PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas…" (cf. João 10, 15) “…Este ano o trecho evangélico é o central do capítulo 10 de João, e começa precisamente com a afirmação de Jesus: «Eu sou o bom pastor», seguida imediatamente pela primeira característica fundamental: «O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas» (Jo 10, 11). Portanto, neste aspecto nós somos levados imediatamente ao centro, ao ápice da revelação de Deus como pastor do seu povo; este centro e ápice é Jesus, precisamente Jesus que morre na cruz e no terceiro dia ressuscita do sepulcro, ressuscita com toda a sua humanidade, e deste modo envolve cada um de nós, cada homem, na sua passagem da morte para a vida. Este acontecimento — a Páscoa de Cristo — em que se realiza plena e definitivamente a obra pastoral de Deus, é um evento sacrifical: por isso, o Bom Pastor e o Sumo-Sacerdote coincidem na pessoa de Jesus, que deu a vida por nós. (…) Voltemos ao Evangelho e à parábola do pastor. «O bom pastor dá a vida pelas suas ove-lhas» (Jo 10, 11). Jesus insiste sobre esta característica essencial do verdadeiro pastor, que é Ele mesmo: a do «dar a sua vida». Repete-o três vezes e no final conclui, dizendo: «Por isso, o Pai me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai» (Jo 10, 17-18). Claramente, esta é a característica qualificadora do pastor, como Jesus o interpreta pessoalmente, segundo a vontade do Pai que O enviou. A figura bíblica do rei-pastor, que compreende principalmente a tarefa de reger o povo de Deus, de o manter unido e de o orientar, toda esta função régia se realiza plenamente em Jesus Cristo, na dimensão sacrifical, no ofertório da vida. Numa palavra, realiza-se no mistério da Cruz, ou seja, no gesto supremo de humildade e de amor oblativo. O abade Teodoro Estudita diz: «Por meio da cruz nós, ovelhinhas de Cristo, fomos congregados num único aprisco, e fomos destinados às moradas eternas» (Discurso sobre a adoração da Cruz: PG 99, 699)…” (Papa Bento XVI, IV Domingo de Páscoa, 29 de Abril de 2012)

domingo, 21 de abril de 2024

EM DESTAQUE

 


*DOMINGO DO BOM PASTOR
 
A Igreja celebra, no Quarto Domingo da Páscoa, o dia do Bom Pastor. No Evangelho deste Domingo, é proclamado um texto de São João (cap. X) no qual Jesus se apresenta como o Bom Pastor, Pastor do rebanho (povo do Senhor) que ouve a sua voz; acolhe-a no coração e a testemunha na sua vida, pela prática das boas obras. Este Domingo é, também, e por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
No dia 3 de Maio de 1998, a propósito da missão de Cristo Pastor, o Papa João Paulo II disse: “… O Bom Pastor! Esta figura bíblica tem origem na observação e na experiência. Durante longo tempo, Israel foi um povo de pastores e a tradição da época dos patriarcas e das gerações sucessivas encontra correspondência nos textos do Antigo Testamento. O pastor, aquele que vigilante guarda o rebanho e o conduz às pastagens férteis, tornou-se a imagem do homem que guia e está à frente de uma nação, sempre solícito por aquilo que lhe diz respeito. Assim no Antigo Testamento é representado o pastor de Israel. 
Na Sua pregação, Jesus liga-se a esta imagem, mas introduz um elemento inteiramente novo: pastor é aquele que dá a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10, 11-18). Ele atribui esta característica ao bom pastor, distinguindo-o de quem, ao contrário, é mercenário e portanto não cuida do próprio rebanho. Antes, apresenta-Se a Si mesmo como o protótipo do bom pastor, capaz de dar a vida pelo seu rebanho. O Pai enviou-O ao mundo para que fosse o pastor não só de Israel, mas da humanidade inteira. 
É de modo especial na Eucaristia que se torna sacramentalmente presente a obra do Bom Pastor, o qual, depois de ter anunciado a «boa nova» do Reino, ofereceu em sacrifício a própria vida pelas ovelhas. A Eucaristia é, de facto, o sacramento da morte e ressurreição do Senhor, do Seu supremo acto redentor. É o sacramento em que o Bom Pastor torna constantemente presente o Seu amor oblativo por todos os homens…” (Papa João Paulo II, 3 de Maio de 1998)

DA PALAVRA DO SENHOR

 


IV DOMINGO DE PÁSCOA: DIA DO BOM PASTOR        

«Eu sou o Bom Pastor.
O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas,
logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge,
enquanto o lobo as arrebata e dispersa.
O mercenário não se preocupa com as ovelhas.
Eu sou o Bom Pastor:
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me,
do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai;
Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas.
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil
e preciso de as reunir;
elas ouvirão a minha voz
e haverá um só rebanho e um só Pastor.
Por isso o Pai Me ama:
porque dou a minha vida, para poder retomá-la.
Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente.
Tenho o poder de a dar e de a retomar:
foi este o mandamento que recebi de meu Pai»…”
(cf. João 10, 11-18)


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO


 

- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 17 de Abril de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje falarei sobre a quarta e última virtude cardeal: a temperança. Com as outras três, esta virtude partilha uma história muito antiga e não pertence unicamente aos cristãos. Para os gregos, a prática das virtudes tinha como objetivo a felicidade. O filósofo Aristóteles escreve o seu mais importante tratado de ética, dirigindo-o ao filho Nicómaco, para o instruir na arte de viver. Por que todos nós procuramos a felicidade e tão poucos a alcançam? Eis a pergunta. Para lhe responder, Aristóteles aborda o tema das virtudes, entre as quais ocupa um espaço de relevo a enkráteia, ou seja, a temperança. O termo grego significa literalmente “poder sobre si mesmo”. A temperança é o poder sobre si mesmo. Portanto, esta virtude é a capacidade de autodomínio, a arte de não se deixar arrebatar por paixões rebeldes, de pôr ordem naquilo a que Manzoni chama a “desordem do coração humano”.

O Catecismo da Igreja Católica diz-nos que «a temperança é a virtude moral que modera a atração dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados». «Assegura, acrescenta o Catecismo, o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração» (n. 1809).

Por conseguinte, a temperança, como diz a palavra, é a virtude da medida certa. Em todas as situações, comporta-se com sabedoria, porque as pessoas que agem sempre movidas pelo ímpeto ou pela exuberância acabam por ser inconfiáveis. As pessoas sem temperança são sempre inconfiáveis. Num mundo onde tanta gente se gaba de dizer o que pensa, a pessoa temperante prefere, ao contrário, pensar no que diz. Compreendeis a diferença? Não dizer o que me vem à mente, assim... Não, pensar no que devo dizer. Não fazer promessas superficiais, mas assumir compromissos na medida em que os pudermos cumprir.

Inclusive em relação aos prazeres, a pessoa temperante age com juízo. O livre curso dos impulsos e a total licença concedida aos prazeres acabam por se virar contra nós próprios, levando-nos a precipitar num estado de tédio. Quantas pessoas que quiseram experimentar tudo vorazmente acabaram por perder o gosto por tudo! Então, é melhor procurar a medida certa: por exemplo, para apreciar um bom vinho, é melhor saboreá-lo em pequenos goles do que engoli-lo de uma só vez. Todos nós sabemos isto.

