PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “Vós sois edifício de Deus.” (cf. I Coríntios 3, 9) A liturgia faz-nos celebrar hoje a Dedicação da Basílica Lateranense, chamada "mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade e do mundo". De facto, esta Basílica foi a primeira a ser construída depois do édito do Imperador Constantino que, em 313, concedeu aos cristãos a liberdade de praticar a sua religião. O mesmo Imperador doou ao Papa Melquíades a antiga propriedade da família dos Lateranenses e nela fez construir a Basílica, o Baptistério e a "Patriarquia", ou seja, a residência do Bispo de Roma, onde os Papas habitaram até ao período de Avinhão. A dedicação da Basílica foi celebrada pelo Papa Silvestre por volta de 324 e o templo foi intitulado ao Santíssimo Salvador; só depois do século VI foram acrescentados os títulos dos Santos João Baptista e João Evangelista, que deram origem à comum denominação. Esta data era celebrada primeiramente só na cidade de Roma; depois, a partir de 1565, alargou-se a todas as Igrejas de rito romano. Desta forma, honrando o edifício sagrado, pretende-se expressar amor e veneração à Igreja romana que, como afirma Santo Inácio de Antioquia, "preside na caridade" toda a comunhão católica. A Palavra de Deus, nesta solenidade, recorda uma verdade fundamental: o templo de pedra é símbolo da Igreja viva, a comunidade cristã, que já os Apóstolos Pedro e Paulo, nas suas cartas, identificavam - como "edifício espiritual", construído por Deus com "pedras vivas" - os cristãos, alicerçados em Jesus Cristo, que é a "pedra angular". "Irmãos, vós sois edifício de Deus", escreve São Paulo e acrescenta: "santo é o templo de Deus, que sois vós" (1 Cor 3, 9.17). A beleza e a harmonia das igrejas, destinadas a prestar louvor a Deus, convida-nos, também - seres humanos, limitados e pecadores - a convertermo-nos para formar um "cosmos", uma construção bem ordenada, em estreita comunhão com Jesus, que é o verdadeiro Santo dos Santos. Isto aconteceu de modo culminante na liturgia eucarística, na qual a "ecclesía", isto é, a comunidade dos baptizados, se reúne para ouvir a Palavra de Deus e para se alimentar do Corpo e Sangue de Cristo. Em volta desta dúplice mesa, a Igreja de pedras vivas edifica-se na verdade e na caridade e é plasmada interiormente pelo Espírito Santo transformando-se no que recebe, conformando-se cada vez mais com o seu Senhor Jesus Cristo. Ela mesma, se vive na unidade sincera e fraterna, torna-se, assim, sacrifício espiritual agradável a Deus. Queridos amigos, a festa de hoje celebra um mistério sempre actual: isto é, que Deus quer edificar no mundo um templo espiritual, uma comunidade que O adore em espírito e verdade (cf. Jo 4, 23-24). Mas, esta celebração recorda, também, a importância dos edifícios materiais, nos quais as comunidades se reúnem para celebrar o louvor de Deus. Cada comunidade tem, portanto, o dever de conservar com cuidado os próprios edifícios sagrados, que constituem um precioso património religioso e histórico. Invoquemos então a intercessão de Maria Santíssima, para que nos ajude a tornar-nos como Ela, "casa de Deus", templo vivo do seu amor. (cf. Papa Bento XVI, na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Roma, no Domingo 9 de Novembro de 2008)

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

EM DESTAQUE:

 


* SEMANA DOS SEMINÁRIOS 2025
 
Nota pastoral de D. Vitorino Soares,
Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios
 
Nesta semana de Oração pelos Seminários Diocesanos, que decorre entre 2 e 9 de novembro, o lema escolhido sai fora dos alvos tradicionais e dos desenhos a que estamos habituados. A começar pela imagem, desta vez é o rosto do Papa Leão XIV, o sucessor de Pedro, que com o dedo indicador aponta para cada um e apela: "Precisamos de ti". Não é uma proposta feita a partir do pessoal e do singular, mas no plural e em contornos eclesiais.
É aquele que, como Pedro, sabe que não é o único que foi chamado por Jesus, mas com outros, para continuar uma missão que se renova na colaboração de muitos que são "precisos", não só devido às carências, mas sobretudo contando com as potencialidades e os talentos de cada um.
O Papa precisa, a Igreja precisa, as Dioceses precisam, as Comunidades precisam e os Seminários, particularmente, precisam de jovens que sigam o convite de Jesus, para que como discípulos se disponham a ser sacerdotes diante dos desafios de hoje.
Todos nós “precisamos de ti" pessoalmente, com dúvidas e com medos, mesmo que nunca tenhas pensado nesta possibilidade de imitar Jesus, o Bom Pastor. Também tu podes ajudar a conduzir, a reunir, a defender, a alimentar o rebanho, que são as pessoas, tantas vezes dispersas, tristes, desanimadas e abandonadas.
A Igreja precisa de ti, para que, como ovelha que já faz parte do rebanho, mais próximo ou mais distante, possas fazer a experiência de pastor, como sacerdote.
Nós “precisamos de ti", e não só as outras ovelhas, mas aqueles que, sendo pastores, também se sentem parte do mesmo rebanho do qual só Jesus é o único e bom pastor.
O papa, os bispos, os sacerdotes, os leigos, todos precisamos de ti. Através destes mediadores, é o próprio Jesus que se dirige a ti e aponta para ti: "Eu preciso de ti".
Alguns vão respondendo, são os que já estão nos Seminários e que vão percorrendo o seu caminho de discernimento. A esses também dizemos, através do Papa Leão XIV: nós “precisamos de ti". Outros são os que constituem as equipas formadoras dos Seminários, a quem também dizemos: nós “precisamos de ti", de cada membro que acompanha, com mais visibilidade ou com menos protagonismo. A cada família também dizemos: nós “precisamos de ti", da generosidade e da participação.
E a ti que sentes que o dedo indicador do Papa aponta na tua direcção, recorda que há muitas ovelhas, muitos rebanhos que não conheces, mas que "precisam de ti". Precisamos de sacerdotes, precisamos de seminaristas, "precisamos de ti". Os convites de Jesus dirigidos a Pedro e aos doze a quem chamou porque precisava deles, não estão esgotados, mas continuam a ser oferecidos por aqueles que já os receberam.



