
(cf. II Timóteo 3, 14 – 4, 2)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 15 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Nas catequeses do Ano jubilar, até este momento, percorremos a vida de Jesus, seguindo os Evangelhos, desde o Seu nascimento até à morte e ressurreição. Assim, a nossa peregrinação na esperança encontrou o seu fundamento sólido, o seu caminho seguro. Agora, na última parte do caminho, deixaremos que o mistério de Cristo, culminante na Ressurreição, liberte a sua luz de salvação, em contacto com a realidade humana e histórica actual, com as suas interrogações e desafios.
A nossa vida é cadenciada por inúmeros acontecimentos, cheios de diferenciadas e ligeiras variações e experiências. Às vezes, sentimo-nos alegres, outras tristes, realizados, tensos, gratificados ou desmotivados. Vivemos atarefados; concentramo-nos para obter resultados; até chegamos a atingir metas elevadas, prestigiadas. Por outro lado, sentimo-nos suspensos, precários, à espera de sucessos e reconhecimentos que demoram a chegar, ou que nunca chegam. Em síntese, experimentamos uma situação paradoxal: gostaríamos de ser felizes; no entanto, é muito difícil sê-lo de modo contínuo e sem sombras. Fazemos as contas com o nosso limite e, ao mesmo tempo, com o ímpeto irreprimível de o procurar ultrapassar. No íntimo, sentimos que nos falta sempre algo.
Na verdade, não fomos criados para a falta, mas para a plenitude; para rejubilar com a vida, com a vida em abundância, segundo a expressão de Jesus, no Evangelho de João (cf. 10, 10).
Este anseio abismal do nosso coração pode encontrar a sua resposta última não nos papéis, nem no poder; não no ter, mas na certeza de que existe alguém que se faz garante deste impulso constitutivo da nossa humanidade; na consciência de que esta espera não será desiludida nem frustrada. Esta certeza coincide com a esperança. Não significa pensar de modo optimista: muitas vezes, o optimismo desilude-nos; vê implodir as nossas expectativas, enquanto a esperança promete e cumpre.
Irmãs e irmãos: Jesus Ressuscitado é a garantia desta meta! Ele é a fonte que sacia a nossa aridez; a sede infinita de plenitude que o Espírito Santo entranha no nosso coração. Com efeito, a Ressurreição de Cristo não é um simples acontecimento da história humana, mas o evento que a transformou, a partir de dentro.
Pensemos numa fonte de água!... Quais são as suas características? Sacia e refresca as criaturas; irriga a terra e as plantas; torna fértil e vivo o que, de outra forma, permaneceria árido. Refresca o viandante cansado, oferecendo-lhe a alegria de um oásis de vigor. Uma nascente aparece como uma dádiva gratuita para a natureza, para as criaturas, para os seres humanos. Sem água não se pode viver!
O Ressuscitado é a fonte viva que não torna árido nem sofre alterações. Permanece sempre pura e pronta para quem quer que tenha sede. E quanto mais saboreamos o mistério de Deus, tanto mais nos sentimos atraídos por Ele, sem nunca nos saciarmos completamente. No décimo livro das Confissões, Santo Agostinho apreende precisamente este anseio inesgotável do nosso coração, exprimindo-o no célebre Hino à beleza: «Infundiste a tua fragrância; e respirei e anseio por ti; saboreei, e tenho fome e sede; tocaste-me, e ardi de desejo da tua paz» (X, 27, 38).
Com a sua Ressurreição, Jesus garantiu-nos uma fonte permanente de vida: Ele é o Vivente (cf. Ap 1, 18); o amante da vida; o vitorioso sobre toda a morte. Por isso, é capaz de nos oferecer descanso, ao longo do caminho terreno; e de nos assegurar a perfeita quietude, na eternidade. Só Jesus morto e ressuscitado responde às perguntas mais profundas do nosso coração: existe realmente um ponto de chegada para nós? A nossa existência tem sentido? E como pode ser resgatado o sofrimento de tantos inocentes?
Jesus ressuscitado não faz descer uma resposta “do alto”, mas torna-se nosso companheiro nesta viagem, muitas vezes, cansativa, dolorosa, misteriosa. Só Ele pode encher o nosso cantil vazio, quando a sede se torna insuportável.
E Ele é, também, o ponto de chegada do nosso caminho. Sem o seu amor, a viagem da vida tornar-se-ia um vaguear sem, rumo, sem meta; um erro trágico com um destino fracassado. Somos criaturas frágeis! O erro faz parte da nossa humanidade; é a ferida do pecado que nos faz cair, renunciar, desesperar. Ressuscitar, pelo contrário, significa levantar-se e pôr-se de pé. O Ressuscitado garante a meta; conduz-nos para casa, onde somos esperados, amados, salvos. Percorrer o caminho, com Ele ao nosso lado, significa experimentar que somos sustentados não obstante tudo; saciados e revigorados nas provações e nas fadigas que, como pedras pesadas, ameaçam bloquear ou desviar a nossa história.
Caríssimos: da Ressurreição de Cristo brota a esperança que nos faz saborear, apesar do cansaço da vida, uma profunda e alegre quietude: aquela paz que só Ele nos poderá conceder no fim, sem fim. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR


 

- SALMO 120

Refrão: O nosso auxílio vem do Senhor,

              que fez o céu e a terra.

 

Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.

Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há de dormir nem adormecer
aquele que guarda Israel.

O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a luz durante a noite.

O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre.


