PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… Guarda este mandamento sem mancha…” (cf. Timóteo 6, 14) Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo dirige a Timóteo – e a nós também – algumas recomendações que tinha a peito. Entre elas, pede que «guarde o mandamento, sem mancha nem culpa» (1 Tm 6, 14). Fala apenas de um mandamento, parecendo querer fazer com que o nosso olhar se mantenha fixo no que é essencial na fé. De facto, São Paulo não recomenda uma multidão de pontos e aspetos, mas sublinha o centro da fé. Este centro à volta do qual tudo gira, este coração pulsante que a tudo dá vida é o anúncio pascal, o primeiro anúncio: O Senhor Jesus ressuscitou, o Senhor Jesus ama-te, por ti deu a sua vida; ressuscitado e vivo, está ao teu lado e interessa-Se por ti todos os dias. Isto, nunca o devemos esquecer. Neste Jubileu dos Catequistas, pedese-nos para não nos cansarmos de colocar em primeiro lugar o anúncio principal da fé: o Senhor ressuscitou. Não há conteúdos mais importantes, nada é mais firme e atual. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, se se mantiver ligado a este centro, se for permeado pelo anúncio pascal; mas se, pelo contrário, se isolar, perde sentido e força. Somos chamados continuamente a viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és. Dá-Lhe lugar: apesar das deceções e feridas da vida, deixa-Lhe a possibilidade de te amar. Não te dececionará». O mandamento de que fala São Paulo faz-nos pensar também no mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). É amando que se anuncia Deus-Amor: não à força de convencer, nunca impondo a verdade nem mesmo obstinando-se em torno de alguma obrigação religiosa ou moral. Anuncia-se Deus, encontrando as pessoas, com atenção à sua história e ao seu caminho. Porque o Senhor não é uma ideia, mas uma Pessoa viva: a sua mensagem comunica-se através do testemunho simples e verdadeiro, da escuta e acolhimento, da alegria que se irradia. Não se fala bem de Jesus, quando nos mostramos tristes; nem se transmite a beleza de Deus limitando-nos a fazer bonitos sermões. O Deus da esperança anuncia-Se vivendo no dia-a-dia o Evangelho da caridade, sem medo de o testemunhar inclusive com novas formas de anúncio. O Evangelho deste domingo ajuda-nos a compreender o que significa amar, especialmente a evitar alguns riscos. Na parábola, há um homem rico que não se dá conta de Lázaro, um pobre que «jazia ao seu portão» (Lc 16, 20). Na realidade, este rico não faz mal a ninguém, não se diz que é mau; e todavia tem uma enfermidade pior que a de Lázaro, apesar deste estar «coberto de chagas» (ibid.): este rico sofre duma for-te cegueira, porque não consegue olhar para além do seu mundo, feito de banquetes e roupa fina. Não vê mais além da porta de sua casa, onde jazia Lázaro, porque não se importa com o que acontece fora. Não vê com os olhos, porque não sente com o coração. No seu coração, entrou a mundanidade que anestesia a alma. A mundanidade é como um «buraco negro» que engole o bem, que apaga o amor, que absorve tudo no próprio eu. Então só se veem as aparências e não nos damos conta dos outros, porque nos tornamos indiferentes a tudo. Quem sofre desta grave cegueira, assume muitas vezes comportamento «estrábicos»: olha com reverência as pessoas famosas, de alto nível, admiradas pelo mundo, e afasta o olhar dos inúmeros Lázaros de hoje, dos pobres e dos doentes, que são os prediletos do Senhor. Mas o Senhor olha para quem é transcurado e rejeitado pelo mundo. Lázaro é o único personagem, em todas as parábolas de Jesus, a ser designado pelo nome. O seu nome significa «Deus ajuda». Deus não o esquece… Acolhê-lo-á no banquete do seu Reino, juntamente com Abraão, numa rica comunhão de afetos. Ao contrário, na parábola, o homem rico não tem sequer um nome; a sua vida cai esquecida, porque quem vive para si mesmo não faz a história. E um cristão deve fazer a história; deve sair de si mesmo, para fazer a história. Mas quem vive para si mesmo, não faz a história. A insensibilidade de hoje escava abismos intransponíveis para sempre. E hoje caímos nesta doença da indiferença, do egoísmo, da mundanidade. E há outro detalhe na parábola: um contraste. A vida opulenta deste homem sem nome é descrita com ostentação: nele, carências e direitos, tudo é espalhafatoso. Mesmo na morte, insiste em ser ajudado e pretende os seus interesses. Ao contrário, a pobreza de Lázaro é expressa com grande dignidade: da sua boca não saem lamentações, protestos nem palavras de desprezo. É uma válida lição: como servidores da palavra de Jesus, somos chamados a não ostentar aparência, nem procurar glória; não podemos sequer ser tristes ou lastimosos. Não sejamos profetas da desgraça, que se comprazem em lobrigar perigos ou desvios; não sejamos pessoas que vivem entrincheiradas nos seus ambientes, proferindo juízos amargos sobre a sociedade, sobre a Igreja, sobre tudo e todos, poluindo o mundo de negatividade. O ceticismo lamentoso não se coaduna a quem vive familiarizado com a Palavra de Deus. Quem anuncia a esperança de Jesus é portador de alegria e vê longe, tem pela frente horizontes, e não um muro que o impede de ver; vê longe porque sabe olhar para além do mal e dos problemas. Ao mesmo tempo, vê bem ao perto, porque está atento ao próximo e às suas necessidades. Hoje o Senhor pede-nos isto: face aos inúmeros Lázaros que vemos, somos chamados a inquietar-nos, a encontrar formas de os atender e ajudar, sem delegar sempre a outras pessoas nem dizer: «Ajudar-te-ei amanhã, hoje não tenho tempo, ajudar-te-ei amanhã». E isto é um pecado. O tempo gasto a socorrer os outros é tempo dado a Jesus, é amor que permanece: é o nosso tesouro no céu, que nos asseguramos aqui na terra. Concluindo, amados catequistas e queridos irmãos e irmãs, que o Senhor nos dê a graça de sermos renovados cada dia pela alegria do primeiro anúncio: Jesus morreu e ressuscitou, Jesus ama-nos pessoalmente! Que Ele nos dê a força de viver e anunciar o mandamento do amor, vencendo a cegueira da aparência e as tristezas mundanas. Que nos torne sensíveis aos pobres, que não são um apêndice do Evangelho, mas página central, sempre aberta diante de todos. (cf. Papa Francisco, na Homilia da celebração do Jubileu dos Catequistas, Praça de São Pedro, Roma, 25 de Setembro de 2016)

sábado, 27 de setembro de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXVI DOMINGO COMUM

 

