PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… Maria pôs-se a caminho…” (cf. Lucas 1, 39) “…O Evangelho deste domingo de Advento põe em evidência a figura de Maria. Vemo-la quando, imediatamente depois de ter concebido, na fé, o Filho de Deus, enfrenta a longa viagem de Nazaré da Galileia, até aos montes da Judeia para visitar e ajudar Isabel. O anjo Gabriel revelara-lhe que a sua idosa parente, que não tinha filhos, estava no sexto mês de gravidez (cf. Lc 1, 26.36). Por isso, Nossa Senhora, que traz em si um dom e um mistério ainda maior, vai ao encontro de Isabel e permanece três meses com ela. No encontro entre as duas mulheres — imaginai: uma idosa e a outra jovem; é a jovem, Maria, que saúda primeiro. O Evangelho reza assim: «Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel» (Lc 1, 40). E, após aquela saudação, Isabel sente-se envolvida por um grande enlevo — não vos esqueçais desta palavra: enlevo. O enlevo! Isabel sente-se arrebatada por um grande enlevo que ressoa nas suas palavras: «Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (v. 43). E, cheias de alegria, as duas mulheres abraçam-se e beijam-se: a idosa e a jovem, ambas grávidas. Para celebrar o Natal de modo profícuo, somos chamados a meditar sobre os «lugares» do enlevo. Então, quais são estes lugares do enlevo na vida quotidiana? São três! O primeiro é o outro, no qual devemos reconhecer um irmão, porque, desde que teve lugar o Natal de Jesus, cada rosto tem gravado, em si, o semblante do Filho de Deus. Sobretudo quando se trata da face do pobre, pois foi como pobre que Deus entrou no mundo e foi antes de tudo pelos pobres que se deixou aproximar. Outro lugar do enlevo — o segundo — onde, se olharmos com fé, sentimos precisamente o enlevo é a história. Muitas vezes, julgamos vê-la de modo correcto, e contudo corremos o risco de a ver ao contrário. Por exemplo, acontece quando ela nos parece determinada pela economia de mercado; regulada pelas finanças e pelos negócios, dominada pelos poderosos do momento. No entanto, o Deus do Natal é um Deus que «mistura as cartas»: Ele gosta de agir assim! Como canta Maria, no Magnificat, é o Senhor que derruba os poderosos dos tronos e exalta os humildes, sacia de bens os famintos e despede de mãos vazias os ricos (cf. Lc 1, 52-53). Eis o segundo enlevo, a surpresa da história! Um terceiro lugar do enlevo é a Igreja: contemplá-la com a surpresa da fé significa não limitar-se a considerá-la somente como instituição religiosa, tal como é; mas senti-la como uma Mãe que, apesar das manchas e das rugas — temos tantas! — contudo, deixa transparecer os lineamentos da Esposa amada e purificada por Cristo Senhor. Uma Igreja que sabe reconhecer os numerosos sinais de amor fiel que Deus lhe transmite continuamente. Uma Igreja para a qual o Senhor Jesus nunca será uma posse a defender ciosamente: quantos agem assim, cometem um erro; Ele é sempre Aquele que vai ao seu encontro, e ela sabe esperá-lo com confiança e alegria, dando voz à esperança do mundo. A Igreja que chama o Senhor: «Vem, Senhor Jesus!». A Igreja mãe que mantém as suas portas escancaradas, e os braços abertos para receber todos. Aliás, a Igreja mãe que sai pelas suas portas para ir, com sorriso de mãe, ao encontro de todos os distantes, para lhes levar a misericórdia de Deus. Esta é a surpresa do Natal! No Natal, Deus entrega-se totalmente a nós, oferecendo-nos o seu único Filho, que é toda a sua alegria. E somente com o Coração de Maria, a humilde e pobre filha de Sião, que se tornou Mãe do Filho do Altíssimo, é possível exultar e alegrar-se pelo imenso dom de Deus e pela sua surpresa imprevisível. Que Ela nos ajude a sentir o enlevo — estas três surpresas: o outro, a história e a Igreja — devido à Natividade de Jesus, o dom dos dons, o presente imerecido que nos traz a salvação. O encontro com Jesus levar-nos-á, também a nós, a sentir esta grandiosa surpresa! Mas não podemos sentir este enlevo, não podemos encontrar Jesus, se não O encontrarmos no próximo, na história e na Igreja…” (Papa Francisco, Oração do Angelus, 20 de Dezembro de 2015)

sábado, 21 de dezembro de 2024

EM DESTAQUE:

 


*FELIZ NATAL, COM JESUS

São os nossos votos a todos os leitores, à comunidade e aos homens e mulheres de boa vontade e a todos os que anseiam tempos de paz, de harmonia, de alegria e de esperança.
Que a graça do Natal encha todos os corações, todas as famílias e transforme o mundo, na justiça e na caridade.

 


DA PALAVRA DO SENHOR


 

IV DOMINGO DO ADVENTO  

“…Eis o que diz o Senhor:
«De ti, Belém-Efratá,
pequena entre as cidades de Judá,
de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel.
As suas origens remontam aos tempos de outrora,
aos dias mais antigos.
Por isso Deus os abandonará
até à altura em que der à luz
aquela que há de ser mãe.
Então voltará para os filhos de Israel
o resto dos seus irmãos.
Ele se levantará para apascentar o seu rebanho
pelo poder do Senhor,
pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus.
Viver-se-á em segurança,
porque ele será exaltado até aos confins da terra.
Ele será a paz»…” (cf. Miqueias 5, 2-5)

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Sala Paulo VI, Vaticano, Roma, no dia 18 de Dezembro de 2024.


Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, começamos o ciclo de catequeses que decorrerá durante todo o Ano jubilar. O tema é “Jesus Cristo, nossa esperança”: com efeito, Ele é a meta da nossa peregrinação e, Ele mesmo, é o caminho, a vereda a percorrer.
A primeira parte tratará da infância de Jesus, que nos é narrada pelos Evangelistas Mateus e Lucas (cf. Mt 1-2; Lc 1-2). Os Evangelhos da infância narram a concepção virginal de Jesus e o seu nascimento do seio de Maria; evocam as profecias messiânicas que n’Ele se cumprem e falam da paternidade legal de José, que ‘enxerta’ o Filho de Deus no “tronco” da dinastia davídica. É-nos apresentado Jesus recém-nascido, menino e adolescente, submisso aos seus pais e, ao mesmo tempo, consciente de ser totalmente dedicado ao Pai e ao seu Reino. A diferença entre os dois Evangelistas é que, enquanto Lucas narra os acontecimentos com os olhos de Maria, Mateus fá-lo com os olhos de José, insistindo sobre uma paternidade deveras inédita.
Mateus começa o seu Evangelho e todo o cânone neotestamentário com a «genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão» (Mt 1, 1). Trata-se de uma lista de nomes já presente nas Escrituras hebraicas, para mostrar a verdade da história e a verdade da vida humana. Com efeito, «a genealogia do Senhor é constituída a partir da história verdadeira, onde se encontram nomes no mínimo problemáticos e se sublinha o pecado do rei David (cf. Mt 1, 6). Tudo, porém, conclui-se e floresce em Maria e em Cristo (cf. Mt 1, 16)» (Carta sobre a renovação do estudo da história da Igreja, 21 de novembro de 2024). Depois, manifesta-se a verdade da vida humana que passa de geração em geração, confiando três elementos: um nome que encerra uma identidade e uma missão únicas; a pertença a uma família e a um povo; e, por último, a adesão de fé ao Deus de Israel.
A genealogia é um género literário, ou seja, uma forma adequada para transmitir uma mensagem muito importante: ninguém dá a vida a si mesmo, mas recebe-a como dom de outros; neste caso, trata-se do povo eleito, e quem herda o depósito da fé dos pais, transmitindo a vida aos filhos, confia-lhes também a fé em Deus.
No entanto, contrariamente às genealogias do Antigo Testamento, onde só aparecem nomes masculinos - porque em Israel é o pai que impõe o nome ao filho - na lista de Mateus, entre os antepassados de Jesus, aparecem também mulheres. Encontramos cinco: Tamar, a nora de Judá que, tendo ficado viúva, se finge prostituta para assegurar uma descendência ao seu marido (cf. Gn 38); Raab, a prostituta de Jericó, que permite aos exploradores judeus entrar na terra prometida e conquistá-la (cf. Js 2); Rute, a moabita que, no livro que tem o mesmo nome, permanece fiel à sogra, cuida dela e tornar-se-á a bisavó do rei David; Betsabé, com quem David comete adultério e, depois de ter mandado matar o marido, gera Salomão (cf. 2 Sm 11); e finalmente Maria de Nazaré, esposa de José, da casa de David: dela nasce o Messias, Jesus.
As primeiras quatro mulheres estão unidas não por serem pecadoras, como às vezes se diz, mas por serem estrangeiras em relação ao povo de Israel. O que Mateus salienta é que, como escreveu Bento XVI, «através delas o mundo dos gentios entra... na genealogia de Jesus - torna-se visível a sua missão a favor de judeus e pagãos» (A Infância de Jesus, Milão-Cidade do Vaticano 2012, 15).
Enquanto as quatro mulheres precedentes são mencionadas ao lado do homem que delas nasceu ou de quem o gerou, Maria, ao contrário, adquire um destaque particular: marca um novo início, ela própria é um novo começo, pois na sua vicissitude já não é a criatura humana protagonista da geração, mas o próprio Deus. Isto vê-se bem no verbo «nasceu»: «Jacob gerou José, esposo de Maria, de quem nasceu Jesus, chamado Cristo» (Mt 1, 16). Jesus é filho de David, enxertado por José naquela dinastia e destinado a ser o Messias de Israel, mas é também filho de Abraão e de mulheres estrangeiras, portanto destinado a ser a «Luz dos gentios» (cf. Lc 2, 32) e o «Salvador do mundo» (Jo 4, 42).
O Filho de Deus, consagrado ao Pai com a missão de revelar o seu rosto (cf. Jo 1, 18; Jo 14, 9), entra no mundo como todos os filhos do homem, a tal ponto que em Nazaré será chamado «filho de José» (Jo 6, 42), ou «filho do carpinteiro» (Mt 13, 55). Verdadeiro Deus e verdadeiro homem!
Irmãos e irmãs: despertemos em nós a memória grata em relação aos nossos antepassados. E, sobretudo, demos graças a Deus que, mediante a mãe Igreja, nos gerou para a vida eterna, a vida de Jesus, nossa esperança. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 79

 

Refrão: Senhor, nosso Deus, fazei-nos voltar,

              mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

Pastor de Israel, escutai,
Vós estais sobre os Querubins, aparecei.
Despertai o vosso poder
e vinde em nosso auxílio.

Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha;
protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós.

Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
sobre o filho do homem que para Vós criastes.
Nunca mais nos apartaremos de Vós,
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.


SANTOS POPULARES

 


SÃO JOÃO CÂNCIO (DE KETY)

João Câncio nasceu em 1390, em Kety, perto de Cracóvia, na Polónia. Era uma criança inteligente e adorava estudar. Gostava de ensinar. Aos vinte e sete anos já era professor de filosofia. Começou, então, a estudar teologia e foi ordenado sacerdote aos trinta e quatro anos. Alternava períodos de ensino - sua grande paixão - com o serviço sacerdotal que exercia na Igreja de São Floriano, em Cracóvia. Foi o responsável pela educação do Príncipe Casimiro, da casa real polaca. Outra realidade, porém, tinha, também, lugar no seu pensamento: a missão de caridade que o levava a sair, todos os dias, à procura dos pobres famintos a quem dava de comer e a quem falava de Jesus. O Padre João encontrava-se com os necessitados nas suas casas, muitas vezes, miseráveis. João não era rico; vivia do seu salário de professor universitário e usava-o para ajudar os pobres. Para ganhar mais e comprar mais alimentos para os menos favorecidos, fazia outro trabalho muito cansativo: copiar manuscritos. Às vezes, abria mão da sua comida para a dar a quem não tinha nada para comer. Dava, também, a sua própria roupa. Conta-se que Nossa Senhora o fazia, milagrosamente, encontrar outra roupa para se vestir. Chegava a dar os seus próprios sapatos: um dia chegou a casa descalço, tentando esconder os pés com a capa, para que ninguém notasse.
Bom professor e notável sacerdote, organizava muitas peregrinações a lugares distantes e sempre a pé. Ao longo do caminho ajudava e confortava os caminhantes como ele. Chegou a ir à Terra Santa, onde falou de Jesus aos muçulmanos, conseguindo voltar são e salvo para casa. Foi, também, várias vezes, a Roma.
É considerado o protector dos ladrões arrependidos. Na verdade, foi protagonista de um episódio singular: durante uma das suas viagens, o Padre João foi atacado por alguns criminosos que lhe ordenaram que lhes entregasse todos os objectos de valor que levava consigo. Prontamente, o Padre João obedeceu: tirou o seu dinheiro do bolso e disse que não tinha mais nada; mas, quando os ladrões estão prestes a fugir, percebeu que tinham ficado algumas moedas, no fundo do bolso. Descontente com esta mentira involuntária, correu atrás dos ladrões para lhes entregar também aquelas poucas moedas. Os ladrões, maravilhados com tamanha bondade, ajoelharam-se e pediram perdão, devolvendo-lhe todos os bens roubados.
Como tutor dos príncipes da Casa-Real polaca, às vezes, não podia deixar de comparecer a algumas celebrações ‘mundanas’. Um dia, apareceu num banquete com roupas muito modestas e foi posto fora, por um criado que não o reconheceu. O Padre João foi trocar de roupa e voltou para o palácio onde se realizava a recepção. Desta vez, conseguiu entrar mas, durante o banquete, um servente distraído virou um copo de vinho nas suas roupas. O Padre João sorriu de forma tranquilizadora: “É justo que a minha veste tenha a sua parte de bebida: foi graças a ela que pude entrar aqui”
 João Câncio, ou de Kety, morreu em Cracóvia, em 1473.
Em 1600, o Papa Clemente VIII proclamou-o venerável e o seu corpo foi posteriormente transferido para a igreja de Santa Ana, em Cracóvia. Em 1767, o Papa Clemente XIII inscreveu-o entre os santos.
Em memória de São João Câncio, há uma capela, na igreja de São Floriano, onde o jovem padre Karol Wojtyla (mais tarde, Papa João Paulo II) iniciou o seu ministério sacerdotal, como vigário paroquial, em meados do século XX.
É o padroeiro dos professores católicos e da Cáritas, associação católica de caridade. É, também, o patrono da Diocese de Cracóvia, na Polónia.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 23 de Dezembro.

sábado, 14 de dezembro de 2024

DA PALAVRA DO SENHOR



III DOMINGO DO ADVENTO         

“…Alegrai-vos sempre no Senhor.
Novamente vos digo: alegrai-vos.
Seja de todos conhecida a vossa bondade.
O Senhor está próximo.
Não vos inquieteis com coisa alguma;
mas em todas as circunstâncias,
apresentai os vossos pedidos diante de Deus,
com orações, súplicas e ações de graças.
E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência,
guardará os vossos corações e os vossos pensamentos

em Cristo Jesus…” (cf. Filipenses 4, 4-7) 

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Sala Paulo VI, Vaticano, Roma, no dia 11 de Dezembro de 2024.
 
Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
Concluímos as nossas catequeses sobre o Espírito Santo e a Igreja. Dedicamos esta última reflexão ao título que demos a todo o ciclo, ou seja: “O Espírito e a Esposa. O Espírito Santo conduz o Povo de Deus ao encontro de Jesus, nossa esperança”. Este título refere-se a um dos últimos versículos da Bíblia, no Livro do Apocalipse, que diz: «O Espírito e a esposa dizem: “Vem!”» (Apoc 22, 17). A quem se dirige esta invocação? Dirige-se a Cristo ressuscitado. Com efeito, tanto São Paulo (cf. 1 Cor 16, 22) como a Didaché - um escrito dos tempos apostólicos - testemunham que, nas reuniões litúrgicas dos primeiros cristãos, ressoava, em aramaico, o grito “Maranatha!”, que significa, precisamente, “Vem, Senhor!”. Uma oração a Cristo para que venha!
Naquela fase mais antiga, a invocação tinha um fundo que, hoje, diríamos escatológico. Com efeito, exprimia a ardente expectativa do regresso glorioso do Senhor. E este grito e a expectativa que ele manifesta nunca se apagaram na Igreja. Ainda hoje, na Missa, imediatamente após a consagração, ela proclama a morte e a ressurreição de Cristo, na expectativa da sua vinda: “Vinde, Senhor Jesus”. A Igreja está à espera da vinda do Senhor!
Mas esta expectativa da vinda última de Cristo não permaneceu a única. A ela uniu-se também a expectativa da sua vinda contínua na situação presente e peregrinante da Igreja. E é nesta vinda que a Igreja pensa, sobretudo, quando, animada pelo Espírito Santo, clama a Jesus: “Vem!”.
Houve uma mudança - melhor, uma evolução - cheia de significado, a propósito do clamor “Vem!”, “Vem, Senhor!”. Habitualmente, ele não se dirige apenas a Cristo, mas também ao próprio Espírito Santo! Quem clama é, agora, também, Aquele a quem se clama. “Vem!” é a invocação com que começam quase todos os hinos e orações da Igreja, dirigidos ao Espírito Santo: «Vem, Espírito criador!», dizemos no Veni Creator, e «Vem, Espírito Santo!», «Veni Sancte Spiritus!», na sequência do Pentecostes; e, assim, em muitas outras preces. É justo que seja assim porque, depois da Ressurreição, o Espírito Santo é o verdadeiro “alter ego” de Cristo: Aquele que O substitui; que O torna presente e activo na Igreja. É Ele que “anuncia as coisas futuras” (cf. Jo 16, 13) e que as faz desejar e esperar. Por isso, Cristo e o Espírito são inseparáveis, também na economia da salvação.
O Espírito Santo é a nascente, sempre jorrante, da esperança cristã. São Paulo deixou-nos estas palavras preciosas: «Que o Deus da esperança vos encha, na fé, de toda a alegria e paz, para que abundeis de esperança, em virtude do Espírito Santo» (Rom 15, 13). Se a Igreja é um barco, o Espírito Santo é a vela que a impele e a faz avançar no mar da história, tanto hoje como no passado!
Esperança não é uma palavra vazia, nem um nosso vago desejo de que as coisas corram bem: a esperança é uma certeza, porque se baseia na fidelidade de Deus às suas promessas. E, por isso, chama-se virtude teologal: pois é infundida por Deus e tem Deus como garante. Não é uma virtude passiva, que se limita a esperar que as coisas aconteçam. É uma virtude extremamente activa que ajuda a fazer com que elas ocorram. Alguém, que lutou pela libertação dos pobres, escreveu estas palavras: «O Espírito Santo está na origem do clamor dos pobres. Ele é a força dada a quantos não têm força. Ele trava a luta pela emancipação e pela plena realização do povo dos oprimidos» (J. COMBLIN, Spirito Santo e liberazione, Assis 1989, 236).
O cristão não pode contentar-se com ter esperança; deve, também, irradiar esperança; ser semeador de esperança. Este é o dom mais bonito que a Igreja pode oferecer a toda a humanidade, principalmente nos momentos em que tudo parece impelir a amainar as velas.
O apóstolo Pedro exortava os primeiros cristãos com as seguintes palavras: «Santificai o Senhor, Cristo, nos vossos corações, e estai sempre prontos a responder a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança». Contudo, acrescentava uma recomendação: «Mas fazei-o com mansidão e respeito» (1 Ped 3, 15-16). E isto porque não é tanto a força dos argumentos que convence as pessoas, mas o amor que soubermos pôr neles. Esta é a primeira e mais eficaz forma de evangelização. E está aberta a todos!
Estimados irmãos e irmãs, que o Espírito nos ajude sempre a “abundar na esperança, em virtude do Espírito Santo”! (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO (Cântico de Isaías)

 

Refrão: Povo do Senhor, exulta e canta de alegria!

Deus é o meu Salvador,
tenho confiança e nada temo.
O Senhor é a minha força e o meu louvor.
Ele é a minha salvação.

Tirareis água com alegria das fontes da salvação.
Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome;
anunciai aos povos a grandeza das suas obras,
proclamai a todos que o seu nome é santo.

Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas,
anunciai-as em toda a terra.
Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião,
porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.


SANTOS POPULARES

 