SANTOS POPULARES

 


SANTA LAURA DE SANTA CATARINA DE SENA
 
Maria Laura de Jesús Montoya y Upegui nasceu em Jericó, Antioquia,  uma pequena aldeia colombiana, no dia 26 de Maio de 1874. Era filha de Dolores Upegui de João da Cruz Montoya. Como a sua mãe se recusou a vê-la antes do baptismo, foi baptizada quatro horas após o nascimento, à pressa. Tão à pressa que o seu pai nem teve tempo de combinar com a esposa o nome dela. O pároco escolheu o seu nome: Maria Laura de Jesus. Quando o pai, espantado, lhe disse que não sabia se existia uma "Santa Laura", o pároco respondeu, apressadamente, que, se não existisse, a menina teria mais um motivo para se tornar santa
Entretanto, a pequena Laura teve que lidar com a experiência do sofrimento: ainda não tinha três anos quando o seu pai foi assassinado, naqueles anos particularmente sangrentos da história colombiana. Felizmente, ela tinha uma mãe cristã exemplar ao seu lado, que a ensinou a perdoar e a fazia rezar, todos os dias, um "Pai-Nosso", pelo assassino do seu pai. A pequena órfã sentia uma grande fome de afecto: os seus avós acolheram-na, juntamente com a sua mãe e as suas irmãs mais novas, mais por piedade do que por amor.
Laura não frequentou a escola porque, no entender dos avós, a sua casa ficava muito longe da escola. A sua mãe ensinou-a a ler, escrever e, acima de tudo, a amar a Deus.
Já mais crescidinha, foi enviada para um internato e, aos dezasseis anos, Laura decidiu tornar-se professora.
Como estudante trabalhadora, para poder pagar os seus estudos, Laura cuidava dos oitenta pacientes do asilo psiquiátrico, roubando horas de sono para estudar em livros emprestados da biblioteca de formação de professores. A sua inteligência prodigiosa não só lhe permitiu passar, com louvor, nas provas de acesso à Universidade, como também obteve uma bolsa de estudos, concedida pelo Estado, graças à qual se formou como professora, aos 19 anos.
Acompanhada pela sua mãe, Laura leccionou, durante alguns anos, em várias escolas. Jovem professor, procurava transmitir não apenas conhecimentos básicos, mas também incutir valores cristãos.
Laura, que sempre se sentira atraída pela vida consagrada e, repetidamente, pensava tornar-se carmelita, foi desaconselhada pelos seus próprios directores espirituais: ela era inquieta demais para um convento de clausura; extrovertida e dinâmica demais para a vida contemplativa.
Descobriu a sua vocação, por puro acaso, ao saber da situação discriminatória e miserável enfrentada pelos indígenas colombianos. Pensar nos indígenas e decidir fazer algo pela sua promoção humana e evangelização era parte fundamental da sua vida. Porém, não conseguiu encontrar uma congregação que estivesse disposta a acolhê-la e aos seus projectos.
Apesar dos contratempos, um Bispo abraçou a sua ideia e, do nada, surgiram as "catequistas missionárias dos indígenas", que deixaram Medellín, em 1914, para se juntar aos indígenas, na selva. Laura, com a sua mãe - agora com mais de setenta anos - e algumas amigas partiram naquela primeira expedição. Combinaram heroísmo com um toque de loucura e, mais tarde, ficaram conhecidas como "Lauritas", em homenagem à sua fundadora: Madre Laura de Santa Catarina de Sena (seu nome de freira).Depois de revolucionar o conceito de missão com novas ferramentas pedagógicas e novos métodos de evangelização, a Madre Laura passou os seus últimos nove anos numa cadeira de rodas, mas com um espírito verdadeiramente missionário, de alma e coração unidos ao carisma da sua Congregação.
A Madre Laura de Santa Catarina de Sena morreu no dia 21 de Outubro de 1949, quando as suas freiras eram já cerca de 500 e as noviças cerca de 100. Serviam 22 povos indígenas.
Ao longo dos anos, estes números mais que duplicaram, e a Congregação está presente em 19 países.
Madre Laura - Maria Laura de Jesús Montoya y Upegui - foi beatificada no 25 de Abril de 2004, pelo Papa João Paulo II que disse a propósito: “…"Ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam quem era Ele" (Jo 21, 4). É possível que o homem não conheça o Senhor, apesar das numerosas manifestações ao longo da história. A Madre Laura Montoya, ao ver como viviam tantos indígenas, longe dos centros urbanos, desconhecendo Deus, dedicou-se a fundar a Congregação das Missionárias de Maria Imaculada e de Santa Catarina de Sena, para levar a luz do Evangelho aos habitantes das florestas.
Esta Beata colombiana sentiu-se mãe espiritual dos indígenas, aos quais quis mostrar o amor de Deus. Os seus tempos não foram fáceis, porque as tensões sociais ensanguentavam também naquela época a sua nobre pátria. Inspirando-nos na sua mensagem pacificadora, pedimos-lhe, hoje, que a amada Colômbia goze depressa da paz, da justiça e do progresso integral…” e canonizada no dia 12 de Maio de 2013, pelo Papa Francisco. Na homilia da celebração, disse o Papa: “…Santa Laura Montoya foi um instrumento de evangelização, primeiro como professora e depois como mãe espiritual dos indígenas, nos quais infundiu a esperança, acolhendo-os com este amor aprendido de Deus, e levando-os até Ele com uma pedagogia eficaz que respeitava a sua cultura e não se opunha a ela. Na sua obra de evangelização, Madre Laura fez-se verdadeiramente toda por todos, segundo a expressão de São Paulo (cf. 1 Cor 9, 22). Também, hoje, as suas filhas espirituais levam o Evangelho aos lugares mais recônditos e necessitados, como uma espécie de vanguarda da Igreja.
Esta primeira santa, nascida na linda terra colombiana, ensina-nos a ser generosos com Deus, a não viver a fé solitariamente — como se fosse possível viver a fé de modo isolado — mas a comunicá-la, a irradiar a alegria do Evangelho com a palavra e o testemunho de vida, onde quer que nos encontremos. Seja qual for o lugar onde vivemos, devemos irradiar esta vida do Evangelho. Ensina-nos a ver o rosto de Jesus reflectido no outro, a vencer a indiferença e o individualismo, que corrói as comunidades cristãs e o nosso próprio coração, e ensina-nos também a acolher todos sem preconceitos, sem discriminação nem reticências, com um amor autêntico, oferecendo-lhes o melhor de nós mesmos e, sobretudo, compartilhando com eles o que possuímos de mais precioso, que não são as nossas obras nem as nossas organizações, não! O que temos de mais valioso é Cristo e o seu Evangelho.
Laura Montoya foi a primeira mulher colombiana a ser declarada santa, cumprindo assim, em certo sentido, a profecia do seu apressado, mas esclarecido pároco.
A memória litúrgica de Santa Laura de Santa Catarina de Sena é celebrada no dia 21 de Outubro.
 