A pessoa temperante sabe pesar e dosear bem as palavras. Pensa no que diz. Não permite que um momento de raiva arruíne relacionamentos e amizades que depois só podem ser reconstruídos com dificuldade. Especialmente na vida familiar, onde as inibições diminuem, todos corremos o risco de não controlar tensões, irritações, raivas. Há um tempo para falar e um tempo para calar, mas ambos requerem a medida certa. E isto é válido para muitas coisas, por exemplo, estar com os outros e estar sozinho.

Se a pessoa temperante sabe controlar a sua irascibilidade, não significa necessariamente que a veremos sempre com um rosto pacífico e sorridente. Com efeito, às vezes é necessário indignar-se, mas sempre na medida certa. Eis as palavras: a medida certa, a maneira certa. Uma palavra de repreensão é por vezes mais saudável do que um silêncio azedo e rancoroso. O temperante sabe que nada é mais inconveniente do que corrigir o outro, mas sabe também que é necessário: caso contrário, dar-se-iam rédeas soltas ao mal. Em certos casos, o temperante consegue conciliar os extremos: afirma princípios absolutos, reivindica valores não negociáveis, mas sabe também compreender as pessoas e demonstra empatia por elas. Demonstra empatia.

Portanto, o dom do temperante é o equilíbrio, uma qualidade tanto preciosa quanto rara. Com efeito, tudo, no nosso mundo, impele ao excesso. Ao contrário, a temperança combina bem com atitudes evangélicas como a pequenez, a discrição, o escondimento, a mansidão. Quem é temperante aprecia a estima dos outros, mas não faz dela o único critério de cada ação e de cada palavra. É sensível, sabe chorar e não se envergonha de o fazer, mas não chora sobre si próprio. Derrotado, levanta-se de novo; vitorioso, é capaz de regressar à sua vida escondida de sempre. Não procura aplausos, mas sabe que precisa dos outros.

Irmãos e irmãs, não é verdade que a temperança torna a pessoa cinzenta e desprovida de alegria. Pelo contrário, faz saborear melhor os bens da vida: o estar juntos à mesa, a ternura de certas amizades, a confidência com pessoas sábias, a admiração pelas belezas da criação. A felicidade com temperança é alegria que floresce no coração de quem reconhece e valoriza o que mais conta na vida. Oremos ao Senhor para que nos conceda esta dádiva: o dom da maturidade, da maturidade da idade, da maturidade afectiva, da maturidade social. O dom da temperança! (cf. Santa Sé)


PARA REZAR

 


- SALMO 117

 

Refrão: A pedra que rejeitaram os construtores

              tornou-se pedra angular.

 

Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos homens.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos poderosos.

Eu Vos darei graças porque me ouvistes
e fostes o meu Salvador.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.

Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
Vós sois o meu Deus: eu Vos darei graças.
Vós sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.


SANTOS POPULARES

 


SÃO JORGE

 

A figura de São Jorge está envolta em mistério: durante séculos, de facto, os estudiosos tentaram estabelecer quem ele era, realmente, quando e onde viveu. A pouca informação recebida encontra-se na «Passio Georgii» que o «Decretum Gelasianum» de 496 classifica entre as obras apócrifas (a sua autenticidade não está comprovada). Os documentos subsequentes, que são novas elaborações da «Passio», oferecem informações sobre o culto, mas do ponto de vista hagiográfico (estudo da vida do Santo) nada mais fazem do que complicar, ainda mais, o que foi dito sobre ele.

A “Passio”, do grego, foi traduzida para o latim (e outras línguas: copta, arménio, etíope, árabe) para uso nas liturgias reservadas aos santos. No entanto, de São Jorge podem ser deduzidos dados historicamente plausíveis: essencialmente, a sua pertença à classe militar e a sua sentença de morte, por se declarar cristão.

Outros dados plausíveis, mas impossíveis de verificar, são os relativos ao resto da sua vida. Segundo a história, Jorge nasceu na Capadócia, filho de Gerôncio, de origem persa, e de Policrónia, da Capadócia, que o educaram como cristão. Já adulto, tornou-se tribuno do exército do imperador da Pérsia, Daciano; mas, segundo algumas análises posteriores, tratar-se-ia do exército de Diocleciano (243-313) imperador dos romanos, que com o édito de Nicomédia em 303, começou a perseguir os Cristãos, em todo o império.

O tribuno Jorge distribuiu, então, os seus bens pelos pobres e, depois de ser preso por ter rasgado o edital, confessou a sua fé em Cristo, perante o tribunal dos perseguidores. Foi convidado a retratar-se e, quando recusou, como era costume naquela época, foi submetido a diversas torturas e, depois, metido na prisão. Aqui, tem a visão do Senhor que prevê sete anos de tormento, três vezes morte e três vezes ressurreição.

Neste ponto, a imaginação dos seus hagiógrafos oscila em episódios surpreendentes e difíceis de acreditar: vence o mago Atanásio, que se converteu e foi martirizado; foi cortado ao meio com uma roda cheia de pregos e espadas; ressuscitou, convertendo o "magister militum" Anatólio, com todos os seus soldados, que, depois, foram mortos ao fio da espada; entrou num templo pagão ecom um sopro, deitou por terra as imagens de pedra dos ídolos; converteu a Imperatriz Alexandra que foi, também, martirizada; o imperador condenou-o a ser decapitado, mas Jorge faz, primeiro, com que o imperador e os seus setenta e dois dignitários sejam incinerados; prometeu protecção a quem honrar as suas relíquias e, finalmente, deixou-se decapitar.

O culto ao mártir começou quase imediatamente, como o demonstram os vestígios arqueológicos da basílica construída, alguns anos depois da sua morte, sobre o seu túmulo e o atestam obras literárias posteriores.

A lenda do dragão surgiu muitos séculos depois, na Idade Média, quando o trovador Wace (ca. 1170) e sobretudo Jacopo da Voragine († 1293) na sua «Lenda Dourada», descreveram a sua figura como a de um cavaleiro heróico, influenciando a inspiração figurativa de artistas posteriores e do imaginário popular.

A “Lenda Dourada” narra que, na cidade de Silene, na Líbia, havia um grande pântano, onde vivia um dragão que, de vez em quando, aproximava da cidade e matava, com seu sopro de fogo, todas as pessoas que encontrava. Para acalmá-lo, os pobres habitantes começaram a oferecer-lhe duas ovelhas por dia. Quando estas começaram a escassear, passaram a oferecer uma ovelha e um jovem tirado à sorte.

Um dia, o sorteio recaiu na jovem filha do rei. Este, aterrorizado, ofereceu, para que alguém substituísse a filha, o seu património e metade do seu reino. Mas, o povo, que viu morrer muitos dos seus filhos, revoltou-se contra o rei. Depois de oito dias de tentativas, o rei, finalmente, teve que ceder: a jovem, chorando, dirigiu-se para o grande pântano.