“…Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade,
a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão.
Combate o bom combate da fé,
conquista a vida eterna, para a qual foste chamado
e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé
perante numerosas testemunhas.
Ordeno-te na presença de Deus,
que dá a vida a todas as coisas,
e de Cristo Jesus,
que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos:
guarda este mandamento sem mancha
e acima de toda a censura,
até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo,
a qual manifestará a seu tempo
o venturoso e único soberano,
Rei dos reis e Senhor dos senhores,
o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível,
que nenhum homem viu nem pode ver.
A Ele a honra e o poder eterno. Amém.
(cf. 1 Timóteo 6, 11-16)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 24 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Também, hoje, meditaremos sobre o mistério do Sábado Santo. É o dia do Mistério pascal, em que tudo parece imóvel e silencioso, enquanto, na realidade, se cumpre uma acção invisível de salvação: Cristo desce à mansão dos mortos para levar a mensagem da Ressurreição a todos aqueles que estavam nas trevas e na sombra da morte.
Este acontecimento, que a liturgia e a tradição nos transmitiram, representa o gesto mais profundo e radical do amor de Deus pela humanidade. Com efeito, não é suficiente dizer ou acreditar que Jesus morreu por nós: é preciso reconhecer que a fidelidade do seu amor quis procurar-nos onde nós mesmos nos tínhamos perdido, onde só pode chegar a força de uma luz capaz de atravessar o domínio das trevas.
Na noção bíblica, a mansão dos mortos não é tanto um lugar, mas uma condição existencial: aquela condição em que a vida é debilitada e onde reinam a dor, a solidão, a culpa e a separação de Deus e dos outros. Cristo alcança-nos. Também. neste abismo, atravessando as portas deste reino de trevas. Entra, por assim dizer, na própria casa da morte, para a esvaziar, para libertar os seus habitantes, tomando-os pela mão, um por um. É a humildade de um Deus que não se detém diante do nosso pecado, que não se apavora perante a extrema rejeição do ser humano.
No breve trecho da sua primeira Carta que ouvimos, o apóstolo Pedro diz-nos que Jesus, vivificado no Espírito Santo, foi levar o anúncio de salvação «também às almas presas» (1 Pd 3, 19). É uma das imagens mais comovedoras, que não é aprofundada nos Evangelhos canónicos, mas sim num texto apócrifo chamado Evangelho de Nicodemos. Segundo esta tradição, o Filho de Deus adentrou-se nas trevas mais densas para alcançar até o último dos seus irmãos e irmãs, para levar a sua luz até lá em baixo. Neste gesto estão toda a força e a ternura do anúncio pascal: a morte nunca é a última palavra!
Caríssimos, esta descida de Cristo não diz respeito unicamente ao passado, mas toca a vida de cada um de nós. A mansão dos mortos não é apenas a condição de quem morreu, mas inclusive daqueles que vivem a morte por causa do mal e do pecado. É, também, o inferno diário da solidão, da vergonha, do abandono, do cansaço de viver. Cristo entra em todas estas realidades obscuras para nos testemunhar o amor do Pai. Não para julgar, mas para libertar. Não para culpabilizar, mas para salvar. Fá-lo sem clamor, na ponta dos pés, como quem entra num quarto de hospital para oferecer alívio e ajuda.
Em páginas de extraordinária beleza, os Padres da Igreja descreveram este momento como um encontro: entre Cristo e Adão. Um encontro que é símbolo de todos os encontros possíveis entre Deus e o homem. O Senhor desce onde o homem se escondeu por medo, chama-o pelo nome, pega-lhe na mão, levanta-o e leva-o de novo à luz. Fá-lo com plena autoridade, mas, ao mesmo tempo, com infinita docilidade, como um pai com o filho que tem receio de não ser mais amado.
Nos ícones orientais da Ressurreição, Cristo é representado enquanto arromba as portas da mansão dos mortos e, estendendo os braços, agarra os pulsos de Adão e Eva. Não se salva apenas a si próprio; não volta à vida sozinho, mas arrasta consigo toda a humanidade. Esta é a verdadeira glória do Ressuscitado: é poder de amor; é solidariedade de um Deus que não quer salvar-se sem nós, mas somente connosco. Um Deus que não ressuscita, a não ser abraçando as nossas misérias e levantando-nos em vista de uma vida nova!
Então, o Sábado Santo é o dia em que o céu visita a terra mais profundamente. É o tempo em que cada recanto da história humana é tocado pela luz da Páscoa. E se Cristo pôde descer até lá, nada pode ser excluído da sua redenção. Nem as nossas noites, nem sequer as nossas culpas mais antigas, nem mesmo os nossos laços rompidos. Não há passado tão arruinado, não há história tão comprometida que não possa ser tocada pela misericórdia!
Amados irmãos e irmãs: para Deus, descer não é uma derrota, mas o cumprimento do seu amor. Não é um fracasso, mas o caminho através do qual Ele mostra que nenhum lugar é demasiado distante; nenhum coração é demasiado fechado; nenhum sepulcro é demasiado selado para o seu amor. É isto que nos consola; é isto que nos sustenta. E se, às vezes, nos parece que tocamos o fundo, lembremo-nos: este é o lugar a partir do qual Deus é capaz de começar uma nova criação. Uma criação feita de pessoas reerguidas, de corações perdoados, de lágrimas enxugadas. O Sábado Santo é o abraço silencioso com o qual Cristo apresenta toda a criação ao Pai para voltar a inseri-la no seu desígnio de salvação. (cf. Santa Sé)
 

PARA REZAR

 


- SALMO 145

 

Refrão: Ó minha alma, louva o Senhor!

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é Rei por todas as gerações.

 


SANTOS POPULARES

 


SÃO FRANCISCO DE BORJA
 
Francisco de Borja (ou Bórgia) nasceu em Valência, no dia 28 de Outubro de 1510. Era filho primogénito dos Duques de Gandia, D. João de Borja e D. Joana de Aragão, neta do Rei Fernando II de Aragão.
Típico exemplo do nobre espanhol, gentil e educado, generoso e empreendedor, desde muito cedo revelou bom temperamento e natural inclinação para a virtude o que, ao longo dos seus 62 anos de vida, lhe permitiu sobressair nas luzes e sombras que caracterizaram o contraditório mundo quinhentista, do qual emergiram, ao mesmo tempo, a heresia luterana mas, também, grandes santos e uma notável expansão do Cristianismo para outras partes do mundo.
Francisco formou-se na corte do Imperador Carlos V, que o adornou com o título de marquês aos 20 anos. No ano anterior, tinha-se casado com a nobre portuguesa Leonor de Castro Melo e Menezes, sendo este matrimónio abençoado com uma prole de oito filhos, em dez anos.
Por causa da prematura morte da sua mulher e também da Imperatriz D. Isabel, mulher de Carlos V e filha de D. Manuel I, Rei de Portugal, Francisco compreendeu a caducidade de tudo nesta vida e decidiu dedicar-se ao serviço de um Senhor «que nunca pudesse morrer».
Fazendo voto de castidade, começou então a dedicar-se à vida religiosa, embora ainda tivesse exercido, durante quatro anos, o cargo de vice-rei da Catalunha. A alta posição que ocupava permitiu-lhe, nesse tempo, encaminhar os filhos na vida para poder livremente seguir a sua vocação.
O encontro de Francisco de Borja com o jesuíta Pedro Fabro foi determinante. Em 1546, com o falecimento da sua piedosa esposa, fechou definitivamente a porta às honras mundanas e, demitindo-se dos altos cargos que ocupava, depois de ter feito os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, fez voto de castidade e decidiu entrar para a Companhia de Jesus.
Nesse período, de 1546 a 1548, renunciou ao ducado de Gandia e foi acolhido, em Roma, pelo próprio Santo Inácio de Loyola. Celebrou a sua primeira Missa no 26 de Maio de 1551.
As honrarias que o tinham acompanhado desde a juventude na corte da Espanha continuaram a persegui-lo, também, na vida religiosa, a tal ponto que Francisco de Borja não pôde, temporariamente, ir a Roma, para evitar que o Papa o nomeasse cardeal.
Só não conseguiu esquivar-se à eleição para o mais alto cargo na Companhia de Jesus, em 1555, após a morte do Padre Laynes, que tinha sucedido a Santo Inácio. Francisco de Borja, tornou-se, assim, o terceiro Geral da Companhia, permanecendo nesse cargo até à morte, ocorrida no dia 28 de Setembro de 1572.
Francisco de Borja foi beatificado, no dia 23 de Novembro de 1624, em Madrid, pelo Papa Urbano VIII e canonizado, no dia 20 de Junho de 1671, em Roma, pelo Papa Clemente X, com grande júbilo em toda a Espanha, cuja nobreza o elegeu como seu patrono, conseguindo que os seus restos mortais fossem trasladados para Madrid.
A memória litúrgica de São Francisco de Borja é celebrada no dia 3 de Outubro.
 