sábado, 11 de outubro de 2025

EM DESTAQUE:

 


DIA MUNDIAL DAS MISSÕES: 19 DE OUTUBRO
 
No próximo Domingo, 19 de Outubro, a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões, com o tema:
“Missionários da esperança entre os povos”
O Papa Francisco apresentou a sua mensagem para esta ocasião, recordando que os missionários devem ser construtores de esperança nas sociedades que dela carecem, através da oração, da Eucaristia e da vida comunitária.
O texto, assinado pelo Papa Francisco no dia 25 de Janeiro de 2025, está em sintonia com o “Ano Jubilar 2025, cuja mensagem central é a esperança”.
O Papa Francisco quer recordar “a missão fundamental” de todos os baptizados de serem “mensageiros e construtores da esperança”
Para os guiar, diz o Papa Francisco, é preciso, naturalmente, manter o olhar fixo em Cristo, “cumprimento da salvação para todos”, e em particular “para aqueles cuja única esperança é Deus”. Jesus é “o divino Missionário da esperança, o modelo supremo”, tendo experimentado as fragilidades humanas, passando por momentos críticos e confiando tudo a Deus Pai, “obedecendo com total confiança ao seu projecto de salvação para a humanidade, um projecto de paz para um futuro cheio de esperança”, explica o Santo Padre na sua mensagem.
“Que todos os discípulos baptizados e missionários de Cristo façam brilhar a sua esperança em todos os cantos da terra”, exclama o Santo Padre. Para que isso aconteça, os cristãos devem compartilhar as condições concretas de vida daqueles que encontram, acrescenta ele.
Eles são os portadores dessa esperança, cujo horizonte vai além das “realidades mundanas passageiras” e “se abre para as realidades divinas que já vislumbramos no presente”, observa Francisco. Esses missionários trabalham em meio às sociedades, especialmente aquelas “nas áreas mais ‘desenvolvidas’” que estão sofrendo de uma “crise humana”, cujos sintomas são “uma sensação generalizada de desorientação, solidão e abandono entre os idosos, e dificuldades para encontrar tempo para ajudar aqueles que vivem ao lado”. O Papa lamentou que, nos países mais avançados tecnologicamente, “a proximidade está desaparecendo: estamos todos interconectados, mas não estamos em relação”. Ele condena o nosso apego às coisas materiais, o nosso egocentrismo e a nossa falta de altruísmo. Mas “o Evangelho, vivido em comunidade, pode devolver-nos uma humanidade íntegra, saudável e redimida”.
Devemos inspirar-nos na fonte do Coração de Cristo, “levando aos outros a mesma consolação com a qual somos consolados por Deus”. “No Coração humano e divino de Jesus, Deus quer falar ao coração de cada pessoa, atraindo todos ao seu Amor”, nos lembra Francisco.
Para realizar a sua missão da melhor maneira possível, e “diante da urgência da missão de esperança hoje”, os missionários devem renovar, em si mesmos, “a espiritualidade pascal que experimentamos em cada celebração eucarística”, e tornar-se, na medida em que são baptizados, “na Páscoa do Senhor que marca a eterna primavera da história”, “pessoas da primavera”. Eles devem extrair da Eucaristia e dos Sacramentos “o zelo, a determinação e a paciência para trabalhar”.
Finalmente, Francisco ressalta que “a evangelização é sempre um processo comunitário” que continua com “a construção de comunidades cristãs por meio do acompanhamento de cada pessoa baptizada ao longo do caminho do Evangelho”, tendo em mente que “pertencer à Igreja não é uma realidade que se adquire de uma vez por todas”. Para realizar essa missão de evangelização, todos somos convidados a participar activamente por meio do testemunho das nossas vidas e da oração, dos nossos sacrifícios e da nossa generosidade. (cf. Gaudium Press)

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXVIII DOMINGO COMUM

 