O jovem cavaleiro Jorge passou, naquele exacto momento e, ao saber do sacrifício iminente, tranquilizou a princesa, prometendo a sua intervenção para salvá-la. Quando o dragão emergiu das águas, cuspindo fogo e fumaça pestilenta pelas narinas, Jorge não se assustou: montou no seu cavalo e feriu-o com a sua lança. Então, disse à jovem que não tivesse medo e colocasse o seu cinto no pescoço do dragão; feito isso, o dragão passou a segui-la docilmente, como um cachorrinho, em direcção à cidade.

Os habitantes ficaram apavorados ao ver que o dragão se aproximava da cidade. Mas, Jorge tranquilizou-os, dizendo: «Não tenhais medo! Deus enviou-me para vos libertar do dragão. Abraçai a fé em Cristo; que cada um receba o baptismo e eu matarei o monstro”. Então, o rei e a população converteram-se a Cristo. O bravo cavaleiro matou o dragão, cujo corpo foi arrastado para fora da cidade.

A lenda surgiu na época das Cruzadas, influenciada por uma falsa interpretação de uma imagem do imperador cristão, Constantino, encontrada em Constantinopla, onde o soberano aparecia a esmagar, com o pé, um dragão, símbolo do "inimigo da raça humana".

O imaginário popular e os mitos gregos de Perseu, que mata o monstro, libertando a bela Andrómeda, fizeram do heróico mártir da Capadócia um símbolo de Cristo, que derrota o mal (o demónio) representado pelo dragão.

Com Ricardo Coração de Leão (1157-1199), São Jorge foi invocado como protector por todos os combatentes.

É apenas uma das muitas interpretações deste humilde mártir, que quis testemunhar, com plena liberdade, a sua fé em Cristo, sofrendo e dando a sua vida, como fizeram muitos outros mártires de todas as idades naqueles tempos de sofrimento e sangue, em todos os cantos do vasto Império Romano.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 23 de Abril.


sábado, 13 de abril de 2024

EM DESTAQUE


 

*SEMANA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

No 4º Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor, a Igreja celebra o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Por isso, de 14 a 21 de Abril, toda a Igreja é convidada a rezar pelas vocações, sobretudo as vocações sacerdotais, religiosas, missionárias e seculares. Esta data foi instituída pelo Papa Paulo VI, em 1964.
D. Vitorino Soares, Bispo-Auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, fez publicar a mensagem que transcrevemos:
“…Entre 14 e 21 de Abril, decorre a semana de Oração pelas Vocações. Assinalar a data não é só dar importância ao assunto, não é só reforçar a necessidade da oração para esta causa, mas é sobretudo um alerta e um despertar para a realidade das vocações na vida da Igreja e na vida de cada discípulo de Jesus, no contexto global do projeto de Deus.
Por isso, a prioridade é trazer a questão para o nosso dia-a-dia, para as nossas conversas, para as nossas catequeses, para as nossas celebrações, para a nossa pastoral. Não pode ser matéria tabu, ou apenas da exclusividade de alguns, ou então preocupação para um dia ou para uma semana. Daí a escolha do lema sugerido, a partir da Exortação Apostólica do Papa Francisco aos jovens, “Cristo vive”, no nº 286: “Para quem sou eu?”.
Antes de nos interrogarmos em relação ao presente — “Quem sou eu?” — interroguemo-nos quanto ao futuro: “Para quem sou eu?”. Deus quer que sejamos para Ele, mas quer também que sejamos para os outros. Assim se entende que as qualidades, as inclinações, os dons e os carismas, não são apenas para nós, mas também para os outros. Tudo o que é recebido, quando guardado, acaba por nos aprisionar, tende a isolar-nos e torna-nos infecundos.
Este ano, a Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, avançou com a proposta deste lema, antes da divulgação da Mensagem do Santo Padre para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Os materiais oferecidos foram preparados em colaboração generosa com o Secretariado das Vocações da Diocese de Viana do Castelo, a quem muito agradecemos. A Mensagem do Papa Francisco: “Chamados a semear a esperança e a construir a paz”, ressalta a diversidade dos carismas e a importância da oração. Será sempre um suporte, não só para o IV Domingo da Páscoa, o Domingo do Bom Pastor, mas para alimentar a coragem dos jovens em deixar-se cativar por Jesus e a confiar-lhe as suas questões mais profundas, ao longo de todo o ano, respondendo à pergunta: “Para quem sou eu?”.
Se a questão das vocações estiver na ordem do dia, nenhum de nós se sentirá excluído em ser semeador de esperança e construtor de paz, no ambiente em que habita e no estado de vida em que se encontra…”
 



- MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES 2024: CHAMADOS A SEMEAR A ESPERANÇA E A CONSTRUIR A PAZ
 
Queridos irmãos e irmãs!
O Dia Mundial de Oração pelas Vocações convida-nos, cada ano, a considerar o precioso dom da chamada que o Senhor dirige a cada um de nós, seu povo fiel em caminho, pois dá-nos a possibilidade de tomar parte no seu projeto de amor e encarnar a beleza do Evangelho nos diferentes estados de vida. A escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora – talvez em nome de um ideal religioso –, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo: a nossa vida realiza-se e torna-se plena quando descobrimos quem somos, as qualidades que temos e o campo onde é possível pô-las a render, quando descobrimos que estrada podemos percorrer para nos tornarmos sinal e instrumento de amor, acolhimento, beleza e paz nos contextos onde vivemos.
Assim, este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento. Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum. Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram. E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus.
Aos jovens, especialmente a quantos se sentem distantes ou olham a Igreja com desconfiança, gostaria de dizer: deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma benfazeja, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.
 
Um povo em caminho
 
A polifonia dos carismas e das vocações, que a Comunidade Cristã reconhece e acompanha, ajuda-nos a compreender plenamente a nossa identidade de cristãos: como povo de Deus em caminho pelas estradas do mundo, animados pelo Espírito Santo e inseridos como pedras vivas no Corpo de Cristo, cada um de nós descobre-se membro duma grande família, filho do Pai e irmão e irmã de seus semelhantes. Não somos ilhas fechadas em si mesmas, mas partes do todo. Por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas e somos chamados a escutar-nos reciprocamente e a caminhar juntos para os descobrir discernindo aquilo a que nos chama o Espírito para o bem de todos.
Além disso, no momento histórico presente, o caminho comum conduz-nos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança rumo ao Ano Santo, para, na descoberta da própria vocação e pondo em relação os diversos dons do Espírito, podermos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.
Este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). E, como sabemos, a oração é feita mais de escuta que de palavras dirigidas a Deus. O Senhor fala ao nosso coração e quer encontrá-lo aberto, sincero e generoso. A sua Palavra fez-Se carne em Jesus Cristo, que nos revela e comunica toda a vontade do Pai. Neste ano de 2024, dedicado precisamente à oração como preparação para o Jubileu, somos chamados a descobrir o dom inestimável de poder dialogar com o Senhor, de coração a coração, tornando-nos assim peregrinos de esperança, porque «a oração é a primeira força da esperança. Tu rezas e a esperança cresce, avança. Diria que a oração abre a porta à esperança. A esperança existe, mas com a minha oração abro a porta» (Francisco, Catequese, 20/V/2020).
 