Oração
 
Senhor Jesus, precisamos de Ti.
Como Tu precisas de nós,
também nós precisamos de Ti.
Precisamos do teu amor.
Precisamos da tua coragem.
Precisamos do teu perdão.
Precisamos da tua entrega.
Precisamos da tua presença.
Precisamos do teu Espírito.
 
Senhor Jesus, precisamos de Ti,
para termos sacerdotes.
Senhor, não nos abandones.
Precisamos de Ti,
como Tu precisas de nós.
Senhor Jesus,
que Tu e nós sejamos um só.
Que a Igreja seja conduzida por Ti, o Bom Pastor,
e que das ovelhas do teu rebanho,
saiam pastores-sacerdotes
que sempre precisam de Ti.
 
Senhor Jesus contamos Contigo
e com o conforto da tua Mãe, Maria,
que é nossa Mãe.
 
Amém
 


* BASÍLICA DE SÃO JOÃO DE LATRÃO
 
A Igreja Católica celebra, no dia 9 de Novembro, a Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão ou do Santíssimo Salvador. No início do cristianismo, não havia igrejas, capelas, templos. Os cristãos reuniam-se nas casas uns dos outros. Os primeiros cristãos tinham consciência de que todos os lugares eram lugares do encontro de Deus com os homens. Tinham bem presente as palavras de Jesus à Samaritana: “Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai….  Os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade…” (Jo. 4, 21-23).
A construção de templos começou mais tarde, quando os cristãos sentiram necessidade de um local maior onde se pudessem reunir.
Esta Basílica é o templo mais antigo da cristandade. Foi fundada pelo Papa Melquíades, no início do século IV, provavelmente entre os anos 311 e 314, em terras doadas pelo Imperador Constantino, e construída ao lado da residência imperial que, mais tarde, passou a ser a residência do Papa. Foi o Papa Silvestre que inspirou Constantino a transformar o Palácio de Latrão - sede do governo - na primeira basílica dedicada ao Divino Salvador.
A Basílica de Latrão - destruída e reconstruída várias vezes - é a Catedral do Papa, a Igreja Mãe e cabeça de todas as Igrejas do mundo. Nela e no Palácio Lateranense, realizaram-se cinco Concílios.
A Festa de Dedicação da Basílica de São João de Latrão começou no século XII: a sua origem é desconhecida.
Esta festa reveste-se de um carácter importante, porque tem a finalidade de celebrar a unidade da Igreja e lembrar o respeito das demais Igrejas para com a Sé Romana.
Embora o templo preferido de Deus seja o coração do homem, a Festa da Dedicação da Igreja de São João de Latrão - a Igreja Mãe, símbolo da unidade da Igreja, - ensina-nos a importância de termos um lugar onde, juntos como irmãos, possamos celebrar a nossa fé; partilhar as nossas vidas e fortalecer a nossa esperança. Esta celebração convida-nos a fortalecer os nossos esforços na busca da unidade da Igreja de Jesus, a fim de que a sua vontade se torne verdade entre nós: “para que todos sejam um só” (Jo. 17, 21) (cf. Instituto Hesed)

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXXII DOMINGO COMUM

 - FESTA DA DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE SÃO JOÃO DE LATRÃO

 

“…Vós sois edifício de Deus.
Segundo a graça de Deus que me foi dada,
eu, como sábio arquitecto, coloquei o alicerce
e outro levanta o edifício.
Veja cada um como constrói:
ninguém pode colocar outro alicerce
além do que está posto, que é Jesus Cristo.
Não sabeis que sois templo de Deus
e que o Espírito de Deus habita em vós?
Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá.
Porque o templo de Deus é santo
e vós sois esse templo…”
(cf. I Coríntios 3, 9-11. 16-17)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 5 de Novembro de 2025
 
Queridos irmãos e irmãs, bom dia! E bem-vindos a todos.
 