SÃO PEDRO CANÍSIO
 
Pieter Kanis (Pedro Canísio) nasceu no dia 8 de Maio de 1521 em Nimega, na Holanda. Era filho de Jacob Kanis e de Egidia van Houweningen, O seu pai era burgomestre da cidade; a sua mãe faleceu logo a seguir ao seu nascimento. Quando era estudante na Universidade de Colónia, frequentou os monges cartuxos de Santa Bárbara, um centro propulsor de vida católica, e conheceu outros homens piedosos que cultivavam a espiritualidade da chamada devotio moderna. Entrou na Companhia de Jesus no dia 8 de Maio de 1543, em Mogúncia (Renânia-Palatinado), depois de ter seguido um curso de exercícios espirituais, sob a orientação  do beato Pedro Favre - Petrus Faber - um dos primeiros companheiros de Santo Inácio de Loyola.
Ordenado sacerdote em Junho de 1546 em Colónia, já no ano seguinte - como teólogo do Bispo de Augsburgo, o cardeal Otto Truchsess von Waldburg - esteve presente no Concílio de Trento, onde colaborou com dois coirmãos, Diogo Laínez e Afonso Salmerón.
Em 1548, Santo Inácio fez-lhe completar, em Roma, a formação espiritual e enviou-o depois para o Colégio de Messina para se exercitar em humildes serviços domésticos. Obteve, em Bolonha, o doutoramento em teologia a 4 de Outubro de 1549 e foi destinado, por Santo Inácio, para o apostolado na Alemanha. Em 2 de Setembro desse ano, visitou o Papa Paulo III, em Castel Gandolfo, e, depois, foi à Basílica de São Pedro para rezar. Aí implorou a ajuda dos grandes Santos Apóstolos, Pedro e Paulo, que dessem eficácia permanente à Bênção apostólica para o seu grande destino, para a sua nova missão. No seu diário, anotou algumas palavras desta prece. Diz: «Ali senti que uma grande consolação e a presença da graça me eram concedidas por meio de tais intercessores [Pedro e Paulo]. Eles confirmavam a minha missão, na Alemanha, e pareciam transmitir-me, como apóstolo da Alemanha, o apoio da sua benevolência. Vós sabeis, Senhor, de quantos modos e quantas vezes, nesse mesmo dia, me confiastes a Alemanha, pela qual depois eu continuaria a ser solícito, pela qual desejaria viver e morrer».
Temos que ter presente o facto de que estamos no tempo da Reforma luterana, no momento em que a fé católica, nos países de língua germânica, diante do fascínio da Reforma, parecia definhar. Era quase impossível a tarefa de Canísio, encarregado de revitalizar, de renovar a fé católica nos países germânicos. Só era possível em virtude da oração. Só era possível a partir do centro, ou seja, de uma profunda amizade pessoal com Jesus Cristo; amizade com Cristo no seu Corpo, a Igreja, que deve nutrir-se da Eucaristia, sua presença real.
Continuando a missão recebida de Inácio e do Papa Paulo III, Canísio partiu para a Alemanha e sobretudo para o Ducado da Baviera, que por vários anos foi o lugar do seu ministério. Como decano, reitor e vice-chanceler da Universidade de Ingolstadt, cuidou da vida académica da Instituição e da reforma religiosa e moral do povo. Em Viena, onde, por um breve período, foi administrador da Diocese, desempenhou o ministério pastoral nos hospitais e nas prisões, tanto na cidade como no campo, e preparou a publicação do seu Catecismo. Em 1556, fundou o Colégio de Praga e, até 1569, foi o primeiro superior da província jesuíta da Alemanha superior.
Nesse ofício, criou nos países germânicos uma densa rede de comunidades da sua Ordem, especialmente de colégios, que foram pontos de partida para a reforma católica, para a renovação da fé católica. Nessa época, participou também no diálogo de Worms com os dirigentes protestantes, entre os quais Filipe Melantone (1557); desempenhou a função de Núncio pontifício na Polónia (1558); participou nas duas Dietas de Augsburgo (1559 e 1565); acompanhou o Cardeal Estanislau Hozjusz, legado do Papa Pio IV junto do Imperador Ferdinando (1560); interveio na Sessão final do Concílio de Trento, onde falou sobre a questão da Comunhão sob as duas espécies e da Lista dos livros proibidos (1562).
Em 1580, retirou-se em Friburgo, na Suíça, dedicando-se inteiramente à pregação e à composição das suas obras, e ali faleceu em 21 de Dezembro de 1597. Beatificado pelo Beato Pio IX, em 1864, foi proclamado ‘segundo Apóstolo da Alemanha’ pelo Papa Leão XIII, em 1897; e pelo Papa Pio XI canonizado e proclamado Doutor da Igreja, em 1925. (cf. Papa Bento XVI, na Audiência-Geral, no dia 9 de Fevereiro de 2011)
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 21 de Dezembro.

domingo, 8 de dezembro de 2024

EM DESTAQUE:

 


*SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO


A Igreja Católica celebra, no dia 8 de Dezembro, a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria. Com esta festa litúrgica, a Igreja proclama e exalta a concepção de Maria, sem mancha do pecado original. Maria, preservada do pecado, viveu a sua vida terrena na santidade, intimamente unida ao desígnio de Deus e ao serviço de Cristo e da humanidade.

Desde os tempos da Igreja primitiva, os fiéis sempre acreditaram que Maria, a Mãe de Jesus, nasceu sem o pecado original. Quer no Oriente quer no Ocidente, sempre houve uma grande devoção a Maria, mãe de Jesus e Virgem sem pecado

Em 1304, o Papa Bento XI reuniu, na Universidade de Paris, uma assembleia dos doutores mais eminentes em Teologia, para pôr fim aos conflitos doutrinais, gerados pela diversidade de doutrinas sobre a Imaculada Conceição da Virgem.

Foi o franciscano João Duns Escoto quem solucionou a dificuldade ao mostrar que era sumamente conveniente que Deus preservasse Maria do pecado original, pois a Santíssima Virgem era destinada a ser mãe do seu Filho. Isso é possível para a Omnipotência de Deus; portanto, o Senhor, de facto, a preservou, antecipando-lhe os frutos da redenção de Cristo.

O dia da festa da Imaculada Conceição foi definido, em 1476, pelo Papa Sisto IV. A existência da festa era um forte indício da crença da Igreja na Imaculada Conceição, mesmo antes da definição do dogma, no século XIX.

Assim, no dia 8 de Dezembro de 1854, através da bula ‘Ineffabilis Deus’, do Papa Pio IX, a Igreja reconheceu, oficialmente, e declarou solenemente como dogma: “Maria isenta do pecado original”.

Na preparação para a definição do dogma, o Papa Pio IX declarou: “…e, por isso, afirmaram (os Padres da Igreja) que a mesma santíssima Virgem foi por graça limpa de toda mancha de pecado e livre de toda mácula de corpo, alma e entendimento, que sempre esteve com Deus, unida com ele com eterna aliança, que nunca esteve nas trevas, mas na luz e, de conseguinte, que foi aptidíssima morada para Cristo, não por disposição corporal, mas pela graça original”. (…) “Pois não caía bem que Aquele objecto de eleição fosse atacado, da universal miséria pois, diferenciando-se imensamente dos demais, participou da natureza, não da culpa; mais ainda, muito mais convinha que como o unigênito teve Pai no céu, a quem os serafins exaltam por Santíssimo, tivesse também na terra Mãe que não houvesse jamais sofrido diminuição no brilho d sua santidade “.Está escrito na bula Ineffabilis Deus’: “…para honra da Trindade Santa, para glória e honra da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica e aumento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e com a nossa: declaramos, afirmamos e definimos que tenha sido revelada por Deus e, de conseguinte, que deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis, a doutrina que sustenta que a santíssima Virgem Maria foi preservada imune de toda mancha de culpa original no primeiro instante de sua Concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, na atenção aos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano…”

Em Portugal, a primeira celebração do culto da Imaculada Conceição decorreu no dia 8 de Dezembro de 1320, na Sé Velha de Coimbra, e consagrou-se com a coroação da Imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, como Rainha e Padroeira de Portugal, durante as cortes de 1646.


DA PALAVRA DO SENHOR

 


II DOMINGO DO ADVENTO

          - SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO  

 

“…Em todas as minhas orações,
peço sempre com alegria por todos vós,
recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho,
desde o primeiro dia até ao presente.
Tenho plena confiança
de que Aquele que começou em vós tão boa obra
há-de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.
Deus é testemunha
de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus.
Por isso Lhe peço que a vossa caridade
cresça cada vez mais em ciência e discernimento,
para que possais distinguir o que é melhor
e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
na plenitude dos frutos de justiça
que se obtêm por Jesus Cristo,
para louvor e glória de Deus…” (cf. Filipenses 1, 4-6.8-11)

 


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Roma, no dia 4 de Dezembro de 2024.
 
Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
Depois de termos reflectido sobre a acção santificadora e carismática do Espírito, dedicamos esta catequese a outro aspecto: a obra evangelizadora do Espírito Santo, ou seja, o seu papel na pregação da Igreja.
A Primeira Carta de Pedro define os apóstolos como «aqueles que anunciavam o Evangelho através do Espírito Santo» (cf. 1, 12). Nesta expressão, encontramos os dois elementos constitutivos da pregação cristã: o seu conteúdo, que é o Evangelho, e o seu meio, que é o Espírito Santo. Digamos algo sobre ambos.
No Novo Testamento, a palavra “Evangelho” tem dois significados principais. Pode indicar cada um dos quatro Evangelhos canónicos: Mateus, Marcos, Lucas e João; e, neste sentido, por Evangelho entende-se a boa nova proclamada por Jesus, durante a sua vida terrena. Depois da Páscoa, a palavra “Evangelho” adquire o novo significado de boa nova sobre Jesus, ou seja, o mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor. É a isto que o Apóstolo chama “Evangelho” quando escreve: «Não me envergonho do Evangelho, pois ele é a força vinda de Deus para a salvação de todo aquele que crê» (Rm 1, 16).
A pregação de Jesus, e em seguida dos Apóstolos, contém também todos os deveres morais que derivam do Evangelho, a partir dos dez mandamentos até ao “novo” mandamento do amor. Mas, se não quisermos voltar a cair no erro denunciado pelo apóstolo Paulo - de antepor a lei à graça e as obras à fé - é necessário recomeçar sempre de novo pelo anúncio daquilo que Cristo fez por nós. Por isso, a Exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’ insiste tanto sobre a primeira das duas, ou seja, o querigma, ou “proclamação”, da qual depende toda a aplicação moral.
Com efeito, «na catequese desempenha um papel fundamental o primeiro anúncio, ou querigma, que deve ocupar o centro da actividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial. [...] Ao designar-se como “primeiro” este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se deve voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se deve voltar a anunciar, de uma forma ou de outra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos [...] Não se deve pensar que, na catequese, o querigma é deixado de lado em favor de uma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio do que esse anúncio» (nn. 164-165), isto é, do que o querigma.
Até aqui, vimos o conteúdo da pregação cristã. Mas devemos ter em consideração, também, o meio do anúncio. O Evangelho deve ser pregado «através do Espírito Santo» (1 Pd 1, 12). A Igreja deve fazer exactamente aquilo que Jesus disse no início do seu ministério público: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque foi Ele que me ungiu e me enviou para anunciar a boa nova aos pobres» (Lc 4, 18). Pregar com a unção do Espírito Santo significa transmitir, com as ideias e a doutrina, a vida e a convicção da nossa fé. Significa confiar não na «eloquência persuasiva da sabedoria, mas na manifestação do Espírito e do poder divino» (1 Cor 2, 4), como escreveu São Paulo.
É fácil dizê-lo - poder-se-ia objectar - mas como o praticar, se não depende de nós, mas da vinda do Espírito Santo? Na realidade, há uma coisa que depende de nós, aliás duas, e vou mencioná-las brevemente. A primeira é a oração. O Espírito Santo vem sobre aqueles que rezam, pois o Pai celeste - está escrito - «concede o Espírito Santo a quantos lho pedirem» (Lc 11, 13), sobretudo se lho pedirem para anunciar o Evangelho do seu Filho! Ai de quem prega sem rezar! Torna-se aquilo a que o Apóstolo define como «bronze que ressoa ou címbalo que retine» (cf. 1 Cor 13, 1).
Portanto, a primeira coisa que depende de nós é rezar, a fim de que venha o Espírito Santo. A segunda é não desejarmos anunciar-nos a nós mesmos, mas ao Senhor Jesus (cf. 2 Cor 4, 5).
Isto diz respeito à pregação. Às vezes, as pregações são longas, 20, 30 minutos... Mas, por favor, os pregadores devem pregar uma ideia, um afecto e um convite a agir. Além de oito minutos, a pregação vinifica-se, não se entende. E digo isto aos pregadores... [aplausos]. Vejo que gostais de ouvir isto! Às vezes, vemos homens que, quando começa o sermão, saem para fumar um cigarro e depois voltam para dentro. Por favor, o sermão deve ser uma ideia, um afecto e uma proposta de acção. Que nunca se prolongue por mais de dez minutos. Isto é muito importante.
A segunda coisa - dizia-vos - é não desejarmos pregar-nos a nós próprios, mas ao Senhor. Não é necessário insistir sobre este ponto, pois quem está comprometido na evangelização sabe muito bem o que significa, na prática, não nos anunciarmos a nós próprios! Limito-me a uma aplicação particular desta exigência. Não querer pregar-se a si mesmo implica também não dar sempre a precedência a iniciativas pastorais promovidas por nós próprios e ligadas ao nosso próprio nome, mas colaborar de bom grado, se necessário, nas iniciativas comunitárias, ou que nos são confiadas pela obediência.
Que o Espírito Santo nos ajude e acompanhe, ensinando a Igreja a pregar o Evangelho assim aos homens e mulheres deste tempo! Obrigado! (cf. Santa Sé)
 

PARA REZAR

 


- SALMO 97

 

Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:

              o Senhor fez maravilhas.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.


SANTOS POPULARES

 


SANTA LUZIA
 
Luzia nasceu em Siracusa, no final do século III, numa nobre família cristã. Desde menina, consagrou-se secretamente a Deus com voto de virgindade perpétua, mas - segundo os costumes da época - foi prometida em casamento a um pretendente, que se apaixonou pela sua extraordinária beleza.
Um dia, Luzia propôs à sua mãe, chamada Eutíquia, que fosse com ela, em peregrinação, à cidade vizinha de Catânia, perto do túmulo da ilustre virgem mártir Santa Ágata, para pedir a Deus a graça de curar a sua mãe, gravemente doente, havia já algum tempo.
Tendo chegado àquele local, no dia 5 de Fevereiro do ano 301, rezaram intensamente até às lágrimas, implorando um milagre. Luzia aconselhou a sua mãe a tocar, com fé, no túmulo da padroeira de Catânia, confiando na sua segura intercessão junto do Senhor. E, eis que Santa Ágata apareceu em visão a Luzia dizendo: “Minha irmã Luzia, virgem consagrada a Deus, por que me pedes o que tu mesma podes obter para a tua mãe? Eis que, através da sua fé, ela já está curada! E, assim como a cidade de Catânia me bendiz, a cidade de Siracusa bendizer-te-á”.
Imediatamente, após a visão, Eutíquia notou que a cura milagrosa havia realmente ocorrido, e Luzia decidiu revelar à mãe o seu desejo de entregar toda a sua vida a Deus, renunciando a um marido terreno e dando todos os seus bens aos pobres, por amor de Cristo.
Assim, Luzia, de rica, tornou-se pobre; e, durante cerca de três anos, dedicou-se, sem interrupção, a obras de misericórdia de todo tipo, em benefício dos pobres, dos órfãos, das viúvas, dos doentes e dos ministros da Igreja de Deus.
Mas, aquele que a tinha pedido como noiva vingou-se da recusa, denunciando Luzia ao tribunal local do Império Romano, com a acusação de que ela era "muito cristã" (sic). De facto, alastrava pelo Império, uma cruel perseguição anticristã, promovida pelo imperador Diocleciano.
Luzia foi presa. E, corajosamente, recusou-se a sacrificar aos deuses pagãos. Portanto, foi julgada pelo magistrado Pascásio. Ela respondeu sem medo, citando quase exclusivamente as Sagradas Escrituras. O texto do interrogatório é uma verdadeira obra-prima de uso da palavra bíblica. Para justificar a sua objecção de consciência contra a ordem de sacrifício aos deuses, Luzia citou a epístola do apóstolo Tiago: “O sacrifício puro diante de Deus é ajudar os pobres, os órfãos e as viúvas. Durante três anos ofereci tudo ao meu Deus. Agora, não tenho mais nada e, por isso, ofereço-me a mim mesma." Para testemunhar a sua serena coragem diante do magistrado, ela citou o evangelista Mateus: “Sou a serva do Deus eterno, que disse: quando fores arrastado pelos juízes, não te preocupes com o que dizer, porque não serás tu a falar, mas falará o Espírito Santo dentro de ti”. Para confirmar o apoio que encontrou no Espírito Santo, ela citou a segunda carta de Paulo aos Coríntios: “Aqueles que vivem em santidade e castidade são templo de Deus e o Espírito Santo habita neles”. Para afirmar que foi o poder de Deus que a protegeu das ameaças de violência que a cercavam, ela citou o salmista: “Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas nada poderá atingir-te ”.
Permanecendo, milagrosamente, ilesa das muitas torturas a que foi sujeita, Luzia profetizou o fim próximo das perseguições de Diocleciano e o surgimento da liberdade e da paz para a Igreja.
Por causa da sua fé em Jesus Cristo, Luzia foi morta com um golpe de espada, que lhe atravessou a garganta, Foi devotamente enterrada nas grandes catacumbas cristãs da sua cidade natal, Siracusa. Era o dia 13 de Dezembro do ano 304.
Desde então, o seu culto espalhou-se pela Igreja, e, ainda hoje, Santa Luzia está entre os santos mais populares, mais amados e mais venerados do mundo.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 13 de Dezembro.