Peregrinos de esperança e construtores de paz
 
Mas que significa ser peregrinos? Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada, ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia por que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado. Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos.
Este é precisamente o sentido da peregrinação cristã: estamos em caminho à descoberta do amor de Deus e, ao mesmo tempo, à descoberta de nós mesmos, através duma viagem interior, mas sempre estimulados pela multiplicidade das relações. Portanto, peregrinos porque chamados: chamados a amar a Deus e a amar-nos uns aos outros. Assim, o nosso caminho sobre esta terra nunca se reduz a uma labuta sem objetivo nem a um vaguear sem meta; pelo contrário, cada dia, respondendo à nossa chamada, procuramos realizar os passos possíveis rumo a um mundo novo, onde se viva em paz, na justiça e no amor. Somos peregrinos de esperança, porque tendemos para um futuro melhor e empenhamo-nos na sua construção ao longo do caminho.
Tal é, em última análise, a finalidade de cada vocação: tornar-se homens e mulheres de esperança. Como indivíduos e como comunidade, na variedade dos carismas e ministérios, todos somos chamados a «dar corpo e coração» à esperança do Evangelho neste mundo marcado por desafios epocais: o avanço ameaçador duma terceira guerra mundial aos pedaços, as multidões de migrantes que fogem da sua terra à procura dum futuro melhor, o aumento constante dos pobres, o perigo de comprometer irreversivelmente a saúde do nosso planeta. E a tudo isto vêm ainda juntar-se as dificuldades que encontramos diariamente com o risco de nos precipitar, às vezes, na resignação ou no derrotismo.
Por isso é decisivo, para nós cristãos, cultivar um olhar cheio de esperança no nosso tempo, para podermos trabalhar frutuosamente respondendo à vocação que nos foi dada ao serviço do Reino de Deus, Reino do amor, de justiça e de paz. Esta esperança – assegura-nos São Paulo – «não engana» (Rm 5, 5), porque se trata da promessa que o Senhor Jesus nos fez de permanecer sempre connosco e de nos envolver na obra de redenção que Ele quer realizar no coração de cada pessoa e no «coração» da criação. Tal esperança encontra o seu centro propulsor na Ressurreição de Cristo, que «contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 276). E o apóstolo Paulo afirma ainda que fomos salvos na esperança (cf. Rm 8, 24). A redenção realizada na Páscoa dá a esperança, uma esperança certa, fiável, com a qual podemos enfrentar os desafios do presente.
Então ser peregrinos de esperança e construtores de paz significa fundar a própria existência sobre a rocha da ressurreição de Cristo, sabendo que todos os nossos compromissos, na vocação que abraçamos e levamos por diante, não caiem no vazio. Apesar dos fracassos e retrocessos, o bem que semeamos cresce de modo silencioso e nada pode separar-nos da meta última: o encontro com Cristo e a alegria de viver na fraternidade entre nós por toda a eternidade. Esta vocação final, devemos antecipá-la cada dia: a relação de amor com Deus e com os irmãos e irmãs começa desde agora a realizar o sonho de Deus, o sonho da unidade, da paz e da fraternidade. Que ninguém se sinta excluído desta chamada! Cada um de nós, no seu lugar próprio, no seu estado de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz.
 
A coragem de se envolver
 
Por tudo isso, digo mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa: «rise up – levantai-vos!» Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos. Repito-vos: tende a coragem de vos envolver! Padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre da parte dos últimos e indefesos, repetia que ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, e ninguém é tão rico que não precise de receber alguma coisa. Levantemo-nos, pois, e ponhamo-nos a caminho como peregrinos de esperança, para que também nós, como fez Maria com Santa Isabel, possamos comunicar boas-novas de alegria, gerar vida nova e ser artesãos de fraternidade e de paz.

Roma, São João de Latrão, no IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2024.

DA PALAVRA DO SENHOR



III DOMINGO DE PÁSCOA    

“…Meus filhos,
escrevo-vos isto, para que não pequeis.
Mas se alguém pecar,
nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai.
Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados,
e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro.
E nós sabemos que O conhecemos,
se guardamos os seus mandamentos.
Aquele que diz conhecê-l’O
e não guarda os seus mandamentos
é mentiroso e a verdade não está nele.
Mas se alguém guardar a sua palavra,
nesse o amor de Deus é perfeito
…”  
(cf. 1 João 2, 1-5)

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 10 de Abril de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

A catequese de hoje é dedicada à terceira das virtudes cardeais, ou seja, a fortaleza. Comecemos pela descrição dada pelo Catecismo da Igreja Católica: «A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, até da morte, e enfrentar a provação e as perseguições» (n. 1808). Assim diz o Catecismo da Igreja Católica sobre a virtude da fortaleza.

Eis, pois, a mais “combativa” das virtudes. Enquanto a primeira das virtudes cardeais, isto é, a prudência, estava principalmente associada à razão do homem; e enquanto a justiça encontrava a sua morada na vontade, esta terceira virtude, a fortaleza, é frequentemente ligada pelos autores escolásticos àquilo a que os antigos chamavam o “apetite irascível”. O pensamento antigo não imaginava um homem desprovido de paixões: seria uma pedra. E as paixões não são necessariamente o resíduo de um pecado; mas devem ser educadas, devem ser orientadas, devem ser purificadas com a água do Batismo, ou melhor, com o fogo do Espírito Santo. O cristão sem coragem, que não inclina as próprias forças para o bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil. Pensemos nisto! Jesus não é um Deus diáfano e assético, que desconhece as emoções humanas. Pelo contrário. Perante a morte do amigo Lázaro, desata em lágrimas; e em algumas das suas expressões transparece o seu espírito apaixonado, como quando diz: «Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já se tivesse ateado!» (Lc 12, 49); e diante do comércio no templo, reage vigorosamente (cf. Mt 21, 12-13). Jesus tinha paixão!

Mas vejamos agora uma descrição existencial desta virtude tão importante que nos ajuda a dar frutos na vida. Os antigos - tanto os filósofos gregos como os teólogos cristãos - reconheciam na virtude da fortaleza um duplo desenvolvimento, um passivo, outro ativo.

O primeiro ocorre dentro de nós mesmos. Há inimigos internos que devemos derrotar, e o seu nome é ansiedade, angústia, medo, culpa: todas estas forças que se agitam no nosso íntimo e que, em certas situações, nos paralisam. Quantos combatentes sucumbem até antes de começar o desafio! Porque desconhecem estes inimigos interiores. A fortaleza é, antes de tudo, uma vitória contra nós próprios. A maior parte dos medos que surgem dentro de nós são irrealistas e não se concretizam de forma alguma. É melhor então invocar o Espírito Santo e enfrentar tudo com fortaleza paciente: um problema de cada vez, como formos capazes, mas não sozinhos! O Senhor está ao nosso lado, se confiarmos nele e procurarmos sinceramente o bem. Então, em todas as situações, podemos contar com a Providência de Deus para nos amparar e blindar.

E depois o segundo movimento da virtude da fortaleza, desta vez de natureza mais ativa. Além das provações internas, existem os inimigos externos, que são as provações da vida, as perseguições, as dificuldades que não esperávamos e que nos surpreendem. Com efeito, podemos procurar prever o que nos vai acontecer, mas a realidade é, em grande medida, feita de acontecimentos imponderáveis e, neste mar, às vezes, o nosso barco é arrastado pelas ondas. Assim, a fortaleza faz de nós marinheiros resistentes, que não se amedrontam nem desanimam. 