A Páscoa de Jesus é um acontecimento que não pertence a um passado distante, agora sedimentado na tradição como tantos outros episódios da história humana. A Igreja ensina-nos a fazer memória actualizante da Ressurreição todos os anos, no Domingo de Páscoa, e todos os dias, na celebração eucarística, durante a qual se realiza, de forma mais plena, a promessa do Senhor ressuscitado: «E eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
Por isso, o mistério pascal constitui o eixo da vida do cristão, em torno do qual giram todos os outros acontecimentos. Podemos dizer, então, sem qualquer irenismo (atitude conciliadora para com os cristãos de credos diferentes) ou sentimentalismo, que todos os dias são Páscoa. De que maneira?
Vivemos, de hora em hora, tantas experiências diferentes: dor, sofrimento, tristeza, entrelaçadas com alegria, admiração, serenidade. Mas, em todas as situações, o coração humano anseia pela plenitude, por uma felicidade profunda. Uma grande filósofa do século XX, Santa Teresa Benedita da Cruz - cujo nome de baptismo era Edith Stein e que tanto aprofundou o mistério da pessoa humana - recorda-nos este dinamismo de busca constante da realização. «O ser humano – escreveu ela – anseia sempre por receber novamente o dom do ser, para poder aproveitar o que o momento lhe dá e, ao mesmo tempo, lhe tira» (Essere finito ed Essere eterno. Per una elevazione al senso dell’essere [Ser finito e ser eterno. Ensaio de uma ascensão ao sentido do ser], Roma 1998, 387). Estamos imersos no limite, mas também nos esforçamos por superá-lo.
O anúncio pascal é a notícia mais bela, alegre e comovedora que ressoou ao longo da história. É o “Evangelho” por excelência, que atesta a vitória do amor sobre o pecado e da vida sobre a morte e, por isso, é o único capaz de saciar a busca de sentido que inquieta a nossa mente e o nosso coração. O ser humano é animado por um movimento interior, voltado para um além que o atrai constantemente. Nenhuma realidade contingente o satisfaz. Tendemos para o infinito e para o eterno. Isso contrasta com a experiência da morte, antecipada pelos sofrimentos, pelas perdas, pelos fracassos. Da morte «nullu homo vivente po skampare», canta São Francisco (cf. Cântico do irmão sol).
Tudo muda graças àquela manhã em que as mulheres, indo ao sepulcro para ungir o corpo do Senhor, o encontraram vazio. A pergunta feita pelos Magos que chegaram do Oriente a Jerusalém: «Onde está aquele que nasceu, o rei dos judeus?» (Mt 2, 1-2), encontra a sua resposta definitiva nas palavras do misterioso jovem vestido de branco que fala às mulheres na madrugada pascal: «Vós procurais Jesus Nazareno, o crucificado. Não está aqui. Ressuscitou» (Mc 16, 6).
Desde aquela manhã até hoje, todos os dias, Jesus terá também este título: o Vivente, como Ele mesmo se apresenta no Apocalipse: «Eu sou o Primeiro e o Último, o que Vive. Conheci a morte, mas eis-me aqui vivo pelos séculos dos séculos» (Apoc 1, 17-18). E, n’Ele, temos a certeza de poder encontrar sempre a estrela polar para orientar a nossa vida de aparente caos, marcada por factos que, muitas vezes, nos parecem confusos, inaceitáveis, incompreensíveis: o mal, nas suas múltiplas facetas, o sofrimento, a morte, eventos que dizem respeito a todos e a cada um. Meditando o mistério da Ressurreição, encontramos resposta à nossa sede de significado.
Perante a nossa humanidade frágil, o anúncio pascal torna-se cuidado e cura, alimenta a esperança diante dos desafios assustadores que a vida nos apresenta todos os dias, a nível pessoal e planetário. Na perspectiva da Páscoa, a Via Crucis transfigura-se em Via Lucis. Precisamos de saborear e meditar a alegria após a dor, reviver na nova luz todas as etapas que precederam a Ressurreição.
A Páscoa não elimina a cruz, mas vence-a no duelo prodigioso que mudou a história humana. Também o nosso tempo, marcado por tantas cruzes, invoca o amanhecer da esperança pascal. A Ressurreição de Cristo não é uma ideia, uma teoria, mas o Acontecimento que está na base da fé. Ele, o Ressuscitado, através do Espírito Santo, continua a recordá-lo a nós para que possamos ser suas testemunhas também onde a história humana não vê luz no horizonte. A esperança pascal não decepciona. Acreditar verdadeiramente na Páscoa, através do caminho diário, significa revolucionar a nossa vida, ser transformados para transformar o mundo com a força suave e corajosa da esperança cristã. (cf. Santa Sé)
 

PARA REZAR

 


- SALMO 45

 

Refrão: Os braços do rio alegram a cidade de Deus,

               a mais santa das moradas do Altíssimo.

Deus é o nosso refúgio e a nossa força,
auxílio sempre pronto na adversidade.
Por isso nada receamos ainda que a terra vacile
e os montes se precipitem no fundo do mar.

Os braços dum rio alegram a cidade de Deus,
a mais santa das moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela e a torna inabalável,
Deus a protege desde o romper da aurora.

O Senhor dos Exércitos está connosco,
o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.
Vinde e contemplai as obras do Senhor,
as maravilhas que realizou na terra.


SANTOS POPULARES



SANTA OLGA DO ALASCA (Santa da Igreja Ortodoxa)
 