domingo, 21 de setembro de 2025

EM DESTAQUE:

 




- CELEBRAÇÃO JUBILAR DAS PARÓQUIAS DE SANFINS, ESCAPÃES E SANTA MARIA DA FEIRA
 
No próximo Domingo, 28 de Setembro, as paróquias de Sanfins, Escapães e Santa Maria da Feira são convidadas a peregrinar até à Igreja Matriz da Feira - Santuário Jubilar – para a celebração da Eucaristia que assinalará a sua adesão à proposta da Igreja: ‘Peregrinos de Esperança.
o Papa Francisco disse que ‘…O Jubileu deve ser um tempo de conversão, peregrinação e caridade, onde a esperança cristã exige audácia para antecipar a promessa de Deus, através da responsabilidade e compaixão. A esperança não tolera a indolência, a preguiça, a falsa prudência e o calculismo. A esperança não admite a vida tranquila dos que não levantam a voz contra o mal e as injustiças… Ancorados em Cristo, cruzamos o limiar deste templo santo e entramos no tempo da misericórdia e do perdão, para que a cada homem e a cada mulher seja aberto o caminho da esperança que não desilude” 
Promovido e celebrado pela Igreja Católica, o Jubileu deve ser um tempo dedicado à renovação espiritual, à reconciliação e à vivência profunda da misericórdia divina.
A celebração, às 16,00 horas, marcará, ainda, o início da catequese, nestas paróquias, com a renovação solene do compromisso dos seus catequistas.
Que todos se façam ‘peregrinos de esperança’, ao encontro do Senhor que ama, acolhe, perdoa, transforma, fortalece, chama e envia. Que em cada um, a graça do Espírito renove a chama da fidelidade e do compromisso para que a nossa Terra se torne, verdadeiramente, casa de amor, de paz, de felicidade e de salvação para todos.
 



DA PALAVRA DO SENHOR



XXV DOMINGO COMUM

 

“…Escutai bem, vós que espezinhais o pobre
e quereis eliminar os humildes da terra.
Vós dizeis:
«Quando passará a lua nova,
para podermos vender o nosso grão?
Quando chegará o fim de sábado,
para podermos abrir os celeiros de trigo?
Faremos a medida mais pequena,
aumentaremos o preço,
arranjaremos balanças falsas.
Compraremos os necessitados por dinheiro
e os indigentes por um par de sandálias.
Venderemos até as cascas do nosso trigo».
Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob:

«Nunca esquecerei nenhuma das suas obras»…” (cf. Amós 8, 4-7) 

PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 17 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
 
No nosso caminho de catequeses sobre Jesus, nossa esperança, contemplaremos, hoje, o mistério do Sábado Santo. O Filho de Deus jaz no sepulcro. Mas esta sua “ausência” não é um vazio: é espera, plenitude contida, promessa preservada na escuridão. É o dia do grande silêncio, em que o céu parece mudo e a terra imóvel, mas é precisamente aí que se realiza o mistério mais profundo da fé cristã. Trata-se de um silêncio cheio de sentido, como o ventre de uma mãe que conserva o filho que ainda não nasceu, mas já está vivo.
O corpo de Jesus, tirado da cruz, é cuidadosamente envolvido em lençóis, como se faz com o que é precioso. O evangelista João diz-nos que foi sepultado num jardim, dentro de «um sepulcro novo, no qual ainda ninguém tinha sido colocado» (Jo 19, 41). Nada é deixado ao acaso. Aquele jardim lembra o Éden perdido, o lugar onde Deus e o homem estavam unidos. E aquele sepulcro nunca usado fala de algo que ainda deve ocorrer: é um limiar, não um fim. No início da criação, Deus plantou um jardim; agora, também, a nova criação tem início num jardim: com um túmulo fechado que, em breve, se abrirá!
O Sábado Santo é também um dia de descanso. Em conformidade com a Lei judaica, no sétimo dia não se deve trabalhar: com efeito, após os seis dias de criação, Deus descansou (cf. Gn 2, 2). Agora, também, o Filho, depois de ter completado a sua obra de salvação, descansa. Não porque está cansado, mas porque terminou o seu trabalho. Não porque se rendeu, mas porque amou até ao fim. Não há mais nada a acrescentar. Este descanso é o selo da obra realizada, é a confirmação de que o que devia ser feito foi, verdadeiramente, concluído. Trata-se de um descanso repleto da presença oculta do Senhor!
Temos dificuldade em parar e descansar. Vivemos como se a vida nunca fosse suficiente. Corremos para produzir, para demonstrar, para não perder terreno. Mas, o Evangelho ensina-nos que saber parar é um gesto de confiança que devemos aprender a realizar. O Sábado Santo convida-nos a descobrir que a vida nem sempre depende daquilo que fazemos, mas, também, do modo como sabemos desapegar-nos do que pudemos fazer.
No sepulcro, Jesus, Palavra viva do Pai, cala-se. Mas, é exactamente naquele silêncio que a vida nova começa a fermentar. Como uma semente na terra; como a escuridão antes da alvorada. Deus não tem medo do tempo que passa, porque é também Senhor da espera. De igual modo, o nosso tempo “inútil”, o das pausas, dos vazios, dos momentos estéreis, pode tornar-se ventre de ressurreição. Cada silêncio acolhido pode ser a premissa de uma Palavra nova. Cada tempo suspenso pode tornar-se tempo de graça, se o oferecermos a Deus!
Sepultado na terra, Jesus é o rosto manso de um Deus que não ocupa todo o espaço. É o Deus que deixa fazer, que espera, que se retira para nos deixar a liberdade. É o Deus que confia, até quando tudo parece acabado. E nós, naquele sábado suspenso, aprendemos que não devemos ter pressa em ressuscitar: primeiro é preciso permanecer, aceitar o silêncio, deixar-nos abraçar pelo limite. Às vezes, procuramos respostas rápidas, soluções imediatas. Mas Deus trabalha nas profundezas, no tempo lento da confiança. Assim, o sábado da sepultura torna-se o ventre do qual pode brotar a força de uma luz invencível, a da Páscoa!
Caros amigos, a esperança cristã não nasce no barulho, mas no silêncio de uma espera habitada pelo amor. Não é filha da euforia, mas do abandono confiante. É a Virgem Maria que no-lo ensina: ela encarna esta espera, esta confiança, esta esperança. Quando nos parece que tudo está parado, que a vida é um caminho interrompido, lembremo-nos do Sábado Santo. Até no sepulcro, Deus prepara a maior surpresa. E se soubermos aceitar, com gratidão, o que aconteceu, descobriremos que, precisamente na pequenez e no silêncio, Deus ama transfigurar a realidade, renovando todas as coisas com a fidelidade do seu amor. A verdadeira alegria nasce da espera habitada, da fé paciente, da esperança de que quanto é vivido no amor, certamente renascerá para a vida eterna. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 112
 
Refrão: Louvai o Senhor que levanta os fracos.
 