A fortaleza é uma virtude fundamental porque leva a sério o desafio do mal no mundo. Alguns fingem que ele não existe, que tudo está bem, que a vontade humana não é por vezes cega, que as forças obscuras que trazem a morte não se debatem na história. Mas é suficiente folhear um livro de história, ou infelizmente até os jornais, para descobrir os atos nefastos de que somos em parte vítimas e em parte protagonistas: guerras, violências, escravatura, opressão dos pobres, feridas que nunca cicatrizaram e continuam a sangrar. A virtude da fortaleza faz-nos reagir e gritar “não”, um “não” categórico a tudo isto. No nosso Ocidente confortável, que diluiu um pouco tudo, transformando o caminho da perfeição num simples desenvolvimento orgânico, que não tem necessidade de lutar porque tudo lhe parece igual, às vezes sentimos uma saudável nostalgia dos profetas. Mas as pessoas importunas e visionárias são deveras raras. É preciso que alguém nos faça sair do lugar macio onde nos estabelecemos e nos obrigue a repetir resolutamente o nosso “não” ao mal e a tudo aquilo que conduz à indiferença. “Não” ao mal, “não” à indiferença; “sim” ao caminho, ao caminho que nos leva a progredir, e pelo qual devemos lutar.

Então, voltemos a descobrir no Evangelho a fortaleza de Jesus, aprendendo-a com o testemunho dos santos e santas. Obrigado! (cf. Santa Sé)


PARA REZAR



- SALMO 4

 

Refrão: Erguei, Senhor, sobre nós, a luz do vosso rosto.

 

Quando Vos invocar, ouvi-me, ó Deus de justiça.
Vós que na tribulação me tendes protegido,
compadecei-vos de mim
e ouvi a minha súplica.

 

Sabei que o Senhor faz maravilhas pelos seus amigos,
o Senhor me atende quando O invoco.
Muitos dizem: «Quem nos fará felizes?»

Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face.

Em paz me deito

e adormeço tranquilo,
porque só Vós, Senhor,

me fazeis repousar em segurança.

SANTOS POPULARES

 


BEATO LUCAS PASSI

 

Desde a sua juventude, o Padre Lucas Passi teve aspirações apostólico-missionárias; por isso, consagrou-se ao serviço do Senhor e foi uma autêntica testemunha da caridade evangélica, especialmente na formação humano-social e moral dos jovens.

O primeiro de onze filhos, Lucas nasceu em Bérgamo, no dia 22 de Janeiro de 1789, filho de Henrique e de Catarina Corner, uma nobre família veneziana, que o educaram nas virtudes cristãs; o seu pai orientou os seus estudos escolares e preparou-o para o sacramento da Confissão e para fazer a Primeira Comunhão.

No final do século XVIII, quando Bérgamo entrou, abruptamente, em contacto com as ideias revolucionárias francesas, o conde Henrique, para proteger os seus filhos, mudou-se com a família para a sua casa de campo, em Calcinate. Aqui, ficava também o palácio do seu tio, Monsenhor Marco Célio Passi, que em 1798, o transformou em residência permanente dos seminaristas de Bérgamo, quando o Seminário foi extinto, pelas autoridades. O seu tio, vigário-geral da diocese, foi um exemplo brilhante para os seus sobrinhos: três deles seguiram-no na vida sacerdotal: Lucas, Marco Célio e José.

Lucas e Marco, quase da mesma idade, distinguiram-se, no Seminário, pela sua piedade, devoção a Nossa Senhora, empenho no estudo, observância das regras, exercício da correcção fraterna entre os companheiros e fervorosa vida espiritual.

Ainda diácono, Lucas iniciou uma intensa actividade apostólica, na sua paróquia de Calcinate, onde lhe foi confiado o cargo de responsável pela “Confraria do Santíssimo Sacramento". Na prolongada adoração e contemplação da Eucaristia e do mistério de Cristo Redentor do homem, “a urgência de testemunhar e de evangelizar” inflamaram-se nele; por isso, com a alma e o coração de um pastor ardente de caridade sacerdotal, propôs-se dedicar-se ao ministério da pregação. E, tendo dado provas particulares daquela paixão e arte de pregar - que o tornariam um dos grandes missionários apostólicos da sua época - os seus superiores consideraram-no apto para proferir alguns sermões, mesmo fora da Diocese de Bérgamo, já nos anos 1811-1812.

No dia 13 de Março de 1813, foi ordenado sacerdote.

Em 16 de Maio de 1815, emitiu os votos de "discípulo" no "Colégio Apostólico" de Bérgamo, que reunia a nata dos sacerdotes diocesanos. Os doze membros da associação obrigaram-se a viver segundo o espírito dos Apóstolos, fazendo voto de obediência, pobreza de espírito e compromisso pela salvação dos irmãos, “por puro amor e glória de Deus”.

O jovem Padre Lucas sentiu, fortemente, este dever, o que o levou a pregar em muitas cidades e vilas da Península Itálica: em 1836, foi-lhe atribuído o título de “Missionário Apostólico”, pelo Papa Gregório XVI.

No seu ministério sacerdotal, o Padre Lucas revelou-se, também, um impulsionador dos apóstolos leigos; um brilhante animador e coordenador do desejo natural dos jovens para a formação de grupos que os aproximasse e da fé e os educasse na prática dos bons costumes.

Em Calcinate, reformulou o compromisso da Confraria do Santíssimo Sacramento, confiando a cada uma das associadas, algumas meninas, vizinhas das suas casa, para que cuidassem delas com amor, instruindo-as na fé, apoiando-as nas virtudes ou corrigindo-as, se necessário, dos seus defeitos e fazendo-as tornar-se pequenas Apóstolas, entre os seus pares. Assim, em 1815, nasceu a Pia Obra de Santa Doroteia para a educação cristã das meninas: uma obra verdadeiramente inovadora e única no seu género a nível pastoral, capaz de envolver numerosos fiéis de uma paróquia ou diocese, sensíveis ao dever de cada cristão de “cuidar” das jovens, para as formar na honestidade da vida. Com as mesmas intenções, fundou a Pia Obra de São Rafael para a educação dos rapazes.

O Padre Lucas, auxiliado pelo seu irmão, Padre Marco, fundava as duas associações, de acordo com cada pároco, no final das “Missões Quaresmais”, e onde quer que fosse para fazer as pregações. Acima de tudo, a Obra de Santa Doroteia teve uma ampla difusão e muitos Bispos, Sacerdotes e leigos zelosos, maravilhados com os frutos de bem que produzia, apoiaram-na com admirável empenho.

O Padre Lucas procurou criar uma maravilhosa rede de amizade entre os jovens, seguindo o exemplo do seu Padroeiro Mártir, num intercâmbio mútuo de ajuda e promoção que, muitas vezes, trouxe notáveis ​​benefícios espirituais também para as suas famílias.