Arrsamquq nasceu, no dia 3 de Fevereiro de 1916, numa família indígena do Alasca, de origem Yupik. A presença da missão ortodoxa nesta comunidade indígena ajudou a difundir a fé entre a população local. Arrsamquq foi uma das primeiras a ser baptizada, ainda criança. No baptismo, recebeu o nome de Olga.
Desde muito jovem, procurava viver no amor de Deus. Era trabalhadora e rezava muito pela sua família e pelos habitantes da sua aldeia. Na adolescência, já conhecia muitos textos litúrgicos e hinos, na língua eslava eclesiástica e na língua Yupik.
Casou-se com um homem da sua aldeia. Como era habitual na época e na tradição indígena, foi um casamento arranjado. O seu marido era habilidoso, na pesca e na caça. Abriu uma mercearia e inaugurou a primeira agência dos correios, na sua aldeia. No entanto, não era um homem particularmente religioso. Durante os primeiros anos de casamento, o relacionamento foi conturbado, repleto de conflitos e discussões. Mas, Olga não se desesperou. Em vez disso, rezou fervorosamente pelo seu marido e pelos seus vizinhos descrentes. Através das suas orações, após algum tempo, o seu marido — baptizado com o nome Nicolau— começou a frequentar a igreja. Ele trouxe consigo outros seis homens da aldeia. Todos se tornaram leitores. Nicolau Miguel (o seu nome) continuou os seus estudos, na chamada "Escola Aleúte" (a língua aleúte é um idioma da família esquimó-aleúte, mais especificamente do grupo inuíte falado pelos povos indígenas da Groenlândia e da Dinamarca. Actualmente, no mundo, é falado por cerca de 57 700 pessoas), semelhante às fundadas por Santo Inocêncio, com o apoio da Sociedade Missionária Russa, em Sitka. Ele estudou sob a direcção do Bispo Amvrossy (Merejko). Depois de terminados os estudos, foi ordenado sacerdote. A partir de 1963, serviu como sacerdote em Kwetluk. Foi o segundo sacerdote, na sua aldeia, Kwetluk, e foi muito amado pelo seu povo. Aliás, durante toda a vida de Olga, a grande maioria dos alunos que frequentavam essa escola vinha da sua pequena aldeia.
Após a ordenação de Nicolau, a vida conjugal do casal mudou significativamente. Como sacerdote, Nicolau Miguel viajou pelas doze aldeias vizinhas para celebrar a missa e presidir a outras cerimônias. As viagens entre as aldeias eram feitas pelos rios, de barco, no verão, e de moto de neve ou trenó puxado por cães, no inverno. Olga, a única parteira da região, acompanhava o marido para auxiliar as mulheres durante o parto e em casos de doença.
Olga deu à luz treze filhos sem a ajuda de qualquer parteira. Cinco deles não sobreviveram até à idade adulta devido a doenças e ao clima rigoroso do Alasca.
Olga Miguel trabalhava arduamente, cuidando da casa, criando os filhos, confeccionando vestes litúrgicas e preparando o pão para as celebrações. Apesar de uma agenda cheia, ela também visitava a casa de outras pessoas, para cozinhar e ajudar nas tarefas domésticas. Através das suas palavras e acções, Olga dava às pessoas o testemunho de uma vida cristã, segundo os mandamentos do Senhor. Ela também confeccionava botas, casacos, meias e luvas para distribuir entre os paroquianos. Pelos seus actos de caridade, recebeu o apelido de a nova Tabita (Tabita, era uma mulher de posses, que morava na cidade de Jope. Usava o seu tempo, bens e dons para fazer o bem às viúvas, às pessoas marginalizadas pela sociedade da época. Conforme o livro de Actos dos Apóstolos, Tabita possuía o dom da "diaconia", isto é, colocava toda a sua vida ao serviço das mulheres abandonadas pelas suas famílias. Usou a sua força de vontade e a sua fé, para promover o bem, colocando em prática as palavras de Jesus: "Quem quiser ser grande, seja o servo de todos”).
Era particularmente atenciosa com as mulheres necessitadas que sofriam violência doméstica. Frequentemente, convidava as mulheres da sua aldeia para tomar um banho de vapor e onde não podiam esconder as cicatrizes físicas e espirituais dos abusos sofridos. Ela aconselhava as mulheres e dirigia-lhes palavras de conforto. A sua compaixão e sensibilidade impressionavam muitos, como se ela própria tivesse vivido situações semelhantes.
Com o passar dos anos, as suas filhas assumiram uma parte das suas responsabilidades. A dedicada Olga tinha, assim, mais tempo para viajar com o marido, ajudar as pessoas nas aldeias vizinhas e ensinar técnicas de obstetrícia a mulheres mais jovens.
Olga faleceu no dia 8 de Novembro de 1979.
Pela sua indescritível humildade e amor ao próximo; pela sua empatia e pelos cuidados prestados às vítimas de abusos, pelo testemunho da sua fé em Jesus, foi canonizada, pela Igreja Ortodoxa, no dia 8 de Novembro de 2023.
A sua memória litúrgica é celebrada, nas Igrejas Orientais, no dia 10 de Novembro. 

sábado, 1 de novembro de 2025

EM DESTAQUE

 


*COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS
 
A Celebração dos fiéis defuntos é uma solenidade que tem um valor profundamente teológico, porque chama a nossa atenção para o mistério da existência humana, desde as suas origens até ao seu fim e, também, para o além. A novidade introduzida pela nossa fé é a esperança: nós, cristãos, acreditamos num Deus que não é apenas Criador, mas também Juiz.
Deus, também é Juiz! O seu juízo vai para além do tempo e do espaço, na vida após a morte e na vida eterna, na qual o Reino de Deus se realiza plenamente. O julgamento do Senhor será duplo: além de respondermos, individualmente, pelas nossas acções, no final dos tempos, seremos chamados a responder-lhes também como humanidade.
Se morrermos em Cristo - porque vivemos a nossa vida em comunhão com Ele - seremos admitidos na comunhão dos Santos.
A celebração de hoje insere-se nesta perspectiva: a Igreja não esquece os seus irmãos falecidos, mas reza por eles, oferece sufrágios, celebra Missas e oferece esmolas, para que também as almas, que ainda precisam de purificação, após a morte, possam alcançar a visão de Deus.
A morte é um acontecimento inevitável. Cada um de nós pode entender isso pela própria experiência pessoal. Segundo a visão cristã, porém, não é considerada um facto natural. Pelo contrário, é o oposto da vontade de Deus! Deus, o Senhor da vida, dá-nos a vida em abundância e a morte é uma mera consequência do nosso pecado. Entretanto, em Cristo, Deus toma sobre si os nossos pecados e as suas consequências. Desta forma, a morte torna-se uma passagem, uma porta.
Graças à vitória de Cristo sobre a morte, podemos superar o medo que temos dela e a dor que sentimos quando atinge alguém que está próximo de nós.
Enfim, para o cristão, não há distinção entre vivos e mortos, porque nem os mortos são "mortos", mas "defuntos", ou seja, "privados das funções terrenas", à espera de serem transformados pela Ressurreição.
 