sábado, 30 de novembro de 2024

EM DESTAQUE:

 


*TEMPO DE ADVENTO
 
A palavra “Advento” significa chegada, proximidade ou vinda. A Igreja celebra este tempo durante as quatro semanas que antecedem o Natal e é o início de um novo Ana Litúrgico. Para os cristãos, é um tempo de preparação, de reflexão, de expectativa, para acolher o nascimento de Jesus Cristo, Deus feito Homem: descendente de David que vem cumprir as profecias antigas e realizar a promessa de Deus na paz, na justiça e na verdade.
A partir do século IV, a Igreja começou a viver o Advento como tempo diferente do resto do ano litúrgico. Começou na Hispânia e na Gália como uma preparação ascética e penitencial para as festividades do Natal.
No concílio de Saragoça, em 380, foi estabelecido que, de 17 de dezembro a 6 de janeiro, os fiéis deveriam assistir às celebrações diárias da Igreja. A tónica comum desta época era a ascese, a oração e as reuniões frequentes. Estas práticas foram sendo alteradas nas diferentes igrejas da Gália, Milão, Hispânia e Inglaterra até que, no século VI, foi introduzido, na liturgia romana, um período de Advento com seis semanas; mais tarde, foi reduzido a quatro semanas, pelo Papa S. Gregório Magno.
Com o tempo, o Advento romano foi adquirindo um maior significado e, para além da preparação para o nascimento do Senhor, é também tempo de esperança na Sua vinda, no fim dos tempos.
Uma forma, tradicional e muito popular, de preparar o Natal do Senhor é fazer o presépio. As famílias cristãs conservam a tradição de representar com figuras, nas suas casas, o mistério do nascimento de Jesus. «De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que surge das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem» (Papa Francisco, Admirável Sinal).
 


*CONCERTO DE ÓRGÃO: 8 DE DEZEMBRO
 
No âmbito do ciclo de órgão de tubos, promovido pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, de 3 de Novembro a 8 de Dezembro, na Igrejas do Concelho possuidoras deste tipo de órgão, realizar-se-á, no dia 8 de Dezembro, às 16,00 horas, na Igreja Matriz da Feira, um Concerto de Órgão, aberto a toda a população.
Este ciclo de órgãos de tubos, foi iniciado em 2018, como uma das grandes ofertas culturais do concelho, sendo já uma referência nacional, pela sua diversidade e qualidade artística.
Serão executantes: Eugénio Amorim - organista  - e o Quarteto Vocal, Gaudium Vocis.

DA PALAVRA DO SENHOR

 


I DOMINGO DO ADVENTO         

“…Eis o que diz o Senhor:
«Dias virão, em que cumprirei a promessa
que fiz à casa de Israel e à casa de Judá:
Naqueles dias, naquele tempo,
farei germinar para David um rebento de justiça
que exercerá o direito e a justiça na terra.
Naqueles dias, o reino de Judá será salvo
e Jerusalém viverá em segurança.
Este é o nome que chamarão à cidade:
‘O Senhor é a nossa justiça’»…” (cf. Jeremias 33, 14-16)


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO



- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Roma, no dia 27 de Novembro de 2024.


Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
Depois de ter falado sobre a graça santificadora e dos carismas, hoje gostaria de meditar sobre uma terceira realidade, ligada à acção do Espírito Santo: os “frutos do Espírito”. Em que consiste o fruto do Espírito? São Paulo oferece uma lista, na Carta aos Gálatas. Escreve: «O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si» (5, 22). Nove frutos do Espírito. Mas o que é este “fruto do Espírito”?
Diversamente dos carismas, que o Espírito concede a quem quer e quando quer, para o bem da Igreja, os frutos do Espírito – repito: amor, alegria, paz, magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si – são o resultado de uma colaboração entre a graça e a nossa liberdade. Estes frutos manifestam sempre a criatividade da pessoa, em quem «a fé age por meio da caridade» (Gl 5, 6), às vezes de modo surpreendente e jubiloso. Nem todos, na Igreja, podem ser apóstolos, profetas, evangelistas; mas todos, sem distinção, podem e devem ser caridosos, pacientes, humildes, promotores de paz, e assim por diante... Sim, todos nós devemos ser caridosos, pacientes, humildes, promotores de paz, e não de guerra.
Entre os frutos do Espírito, enumerados pelo Apóstolo, apraz-me ressaltar um, evocando as palavras iniciais da Exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo renasce sem cessar a alegria» (n. 1). Às vezes, haverá momentos tristes, mas há sempre paz. Com Jesus, há alegria e paz.
A alegria, fruto do Espírito, tem em comum com todas as outras alegrias humanas um certo sentimento de plenitude e de satisfação, levando a desejar que dure para sempre. Contudo, sabemos por experiência que isto não acontece, porque tudo aqui na terra passa rapidamente. Tudo passa rapidamente! Pensemos juntos: passam rapidamente a juventude, a saúde, as forças, o bem-estar, as amizades, os amores... Duram cem anos? Mas não mais do que isso. No entanto, ainda que estas coisas não passassem rapidamente, em seguida tornam-se insuficientes ou chegam até a aborrecer porque, como dizia Santo Agostinho dirigindo-se a Deus: «Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti» (Confissões, I, 1). Há a inquietude do coração em busca da beleza, da paz, do amor, da alegria.
A alegria do Evangelho, a alegria evangélica, diversamente de qualquer outra alegria, pode renovar-se a cada dia e tornar-se contagiante. «Somente graças a este encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, somos resgatados da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade. [...] Aqui está a fonte da acção evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como pode conter o desejo de o comunicar aos outros?» (Evangelii gaudium, 8). É a dupla característica da alegria, fruto do Espírito: ela não só não está sujeita ao desgaste inevitável do tempo, mas multiplica-se quando é partilhada com os outros! Uma verdadeira alegria partilha-se com os outros e “contagia-se”.
Há cinco séculos, viveu, aqui em Roma, um santo chamado Filipe de Neri. Ele passou para a história como o santo da alegria. Às crianças pobres e abandonadas do seu Oratório, dizia: “Filhinhos, alegrai-vos; não quero escrúpulos, nem melancolias; para mim, é suficiente que não pequeis!”. E ainda: “Sede bons, se puderdes!”. Menos conhecida, porém, é a fonte de onde vinha a sua alegria. São Filipe de Neri tinha um amor tão grande por Deus que, às vezes, parecia que o coração iria explodir no peito. A sua alegria era, no sentido mais pleno, um fruto do Espírito. O santo participou no Jubileu de 1575, que ele enriqueceu com a prática, sucessivamente mantida, da visita às sete Igrejas. Na sua época, foi um verdadeiro evangelizador mediante a alegria. E tinha esta característica própria de Jesus: perdoava sempre, perdoava tudo! Talvez alguém de nós possa pensar: “Mas, cometi este pecado, que não receberá o perdão…”. Escutai bem isto: Deus perdoa tudo; Deus perdoa sempre! E esta é a alegria: ser perdoado por Deus. E aos sacerdotes e confessores, digo sempre: perdoai tudo, não pergunteis demasiado, mas perdoai tudo, tudo e sempre!
A palavra “Evangelho” significa boa notícia. Por isso, não se pode comunicá-lo com caras fechadas e semblantes sombrios, mas com a alegria de quem encontrou o tesouro escondido e a pérola preciosa. Lembremos a exortação que São Paulo, dirigia aos crentes da Igreja de Filipos, e que agora dirige a todos nós: «Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos! Que a vossa amabilidade seja conhecida por todos» (Fl 4, 4-5).
Amados irmãos e irmãs, rejubilai com a alegria de Jesus no coração. Obrigado! (cf. Santa Sé) 