“…Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David,
ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho,
pelo qual eu sofro,
até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor.
Mas a palavra de Deus não está encadeada.
Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos,
para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus,
com a glória eterna.
É digna de fé esta palavra:
Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos;
se sofremos com Cristo, também com ele reinaremos;
se O negarmos, também Ele nos negará;
se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel,
porque não pode negar-Se a Si mesmo…”
(cf. II Timóteo 2, 8-13)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 8 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Hoje, gostaria de vos convidar a reflectir sobre um aspecto surpreendente da Ressurreição de Cristo: a sua humildade. Se pensarmos nas narrações evangélicas, damo-nos conta de que o Senhor ressuscitado não faz nada de espectacular para se impor à fé dos seus discípulos. Não se apresenta circundado de plêiades de anjos; não faz gestos sensacionais; não pronuncia discursos solenes para revelar os segredos do universo. Pelo contrário, aproxima-se discretamente, como um viandante qualquer, como um homem faminto que pede para compartilhar um pouco de pão (cf. Lc 24, 15.41).
Maria de Magdala confunde-o com um jardineiro (cf. Jo 20, 15). Os discípulos de Emaús acreditam que se trata de um forasteiro (cf. Lc 24, 18). Pedro e os demais pescadores pensam que é um simples transeunte (cf. Jo 21, 4). Nós teríamos esperado efeitos especiais, sinais de poder, provas esmagadoras. Mas, o Senhor não procura isto: prefere a linguagem da proximidade, da normalidade, da mesa compartilhada.
Irmãos e irmãs: nisto há uma mensagem preciosa: a Ressurreição não é um golpe de teatro; é uma transformação silenciosa que enche de sentido cada gesto humano. Jesus ressuscitado come uma porção de peixe diante dos seus discípulos: não é um detalhe marginal, é a confirmação de que o nosso corpo, a nossa história, as nossas relações não são um embrulho a descartar. Estão destinados à plenitude da vida. Ressuscitar não significa tornar-se espírito evanescente, mas entrar numa comunhão mais profunda com Deus e com os irmãos, numa humanidade transfigurada pelo amor.
Na Páscoa de Cristo, tudo pode tornar-se graça. Até as coisas mais simples: comer, trabalhar, esperar, cuidar da casa, apoiar um amigo. A Ressurreição não subtrai vida ao tempo e ao esforço, mas transforma o seu sentido e “sabor”. Cada gesto feito com gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus.
No entanto, existe um obstáculo que, muitas vezes, nos impede de reconhecer esta presença de Cristo, na vida diária: a pretensão de que a alegria deve ser desprovida de feridas. Os discípulos de Emaús caminham tristes porque esperam outro final, um Messias que não conhecesse a cruz. Apesar de terem ouvido dizer que o sepulcro estava vazio, não conseguem sorrir. Mas Jesus põe-se ao seu lado, ajudando-os pacientemente a compreender que a dor não é a negação da promessa, mas o caminho ao longo do qual Deus manifestou a medida do seu amor (cf. Lc 24, 13-27).
Quando, finalmente, se sentam à mesa com Ele e partem o pão, abrem-se-lhes os olhos. E sentem que o seu coração já ardia, embora não o soubessem (cf. Lc 24, 28-32). Esta é a maior surpresa: descobrir que, sob as cinzas do desencanto e do cansaço, há sempre uma brasa viva, que só espera ser reavivada.
Irmãos e irmãs: a Ressurreição de Cristo ensina-nos que não há história tão marcada pela desilusão ou pelo pecado que não possa ser visitada pela esperança. Nenhuma queda é definitiva; nenhuma noite é eterna; nenhuma ferida está destinada a permanecer aberta para sempre. Por mais distantes, confusos ou indignos que nos possamos sentir, não há distância que possa extinguir a força infalível do amor de Deus.
Às vezes, pensamos que o Senhor só nos vem visitar nos momentos de recolhimento ou de fervor espiritual; quando nos sentimos à altura; quando a nossa vida parece ordenada e luminosa. Pelo contrário, o Ressuscitado aproxima-se, precisamente, nos lugares mais obscuros: nos nossos fracassos, nas relações desgastadas, nos trabalhos diários que pesam sobre os nossos ombros, nas dúvidas que nos desencorajam. Nada do que somos, nenhum fragmento da nossa existência lhe é alheio.
Hoje, o Senhor ressuscitado põe-se ao lado de cada um de nós, precisamente enquanto percorremos os nossos caminhos - do trabalho e do compromisso, mas também do sofrimento e da solidão - e, com delicadeza infinita, pede-nos que deixemos aquecer o coração. Não se impõe com clamor; não pretende ser reconhecido imediatamente. Com paciência, espera o momento em que os nossos olhos se abrirão para vislumbrar o seu rosto amigo, capaz de transformar a desilusão em espera confiante, a tristeza em gratidão, a resignação em esperança.
O Ressuscitado só quer manifestar a sua presença, tornar-se nosso companheiro de caminho e acender em nós a certeza de que a sua vida é mais forte do que qualquer morte. Então, peçamos a graça de reconhecer a sua presença humilde e discreta, de não pretender uma vida sem provações, de descobrir que cada dor, se for habitada pelo amor, pode tornar-se lugar de comunhão.
E assim, como os discípulos de Emaús, também nós voltamos para casa com um coração que arde de alegria. Uma alegria simples, que não elimina as feridas, mas que as ilumina. Uma alegria que nasce da certeza de que o Senhor está vivo e caminha ao nosso lado, oferecendo-nos, em cada instante, a possibilidade de recomeçar. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 97

 

Refrão: Diante dos povos, manifestou Deus a Salvação.

 

Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

 


SANTOS POPULARES

 


SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
 
Inácio de Antioquia, também conhecido como Inácio Teóforo, é uma das figuras mais veneradas e influentes da Igreja primitiva. Como bispo de Antioquia e mártir, Inácio teve um papel crucial na formação da teologia cristã, especialmente em relação à Eucaristia, ao papel dos bispos e à unidade da Igreja. Os seus escritos e vida de martírio inspiraram gerações de cristãos, sendo reconhecido como um dos Padres Apostólicos, ou seja, um dos primeiros líderes da Igreja que teve contacto directo com os apóstolos.
Pouco se sabe sobre a juventude de Inácio, mas acredita-se que tenha nascido por volta do ano 35 d.C., em Antioquia, uma das cidades mais importantes do Império Romano e um dos primeiros centros do cristianismo. Segundo a tradição, foi discípulo dos apóstolos Pedro e João, sendo, posteriormente, nomeado bispo de Antioquia pelo próprio Pedro, o que o coloca em contacto directo com os primeiros líderes da Igreja.
Durante o episcopado, Inácio destacou-se pela defesa inabalável da fé cristã, principalmente num período de intensas perseguições aos cristãos, sob o domínio do imperador romano Trajano. Sob a sua liderança, Antioquia tornou-se um centro florescente de actividade cristã e missionária.
Uma das maiores contribuições de Santo Inácio para a Igreja é o conjunto de sete cartas que escreveu a várias comunidades cristãs, enquanto era conduzido para Roma, onde seria martirizado. Estas cartas são documentos de valor incalculável, pois contêm reflexões profundas sobre a unidade da Igreja, a autoridade dos bispos, e a centralidade da Eucaristia.
Nas cartas, Inácio expressa uma forte defesa da autoridade episcopal, argumentando que o bispo é a personificação da unidade da comunidade cristã. Ele sublinha a necessidade de os cristãos submeterem-se à autoridade do bispo como forma de preservar a integridade da fé e evitar divisões dentro da Igreja.
Além disso, Inácio é um dos primeiros escritores cristãos a falar sobre a Eucaristia como o “remédio da imortalidade,” destacando a crença na presença real de Cristo no pão e no vinho consagrados. Este é um dos pontos-chave da sua teologia, demonstrando a importância dos sacramentos na vida cristã.
Em 107 d.C., durante a perseguição aos cristãos promovida pelo imperador Trajano, Inácio foi preso e condenado à morte. Foi levado de Antioquia para Roma, onde seria executado. No caminho, ele escreveu as sete cartas às igrejas da Ásia Menor (modernos territórios da Turquia e Grécia), além de uma carta pessoal a Policarpo de Esmirna, outro grande Padre Apostólico e amigo de Inácio.
Essas cartas reflectem a profunda espiritualidade de Inácio e a aceitação voluntária do martírio como forma de testemunho da fé. Ele não via o martírio como uma derrota, mas como uma maneira de unir-se a Cristo, a quem ele chamava de “meu Deus”. Na famosa carta aos Romanos, Inácio pediu que os cristãos de Roma não interviessem para salvar a sua vida, pois desejava ser “moído pelos dentes das feras” para tornar-se “pão puro de Cristo”.
Inácio foi martirizado em 108 d.C., no Coliseu de Roma, onde foi atirado às feras. O seu sacrifício tornou-se um símbolo poderoso de fé inabalável e entrega total à vontade de Deus. A sua morte foi amplamente celebrada na Igreja primitiva, e ele foi venerado como mártir logo após o seu martírio.
O legado de Santo Inácio está firmemente enraizado na sua teologia sobre a unidade da Igreja e a importância dos sacramentos. Ele desempenhou um papel essencial na consolidação da hierarquia eclesiástica, especialmente no papel dos bispos, e na promoção da centralidade da Eucaristia na vida dos cristãos.
As cartas de Santo Inácio continuam a ser lidas e estudadas por teólogos e historiadores cristãos até hoje, sendo uma fonte vital para entender a teologia e a espiritualidade da Igreja primitiva. Ele é venerado tanto pela Igreja Católica quanto pelas Igrejas Ortodoxas.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 17 de Outubro.

