BEATO DOMINGOS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Três meses
antes da sua morte, o Padre Domingos do Santíssimo Sacramento escreveu, numa
carta enviada a um dos seus irmãos: “O Senhor quer com Ele alguns na flor da
idade; para outros, reserva grandes obras e, portanto, grandes méritos. O que
importa é implementar os planos de Deus e que a Sua vontade seja feita, em
tudo”.
Quando ele
morreu, tinha apenas 26 anos.
Domingos
Iturrate Zubero nasceu no dia 11 de Maio de 1901, na aldeia Biteriño de Dima,
Vizcaya, perto de Bilbao, Espanha. Os seus pais, Simão Iturrate e Maria Zubero,
eram cristãos fervorosos e deram a Domingos uma sólida educação religiosa e
moral. Fez
a Primeira Comunhão aos 10 anos. Mas desde os sete anos criou o hábito de se
confessar todos os meses - segundo um costume da época - sem esperar pela
Primeira Comunhão. Cresceu obediente aos pais; frequentou a escola da aldeia e
ajudava nas tarefas domésticas e no campo. Particularmente interessado no
catecismo, foi incumbido, pelo pároco, de ensiná-lo aos mais pequenos.
Os seus
biógrafos sublinham que ele tinha um carácter sensível, mas com tendência para
a raiva, como os bascos da sua região. Foi acólito na sua paróquia e assistia à
missa não só nos domingos e feriados, mas também nos dias de semana. Tendo sentido, dentro
de si, o chamamento à vida religiosa, teve o consentimento da sua mãe; o seu
pai começou por se opor: tinha depositado nele assuas esperanças: sendo o filho
primogênito, seria o seu sustentáculo e o herdeiro dos bens da família. Mas, como Domingos foi firme na sua escolha, por fim o
seu pai também concordou. Depois de ter recebido a confirmação, em 26 de Agosto
de 1913, Domingos entrou, no dia 30 de Setembro de 1914, no colégio-aspirantado
dos Padres Trinitários de Algorta, Cantábria, para realizar os estudos
adequados.
Em 11 de Dezembro
de 1917, vestiu o hábito dos Trinitarianos, iniciando o noviciado no convento-santuário
da “Virgem Bem Aparecida”. A Ordem dos Trinitários ou da Santíssima Trindade, foi
fundada por São João de Matha e São Félix de Valois, em Cerfroid, Meaux, e
aprovado pelo Papa Inocêncio III, em 1198, com o objectivo de resgatar os
cristãos escravizados pelos muçulmanos.
O trabalho da Ordem da Santíssima Trindade, tão
meritório, deu, ao longo dos séculos, liberdade a mais de 900.000 cristãos; mas,
a Ordem, depois de ter alcançado grande esplendor no século XV, declinou
rapidamente. Em 1578, o Papa Gregório XIII aprovou a reforma implementada pela
Ordem Trinitária. São João Baptista da Conceição, falecido em 1613), lutou para
trazer a Ordem de volta à austeridade original. Muitos Trinitarianos reagiram
mal às suas propostas e dividiram-se, por isso, em duas ‘famílias’: os 'Descalços'
(os reformistas) e os 'Calçados'. Em 1609,
a Ordem tornou-se mendicante e, depois de ter sofrido os golpes da Reforma
Protestante e da Revolução Francesa - com muitas supressões de Casas e
Conventos - voltou a florescer, lentamente, apenas no final do século. XIX.
Hoje, dedica-se ao apostolado entre os fiéis e às missões.
O jovem Domingos
do Santíssimo Sacramento - este é o nome que assumiu ao professar na Ordem da
Santíssima Trindade - comprometeu-se, com todas as suas forças, na sua formação
espiritual. Mais tarde, veio a saber-se um dos seus grandes segredos: nos anos
anteriores ao tempo do noviciado e, com mais intensidade, no ano do noviciado, Domingos
passou pela experiência sofredora da chamada "noite escura do
espírito", que o mergulhou na dúvida sobre a sua vocação, levando à aridez
de espírito, à falta de satisfação nas suas acções, ao medo, à amargura e à
ansiedade. Mas, com a ajuda de Nossa Senhora, a quem se confiou, quando fez a
sua profissão religiosa temporária, em 14 de Dezembro de 1918, redescobriu a
sua tranquilidade interior e a serenidade de espírito.
Depois de
completar o primeiro ano de filosofia, em Outubro de 1919, foi enviado para
Roma, onde continuou os estudos filosóficos, na Pontifícia Universidade
Gregoriana; aí, obteve a licenciatura em filosofia, em 3 de Julho de 1922.