História e origem desta celebração
A piedade humana para com os defuntos remonta aos primórdios da humanidade. Mas, com o advento do cristianismo, a perspectiva muda radicalmente.
Os primeiros cristãos, como podemos facilmente observar nas catacumbas, esculpiam a figura de Lázaro nos túmulos, como anseio de que os seus entes queridos pudessem, também, voltar à vida, por intermédio de Cristo.
No entanto, na Igreja Católica, somente no século IX começou a celebração litúrgica pelos defuntos, como herança da tradição monástica, já em vigor no século VII, de empregar, dentro dos mosteiros, um dia inteiro de oração por um defunto.
Este costume, porém, já existia no rito bizantino, que celebrava os mortos, no sábado anterior à Sexagésima (2º Domingo antes do início da Quaresma), um período entre o fim de janeiro e o mês de fevereiro.
Mais tarde, no ano 809, o Bispo de Trier, Dom Amalário Fortunato de Metz, inseriu a memória litúrgica dos falecidos - que aspiram ao céu - no dia seguinte ao dedicado a Todos os Santos, que já estavam no céu.
Enfim, em 998, por ordem do abade de Cluny, Odilone de Mercoeur, a solenidade de Finados foi marcada para o dia 2 de Novembro, precedida por um período de preparação de nove dias, conhecido como Novena dos Defuntos, que começava no dia 24 de Outubro. (cf. Vatican News)
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXXI DOMINGO COMUM

 

“…Como sabemos, irmãos,

Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus

também nos há-de ressuscitar com Jesus

e nos levará convosco para junto d’Ele.

Tudo isto é por vossa causa,

para que uma graça mais abundante

multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos

para glória de Deus.

Por isso, não desanimamos.

Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando,

o homem interior vai-se renovando de dia para dia.

Porque a ligeira aflição dum momento

prepara-nos, para além de toda e qualquer medida,

um peso eterno de glória.

Não olhamos para as coisas visíveis,

olhamos para as invisíveis:

as coisas visíveis são passageiras,

ao passo que as invisíveis são eternas.

Bem sabemos que,

se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita,

recebemos nos Céus uma habitação eterna,

que é obra de Deus

e não é feita pela mão dos homens…” (cf. II Coríntios 4,14 – 5,1)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 29 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs, peregrinos na fé e representantes das diferentes tradições religiosas! Bom dia, bem-vindos!
 
No centro da reflexão de hoje, nesta Audiência-geral dedicada ao diálogo inter-religioso, desejo lembrar as palavras do Senhor Jesus à samaritana: «Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade» (Jo 4, 24). No Evangelho, este encontro revela a essência do autêntico diálogo religioso: um intercâmbio que se estabelece quando as pessoas se abrem umas às outras com sinceridade, escuta atenta e enriquecimento recíproco. É um diálogo que nasce da sede: a sede de Deus pelo coração humano e a sede humana de Deus. No poço de Sicar, Jesus supera as barreiras de cultura, género e religião. Convida a samaritana a uma nova compreensão do culto, que não se limita a um lugar em particular – “nem nesta montanha, nem em Jerusalém” – mas que se realiza em Espírito e verdade. Este momento capta o núcleo do diálogo inter-religioso: a descoberta da presença de Deus, além de todas as fronteiras, e o convite a procurá-lo juntos com reverência e humildade.
Há sessenta anos, no dia 28 de outubro de 1965, o Concílio Vaticano II, com a promulgação da Declaração Nostra aetate, abriu um novo horizonte de encontro, respeito e hospitalidade espiritual. Este Documento luminoso ensina-nos a encontrar os seguidores de outras religiões não como estranhos, mas como companheiros de viagem no caminho da verdade; a honrar as diferenças, afirmando a nossa humanidade comum; e a discernir, em qualquer busca religiosa sincera, um reflexo do único Mistério divino que abraça toda a criação.
Em particular, não devemos esquecer que a primeira orientação da Nostra aetate foi para o mundo judaico, com o qual São João XXIII tencionava restabelecer a relação original. Assim, pela primeira vez na história da Igreja, devia adquirir forma um tratado doutrinal sobre as raízes judaicas do cristianismo que, nos planos bíblico e teológico, representasse um ponto de não retorno. «O povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas» (NA, 4). Assim a Igreja, «lembrada do seu comum património com os judeus, e levada não por razões políticas, mas pela religiosa caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isto sucedeu e seja quem for a pessoa que isto promoveu contra os judeus» (ibid.). Desde então, todos os meus predecessores condenaram o antissemitismo com palavras claras. E assim também eu confirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e o combate, por causa do próprio Evangelho.
Hoje podemos olhar com gratidão para tudo o que foi realizado no diálogo judaico-católico nestas seis décadas. Isto não se deve apenas ao esforço humano, mas à assistência do nosso Deus que, segundo a convicção cristã, é em si mesmo diálogo. Não podemos negar que neste período houve também desentendimentos, dificuldades e conflitos que, no entanto, nunca impediram a continuação do diálogo. Também hoje não devemos permitir que as circunstâncias políticas e as injustiças de alguns nos desviem da amizade, sobretudo porque até agora conseguimos realizar muito.
O espírito da Nostra aetate continua a iluminar o caminho da Igreja. Ela reconhece que todas as religiões podem refletir «um raio da verdade que ilumina todos os homens» (n. 2) e procuram respostas para os grandes mistérios da existência humana, de tal modo que o diálogo deve ser não apenas intelectual, mas profundamente espiritual. A Declaração convida todos os católicos – bispos, clero, pessoas consagradas e fiéis leigos – a participar sinceramente no diálogo e na colaboração com os seguidores de outras religiões, reconhecendo e promovendo tudo o que é bom, verdadeiro e santo nas suas tradições (cf. ibid.). Hoje isto é necessário em praticamente todas as cidades do mundo onde, devido à mobilidade humana, as nossas diversidades espirituais e de pertença são chamadas a encontrar-se e a conviver fraternalmente. A Nostra aetate recorda-nos que o verdadeiro diálogo afunda as suas raízes no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação, ao mesmo tempo que rejeita com firmeza todas as formas de discriminação ou perseguição, afirmando a igual dignidade de todos os seres humanos (cf. NA, 5).
Portanto, caros irmãos e irmãs, sessenta anos após a Nostra aetate, podemos perguntar-nos: o que podemos fazer juntos? A resposta é simples: agir juntos. Mais do que nunca, o nosso mundo precisa da nossa unidade, amizade e colaboração. Cada uma das nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o nosso planeta Terra. As nossas respetivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o serviço à humanidade, em todos os momentos. Juntos, devemos vigiar contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, assim como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo. Devemos abordar também o desenvolvimento responsável da inteligência artificial porque, se for concebida como alternativa ao humano, ela pode violar gravemente a sua dignidade infinita e neutralizar as suas responsabilidades fundamentais. As nossas tradições têm uma imensa contribuição a oferecer para a humanização da técnica e, por conseguinte, para inspirar a sua regulamentação, em defesa dos direitos humanos fundamentais.
Como todos nós sabemos, as nossas religiões ensinam que a paz começa no coração do homem. Neste sentido, a religião pode desempenhar um papel essencial. Devemos restituir a esperança à nossa vida pessoal, às nossas famílias, bairros, escolas, aldeias, países e ao nosso mundo. Esta esperança fundamenta-se nas nossas crenças religiosas, na convicção de que um mundo novo é possível.
Há sessenta anos, a Nostra aetate trouxe esperança ao mundo depois da segunda guerra mundial. Hoje somos chamados a refundamentar esta esperança no nosso mundo devastado pela guerra e no nosso ambiente natural degradado. Colaboremos, pois se estivermos unidos tudo é possível. Façamos com que nada nos divida. E, neste espírito, desejo manifestar mais uma vez a minha gratidão pela vossa presença e amizade. Transmitamos este espírito de amizade e colaboração também à geração futura, porque é o verdadeiro pilar do diálogo.
E agora, detenhamo-nos um momento em oração silenciosa: a oração tem o poder de transformar as nossas atitudes, pensamentos, palavras e acções. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 26