Louvai, servos do Senhor,
louvai o nome do Senhor.
Bendito seja o nome do Senhor,
agora e para sempre.
 
O Senhor domina sobre todos os povos,
a sua glória está acima dos céus.
Quem se compara ao Senhor nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas
e Se inclina lá do alto a olhar o céu e a terra.
 
Levanta do pó o indigente
e tira o pobre da miséria,
para o fazer sentar com os grandes,
com os grandes do seu povo.

SANTOS POPULARES

 


BEATA MARIA EMÍLIA TAVERNIER
 
Emília Tavernier nasceu em Montreal, no dia 19 de Fevereiro de 1800. Era filha de pais modestos, mas virtuosos e trabalhadores. Foi a última de uma família de quinze filhos, nascidos da união Tavernier-Maurice. Os seus pais faleceram muito cedo, mas deixaram aos filhos uma educação cristã marcada pela fé na presença da Providência, nas suas vidas.
Aos quatro anos de idade, Emília foi confiada aos cuidados de uma tia paterna que, imediatamente, reconheceu na sua sobrinha uma inclinação sensível e amorosa para com os pobres e os desamparados.
Quando tinha 18 anos, Emília foi para casa de um dos seus irmãos que tinha ficado viúvo. Não pediu nada em troca; apenas a condição de que pudessem ter sempre uma mesa posta para qualquer mendigo que passasse: uma mesa que ela, carinhosamente, chamava a "Mesa do Rei".
Em 1823, Emília casou-se com João Baptista Gamelin, um produtor de maçãs. Nele, ela encontrou um amigo dos pobres, plenamente em sintonia com as suas aspirações.
Emília e o seu marido tiveram três filhos, mas a sua alegria foi ofuscada pela sua morte: primeiro, os filhos; e, depois o marido, com quem vivera feliz e fielmente o seu compromisso conjugal. Embora angustiada pelas diversas provações que suportou, não se fechou em si mesma e no seu sofrimento; mas buscou e encontrou na Senhora das Dores o modelo para orientar toda a sua vida.
A sua oração a Nossa Senhora e a contemplação da Virgem Maria aos pés da cruz abriram-lhe o caminho para a prática da caridade compassiva por todos aqueles que se encontravam em sofrimentos, de qualquer natureza. Essas pessoas tomariam, agora, o lugar dos seus filhos e do seu marido.
Um homem pobre - e com deficiência mental - e a sua mãe foram os primeiros da lista daqueles que seriam os seus beneficiários, não apenas dos recursos que lhe foram deixados pelo seu marido, mas também do seu tempo, da sua dedicação, do seu bem-estar, do seu tempo livre e da sua própria saúde.
A sua casa tornou-se o seu lar. E, para poder acolher os pobres, os idosos, os órfãos, os presos, os imigrantes, os desempregados, os surdos-mudos, os jovens ou casais em dificuldades, os deficientes físicos e intelectuais, sentiu a urgente necessidade de expandir a sua obra. Todos conhecem bem a sua casa que, espontaneamente, chamam "Casa da Providência", porque a própria Emília é uma "verdadeira providência".
Em casa, como na prisão, entre os doentes e até mesmo os saudáveis, Emília é acolhida com um sorriso, pois traz conforto e assistência. Ela é verdadeiramente o Evangelho em acção: "Sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes”. (Mat. 25, 40)
Os seus parentes e os seus amigos unem-se à sua volta para apoiá-la e ajudá-la; outros, porém, ao vê-la abrir mais casas, interpretam mal a sua obra, a ponto de dizerem: "A senhora Gamelin não tinha loucos suficientes! Então, resolveu juntar mais!.."
Ao longo de 15 anos, multiplicou os seus actos de heroísmo e de dedicação, sob o olhar benevolente, grato e gratificado do primeiro Bispo de Montreal, D. João Tiago Lartigue; e, depois, do segundo Bispo de Montreal, Monsenhor Inácio Bourget. Uma vida tão preciosa para o seu rebanho não desapareceria, mas sim garantiria a sua continuidade.
Durante uma viagem a Paris, em 1841, Monsenhor Bourget solicitou reforços às Irmãs de São Vicente de Paulo para ajudar no trabalho de Emília Gamelin e para lançar as bases de uma nova comunidade religiosa. Após a resposta afirmativa, a Diocese de Montreal começou a construir uma digna habitação para as Irmãs. Mas, no último momento, as freiras não chegaram. Então, a “Providência” preparou novos planos e projectos. O trabalho de Emília Gamelin continuaria apesar destes contratempos.
O Bispo, Monsenhor Bourget, recorreu à sua própria diocese, e jovens canadianas criaram disponibilidade para seguir a Senhora Gamelin. Ela formou-as na obra da caridade compassiva, que vive com amor, devoção e sacrifício: e, também, na missão da Providência, que proclama com acções que falam mais alto do que as palavras.
Na Casa da Providência, as Irmãs da Providência iniciam o seu trabalho na Igreja de Montreal, e Emília Tavernier-Gamelin juntar-se-á ao grupo das primeiras freiras: primeiro, como noviça; depois, como Madre e Fundadora. A sua primeira profissão religiosa ocorreu no dia 29 de Março de 1844.
As necessidades dos pobres, dos doentes, dos imigrantes continuam a crescer numa cidade e sociedade em constante desenvolvimento.
A comunidade religiosa nascente experimentará horas sombrias, quando o número das Irmãs diminuiu por causa de várias epidemias, Sofreu um grande abalo quando o Bispo Bourget, sob a influência de uma freira sombria e desconfiada, questionou a boa vontade da Superiora. Mas a Madre Emília, fundadora da Comunidade, permaneceu firme aos pés da cruz, seguindo o exemplo de Nossa Senhora das Dores, o seu modelo desde as horas dolorosas da sua viuvez.
O próprio Bispo reconheceu a sua grandeza de espírito e a sua generosidade, levada ao heroísmo.
A nova comunidade desenvolveu-se para atender às necessidades do momento. As Irmãs da Providência viram o seu número crescer e se multiplicar, até chegar a 50. E, quando a Fundadora morreu, vítima da epidemia de cólera, no dia 23 de Setembro de 1851 - oito anos após a fundação da Comunidade da Providência - as suas ‘filhas’ receberam, dos seus lábios moribundos, o último testamento da sua Mãe: humildade, simplicidade, caridade… acima de tudo, caridade!
De um começo tão modesto, mais de 6.500 jovens comprometeram-se já a seguir Emília Tavernier-Gamelin. Hoje, estas freiras estão no Canadá, Estados Unidos, Chile, Argentina, Haiti, Camarões, Egipto, Filipinas e El Salvador.
O Papa João Paulo II beatificou a Madre Maria Emília Tavernier, no dia 7 de Outubro de 2001, propondo-a ao povo de Deus como modelo de santidade numa vida dedicada ao serviço dos irmãos e irmãs mais pobres da sociedade.
Na ocasião, disse o Papa: “…Na sua vida de mãe de família e de religiosa fundadora das Irmãs da Providência, Emília Tavernier Gamelin foi o modelo de um abandono corajoso à Providência. A sua atenção às pessoas e às situações levaram-na a criar novas formas de caridade. Tinha um coração aberto a todo o género de angústia, servindo, de modo especial, os pobres e os pequeninos, que desejava tratar como reis. Considerando o facto de que tinha recebido tudo do Senhor, também dava sem medida. Este era o segredo da sua profunda alegria, até mesmo na adversidade. Num espírito de confiança total em Deus e com um profundo sentido de obediência, como o "servo inútil" do Evangelho, ela cumpria o dever da sua condição com um mandamento divino, em tudo desejando fazer a vontade do Senhor. A nova Beata seja um modelo de contemplação e de acção para as Religiosas do seu Instituto e para as pessoas que trabalham com elas!...”
A memória litúrgica da Beata Maria Emília Tavernier é celebrada no dia 23 de Setembro.
 

sábado, 13 de setembro de 2025

EM DESTAQUE.