sábado, 4 de outubro de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXVII DOMINGO COMUM

 

“… «Até quando, Senhor, chamarei por Vós
e não Me ouvis?
Até quando clamarei contra a violência
e não me enviais a salvação?
Porque me deixais ver a iniquidade
e contemplar a injustiça?
Diante de mim está a opressão e a violência,
levantam-se contendas e reina a discórdia?»
O Senhor respondeu-me:
«Põe por escrito esta visão
e grava-as em tábuas com toda a clareza,
de modo que a possam ler facilmente.
Embora esta visão só se realize na devida altura,
ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará.
Se parece demorar, deves esperá-la,
porque ela há-de vir e não tardará.
Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta;
mas o justo viverá pela sua fidelidade»
(cf. Habacuc 1,2-3; 2, 2-4)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 1 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
O centro da nossa fé e o coração da nossa esperança estão bem enraizados na ressurreição de Cristo. Lendo atentamente os Evangelhos, compreendemos que este mistério é surpreendente, não só porque um homem – o Filho de Deus – ressuscitou dos mortos, mas, também, pela maneira como escolheu fazê-lo. Com efeito, a ressurreição de Jesus não é um triunfo retumbante; não é uma vingança, nem uma desforra contra os seus inimigos. É o testemunho maravilhoso do modo como o amor é capaz de se levantar após uma grande derrota, para continuar o seu caminho irrefreável.
Quando nos levantamos, após um trauma causado por outros, muitas vezes, a primeira reacção é a raiva, o desejo de levar alguém a pagar pelo que sofremos. O Ressuscitado não reage desta maneira. Saindo da mansão dos mortos, Jesus não se desforra de modo algum. Não volta com gestos de poder, mas manifesta, com mansidão, a alegria de um amor maior do que qualquer ferida e mais forte do que toda a traição.
O Ressuscitado não sente necessidade alguma de reiterar ou afirmar a sua superioridade. Ele aparece aos seus amigos – os discípulos – e fá-lo com extrema discrição; sem forçar os tempos da sua capacidade de acolhimento. O seu único desejo é voltar a estar em comunhão com eles, ajudando-os a superar o sentimento de culpa. Vemo-lo muito bem no cenáculo, onde o Senhor aparece aos seus amigos fechados no medo. É um momento que manifesta uma força extraordinária: depois de ter descido aos abismos da morte, para libertar quantos ali estavam presos, Jesus entra na sala fechada de quantos estão paralisados pelo medo, levando um dom que ninguém ousaria esperar: a paz!
A sua saudação é simples, quase banal: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). Mas é acompanhada por um gesto tão belo que chega a ser quase inconveniente: Jesus mostra aos discípulos as mãos e o lado, com os sinais da paixão. Por que exibir as feridas precisamente diante de quem, naquelas horas dramáticas, o negou e abandonou? Por que não esconder aqueles sinais de dor e evitar reabrir a ferida da vergonha?
No entanto, o Evangelho diz que, vendo o Senhor, os discípulos rejubilaram (cf. Jo 20, 20). O motivo é profundo: Jesus já está plenamente reconciliado com tudo o que padeceu. Não há sombra de rancor. As feridas não servem para repreender, mas para confirmar um amor mais forte do que qualquer infidelidade. São a prova de que, precisamente no momento da nossa falha, Deus não desistiu. Não renunciou a nós.
Assim, o Senhor mostra-se nu e desarmado. Não reclama, não chantageia. O seu amor não humilha; é a paz de quem sofreu por amor e agora pode, finalmente, afirmar que valeu a pena!
Nós, ao contrário, muitas vezes, mascaramos as nossas feridas por orgulho ou por medo de parecer frágeis. Dizemos “não importa”, “tudo passou”, mas não estamos realmente em paz com as traições que nos feriram. Às vezes, preferimos esconder a nossa dificuldade em perdoar, para não parecer vulneráveis e não correr o risco de sofrer novamente. Jesus não! Ele oferece as suas chagas como garantia de perdão. E mostra que a ressurreição não é o anulamento do passado, mas a sua transfiguração em esperança de misericórdia.
Depois, o Senhor repete: «A paz esteja convosco!». E acrescenta: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (v. 21). Com estas palavras, confia aos apóstolos uma tarefa que não é tanto um poder, mas uma responsabilidade: ser instrumentos de reconciliação no mundo. Como se dissesse: “Quem poderá anunciar o rosto misericordioso do Pai, a não ser vós, que experimentastes o fracasso e o perdão?”.
Jesus sopra sobre eles, infundindo o Espírito Santo (cf. v. 22). Foi o mesmo Espírito que o sustentou na obediência ao Pai e no amor até à cruz. A partir desse momento, os apóstolos não poderão mais silenciar o que viram e ouviram: que Deus perdoa, levanta, restitui confiança.
Este é o coração da missão da Igreja: não administrar um poder sobre os outros, mas comunicar a alegria de quem foi amado exactamente quando não o merecia. Foi a força que fez nascer e crescer a comunidade cristã: homens e mulheres que descobriram a beleza de voltar à vida para poder doá-la aos outros!
Caros irmãos e irmãs: também nós somos enviados. Também a nós o Senhor mostra as suas feridas e diz: A paz esteja convosco! Não tenhais medo de mostrar as vossas feridas curadas pela misericórdia. Não tenhais medo de vos aproximardes de quem está fechado no medo ou no sentimento de culpa. Que o sopro do Espírito nos torne, também a nós, testemunhas desta paz e deste amor mais forte do que qualquer derrota. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 94