PARA REZAR

 


- SALMO 24

 

Refrão:  Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.

O Senhor é bom e reto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.

Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade
para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos.
O Senhor trata com familiaridade os que O temem
e dá-lhes a conhecer a sua aliança.


SANTOS POPULARES

 


BEATO LADISLAU BUKOWINSKI

Ladislau nasceu no dia 22 de Dezembro de 1904, em Berdyczów, hoje na Ucrânia; na época, esta povoação fazia parte da Polónia. Os seus pais, José Cipriano Bukowiński e Jadwiga Scipio del Campo, pertenciam a famílias proprietárias de terras.Era o filho primogênito. No dia 26 de Dezembro, quatro dias após o seu nascimento, foi baptizado na igreja paroquial de Santa Bargare, em Berdyczów, onde recebeu o nome de Ladislau Antoni (ou seja, Władysław Antoni).
Passou a sua infância na aldeia de Hrybienikówka; depois foi viver em Opatów, perto de Sandomiersz. Receber a educação inicial, em casa; aos dez anos, começou a frequentar a escola, em Kiev; continuou os seus estudos em Żmerynka e Płoskirów, onde, em 1918, a sua mãe morreu. Dois anos depois, quando a Polónia ficou sob o domínio bolchevique [grupo político russo formado por ex-integrantes do Partido Operário Social-Democrata Russo, fundado em 1898. O termo bolchevique é de origem russa e significa, literalmente, "maioria". Defendia a revolução socialista, a instalação da ditadura do proletariado, com a aliança de operários e camponeses, acreditando que o governo deveria ser directamente controlado pelos trabalhadores], ele fugiu com a sua família para Święcica.
No dia 24 de Setembro de 1921, Ladislau obteve o diploma do ensino médio, como aluno externo. Mais tarde, frequentou a escola polaca de Ciências Políticas, na Faculdade de Direito da Universidade Jaguelónica, de Cracóvia, graduando-se, com excelentes notas, em 24 de Junho de 1926.
Durante os anos da universidade, foi também membro do Círculo Académico de Vizinhos, que incluía estudantes que, como ele, vieram dos territórios orientais da Polónia e foram responsáveis ​​pelo apoio material aos jovens mais pobres.
Em 1926, tendo concluído os estudos de Direito, começou a frequentar o Curso de Teologia, com vista ao sacerdócio: entrou no Seminário Maior de Cracóvia e frequentou cursos no Instituto Jaguelónico. Durante quase dois anos, Ladislau esteve muito doente. Esta experiência fez-lhe compreender que o sofrimento poderia ser uma forma de aprofundar a sua fé.
Depois de terminado o Curso de Teologia, foi ordenado sacerdote, na Catedral de Cracóvia, pelo Arcebispo de Cracóvia, Adão Estêvão Sapieha, em 28 de Junho de 1931.
De 1 de Setembro de 1931 a 20 de Junho de 1935, o Padre Ladislau foi professor na Escola Preparatória de Rabka, sem esquecer os aspectos caritativos do seu ministério. Em 1936, foi nomeado vice-pároco (vigário paroquial) de SuchaBeskidzka e professor nas escolas daquela cidade.
O Padre Ladislau nunca não se esqueceu da sua terra natal e da paixão que o animou durante os anos universitários. Em finais de 1936, foi enviado para o leste da Polónia, para a Diocese de Volhynia. Foi, então, professor no Seminário de Łuck e encarregado de cuidar dos retiros paroquiais, sem esquecer o ensino nas escolas. Em 1938, foi nomeado secretário diocesano da Acção Católica e director do Instituto Superior de Ciências Religiosas. O seu antigo interesse pelo jornalismo - antes de se formar tinha trabalhado na redação de um jornal - foi útil quando se tornou editor da revista ‘Acção Católica’ e teve que substituir o editor da revista «Vida Católica’.
Depois de obter a incardinação na diocese de Łuck, foi nomeado pároco da Catedral, em Setembro de 1939, pouco antes de a cidade ficar sob o controlo soviético. Empenhou-se em melhorar as condições dos habitantes: visitava os idosos e os que viviam sozinhos; cuidava, muitas vezes à noite, dos doentes graves, aos quais também levava os Sacramentos. Ao saber que havia prisioneiros polacos condenados à deportação para a Sibéria, ia à estação para lhes levar livros de orações e, melhor ainda, confortá-los com a sua presença e a sua palavra.
Em 22 de Junho de 1940, foi preso pelos bolcheviques. Um dia, os soldados que guardavam a prisão começaram a disparar contra os presos, com o objectivo de reduzir o seu número. Por uma circunstância que pareceu milagrosa, o Padre Ladislau saiu ileso, sem sequer um arranhão: deitado no chão da prisão, confessou e preparou os seus companheiros para a morte. Libertado da prisão, em 26 de Junho de 1941, continuou o seu serviço e a sua acção caritativa para com os fugitivos e prisioneiros de guerra: salvou também muitas crianças, inclusive judias, e preparou-as, clandestinamente, para a primeira comunhão.
Na noite de 3 para 4 de Janeiro de 1945, foi novamente preso, juntamente com o Bispo de Łuck e todo o capítulo da catedral: acusado de ser espião do Vaticano, foi condenado, sem julgamento, a trabalhos forçados.
Durante mais de quatro anos, esteve internado no campo de trabalhos forçados de Czelabinsk, na Sibéria: teve de cortar madeira e cavar valas. Em 1950, foi levado para outro campo em Žezkazgan, no actual Cazaquistão, para trabalhar nas minas de cobre.
Em todos estes tormentos, nunca esqueceu que era padre. De manhã cedo, enquanto os outros presos dormiam, celebrava a missa, no catre onde dormia. As suas vestes eram os trapos da sua prisão. Terminado o trabalho, que o ocupava durante mais de dez horas, visitava os enfermos, no hospital do campo; administrava os Sacramentos e realizava encontros de formasção espiritual. Escreveu, mais tarde: «A Divina Providência, também, às vezes, actua através dos ateus, que me enviaram para lá, onde era necessário a presença de um sacerdote».
Nunca teve uma palavra de reclamação para com os seus perseguidores; pelo contrário, abençoava-os. Uma noite, quando ia confessar, pela primeira vez, um preso polaco, foi surpreendido por um guarda, que lhe deu uma bofetada, na cara. Reflectindo sobre o ocorrido, o Padre Ladislau compreendeu que poderia ter sido muito pior se o tivessem enviado para a solitária.
A sua pena foi reduzida para nove anos, sete meses e seis dias, por bom comportamento. Foi libertado, no dia 10 de Agosto de 1954, e deportado para Karaganda, capital do Cazaquistão. Ali, viveu como guarda de uma obra, mas continuou o seu apostolado, na clandestinidade.
Em 1955, foi convidado a regressar à Polónia: acolheu com alegria a notícia, mas preferiu tornar-se cidadão soviético, para permanecer fiel à sua vocação e à sua missão. Como a sua cidadania lhe permitia circular livremente por toda a União Soviética, deixou o seu emprego e ocupou-se, exclusivamente, com o apostolado, tanto entre os católicos latinos, polacos e alemães, como entre os católicos gregos.
Em 3 de Dezembro de 1958, foi preso pela terceira vez. As acusações feitas contra ele, durante a audiência de julgamento, no dia 25 de Fevereiro de 1959, foram: ter formado uma igreja ilegalmente; ter espalhado propaganda entre crianças e jovens; estar na posse de material anti-soviético. O Padre Ladislau pensou aproveitar os seus estudos de direito e proclamou que se defenderia. O seu discurso impressionou tanto os juízes que ele foi condenado a três anos de trabalhos forçados; foi a frase mais leve. A partir de 1965, fez muitas viagens missionárias, mas, muitas vezes teve que regressar à Polónia para tratamento: os períodos de prisão e trabalho pastoral tinham-no esgotado. Foi durante essas visitas que conheceu o Cardeal Karol Wojtyła (futuro Papa João Paulo II) que estava muito interessado no seu apostolado no Cazaquistão.
Em Outubro de 1974, partiu para um período de descanso em Wierzbowiec, na casa de um padre amigo, e fez os seus exercícios espirituais. Regressou a Karaganda, mas, pouco depois, teve um colapso físico: no dia 25 de Novembro celebrou a sua última missa; recebeu a Unção dos Enfermos e foi levado para o hospital.
O Padre Ladislau Bukowiński morreu no 3 de Dezembro de 1974, despertando consternação e luto entre aqueles que o conheceram.
Foi beatificado, no domingo, 11 de Setembro de 2016, na Catedral de Nossa Senhora de Fátima, em Karaganda. Presidiu o Cardeal Ângelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, em nome do Papa Francisco.
Em Roma, na Oração do Angelus, o Papa Francisco disse: “…Hoje, em Karaganda, no Cazaquistão, foi proclamado beato, o Padre Ladislau Bukowinski, sacerdote e pároco, perseguido por causa da sua fé. Quanto sofreu este homem! Quanto! Na sua vida, demonstrou sempre grande amor aos mais débeis e necessitados e o seu testemunho é como um condensado das obras de misericórdia, espirituais e corporais…”
Os restos mortais do Beato Ladislau Bukowiński, transferido, em 1991, para a Igreja de São José, em Karaganda, repousam na cripta da Catedral desde 2008.
A memória litúrgica do Beato Ladislau Bukowiński é celebrada no dia 3 de Dezembro.