 


- FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
 
No dia 13 de Setembro de 335, foram consagradas, em Jerusalém, duas igrejas: a da Ressurreição e a do Gólgota (Martyrium). No dia seguinte, com uma cerimónia solene, houve a ostensão da Cruz, que a Imperatriz Helena, mãe do Imperador Constantino, havia encontrado, em 14 de Setembro de 320.
Em 614, Cosroes II, rei dos Persas, travou uma guerra contra os Romanos e, depois de derrotar Jerusalém, levou consigo, entre os diversos tesouros, também a Cruz de Jesus. Heráclio, imperador romano de Bizâncio, propôs um pacto de paz com Cosroes, que não aceitou.
Diante da sua negação, o imperador romano de Bizâncio entrou em guerra com ele e venceu, perto de Nínive, e pediu a restituição da Cruz, levando-a de volta a Jerusalém.
Se a Sexta-Feira Santa é dedicada à paixão e Crucificação do Senhor, a Festa da Exaltação da Santa Cruz celebra a cruz como instrumento de salvação, fonte de santidade e símbolo revelador da vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e o demónio. Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, não se glorifica a crueldade da Cruz, mas o Amor que Deus manifestou aos homens ao aceitar morrer na Cruz:
Disse o Papa Francisco: “Mesmo sendo Deus, Cristo humilhou-se, fazendo-se servo. Eis a exaltação da Cruz de Jesus!"
“…A Cruz de Jesus é a palavra com que Deus respondeu ao mal no mundo. Por vezes parece-nos que Deus não responde ao mal e fica em silêncio. Na realidade, Deus falou e respondeu; e a sua resposta é a Cruz de Cristo. Uma palavra que é amor, misericórdia, perdão. E também é Juízo. Deus julga amando-nos, Deus julga-nos amando-nos: se receber o seu amor salvo-me, se o recuso, condeno-me. Não por Ele mas por mim próprio, porque Deus não condena, antes ama e salva. A palavra da Cruz é a resposta dos cristãos ao mal que continua a atuar em nós e à nossa volta. Os cristãos têm de responder ao mal com o bem, tomando sobre si próprios a Cruz como Jesus…” (Papa Francisco, 30 de Março de 2013)
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXIV DOMINGO COMUM
            - FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

 

“…Cristo Jesus, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem,
humilhou-Se ainda mais,
obedecendo até à morte
e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem
no céu, na terra e nos abismos,
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai…”
(cf. Filipenses 2, 6-11)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO



- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 10 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Bom dia e obrigado pela vossa presença: um bonito testemunho!..
Hoje, contemplaremos o ápice da vida de Jesus, neste mundo: a sua morte, na cruz! Os Evangelhos atestam um detalhe muito precioso, que merece ser contemplado com a inteligência da fé. Na cruz, Jesus não morre em silêncio. Não se apaga lentamente, como uma luz que se consome; mas, deixa a vida com um grito: «Jesus, dando um forte grito, expirou» (Mc 15, 37). Aquele brado encerra tudo: dor, abandono, fé, oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o último sinal de uma vida que se entrega.
O grito de Jesus é precedido por uma pergunta, uma das mais dilacerantes que podem ser pronunciadas: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?». É o primeiro versículo do Salmo 22; mas, nos lábios de Jesus, adquire uma importância singular. O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta, agora, o silêncio, a ausência, o abismo. Não se trata de uma crise de fé, mas da última etapa de um amor que se oferece até ao fim. O clamor de Jesus não é desespero, mas sinceridade, verdade levada ao limite, confiança que resiste até quando tudo se cala.
Naquele momento, o céu obscurece-se e o véu do templo rasga-se (cf. Mc 15, 33.38). É como se a própria criação participasse dessa dor e, ao mesmo tempo, revelasse algo novo: Deus já não habita atrás de um véu; agora, o seu rosto é plenamente visível no Crucificado. É ali, naquele homem angustiado, que se manifesta o maior amor. É ali que podemos reconhecer um Deus que não permanece distante, mas atravessa a nossa dor até ao fim.
O centurião, um pagão, compreende-o. Não porque ouviu um discurso, mas porque viu Jesus morrer daquela maneira: «Este homem era verdadeiramente Filho de Deus!»  (Mc 15, 39). É a primeira profissão de fé depois da morte de Jesus. É o fruto de um brado que não se dispersou no vento, mas tocou um coração. Às vezes, o que não conseguimos proferir com palavras, expressamos com a voz. Quando o coração está cheio, clama. E isto nem sempre constitui um sinal de fraqueza, mas pode ser um acto profundo de humanidade.
Estamos habituados a pensar no grito como algo descontrolado, a reprimir. O Evangelho confere ao nosso grito um valor imenso, recordando-nos que pode ser invocação, protesto, desejo, entrega. Pode ser até a forma extrema da oração, quando já não temos palavras. Naquele clamor, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança!
Sim, porque também isto está inserido no grito: uma esperança que não se resigna. Grita-se quando se acredita que alguém ainda pode ouvir. Grita-se não por desespero, mas por desejo. Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Até no silêncio, estava convencido de que o Pai se encontrava presente. E assim, mostrou-nos que a nossa esperança pode gritar, até quando tudo parece perdido.
Então, gritar torna-se um gesto espiritual. Não é unicamente o primeiro acto do nosso nascimento, quando viemos ao mundo chorando; é também uma maneira de permanecer vivo. Grita-se quando se sofre, mas também quando se ama, quando se chama, quando se invoca. Gritar é dizer que estamos presentes, que não queremos apagar-nos no silêncio, que ainda temos algo a oferecer!
No caminho da vida, há momentos em que guardar tudo dentro pode consumir-nos lentamente. Jesus ensina-nos a não ter medo do grito, desde que seja sincero, humilde, orientado para o Pai. Quando nasce do amor, o brado nunca é inútil. E nunca é ignorado, se for oferecido a Deus. É um modo de não ceder ao cinismo, de continuar a acreditar que outro mundo é possível.
Amados irmãos e irmãs: aprendamos também isto do Senhor Jesus: aprendamos o clamor da esperança quando chega a hora da extrema provação. Não para ferir, mas para nos confiarmos. Não para gritar contra alguém, mas para abrir o coração. Se o nosso brado for verdadeiro, poderá ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento. Como para Jesus: quando tudo parecia acabado, na realidade a salvação estava prestes a começar. Se for manifestada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz sofrida da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se nascente de esperança, para nós e para quantos estiverem ao nosso lado. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 77

Refrão: Não esqueçais as obras do Senhor.

Escuta, meu povo, a minha instrução,
presta ouvidos às palavras da minha boca.
Vou falar em forma de provérbio,
vou revelar os mistérios dos tempos antigos.

Quando deus castigava os antigos, eles O procuravam,
tornavam a voltar-se para Ele
e recordavam-se de que Deus era o seu protetor,
o Altíssimo o seu redentor.