 

Refrão: Hoje se escutardes a voz do Senhor,
              não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».

 

 


SANTOS POPULARES

 


BEATA ÂNGELA MARIA TRUSZKOWSKA
 
Sofia Camila Truszkowska nasceu no dia 16 de Maio de 1825, numa família rica,em Kalisz, Polónia. O seu pai era advogado. Ela nasceu prematura e foi baptizada no dia 1 de Janeiro de 1826.
Recebeu a sua educação inicial em casa de uma senhora dotada de excelentes qualidades intelectuais e morais. A criança imediatamente mostrou-se vivaz e bondosa, e, desde cedo, demonstrou especial preocupação pelos pobres. A sua mãe, atenciosa e carinhosa, dedicou toda a sua vida aos seus filhos. Depois de se mudar com a família para Varsóvia, Sofia matriculou-se na prestigiosa Academia Madame Guerin. O seu professor foi o poeta Jachowicz, que a ajudou a viver sentimentos bons e altruístas. Foi forçada a interromper os estudos quando, aos dezasseis anos, contraiu tuberculose. Passou um ano na Suíça para tratamento. Durante esse período, Sofia desenvolveu uma propensão para a solidão e, contemplando a majestosa paisagem alpina, sentiu o desejo de se consagrar ao Senhor. Mais tarde, ela afirmaria que foi lá que aprendeu a rezar.
Voltando a Varsóvia, iniciou o seu trabalho de caridade em prol dos pobres e marginalizados. Enquanto enriquecia a sua cultura, graças à vasta biblioteca do seu pai, frequentava, constante e fervorosamente, os sacramentos. Pensou entrar no Convento da Visitação, mas, seguindo o conselho do seu confessor, dedicou-se a cuidar do seu pai doente. Durante uma estada em Colónia, na Alemanha, a acompanhar o seu pai em tratamento, ao visitar a Catedral, envolvida pela grandiosidade das abóbadas silenciosas da Catedral, Sofia compreendeu que o Senhor a queria como sua Noiva, mesmo que ainda não entendesse como.
Em 1854, fundou uma creche para cuidar de crianças órfãs. Aderiu à Ordem Terceira de São Francisco, adoptando o nome de Ângela. O seu director espiritual foi o padre capuchinho Honorato Kozminski (1829-1916), que também foi, posteriormente, declarado beato. Foi o seu confessor até a morte. Algum tempo depois, com a sua prima Clotilde, mudou a sua residência para o asilo, a fim de estar presente, dia e noite, para as necessidades dos jovens hóspedes.
Em 21 de Novembro de 1855, com a sua prima, consagrou-se ao Senhor, com o objectivo de servir aos pobres. Naquela época, nasceu a futura Congregação das Irmãs de São Félix de Cantalice. Ângela, frequentemente, levava os órfãos à igreja dos Capuchinhos, em Cracóvia. Lá, ela rezava diante da pintura que representa São Félix abraçando o Menino Jesus. No Divino Redentor feito homem, ela meditava sobre o amor misericordioso de Deus, que chama a humanidade para si. Como o santo Capuchinho, ela também queria abraçar e ajudar, em nome do Senhor, todos aqueles que encontrava no seu caminho.
O número de órfãos acolhidos cresceu rapidamente, e o Beato Honorato foi nomeado Director do Instituto. Em 10 de Abril de 1857, com nove companheiras, tomou o hábito religioso, tornando-se a Irmã Maria Ângela. A comunidade entrou na Ordem Terceira de São Francisco.
Foram anos difíceis para a Polónia durante a ocupação russa. O Instituto era reconhecido apenas como uma instituição de caridade; as congregações religiosas eram proibidas. No entanto, o seu crescimento foi impressionante; em apenas sete anos, trinta e quatro lares foram abertos. Um ramo contemplativo também foi estabelecido para acomodar todos aqueles que aspiravam à vida claustral. Hoje, o seu nome é ‘Irmãs Capuchinhas de Santa Clara’. A Madre, como a Irmã Ângela era agora conhecida, embora mantivesse o governo de ambos os institutos, retirou-se para o ramo contemplativo. Foi eleita Superiora em 1860 e confirmada em 1864.
Em 1863, o povo polaco insurgiu-se contra os invasores; as Irmãs Felicianas transformaram as suas casas em hospitais, para cuidar dos feridos, tanto polacos como russos. Em 16 de Dezembro de 1864, os russos, suspeitando do apoio das irmãs aos insurgentes, suprimiram o instituto. A Madre Maria Ângela, juntamente com o ramo de clausura, retirou-se para as Irmãs Bernardinas, enquanto as demais retornaram a suas casas. Após um ano, o Imperador Francisco José autorizou a reconstituição da Congregação, mas a Madre Ângela, devido a uma doença, só pôde reunir-se às Irmãs, em Cracóvia, em 17 de Maio de 1866. Dois anos depois, foi eleita Superiora-Geral, professando publicamente os votos perpétuos. No ano seguinte, porém, renunciou ao cargo, devido ao agravamento da sua saúde, incluindo surdez grave. Viveu os últimos trinta anos da sua vida (de 1869 a 1899) em completa reclusão, dando um grande exemplo de virtude para as suas colegas freiras. Durante esses anos, dedicou-se à escrita, escrevendo muitas cartas; passava os dias a rezar o Santo Rosário; cuidava do decoro da igreja; cultivava, pessoalmente, flores e costurava hábitos sacerdotais.
Em 1872, foi acometida por um cancro no estômago; o seu sofrimento foi tão intenso que, em certo momento, pensou-se que tinha perdido as faculdades mentais. Em silêncio, ofereceu o seu sofrimento ao Senhor pelo bem do Instituto.
Em 1874, o Instituto obteve o "decretum laudis" de Pio IX. Nesse mesmo ano, as primeiras missionárias partiram para a América, e a Irmã Maria Ângela abençoou-as pessoalmente. Em Julho de 1899, três meses antes da sua morte, as Constituições foram, definitivamente, aprovadas.
A Madre Ângela Truszkowska faleceu no dia 10 de Outubro de 1899. Os seus restos mortais são venerados na igreja da Casa-Mãe, em Cracóvia.
Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 18 de Abril de 1993. Na homilia, disse o Papa:  “…Saúdo-te, Madre Maria Ângela Truszkowska, Mãe da grande família Feliciana. Foste testemunha dos difíceis acontecimentos históricos da nossa nação e da Igreja, que ali cumpriu a sua missão. O teu nome e a tua vocação estão ligados à figura do Beato Honorato Kozminski, grande apóstolo das comunidades secretas, que regenerou a vida de uma sociedade atribulada e restituiu a esperança da ressurreição. Hoje, faço uma peregrinação às tuas relíquias, na minha amada Cracóvia, onde a família Feliciana se desenvolveu e de onde partiu para o estrangeiro ao serviço das novas gerações de emigrantes e americanos.
Cristo conduziu a Madre Ângela por um caminho verdadeiramente excepcional, permitindo-lhe participar intimamente do mistério da sua cruz. Ele moldou o seu espírito através de inúmeros sofrimentos, que ela aceitou com fé e submissão verdadeiramente heroica à Sua vontade: na reclusão e na solidão, numa longa e dolorosa doença e na noite escura da alma. O seu maior desejo era tornar-se "vítima do amor". Ela sempre interpretou o amor como uma doação gratuita de si mesma. "Amar significa dar. Dar tudo o que o amor exige. Dar imediatamente, sem arrependimento, com alegria e com o desejo de que nos seja pedido ainda mais." Estas são as suas palavras, que resumiram todo o programa da sua vida. Ela soube acender o mesmo amor nos corações das Irmãs da sua Congregação. Este amor constitui a folhagem perene das obras com que as comunidades Felicianas servem a Igreja na Polónia e no estrangeiro.
“Agradeçam ao Senhor, porque ele é bom…” A Igreja alegra-se hoje e agradece a Deus pelo dom da elevação aos altares da Serva de Deus Madre Maria Ângela e de toda a Congregação das Irmãs Felicianas, que teve origem no seu carisma….”
A memória litúrgica da Beata Maria Ângela é celebrada no dia 10 de Outubro.