À Obra de Santa Doroteia pertenceram (e pertencem) jovens que cuidam das meninas “com o santíssimo propósito de incutir nos seus corações o santo temor de Deus e treiná-las nos bons costumes”, trabalhando portanto, num clima de amizade sincera; corrigir caritativamente os seus defeitos; dar-lhes advertências adequadas e conselhos sábios; fazer com que frequentem os sacramentos; cumpram os seus deveres e sejam dóceis para com os seus superiores (cf. L. PASSI, Pia Opera di S. Dorotea direto para formar os trajes das meninas, IV edição Lucca 1854, p. 17).

Em 1838, o Padre Lucas Passi fundou o Instituto das Irmãs de Santa Doroteia, em Veneza, com o objectivo principal de ser a “alma” e sustento da Pia Obra de Santa Doroteia. A cofundadora e primeira superiora do Instituto foi a Madre Raquel Guardini.

O Padre Lucas também promoveu obras sociais de grande utilidade pública. De modo particular, dedicou parte do seu tempo a formar um grupo de jovens pobres, especialmente de agricultores. Para isso, publicou, em 1836, o Projecto Moral e Económico, e, em 1838, fundou a Ordem Terceira de Santa Doroteia, em Calcinate, conhecidas como "Freiras Camponesas", para formar meninas abandonadas no trabalho feminino e agrícola, compatível com a sua idade.

Com zelo incansável, o Padre Lucas incutiu, nos membros da Obra e nas Irmãs, o seu desejo ardente de comunicar aos seus irmãos “o fogo do amor de Deus” que dele transbordava. Gostava de repetir: “Quem não queima não acende” e estava firme na convicção de que “é preciso dar até a vida pela salvação de uma alma”. Incansável até ao fim, faleceu em Veneza, no dia 18 de Abril de 1866.

O seu carisma continua vivo, na missão realizada pelas Irmãs de Santa Doroteia - em Itália, na América Latina (Bolívia, Colômbia, Brasil), na África (Burundi, República Democrática do Congo, Camarões, Madagáscar) e na Albânia - e na alma e na actividade dos numerosos Cooperadores da Obra de Santa Doroteia espalhados pelo mundo, que se encarregam da formação cristã das jovens gerações, acompanhando o seu crescimento com um amor entrelaçado de misericórdia e de esperança.

O Padre Lucas Passi foi beatificado, no dia 13 de Abril de 2013, pelo Papa Francisco.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 18 de Abril.


domingo, 7 de abril de 2024

EM DESTAQUE



*II DOMINGO DE PÁSCOA
- DOMINGO DA MISERICÓRDIA

No segundo Domingo da Páscoa, a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia. Esta festividade foi instituída no ano 2000, pelo Papa João Paulo II, para toda a Igreja, através de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Esta festa era um desejo do próprio Jesus, revelado a Santa Faustina. No seu diário, ela escreveu a seguinte revelação de Jesus:“…Nenhuma alma terá justificação enquanto não se dirigir, com confiança, à Minha misericórdia. E é por isso que o primeiro domingo depois da Páscoa deve ser a Festa da Misericórdia. Nesse dia, os sacerdotes devem falar às almas desta Minha grande e insondável misericórdia”.
A Festa da Divina Misericórdia será lembrada em todas as missas do domingo.
 
Transcrevemos, a propósito, uma reflexão do Bispo de Apucarana, Brasil:
“…O amor de Deus pela humanidade é visível, palpável e real. Da criação do mundo aos nossos dias, o Senhor não se cansa de nos atrair a Si mesmo e ao seu Divino Coração, oferecendo-nos a sua infinita Misericórdia. Deus é Amor, no sentido mais verdadeiro que se possa sentir e partilhar. Um Amor que ultrapassa o nosso entendimento, mas que se expressa em sinais, gestos, palavras e graças abundantes. O dom da fé propicia, a cada um de nós, essa experiência e vivência de amar e sermos amados por Deus, mesmo quando menos merecemos. Na Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus pudemos experienciar toda bondade e compaixão do Pai para connosco e, para que possamos interiorizar essa grande experiência de amor e encontro com Cristo, a Igreja estende esses dias de júbilo a toda essa semana: estamos a viver a Semana Pascal, que culmina no Domingo da Divina Misericórdia. Instituído oficialmente pelo Papa São João Paulo II, no ano 2000, e comemorada imediatamente no primeiro domingo que sucede ao da Ressurreição, a Festa da Divina Misericórdia deseja fazer-nos imergir directamente na Fonte Única e repleta de compaixão e bondade: o Coração Misericordioso de Cristo. É impossível, para nós, alcançarmos a profundidade do Amor que Deus dispõe, gratuitamente, para que permaneçamos n’Ele. O Senhor é compassivo, paciente e acolhedor; é um Deus que ama incondicionalmente cada um de nós, a ponto de nos salvar pelo sacrifício do seu Filho, na Cruz. Oferece-se a Si mesmo, em Cristo Jesus, para que retornemos a Ele; para que não nos percamos nos tantos caminhos que o mundo oferece, direcionando-nos para longe d’Ele. A Festa da Divina Misericórdia relembra aos homens a presença amorosa de Cristo, no meio de nós, Vivo e Ressuscitado, caminhando connosco em todos os momentos, desejoso de que estejamos, cada vez mais, unidos ao Pai, numa proximidade tal que supra as nossas necessidades reais de encontramos o verdadeiro Amor. É desejo do Filho que nos aproximemos do Pai; que tomemos posse da Misericórdia Divina e da graça imensa, derramada sobre aqueles que O buscam. Do Coração de Cristo traspassado pela lança, jorrou Água e Sangue. Água que purifica, restaura e nos faz comprometidos com as promessas do Baptismo, que renovamos na noite Santa da Vigília Pascal. Sangue que, penetrando o mais profundo da Terra, tornou-nos merecedores da Salvação Eterna. “Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de Misericórdia para nós, eu confio em Vós!” Sabemos que fomos salvos por compaixão e bondade de Deus, conforme nos fala a Sagrada Escritura: “Porque é gratuitamente que fostes salvos, mediante a fé. Isso não provém dos vossos méritos, mas é puro dom de Deus” (Ef 2,8). Temos um Deus Misericordioso que se revela paciente, bondoso, compassivo e repleto de ternura, sempre pronto a proteger, buscar, perdoar e, como na parábola do Filho pródigo, Deus é o Pai que festeja a volta do filho que estava distante. Se soubéssemos o quanto somos dependentes e necessitados da Misericórdia do Pai, não tardaríamos a tomar posse de tão grande Graça. Jesus Ressuscitado é fonte de amor e de perdão, de acolhimento e de Misericórdia. N’Ele podemos ver a chama ardente do amor misericordioso que se consome pela nossa salvação. Voltemo-nos para a Fonte Cristalina, onde jorram amor e compaixão infinitos; deixemo-nos inundar pelos raios misericordiosos do Salvador. Que sejamos homens e mulheres corajosos e decididos; que não tenhamos receio de irmos até a Fonte que é Jesus e nos encharcarmos com a sua infinita Misericórdia!...” (Dom Carlos José, Bispo de Apucarana, Brasil)

DA PALAVRA DO SENHOR

 


II DOMINGO DE PÁSCOA        

“…A multidão dos que haviam abraçado a fé
tinha um só coração e uma só alma;
ninguém chamava seu ao que lhe pertencia,
mas tudo entre eles era comum.
Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus
com grande poder
e gozavam todos de grande simpatia.
Não havia entre eles qualquer necessitado,
porque todos os que possuíam terras ou casas
vendiam-nas e traziam o produto das vendas,
que depunham aos pés dos Apóstolos.
Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade…”

                                                (cf. Actos dos Apóstolos 4, 32-35)

 


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 3 de Abril de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Eis-nos na segunda virtude cardeal: hoje falaremos da justiça. É a virtude social por excelência. O Catecismo da Igreja Católica define-a assim: «A virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido» (n. 1807). Eis em que consiste a justiça. Muitas vezes, quando se fala de justiça, cita-se também o lema que a representa: “unicuique suum”, ou seja, “a cada um o que é seu”. É a virtude do direito, que procura regular com equidade as relações entre as pessoas.