Eles, porém, enganavam-n’O com a boca
e mentiam-Lhe com a língua;
o seu coração não era sincero,
nem eram fiéis à sua aliança.

Mas Deus, compadecido, perdoava o pecado
e não os exterminava.
Muitas vezes reprimia a sua cólera
e não executava toda a sua ira.


SANTOS POPULARES

 


SANTA HILDEGARDA DE BINGEN
 
Hildegarda de Bingen (1098-1179) foi uma monja beneditina, conhecida como mística, teóloga, compositora, pregadora, poetisa, dramaturga e escritora. Foi ainda médica e naturalista, deixando inúmeros escritos sobre estas matérias.
O Papa Bento XVI, escreveu sobre ela: “…Hildegarda de Bingen viveu na Alemanha, no século XII. Nasceu em 1098, na Renánia, em Bermersheim, perto de Alzey, e faleceu, em 1179, com 81 anos de idade, não obstante a permanente fragilidade da sua saúde.
Hildegarda pertencia a uma família nobre e numerosa e, desde o nascimento, foi destinada pelos seus pais para o serviço de Deus. Com oito anos, para que recebesse uma adequada formação humana e cristã, foi confiada aos cuidados da mestra Judite de Spanheim, que se tinha retirado em clausura, no mosteiro beneditino de São Disibodo. Foi-se formando um pequeno mosteiro feminino de clausura, que seguia a Regra de São Bento.
Hildegarda recebeu o véu do Bispo Otão de Bamberg e, em 1136, com a morte da madre Judite, que era a Superiora da comunidade, as Irmãs de hábito chamaram-na para lhe suceder. Desempenhou esta tarefa fazendo frutificar os seus dotes de mulher culta, espiritualmente elevada e capaz de enfrentar, com competência, os aspectos organizativos da vida claustral. Alguns anos mais tarde, também devido ao número crescente de jovens mulheres que batiam à porta do mosteiro, Hildegarda fundou outra comunidade em Bingen, intitulada a São Ruperto, onde passou  o resto da sua vida.
O estilo com que exercia o ministério da autoridade é exemplar para cada comunidade religiosa: suscitava uma santa emulação na prática do bem, a ponto de, como resulta do testemunho do tempo, a Madre e as ‘filhas’ competiam na estima e no serviço recíprocos.
Já nos anos em que era superiora do mosteiro de São Disibodo, Hildegarda iniciara a ditar as visões místicas, que tinha há tempos, ao seu conselheiro espiritual, o monge Volmar, e à sua secretária, uma Irmã de hábito, à qual era muito afeiçoada: Richardis de Strade. Como acontece sempre na vida dos verdadeiros místicos, também Hildegarda quis submeter-se à autoridade de pessoas sábias para discernir a origem das suas visões, temendo que elas fossem fruto de ilusões e que não proviessem de Deus. Por isso, dirigiu-se à pessoa que, na sua época, gozava da máxima estima na Igreja: São Bernardo de Claraval. Ele tranquilizou e encorajou Hildegarda. Mas, em 1147, ela recebeu outra aprovação importantíssima. O Papa Eugénio III, que presidia a um Sínodo, em Trier, leu um texto ditado por Hildegarda, que lhe foi apresentado pelo Arcebispo Henrique, de Mainz. O Papa autorizou a mística a escrever as suas visões e a falar em público. A partir daquele momento, o prestígio espiritual de Hildegarda cresceu cada vez mais. Por isso, os seus contemporâneos atribuíram-lhe o título de «profetiza teutónica». Eis o selo de uma experiência autêntica do Espírito Santo, fonte de todo o carisma: a pessoa depositária de dons sobrenaturais nunca se vangloria disso, não os exibe mas, sobretudo, mostra total obediência à autoridade eclesial.
Cada dom distribuído pelo Espírito Santo, de facto, é destinado à edificação da Igreja, e a Igreja, através dos seus Pastores, reconhece a sua autenticidade. (…)
As visões místicas de Hildegarda assemelham-se às dos profetas do Antigo Testamento: exprimindo-se com as categorias culturais e religiosas da sua época, interpretava, à luz de Deus, as Sagradas Escrituras, aplicando-as às várias circunstâncias da vida. Deste modo, todos os que a escutavam, sentiam-se exortados a praticar um estilo de existência cristão coerente e empenhado. Numa carta a São Bernardo, a mística renana confessa: «A visão arrebata todo o meu ser: não vejo com os olhos do corpo, mas aparece-me no espírito dos mistérios... Conheço o significado profundo do que está exposto no Saltério, nos Evangelhos e nos outros livros, que me são mostrados na visão. Ela arde como uma chama no meu peito e na minha alma, e ensina-me a compreender profundamente o texto» (Epistolarium pars prima I-XC: CCCM 91).
As visões místicas de Hildegarda são ricas de conteúdos teológicos. Referem-se aos eventos principais da história da salvação e utilizam uma linguagem sobretudo poética e simbólica. Por exemplo, na sua obra mais conhecida, denominada Scivias, isto é «Conhece as vias», ela resume, em trinta e cinco visões, os acontecimentos da história da salvação, desde a criação do mundo até ao fim dos tempos. Com os traços característicos da sensibilidade feminina, Hildegarda, exactamente na secção central da sua obra, desenvolve o tema do matrimónio místico entre Deus e a humanidade, realizado na Encarnação. No madeiro da Cruz realizam-se as núpcias do Filho de Deus com a Igreja, sua esposa, cheia de graça e tornada capaz de doar a Deus novos filhos, no amor do Espírito Santo (cf. Visio tertiaPL 197, 453c). (…)
A mística renana é também autora de outros escritos, dois dos quais particularmente importantes porque descrevem, como o Scivias, as suas visões místicas: são o Liber vitae meritorum  (Livro dos méritos da vida) e o Liber divinorum operum (Livro das obras divinas), denominado também De operatione Dei.
Noutros escritos Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos mosteiros femininos da Idade Média, contrariamente aos preconceitos que ainda pesam sobre aquela época. Hildegarda ocupou-se de medicina e de ciências naturais, inclusive de música, sendo dotada de talento artístico. Compôs hinos, antífonas e cânticos, que foram reunidos sob o título Symphonia Harmoniae Caelestium Revelationum  (Sinfonia da harmonia das revelações celestiais), que eram executados jubilosamente nos seus mosteiros, difundindo uma atmosfera de serenidade, e que chegaram até nós. Para ela, toda a criação é uma sinfonia do Espírito Santo, que é alegria e júbilo em si mesmo.
A popularidade que circundava Hildegarda impulsionava muitas pessoas a interpelá-la. Por este motivo, dispomos de muitas suas cartas. A ela dirigiam-se comunidades monásticas masculinas e femininas, bispos e abades. Muitas respostas permanecem válidas inclusive para nós.
Quando o imperador Frederico Barba Roxa provocou um cisma eclesial, opondo três antipapas contra o Papa legítimo, Alexandre III, Hildegarda, inspirada pelas suas visões, não hesitou em recordar-lhe que também ele, o imperador, estava sujeito ao juízo de Deus. Com a audácia que caracteriza todos os profetas, ela escreveu ao imperador estas palavras da parte de Deus: «Ai desta conduta malvada dos ímpios que me desprezam! Escuta, ó rei, se quiseres viver! Se não, a minha espada trespassar-te-á!» (Ibid., p. 412).
Com a autoridade espiritual da qual era dotada, nos últimos anos da sua vida Hildegarda pôs-se em viagem, não obstante a idade avançada e as condições difíceis dos deslocamentos, para falar de Deus às populações. Todos a escutavam de bom grado, inclusive quando recorria a um tom severo: consideravam-na uma mensageira enviada por Deus. Exortava sobretudo as comunidades monásticas e o clero a uma vida em conformidade com a própria vocação. De modo particular, Hildegarda contrastou o movimento dos cátaros alemães. Eles — cátaros, à letra, significa «puros» — propugnavam uma reforma radical da Igreja, sobretudo para combater os abusos do clero. Ela repreendeu-os severamente por desejarem subverter a própria natureza da Igreja, recordando-lhes que uma verdadeira renovação da comunidade eclesial não se obtém tanto com a mudança das estruturas, quanto com um sincero espírito de penitência e um caminho concreto de conversão. Esta é uma mensagem que nunca devemos esquecer.(…) (cf. Papa Bento XVI, Audiência-Geral, 1 e 8 de Setembro de 2010)
A memória litúrgica de Santa Hildegarda de Bingen é celebrada no dia 17 de Setembro.
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sábado, 6 de setembro de 2025