 

Refrão: O Senhor é minha luz e minha salvação.

O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer?
O Senhor é o protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo?

Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio:
habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para gozar da suavidade do Senhor
e visitar o seu santuário.

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
A vossa face, Senhor, eu procuro:
não escondais de mim o vosso rosto.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor


SANTOS POPULARES


 

BEATO GOMIDAS KAUMURDJIAN (KEUMURGIAN)
 
Há trezentos anos, um católico com um espírito profundamente "ecuménico" foi martirizado, em Constantinopla: Gomidas Keumurgian, natural de Constantinopla, onde nasceu por volta de 1656, filho de um sacerdote arménio. Casou-se com apenas 20 anos e, após concluir os seus estudos, foi ordenado sacerdote (como era costume nas Igrejas orientais, de formação ortodoxa).
Na paróquia de São Jorge, que lhe foi confiada, desde logo simpatizaram com ele e começaram a amá-lo pelo inegável encanto espiritual que exercia: do púlpito, estava sempre disposto a ser ouvido; no dia-a-dia, era admirado pela sua gentileza, a sua sensibilidade para com os pobres e o seu altruísmo. O seu casamento foi sólido e fecundo, abençoado com sete filhos, nos quais o sacerdócio se enraizou de forma harmoniosa e coerente, e nos quais a paternidade biológica se estendeu a uma multidão, cada vez maior, de almas que buscavam nele orientação espiritual e consolo moral. A sua estada, na paróquia, foi marcante, especialmente em Constantinopla, onde um movimento crescente ganhava força para reunir as várias minorias ortodoxas da cidade à Igreja de Roma: um movimento que encontrou um dos principais expoentes neste sacerdote dinâmico e zeloso. O seu trabalho pastoral foi inteiramente direccionado a esse caminho, rumo à unidade da Igreja, que só não se concretizou porque foi, mais uma vez, impedido por questões políticas. De facto, a mediação excessivamente rápida e fervorosa do embaixador francês provocou uma dura reacção anticatólica, que degenerou em perseguição declarada. Aos 40 anos, Gomidas, juntamente com toda a sua família, converteu-se ao catolicismo e continuou a servir os fiéis, na mesma paróquia.
Em poucos anos, muitos sacerdotes arménios, residentes em Constantinopla, seguiram o seu exemplo, testemunho do prestígio que desfrutava e da influência que exercia entre seus colegas sacerdotes. A reacção armênia foi muito severa, especialmente contra ele e, principalmente, por parte dos dois patriarcas que se sucederam, no início do século XVIII. Gomidas alternava períodos de exílio com breves estadas na sua terra natal, onde continuamente apoiava e encorajava os católicos perseguidos, alimentando assim o ódio contra ele. No dia 3 de Novembro de 1707, foi preso novamente e julgado, desta vez sob a grave acusação de ter provocado grandes tumultos na comunidade arménia. Paradoxalmente, os juízes muçulmanos favoreceram a sua libertação, dada a fragilidade da acusação; mas a forte pressão dos arménios pesou na sua decisão. Nesse clima tenso, o seu destino estava selado, e o julgamento terminou com a sua condenação à morte, como uma sentença inevitável.
Gomidas teve tempo de se despedir da sua esposa e dos seus filhos antes de seguir para o local da execução. Lá, rejeitou veementemente uma última oferta: a sua vida em troca da sua conversão ao Islão. Diante da sua recusa, foi decapitado.
A sua natureza ecuménica foi enfatizada, durante seu funeral, celebrado por sacerdotes ortodoxos gregos, devido à perseguição contra os poucos sacerdotes católicos que ainda restavam. Como sempre, o rumor do sangue derramado "por ódio à fé" teve o efeito oposto ao desejado pelos perseguidores, e o sangue de Gomidas, em particular, resultou numa onda de conversões ao catolicismo, nos anos seguintes.
Foi beatificado pelo Papa Pio XI, no dia 23 de Junho de 1929.
O Beato Gomidas Keumurgian, é o mais representativo - embora não o único - do clero oriental casado a ser elevado à glória dos altares.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXX DOMINGO COMUM