sábado, 27 de setembro de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXVI DOMINGO COMUM

 

“…Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade,
a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão.
Combate o bom combate da fé,
conquista a vida eterna, para a qual foste chamado
e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé
perante numerosas testemunhas.
Ordeno-te na presença de Deus,
que dá a vida a todas as coisas,
e de Cristo Jesus,
que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos:
guarda este mandamento sem mancha
e acima de toda a censura,
até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo,
a qual manifestará a seu tempo
o venturoso e único soberano,
Rei dos reis e Senhor dos senhores,
o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível,
que nenhum homem viu nem pode ver.
A Ele a honra e o poder eterno. Amém.
(cf. 1 Timóteo 6, 11-16)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 24 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Também, hoje, meditaremos sobre o mistério do Sábado Santo. É o dia do Mistério pascal, em que tudo parece imóvel e silencioso, enquanto, na realidade, se cumpre uma acção invisível de salvação: Cristo desce à mansão dos mortos para levar a mensagem da Ressurreição a todos aqueles que estavam nas trevas e na sombra da morte.
Este acontecimento, que a liturgia e a tradição nos transmitiram, representa o gesto mais profundo e radical do amor de Deus pela humanidade. Com efeito, não é suficiente dizer ou acreditar que Jesus morreu por nós: é preciso reconhecer que a fidelidade do seu amor quis procurar-nos onde nós mesmos nos tínhamos perdido, onde só pode chegar a força de uma luz capaz de atravessar o domínio das trevas.
Na noção bíblica, a mansão dos mortos não é tanto um lugar, mas uma condição existencial: aquela condição em que a vida é debilitada e onde reinam a dor, a solidão, a culpa e a separação de Deus e dos outros. Cristo alcança-nos. Também. neste abismo, atravessando as portas deste reino de trevas. Entra, por assim dizer, na própria casa da morte, para a esvaziar, para libertar os seus habitantes, tomando-os pela mão, um por um. É a humildade de um Deus que não se detém diante do nosso pecado, que não se apavora perante a extrema rejeição do ser humano.
No breve trecho da sua primeira Carta que ouvimos, o apóstolo Pedro diz-nos que Jesus, vivificado no Espírito Santo, foi levar o anúncio de salvação «também às almas presas» (1 Pd 3, 19). É uma das imagens mais comovedoras, que não é aprofundada nos Evangelhos canónicos, mas sim num texto apócrifo chamado Evangelho de Nicodemos. Segundo esta tradição, o Filho de Deus adentrou-se nas trevas mais densas para alcançar até o último dos seus irmãos e irmãs, para levar a sua luz até lá em baixo. Neste gesto estão toda a força e a ternura do anúncio pascal: a morte nunca é a última palavra!
Caríssimos, esta descida de Cristo não diz respeito unicamente ao passado, mas toca a vida de cada um de nós. A mansão dos mortos não é apenas a condição de quem morreu, mas inclusive daqueles que vivem a morte por causa do mal e do pecado. É, também, o inferno diário da solidão, da vergonha, do abandono, do cansaço de viver. Cristo entra em todas estas realidades obscuras para nos testemunhar o amor do Pai. Não para julgar, mas para libertar. Não para culpabilizar, mas para salvar. Fá-lo sem clamor, na ponta dos pés, como quem entra num quarto de hospital para oferecer alívio e ajuda.
Em páginas de extraordinária beleza, os Padres da Igreja descreveram este momento como um encontro: entre Cristo e Adão. Um encontro que é símbolo de todos os encontros possíveis entre Deus e o homem. O Senhor desce onde o homem se escondeu por medo, chama-o pelo nome, pega-lhe na mão, levanta-o e leva-o de novo à luz. Fá-lo com plena autoridade, mas, ao mesmo tempo, com infinita docilidade, como um pai com o filho que tem receio de não ser mais amado.
Nos ícones orientais da Ressurreição, Cristo é representado enquanto arromba as portas da mansão dos mortos e, estendendo os braços, agarra os pulsos de Adão e Eva. Não se salva apenas a si próprio; não volta à vida sozinho, mas arrasta consigo toda a humanidade. Esta é a verdadeira glória do Ressuscitado: é poder de amor; é solidariedade de um Deus que não quer salvar-se sem nós, mas somente connosco. Um Deus que não ressuscita, a não ser abraçando as nossas misérias e levantando-nos em vista de uma vida nova!
Então, o Sábado Santo é o dia em que o céu visita a terra mais profundamente. É o tempo em que cada recanto da história humana é tocado pela luz da Páscoa. E se Cristo pôde descer até lá, nada pode ser excluído da sua redenção. Nem as nossas noites, nem sequer as nossas culpas mais antigas, nem mesmo os nossos laços rompidos. Não há passado tão arruinado, não há história tão comprometida que não possa ser tocada pela misericórdia!
Amados irmãos e irmãs: para Deus, descer não é uma derrota, mas o cumprimento do seu amor. Não é um fracasso, mas o caminho através do qual Ele mostra que nenhum lugar é demasiado distante; nenhum coração é demasiado fechado; nenhum sepulcro é demasiado selado para o seu amor. É isto que nos consola; é isto que nos sustenta. E se, às vezes, nos parece que tocamos o fundo, lembremo-nos: este é o lugar a partir do qual Deus é capaz de começar uma nova criação. Uma criação feita de pessoas reerguidas, de corações perdoados, de lágrimas enxugadas. O Sábado Santo é o abraço silencioso com o qual Cristo apresenta toda a criação ao Pai para voltar a inseri-la no seu desígnio de salvação. (cf. Santa Sé)
 