EM DESTAQUE:

 


*TEMPO DE ORAÇÃO PELO CUIDADO DA CRIAÇÃO
 
A Santa Sé desafiou os católicos a participarem na iniciativa "Tempo da Criação": um mês de oração e acção ecuménica, em defesa da Criação. É urgente o cuidado do ambiente, desta ‘Casa Comum que é a Terra. Esta iniciativa, com início no dia 1 de Setembro (Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação) decorre até ao dia 4 de Outubro.
Tema deste ano de 2025 é “Sementes de Paz e de Esperança”
O texto bíblico proposto para este ano, como alicerce da reflexão e da oração, é Isaías 32,14-18.
O profeta Isaías retratou a Criação desolada e sem paz, devido à falta de justiça e à quebra da relação entre Deus e os seres humanos. Esta descrição de cidades devastadas e terrenos desolados sublinha, de forma eloquente, o facto de os comportamentos destrutivos do ser humano terem um impacto negativo na Terra.
A nossa esperança: A Criação encontrará a paz quando a justiça for restabelecida.
Ainda há esperança e expectativa de uma Terra em paz. Esperar, num contexto bíblico, não significa ficar parado e calado, mas agir, rezar, mudar e reconciliar-se com a Criação e o Criador em unidade, metanoia (arrependimento) e solidariedade. (cf.Capuchinhos).
 


MENSAGEM DO PAPA LEÃO XIV
PARA O X DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELO CUIDADO DA CRIAÇÃO 2025

Sementes de paz e esperança
Queridos irmãos e irmãs!
O tema para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”. No décimo aniversário da instituição deste Dia de oração, que coincidiu com a publicação da Encíclica Laudato si’, encontramo-nos em pleno Jubileu, “peregrinos de Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire todo o seu significado.
Na sua pregação, Jesus usa com frequência a imagem da semente para falar do Reino de Deus e, na véspera da Paixão, aplica-a a Si mesmo, comparando-Se ao grão de trigo, que deve morrer para dar fruto (cf. Jo 12, 24). A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro. Pensemos, por exemplo, nas flores que crescem à beira da estrada: ninguém as plantou, mas elas crescem graças a sementes que foram parar ali, quase por acaso, e conseguem decorar o cinzento do asfalto e, até mesmo, penetrar na sua dura superfície.
Assim, em Cristo, somos sementes. Não só isso, mas “sementes de Paz e Esperança”. Como diz o profeta Isaías, o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto, árido e ressequido, num jardim, num lugar de repouso e serenidade: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto converter-se-á em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos» (Is 32, 15-18).
Estas palavras proféticas que, de 1 de Setembro a 4 de Outubro, acompanharão a iniciativa ecuménica do “Tempo da Criação”, afirmam com força que, junto à oração, são necessárias vontades e acções concretas que tornem perceptível esta “carícia de Deus” sobre o mundo (cf. Carta enc. Laudato si’, 84). Com efeito, a justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente actual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda da biodiversidade. Os fenómenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas, provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência (cf. Exort. ap. Laudate Deum, 5), sem ter em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados.
Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afecta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático.
E não basta: a própria natureza torna-se, por vezes, um instrumento de troca, uma mercadoria a negociar para obter ganhos económicos ou políticos. Nestas dinâmicas, a criação transforma-se num campo de batalha pelo controlo dos recursos vitais, como testemunham as zonas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas por causa das minas, a política da “terra queimada” [1] , os conflitos que eclodem em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias-primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social.
Estas várias feridas devem-se ao pecado. Não era certamente isso que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao homem criado à sua imagem (cf. Gn 1, 24-29). A Bíblia não promove «o domínio despótico do ser humano sobre a criação» (Carta enc. Laudato si’, 200). Pelo contrário, «é importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza» (ibid., 67).
A justiça ambiental - implicitamente anunciada pelos profetas - já não pode ser considerada um conceito abstracto ou um objectivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera protecção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, económica e antropológica. Para os que crêem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que, para os cristãos, tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.
Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. «Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã» (ibid., 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.
Entre as iniciativas da Igreja, que são como sementes lançadas neste campo, gostaria de recordar o projecto “Borgo Laudato si’” (Aldeia ‘Louvado sejas’), que o Papa Francisco nos deixou como herança, em Castel Gandolfo, uma semente que pode dar frutos de justiça e paz. Trata-se de um projecto de educação para a ecologia integral que visa ser um exemplo de como se pode viver, trabalhar e fazer comunidade aplicando os princípios da Encíclica Laudato si’.
Peço ao Todo-Poderoso que nos envie, em abundância, o seu «espírito do alto» (Is 32, 15), para que estas sementes e outras semelhantes possam dar frutos abundantes de paz e esperança.
A Encíclica Laudato si’ acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXIII DOMINGO COMUM         