sábado, 23 de novembro de 2024

EM DESTAQUE:

 


*SOLENIDADE DE CRISTO REI (24 de Novembro de 2024)

A devoção a Cristo Rei foi, especialmente, promovida pelo Papa Pio XI, que instituiu a respectiva festa litúrgica, no decorrer do Ano Santo de 1925, através da Encíclica “Quas Primas” (11 de Dezembro de 1925), a ser celebrada no último Domingo de Outubro de cada ano.
Esta devoção tem fundas raízes bíblicas, tanto no Antigo como no Novo Testamento, bastando lembrar que, no julgamento por Pilatos, Jesus se afirmou Rei, mas não à maneira do mundo.
Além disso, o próprio título de Cristo, nome grego que em hebraico se diz Messias e se traduz em português por Ungido, evoca a tradição antiga de se ungirem com óleo - para significar a penetração do Espírito Santo - os profetas, os sacerdotes e os reis.
No tempo de Pio XI, ainda se acreditava no ideal de que os países, tradicionalmente cristãos, deveriam reconhecer, oficialmente, a realeza de Jesus Cristo, acatando, na sua legislação e governo público, os princípios da Lei de Deus e as orientações da Santa Igreja, verdadeiro Corpo Místico de Jesus Cristo. Daí os apelos à implantação, nas diversas sociedades, do Reinado Social de Cristo, o grande ideal que norteava particularmente a Acção Católica, tão promovida por Pio XI, e objectivo, também, da acção missionária a que este Papa deu grande impulso.
Com a instituição desta Festa, os frutos esperados da militância católica seriam a liberdade, a ordem, a tranquilidade, a concórdia e a paz entre os homens. O Papa fixou o último Domingo de Outubro para esta Celebração, sobretudo porque tinha em vista a Festa subjacente de Todos os Santos, a fim de se proclamar abertamente a glória Daquele que triunfa sobre todos os Eleitos. Nesta Festa, dever-se-ia fazer a Consagração ao Coração do Redentor.
Com o Concílio Vaticano II, em tempo bastante diferente, marcado pela aceitação pela Igreja da laicidade dos poderes públicos num mundo pluricultural e de convívio de várias crenças religiosas, a Festa de Cristo Rei continuou no calendário geral da Igreja, mas com um sentido mais espiritual e litúrgico, passando a celebrar-se no último Domingo do Ano Litúrgico (34º do Tempo Comum), como que a encerrar as celebrações anuais dos mistérios cristãos. (…)
Assim, no último Domingo do Ano Litúrgico, surge a figura de Cristo, Rei da Glória, o fim da história humana, ponto de convergência para o qual tendem os desejos da História e da Civilização, centro do género humano, alegria de todos os corações e plenitude total de todos os seus anseios.
Vivificados e reunidos no Seu espírito, caminhamos como peregrinos para a consumação da história humana, a qual coincide plenamente com o Seu desígnio de Amor: “Em Cristo recapitular todas as coisas, as que estão nos Céus e na terra” (Ef. 1,10). Nesta celebração tem-se em conta especialmente as palavras de Jesus a Pilatos. “Sou Rei, mas não à maneira do mundo”. [cf.Agência Ecclesia, Nov. 2018 (adaptado)]