PARA REZAR

 


- SALMO 145

 

Refrão: Ó minha alma, louva o Senhor!

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é Rei por todas as gerações.

 


SANTOS POPULARES

 


SÃO FRANCISCO DE BORJA
 
Francisco de Borja (ou Bórgia) nasceu em Valência, no dia 28 de Outubro de 1510. Era filho primogénito dos Duques de Gandia, D. João de Borja e D. Joana de Aragão, neta do Rei Fernando II de Aragão.
Típico exemplo do nobre espanhol, gentil e educado, generoso e empreendedor, desde muito cedo revelou bom temperamento e natural inclinação para a virtude o que, ao longo dos seus 62 anos de vida, lhe permitiu sobressair nas luzes e sombras que caracterizaram o contraditório mundo quinhentista, do qual emergiram, ao mesmo tempo, a heresia luterana mas, também, grandes santos e uma notável expansão do Cristianismo para outras partes do mundo.
Francisco formou-se na corte do Imperador Carlos V, que o adornou com o título de marquês aos 20 anos. No ano anterior, tinha-se casado com a nobre portuguesa Leonor de Castro Melo e Menezes, sendo este matrimónio abençoado com uma prole de oito filhos, em dez anos.
Por causa da prematura morte da sua mulher e também da Imperatriz D. Isabel, mulher de Carlos V e filha de D. Manuel I, Rei de Portugal, Francisco compreendeu a caducidade de tudo nesta vida e decidiu dedicar-se ao serviço de um Senhor «que nunca pudesse morrer».
Fazendo voto de castidade, começou então a dedicar-se à vida religiosa, embora ainda tivesse exercido, durante quatro anos, o cargo de vice-rei da Catalunha. A alta posição que ocupava permitiu-lhe, nesse tempo, encaminhar os filhos na vida para poder livremente seguir a sua vocação.
O encontro de Francisco de Borja com o jesuíta Pedro Fabro foi determinante. Em 1546, com o falecimento da sua piedosa esposa, fechou definitivamente a porta às honras mundanas e, demitindo-se dos altos cargos que ocupava, depois de ter feito os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, fez voto de castidade e decidiu entrar para a Companhia de Jesus.
Nesse período, de 1546 a 1548, renunciou ao ducado de Gandia e foi acolhido, em Roma, pelo próprio Santo Inácio de Loyola. Celebrou a sua primeira Missa no 26 de Maio de 1551.
As honrarias que o tinham acompanhado desde a juventude na corte da Espanha continuaram a persegui-lo, também, na vida religiosa, a tal ponto que Francisco de Borja não pôde, temporariamente, ir a Roma, para evitar que o Papa o nomeasse cardeal.
Só não conseguiu esquivar-se à eleição para o mais alto cargo na Companhia de Jesus, em 1555, após a morte do Padre Laynes, que tinha sucedido a Santo Inácio. Francisco de Borja, tornou-se, assim, o terceiro Geral da Companhia, permanecendo nesse cargo até à morte, ocorrida no dia 28 de Setembro de 1572.
Francisco de Borja foi beatificado, no dia 23 de Novembro de 1624, em Madrid, pelo Papa Urbano VIII e canonizado, no dia 20 de Junho de 1671, em Roma, pelo Papa Clemente X, com grande júbilo em toda a Espanha, cuja nobreza o elegeu como seu patrono, conseguindo que os seus restos mortais fossem trasladados para Madrid.
A memória litúrgica de São Francisco de Borja é celebrada no dia 3 de Outubro.