 

“…Jesus disse a seguinte parábola
para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros:
«Dois homens subiram ao templo para orar;
um era fariseu e o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim:
‘Meu Deus, dou-Vos graças
por não ser como os outros homens,
que são ladrões, injustos e adúlteros,
nem como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana
e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.
O publicano ficou a distância
e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu;
Mas batia no peito e dizia:
‘Meu Deus, tende compaixão de mim,
que sou pecador’.
Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa
e o outro não.
Porque todo aquele que se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado»…”
(cf. Lucas 18, 9-14)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO



- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 22 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs, bom dia. E boas-vindas a todos!
A ressurreição de Jesus Cristo é um acontecimento que nunca se acaba de contemplar e meditar; e quanto mais o aprofundamos, tanto mais ficamos cheios de admiração, atraídos como que por uma luz insustentável e ao mesmo tempo fascinante. Foi uma explosão de vida e de alegria que mudou o sentido de toda a realidade, de negativo para positivo; e, no entanto, não ocorreu de modo retumbante, e muito menos violento; mas suave, oculto, dir-se-ia, humilde.
Hoje, reflectiremos sobre o modo como a ressurreição de Cristo pode curar uma das doenças do nosso tempo: a tristeza. Invasiva e difundida, a tristeza acompanha os dias de muitas pessoas. Trata-se de um sentimento de precariedade, às vezes, de profundo desespero, que invade o espaço interior e parece prevalecer sobre qualquer ímpeto de alegria.
A tristeza tira sentido e vigor à vida, que se torna como que uma viagem sem rumo nem significado. Esta experiência, tão actual, remete-nos para a famosa narração do Evangelho de Lucas (24, 13-29), sobre os dois discípulos de Emaús. Desiludidos e desanimados, eles partem de Jerusalém, deixando para trás as esperanças depositadas em Jesus, que foi crucificado e sepultado. Inicialmente, este episódio mostra como que um paradigma da tristeza humana: o fim do objectivo no qual foram investidas tantas energias; a destruição daquilo que parecia ser o essencial da própria vida. A esperança dissipou-se; a desolação tomou posse do coração. Tudo implodiu em brevíssimo tempo, entre sexta-feira e sábado, numa dramática sucessão de acontecimentos.
O paradoxo é verdadeiramente emblemático: esta triste viagem de derrota e de regresso à normalidade realiza-se no mesmo dia da vitória da luz, da Páscoa que se consumou plenamente. Os dois homens viram as costas para o Gólgota, para o terrível cenário da cruz, ainda gravado nos seus olhos e no seu coração. Tudo parece perdido. É preciso voltar à vida de antes, mantendo um perfil discreto, na esperança de não serem reconhecidos.
Num determinado momento, um viandante aproxima-se dos dois discípulos: talvez um dos numerosos peregrinos que estiveram em Jerusalém, para a Páscoa. É Jesus ressuscitado, mas eles não O reconhecem. A tristeza ofusca o seu olhar; apaga a promessa que o Mestre tinha feito várias vezes: que seria morto e que ao terceiro dia ressuscitaria. O desconhecido aproxima-se e mostra-se interessado nas coisas que eles dizem. O texto refere que os dois «pararam, entristecidos» (Lc 24, 17). O adjectivo grego utilizado descreve uma tristeza integral: no seu rosto transparece a paralisia da alma.
Jesus ouve-os, deixando-os desabafar a própria desilusão. Depois, com grande franqueza, repreende-os por serem «insensatos e lentos de espírito em crer em tudo quanto os profetas anunciaram!» (v. 25), e, através das Escrituras, demonstra que Cristo devia sofrer, morrer e ressuscitar. No coração dos dois discípulos reacende-se o calor da esperança, e então, quando a noite cai e chegam ao destino, convidam o misterioso companheiro a permanecer com eles.
Jesus aceita e senta-se à mesa com eles. Em seguida, toma o pão, parte-o e oferece-o. Naquele momento, os dois discípulos reconhecem-no... mas Ele desaparece imediatamente da sua presença (vv. 30-31). O gesto do pão partido reabre os olhos do coração; ilumina novamente a visão ofuscada pelo desespero. E, então, tudo se esclarece: o caminho compartilhado, a palavra terna e forte, a luz da verdade... Imediatamente, a alegria se reacende; a energia flui, de novo, nos membros cansados; a memória volta a tornar-se grata. E os dois regressam, apressadamente, a Jerusalém, para narrar tudo aos outros.
«Verdadeiramente o Senhor ressuscitou» (cf. v. 34). Neste advérbio, verdadeiramente, cumpre-se o desfecho certo da nossa história de seres humanos. Não por acaso, é a saudação que os cristãos trocam no dia da Páscoa. Jesus não ressuscitou com palavras, mas com acções, com o seu corpo que conserva os sinais da paixão, selo perene do seu amor por nós. A vitória da vida não é uma palavra vã, mas um dado real, concreto.
A alegria inesperada dos discípulos de Emaús seja para nós uma doce admoestação, quando o caminho se torna duro. É o Ressuscitado que muda radicalmente a perspectiva, infundindo a esperança que preenche o vazio da tristeza. Nas sendas do coração, o Ressuscitado caminha ao nosso lado e por nós. Testemunha a derrota da morte; afirma a vitória da vida, não obstante as trevas do Calvário. A história ainda tem muito a esperar de bom!
Reconhecer a Ressurreição significa mudar o olhar sobre o mundo: voltar à luz para reconhecer a Verdade que nos salvou e nos salva.
Irmãs e irmãos: permaneçamos vigilantes, todos os dias, no enlevo da Páscoa de Jesus ressuscitado. Só Ele torna possível o impossível! (cf. Santa Sé) 

PARA REZAR


 

- SALMO 33

 

Refrão: O pobre clamou; o Senhor o ouviu.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. 