É representada, alegoricamente, pela balança, dado que se propõe “acertar as contas” entre os homens, sobretudo quando elas correm o risco de ser falsificadas por algum desequilíbrio. A sua finalidade é que, na sociedade, cada um seja tratado de acordo com a própria dignidade. Mas já os antigos mestres ensinavam que, para isso, são necessárias, também, outras atitudes virtuosas, como a benevolência, o respeito, a gratidão, a afabilidade e a honestidade: virtudes que contribuem para a boa convivência entre as pessoas. A justiça é uma virtude para a boa convivência entre as pessoas.

Todos nós compreendemos que a justiça é fundamental para a convivência pacífica na sociedade: um mundo sem leis que respeitem os direitos é um mundo no qual é impossível viver; assemelhar-se-ia a uma selva. Sem justiça, não há paz. Sem justiça, não há paz. Com efeito, se a justiça não for respeitada, geram-se conflitos. Sem justiça, consagra-se a lei da prevaricação do forte sobre os fracos, e isto não é justo!

Mas, a justiça é uma virtude que age tanto no grande, como no pequeno: não diz respeito apenas às salas dos tribunais, mas também à ética que distingue a nossa vida diária. Estabelece relações sinceras com os outros: actua o preceito do Evangelho, segundo o qual o falar cristão deve ser: «“Sim, sim”, “Não, não”; o resto vem do Maligno» (Mt 5, 37). As meias-verdades; os discursos subjectivos que procuram enganar o próximo; as reticências que ocultam as verdadeiras intenções não são atitudes conformes com a justiça. O homem justo é recto, simples e directo; não usa máscaras; apresenta-se como é; diz a verdade. A palavra “obrigado” está frequentemente nos seus lábios: sabe que, por mais que nos esforcemos por ser generosos, somos sempre devedores para com o próximo. Se amamos, é também porque primeiro fomos amados.

Na tradição, podem-se encontrar inúmeras descrições do homem justo. Vejamos algumas: o homem justo tem veneração pelas leis e respeita-as, consciente de que elas constituem uma barreira que protege os indefesos da prepotência dos poderosos; o homem justo não se preocupa apenas com o seu bem-estar individual, mas deseja o bem de toda a sociedade, por isso, não cede à tentação de pensar só em si mesmo e de cuidar dos seus assuntos, por mais legítimos que sejam, como se fossem a única coisa que existe no mundo. A virtude da justiça torna evidente - e coloca a exigência no coração – que, para mim, não pode haver verdadeiro bem, se não houver também o bem de todos. 

Por isso, o homem justo vela sobre o próprio comportamento para não lesar os outros: quando erra, pede desculpa. O homem justo pede sempre perdão. Em certas situações, chega a sacrificar um bem pessoal para o pôr à disposição da comunidade. Deseja uma sociedade ordenada, onde sejam as pessoas a dar brilho aos cargos, não os cargos a dar brilho às pessoas. Abomina as preferências e não troca favores. Ama a responsabilidade e é exemplar na vida e na promoção da legalidade. Com efeito, ela é o caminho para a justiça; o antídoto contra a corrupção: como é importante educar as pessoas, especialmente os jovens, na cultura da legalidade! É o caminho para prevenir o cancro da corrupção e para debelar a criminalidade, removendo o solo debaixo dos seus pés.

Além disso, o homem justo evita comportamentos nocivos como a calúnia, o falso testemunho, a fraude, a usura, a falsidade e a desonestidade. O homem justo mantém a palavra dada; devolve o que lhe foi emprestado; reconhece o salário correcto a todos os operários - o homem que não reconhece o salário correcto aos operários não é justo, é injusto - tem o cuidado de não pronunciar juízos temerários em relação ao próximo; defende a reputação e o bom nome dos outros.

Nenhum de nós sabe se, no nosso mundo, os homens justos são numerosos ou raros como pérolas preciosas. Mas, são homens que atraem a graça e as bênçãos, tanto para si como para o mundo em que vivem. Não são perdedores em comparação com aqueles “astutos e espertos”, porque, como diz a Escritura, «quem procura justiça e amor encontrará vida e glória» (Pr 21, 21). Os justos não são moralistas que se revestem de censores, mas pessoas íntegras que «têm fome e sede de justiça» (Mt 5, 6); sonhadores que acalentam, no coração, o desejo de uma fraternidade universal. E deste sonho, especialmente hoje, todos nós temos grande necessidade. Devemos ser homens e mulheres justos, e é isto que nos tornará felizes! (cf. Santa Sé)


PARA REZAR

 


- SALMO 117

 

Refrão: Aclamai o Senhor porque Ele é bom;
             o Seu amor é para sempre!
          

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
A mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
Com dureza me castigou o Senhor,
mas não me deixou morrer.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.

SANTOS POPULARES

 


BEATO DOMINGOS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

 

Três meses antes da sua morte, o Padre Domingos do Santíssimo Sacramento escreveu, numa carta enviada a um dos seus irmãos: “O Senhor quer com Ele alguns na flor da idade; para outros, reserva grandes obras e, portanto, grandes méritos. O que importa é implementar os planos de Deus e que a Sua vontade seja feita, em tudo”.

Quando ele morreu, tinha apenas 26 anos.

Domingos Iturrate Zubero nasceu no dia 11 de Maio de 1901, na aldeia Biteriño de Dima, Vizcaya, perto de Bilbao, Espanha. Os seus pais, Simão Iturrate e Maria Zubero, eram cristãos fervorosos e deram a Domingos uma sólida educação religiosa e moral. Fez a Primeira Comunhão aos 10 anos. Mas desde os sete anos criou o hábito de se confessar todos os meses - segundo um costume da época - sem esperar pela Primeira Comunhão. Cresceu obediente aos pais; frequentou a escola da aldeia e ajudava nas tarefas domésticas e no campo. Particularmente interessado no catecismo, foi incumbido, pelo pároco, de ensiná-lo aos mais pequenos.

Os seus biógrafos sublinham que ele tinha um carácter sensível, mas com tendência para a raiva, como os bascos da sua região. Foi acólito na sua paróquia e assistia à missa não só nos domingos e feriados, mas também nos dias de semana. Tendo sentido, dentro de si, o chamamento à vida religiosa, teve o consentimento da sua mãe; o seu pai começou por se opor: tinha depositado nele assuas esperanças: sendo o filho primogênito, seria o seu sustentáculo e o herdeiro dos bens da família. Mas, como Domingos foi firme na sua escolha, por fim o seu pai também concordou. Depois de ter recebido a confirmação, em 26 de Agosto de 1913, Domingos entrou, no dia 30 de Setembro de 1914, no colégio-aspirantado dos Padres Trinitários de Algorta, Cantábria, para realizar os estudos adequados.