“…Seguia Jesus uma grande multidão.
Jesus voltou-Se e disse-lhes:
«Se alguém vem ter comigo,
sem Me preferir ao pai, à mãe,
à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs
e até à própria vida,
não pode ser meu discípulo.
Quem não toma a sua cruz para Me seguir,
não pode ser meu discípulo.
Quem de entre vós, que, desejando construir uma torre,
Não se senta primeiro a calcular a despesa,
para ver se tem com que terminá-la?
Não suceda que, depois de assentar os alicerces,
se mostre incapaz de a concluir
e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:
‘Esse homem começou a edificar,
mas não foi capaz de concluir’.
E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei
e não se senta primeiro a considerar
se é capaz de se opor, com dez mil soldados,
àquele que vem contra com ele com vinte mil?
Aliás, enquanto o outro ainda está longe,
manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz.
Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens,
não pode ser meu discípulo»…
(cf. Lucas 14, 25-33)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 3 de Setembro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
No coração da narração da paixão, no momento mais luminoso e, ao mesmo tempo, mais tenebroso da vida de Jesus, o Evangelho de João apresenta-nos duas palavras que encerram um mistério imenso: «Tenho sede» (19, 28), e logo depois: «Tudo está consumado» (19, 30). Palavras últimas, mas carregadas de uma vida inteira, que revelam o sentido de toda a existência do Filho de Deus. Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não grita; não condena; não se defende. Pede, humildemente, aquilo que, sozinho, não pode, de modo algum, dar a si mesmo.
A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo atormentado. É também, e sobretudo, expressão de um desejo profundo: o de amor, de relação, de comunhão. É o grito silencioso de um Deus que, tendo querido partilhar tudo da nossa condição humana, se deixa atravessar, também, por esta sede. Um Deus que não se envergonha de mendigar um golo, porque, nesse gesto, diz-nos que o amor, para ser verdadeiro, também deve aprender a pedir e não apenas a dar.
‘Tenho sede’, diz Jesus, e assim manifesta a sua humanidade e também a nossa. Nenhum de nós pode bastar a si mesmo. Ninguém pode salvar-se sozinho. A vida “realiza-se” não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber. E, precisamente, nesse momento, depois de ter recebido, de mãos estranhas, uma esponja embebida em vinagre, Jesus proclama: ‘Tudo está consumado’. O amor tornou-se necessitado e, precisamente por isso, levou a cabo a sua obra.
Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal com a força, mas aceitando, até ao fim, a fraqueza do amor. Na cruz, Jesus ensina-nos que o homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante ao outro, mesmo quando este nos é hostil e inimigo. A salvação não está na autonomia, mas em reconhecer, com humildade, a própria necessidade e saber expressá-la livremente.
A realização da nossa humanidade no desígnio de Deus não é um acto de força, mas um gesto de confiança. Jesus não salva com um gesto clamoroso, mas pedindo algo que, sozinho, não se pode dar. E aqui abre-se uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser suficiente para si mesmo, então também a nossa sede – de amor, de sentido, de justiça – não é um sinal de fracasso, mas de verdade.
Esta verdade, aparentemente tão simples, é difícil de acolher. Vivemos numa época que premeia a autossuficiência, a eficiência, a prestação. No entanto, o Evangelho mostra-nos que a medida da nossa humanidade não é dada pelo que podemos conquistar, mas pela capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, também ajudar.
Jesus salva-nos mostrando-nos que pedir não é indigno, mas libertador. É o caminho para sair do escondimento do pecado, para reentrar no espaço da comunhão. Desde o início, o pecado gerou vergonha. Mas o perdão, o verdadeiro, nasce quando podemos olhar de frente para a nossa necessidade e não temer ser rejeitados.
A sede de Jesus na cruz é, portanto, também a nossa. É o grito da humanidade ferida que ainda busca água viva. E esta sede não nos afasta de Deus, mas une-nos a Ele. Se tivermos a coragem de reconhecê-la, podemos descobrir que, também, a nossa fragilidade é uma ponte para o céu. É precisamente no pedir – não no possuir – que se abre um caminho de liberdade, porque deixamos de pretender ser suficientes a nós mesmos.
Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculo, esconde-se uma alegria que o mundo não conhece. Uma alegria que nos devolve à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor.
Caros irmãos e irmãs: na sede de Cristo, podemos reconhecer toda a nossa sede. E aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que saber dizer: eu preciso. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando nos parece que não o merecemos. Não nos envergonhemos de estender a mão. É precisamente aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 89

 

Refrão: Ó Senhor, Vós tendes sido o nosso refúgio

              através das gerações

Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite.

Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
à tarde ela murcha e seca.

Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.


SANTOS POPULARES

 


BEATO FRANCISCO MARIA DA CRUZ JORDAN
 
João Baptista Jordan nasceu no dia 16 de Junho de 1848, na vila de Gurtweil, Alemanha. Embora tenha sentido o chamado para o sacerdócio, desde muito cedo, foi forçado a trabalhar como pintor e decorador para ajudar a sustentar financeiramente a sua família, muito pobre.
Graças à generosidade dos seus tutores e benfeitores, finalmente conseguiu entrar no Seminário aos 29 anos. Foi ordenado sacerdote no dia 21 de Julho de 1878. Após a sua ordenação, o Padre João Baptista não pôde exercer um cargo pastoral, na sua Diocese, devido às leis anticatólicas da Kulturkampf. Por isso, foi para Roma, para estudar línguas orientais, das quais já possuía algum conhecimento.
Em seguida, viajou para o Cairo e para o Líbano para aprofundar os seus estudos de línguas. Durante esse período, partilhou, com muitas figuras eclesiásticas, os sonhos que tinham despertado no seu coração.
Fez, também, uma peregrinação à Terra Santa e passou muito tempo a pensar e a rezar sobre a ideia que tinha começado a desenvolver-se: fundar uma congregação que unisse os católicos de todos os níveis, com o objectivo de defender e propagar a fé cristã.
Após o seu regresso a Roma, em Agosto de 1880, recebeu a bênção papal. Em seguida, começou a criar os dois níveis da Sociedade Apostólica Instrutiva, estabelecendo o primeiro nível em 8 de Dezembro de 1881. O nome foi posteriormente alterado para Sociedade Católica Instrutiva, para evitar controvérsias.
Após cerca de um ano, os seus planos materializaram-se na fundação de duas comunidades religiosas: a Sociedade do Divino Salvador, para homens; e sete anos depois, as Irmãs do Divino Salvador, para mulheres. Em 11 de Março de 1883, fez os seus votos religiosos, mudando o seu nome para Padre Francisco Maria da Cruz.
Passou o resto da sua vida a trabalhar, incansavelmente, para consolidar as suas fundações. Inicialmente, aceitou a Prefeitura Apostólica de Assam, na Índia, atribuída aos Padres Salvatorianos, pela Propaganda Fide.
[A Congregação para a Evangelização dos Povos  (em latimCongregatio pro Gentium Evangelizatione), também conhecida pelo seu antigo título, Sagrada Congregação para a Propagação da Fé (em latimSacra Congregatio de Propaganda Fide), ou simplesmente Propaganda Fide, foi um dicastério da Cúria Romana, que se ocupava das questões referentes à propagação da fé católica, no mundo inteiro.Com a Bula Inscrutabili Divinae, do dia 22 de Junho de 1622, o Papa Gregório XV criava a Congregação, com o nome de: Propaganda Fide. Esta congregação tem uma tarefa especificamente missionária: dar as directrizes, promover a formação de missionários, dar impulso e prover o sustento daqueles que estão em terras de missão, através das Obras Missionárias Pontifícias]
 
No primeiro Capítulo-Geral da Sociedade do Divino Salvador, em 1902, ele foi eleito Superior-Geral vitalício.
Continuou a estabelecer Comunidades do Divino Salvador por toda a Europa e nas Américas. De acordo com os seus planos, a sua Congregação deveria ser universal, de modo a usar todos os meios e métodos inspirados pelo amor de Cristo, para tornar o Salvador conhecido e amado por todos.
Padre Francisco da Cruz sabia que nada poderia fazer sem total confiança na Divina Providência. Isso é demonstrado no seu Diário Espiritual, um documento de grande interesse, que demonstra, claramente, o seu desejo de santidade.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, mudou-se para Friburgo, na neutra Suíça, para passar, ali, os seus últimos anos.
O Padre Francisco Maria da Cruz Jordan faleceu, na aldeia de Tafers, no dia 8 de Setembro de 1918. Os seus restos mortais são venerados na Cúria Geral da Sociedade do Divino Salvador, na Via della Conciliazione, em Roma, numa capela a ele dedicada.
Foi beatificado, pelo Papa Francisco, no dia 15 de Maio de 2021, na Basílica de São João de Latrão, em Roma, em celebração presidida pelo Cardeal Ângelo De Donatis, Vigário-Geral do Santo Padre para a Diocese de Roma, em nome do Papa.
A memória litúrgica do Beato Francisco Maria da Cruz Jordan é celebrada no dia 21 de Julho, aniversário da sua ordenação sacerdotal.