No dia 23 de Outubro
de 1922, fez os votos perpétuos, no convento romano de São Carlos, em Quatro
Fontes, onde estava hospedado. Continuou os estudos em teologia, formando-se, também,
nesta ciência, em 26 de Julho de 1926.
Entretanto,
foi ordenado sacerdote na Basílica dos Doze Apóstolos, em 9 de Agosto de 1925,
celebrando a sua Missa Nova, no dia 15 de Agosto. No Seminário, exerceu a função
de “assistente” do Padre Mestre, para a observância da disciplina.
Ansioso por
ser missionário em terras pagãs, explicou ao Padre Provincial a ideia de abrir
uma missão da Ordem em África ou na América Latina, oferecendo-se para este
trabalho. Mas, os seus superiores, avaliando as suas excelentes qualidades, foi
nomeado, pelo Capítulo Geral de 1926, Mestre formador dos Estudantes
Trinitários.
No início de Junho
de 1926, porém, o Padre Domingos começou a sentir os primeiros sintomas da
tuberculose pulmonar, tão difundida naquela época. Foi enviado para Rocca di
Papa, junto do Lago Albano, a cerca de 30 Km de Roma, com a esperança de que o
ar puro das montanhas pudesse beneficiá-lo; mas, infelizmente, a doença já
estava muito avançada.
Após sete anos
de permanência em Roma, foi transferido, com urgência, para Algorta, em
Espanha, onde chegou, em 6 de Setembro de 1926, depois de ter parado em Lourdes,
para rezar a Nossa Senhora.
Depois de
consultar vários médicos, foi para o convento de Belmonte, em Cuenca. O Padre
Domingos compreendeu que todos os seus projectos sacerdotais e missionários não
seriam mais realizados, mas aceitou a vontade de Deus, sem qualquer sentimento
de revolta.
O Padre
Domingos do Santíssimo Sacramento (Domingos Iturrate Zubero) faleceu no dia 8
de Abril de 1927, no Convento de Belmonte. O jovem sacerdote trinitário gozou,
imediatamente, da fama de santidade: para a Causa de beatificação foram
apresentados cerca de 2.500 relatórios de curas, atribuídas à sua intercessão.
Em 1974, os
seus restos mortais foram transladados para Algorta, onde repousam na paróquia
do Redentor, dos Religiosos Trinitários.
Foi
beatificado, no dia 30 de Outubro de 1983, pelo Papa João Paulo II. Disse o
Papa, na homilia da Missa da Beatificação: “…O religioso trinitário Domingos
Iturrate Zubero, nasceu em terras da Espanha, no País Basco. A sua breve
existência, de apenas 26 anos, contém uma rica mensagem que se concretiza na
tensão constante para a santidade. Nesse caminho há algumas características
peculiares, que desejo apresentar em síntese.
O fiel
cumprimento da vontade de Deus é uma meta que atinge cotas muito altas,
sobretudo nos últimos anos da sua vida. Por isso, em 1922 escreverá nas suas
anotações espirituais: "A nossa conformidade com a vontade divina há-de
ser total, sem reservas e constante". Animado deste espírito, e com o
consentimento do seu director espiritual, faz voto de "cumprir sempre o
que conhecer ser mais perfeito", propondo-se além disso "não negar
nada a Deus Nosso Senhor, mas seguir, em tudo, as suas santas inspirações, com
generosidade e alegria".
Como religioso
trinitário, procurou viver segundo os dois grandes eixos da espiritualidade da
sua ordem: o mistério da Santíssima Trindade e a obra da redenção, que nele se
fazia vivência de intensa caridade. E como sacerdote, teve uma clara ideia da
sua identidade como "mediador entre Deus e os homens", ou
"representante do Sacerdote Eterno, Cristo". Era tudo isto que o
chamava a viver, cada dia, a Eucaristia como um acto de pessoal imolação, unido
à Suprema Vítima, em favor dos homens.
Não menos
notável foi a presença de Maria na trajectória espiritual do novo Beato, desde
a infância até à morte. Uma devoção que ele viveu com grande intensidade e que
procurou inculcar sempre nos outros, convencido como estava de "quanto bom
e seguro é esse caminho: ir ao Filho por meio da Mãe".
Estes poucos
traços põem diante de nós a força de um modelo e exemplo válidos para hoje. Com
o seu testemunho de fidelidade ao chamamento interior e de resposta generosa à
sua vocação, o Padre Domingos mostra aos nossos dias um caminho a seguir: o de
uma fidelidade eclesial que plasma a identidade interior e que conduz à
santidade…”
A memória
litúrgica do Beato Domingos Iturrate
Zubero é celebrada no dia 8 de Abril.