Em 11 de Dezembro de 1917, vestiu o hábito dos Trinitarianos, iniciando o noviciado no convento-santuário da “Virgem Bem Aparecida”. A Ordem dos Trinitários ou da Santíssima Trindade, foi fundada por São João de Matha e São Félix de Valois, em Cerfroid, Meaux, e aprovado pelo Papa Inocêncio III, em 1198, com o objectivo de resgatar os cristãos escravizados pelos muçulmanos.
O trabalho da Ordem da Santíssima Trindade, tão meritório, deu, ao longo dos séculos, liberdade a mais de 900.000 cristãos; mas, a Ordem, depois de ter alcançado grande esplendor no século XV, declinou rapidamente. Em 1578, o Papa Gregório XIII aprovou a reforma implementada pela Ordem Trinitária. São João Baptista da Conceição, falecido em 1613), lutou para trazer a Ordem de volta à austeridade original. Muitos Trinitarianos reagiram mal às suas propostas e dividiram-se, por isso, em duas ‘famílias’: os 'Descalços' (os reformistas) e os 'Calçados'. Em 1609, a Ordem tornou-se mendicante e, depois de ter sofrido os golpes da Reforma Protestante e da Revolução Francesa - com muitas supressões de Casas e Conventos - voltou a florescer, lentamente, apenas no final do século. XIX. Hoje, dedica-se ao apostolado entre os fiéis e às missões.

O jovem Domingos do Santíssimo Sacramento - este é o nome que assumiu ao professar na Ordem da Santíssima Trindade - comprometeu-se, com todas as suas forças, na sua formação espiritual. Mais tarde, veio a saber-se um dos seus grandes segredos: nos anos anteriores ao tempo do noviciado e, com mais intensidade, no ano do noviciado, Domingos passou pela experiência sofredora da chamada "noite escura do espírito", que o mergulhou na dúvida sobre a sua vocação, levando à aridez de espírito, à falta de satisfação nas suas acções, ao medo, à amargura e à ansiedade. Mas, com a ajuda de Nossa Senhora, a quem se confiou, quando fez a sua profissão religiosa temporária, em 14 de Dezembro de 1918, redescobriu a sua tranquilidade interior e a serenidade de espírito.

Depois de completar o primeiro ano de filosofia, em Outubro de 1919, foi enviado para Roma, onde continuou os estudos filosóficos, na Pontifícia Universidade Gregoriana; aí, obteve a licenciatura em filosofia, em 3 de Julho de 1922.

No dia 23 de Outubro de 1922, fez os votos perpétuos, no convento romano de São Carlos, em Quatro Fontes, onde estava hospedado. Continuou os estudos em teologia, formando-se, também, nesta ciência, em 26 de Julho de 1926.

Entretanto, foi ordenado sacerdote na Basílica dos Doze Apóstolos, em 9 de Agosto de 1925, celebrando a sua Missa Nova, no dia 15 de Agosto. No Seminário, exerceu a função de “assistente” do Padre Mestre, para a observância da disciplina.

Ansioso por ser missionário em terras pagãs, explicou ao Padre Provincial a ideia de abrir uma missão da Ordem em África ou na América Latina, oferecendo-se para este trabalho. Mas, os seus superiores, avaliando as suas excelentes qualidades, foi nomeado, pelo Capítulo Geral de 1926, Mestre formador dos Estudantes Trinitários.

No início de Junho de 1926, porém, o Padre Domingos começou a sentir os primeiros sintomas da tuberculose pulmonar, tão difundida naquela época. Foi enviado para Rocca di Papa, junto do Lago Albano, a cerca de 30 Km de Roma, com a esperança de que o ar puro das montanhas pudesse beneficiá-lo; mas, infelizmente, a doença já estava muito avançada.

Após sete anos de permanência em Roma, foi transferido, com urgência, para Algorta, em Espanha, onde chegou, em 6 de Setembro de 1926, depois de ter parado em Lourdes, para rezar a Nossa Senhora.

Depois de consultar vários médicos, foi para o convento de Belmonte, em Cuenca. O Padre Domingos compreendeu que todos os seus projectos sacerdotais e missionários não seriam mais realizados, mas aceitou a vontade de Deus, sem qualquer sentimento de revolta.

O Padre Domingos do Santíssimo Sacramento (Domingos Iturrate Zubero) faleceu no dia 8 de Abril de 1927, no Convento de Belmonte. O jovem sacerdote trinitário gozou, imediatamente, da fama de santidade: para a Causa de beatificação foram apresentados cerca de 2.500 relatórios de curas, atribuídas à sua intercessão.

Em 1974, os seus restos mortais foram transladados para Algorta, onde repousam na paróquia do Redentor, dos Religiosos Trinitários.

Foi beatificado, no dia 30 de Outubro de 1983, pelo Papa João Paulo II. Disse o Papa, na homilia da Missa da Beatificação: “…O religioso trinitário Domingos Iturrate Zubero, nasceu em terras da Espanha, no País Basco. A sua breve existência, de apenas 26 anos, contém uma rica mensagem que se concretiza na tensão constante para a santidade. Nesse caminho há algumas características peculiares, que desejo apresentar em síntese.

O fiel cumprimento da vontade de Deus é uma meta que atinge cotas muito altas, sobretudo nos últimos anos da sua vida. Por isso, em 1922 escreverá nas suas anotações espirituais: "A nossa conformidade com a vontade divina há-de ser total, sem reservas e constante". Animado deste espírito, e com o consentimento do seu director espiritual, faz voto de "cumprir sempre o que conhecer ser mais perfeito", propondo-se além disso "não negar nada a Deus Nosso Senhor, mas seguir, em tudo, as suas santas inspirações, com generosidade e alegria".

Como religioso trinitário, procurou viver segundo os dois grandes eixos da espiritualidade da sua ordem: o mistério da Santíssima Trindade e a obra da redenção, que nele se fazia vivência de intensa caridade. E como sacerdote, teve uma clara ideia da sua identidade como "mediador entre Deus e os homens", ou "representante do Sacerdote Eterno, Cristo". Era tudo isto que o chamava a viver, cada dia, a Eucaristia como um acto de pessoal imolação, unido à Suprema Vítima, em favor dos homens.

Não menos notável foi a presença de Maria na trajectória espiritual do novo Beato, desde a infância até à morte. Uma devoção que ele viveu com grande intensidade e que procurou inculcar sempre nos outros, convencido como estava de "quanto bom e seguro é esse caminho: ir ao Filho por meio da Mãe".

Estes poucos traços põem diante de nós a força de um modelo e exemplo válidos para hoje. Com o seu testemunho de fidelidade ao chamamento interior e de resposta generosa à sua vocação, o Padre Domingos mostra aos nossos dias um caminho a seguir: o de uma fidelidade eclesial que plasma a identidade interior e que conduz à santidade…”

A memória litúrgica do Beato Domingos Iturrate Zubero é celebrada no dia 8 de Abril.