A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias.

O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam.


SANTOS POPULARES



SANTO AFONSO RODRIGUES

Afonso Rodrigues nasceu na cidade de Segóvia, Espanha, no dia 25 de Julho de 1532. A sua família era profundamente cristã. O seu pai era comerciante de tecidos e a sua mãe, dona de casa, mãe de onze filhos. Afonso teve uma infância feliz; a sua família era unida e cheia de fé.
A vida de Afonso teve grandes contrariedades. Uma, profundamente marcante, foi a morte do seu pai. Aconteceu quando ele tinha apenas dezasseis anos. O pai faleceu de repente. Por causa disso, a sua mãe viu-se em dificuldades para sustentar os seus filhos. Afonso, a frequentar o Colégio dos Jesuítas, para ajudar a manter a casa, decidiu parar de estudar e começou a vender tecidos, aproveitando a carteira de clientes do seu falecido pai.
Sete anos depois, em 1555, quando a situação já se tinha normalizado, a sua mãe aconselhou-o a se casar. Afonso acolheu o conselho e casou-se. O casal teve dois filhos. Porém, mais uma vez, acontecimentos inesperados vieram bater à sua porta. A sua esposa ficou doente e veio a falecer. Depois, os seus dois filhos, adoeceram e morreram. Profundamente abatido por tamanhas perdas, Afonso perdeu o controlo dos negócios, perdeu o pouco que possuía e ficou sem crédito.
Sem rumo, Afonso tentou voltar a estudar, mas não conseguiu sair-se bem nas provas. Por isso, não foi aprovado para frequentar a Faculdade de Valência. Com mais esta perda na vida, Afonso mergulhou numa profunda depressão. Por isso, retirou-se na sua própria casa: fechou-se, rezou muito, meditou e jejuou. O tempo foi passando e um novo caminho começou a clarear no seu coração. Decidiu dedicar toda a sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos.
Animado por esta firme decisão, Afonso pediu para entrar na Companhia de Jesus, como irmão leigo: era o ano 1571. Afonso foi aceite e começou o noviciado que transformaria toda a sua vida. Como noviço, foi designado para viver e trabalhar no colégio dos jesuítas, em Palma, na ilha de Maiorca. Este colégio dedicava-se à formação dos padres. Ali, Afonso encontrou a sua realização total de vida. Viveu lá, durante quarenta e seis anos, até à sua morte.
No colégio, Afonso Rodrigues exerceu, unicamente, a função humilde e simples de porteiro. Porém, se a sua função não lhe trazia quase nenhum destaque, espiritualmente ele era dos mais elevados, entre todos os confrades. Na sua vida terrena, recebeu vários dons extraordinários. Teve, também, várias manifestações místicas: visões, profecias, milagres e o dom da cura.
Afonso Rodrigues, mesmo sendo porteiro, foi procurado para ser orientador espiritual de vários religiosos e leigos. Estes, procuravam-no por causa da sua sabedoria e do seu dom de conselho. Entre estes, dois se destacavam: o Padre Pedro Claver - mais tarde, canonizado - foi missionário na Colômbia e ficou conhecido como o grande evangelizador dos povos negros escravizados; e o Padre Jerónimo Moranto - também canonizado - missionário jesuíta, martirizado no México. Os dois seguiram sempre as preciosas orientações do porteiro, Afonso Rodrigues.
Após ter vivido uma vida simples, quarenta e seis anos totalmente dedicados ao serviço de Deus, da oração, da portaria do colégio e ao serviço aos irmãos por amor de Cristo, Afonso Rodrigues adoeceu. Sofreu dores muito fortes, durante mais de dois anos.
Faleceu no dia 31 de Outubro de 1617, no mesmo colégio onde dedicou a sua vida a Deus.
Afonso Rodrigues foi canonizado em 1888, pelo Papa Leão XIII, juntamente com Pedro Claver, seu fiel discípulo, que se tornara conhecido como o Apóstolo dos Escravos.
Santo Afonso Rodrigues deixou um legado valioso, além da sua vida santa: deixou uma pequena obra escrita com “apenas” três volumes, de grande valor teológico. Nela, relatou, detalhadamente, a riqueza da sua espiritualidade.
A memória litúrgica de Santo Afonso Rodrigues é celebrada no dia 31 de Outubro.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

EM DESTAQUE:

 


DIA MUNDIAL DAS MISSÕES: 19 DE OUTUBRO

*MENSAGEM DO PAPA LEÃO XIV

Queridos irmãos e irmãs,
Todos os anos, no Dia Mundial das Missões, a Igreja une-se em oração pelos missionários e pela fecundidade do seu trabalho apostólico.
Quando eu era padre e depois bispo missionário, no Peru, vi, com os meus próprios olhos, como a fé, a oração e a generosidade, demonstradas neste Dia, podem mudar comunidades inteiras.
Convido todas as paróquias católicas do mundo a participarem do Dia Mundial das Missões. As suas orações e a sua partilha generosa ajudarão a espalhar o Evangelho; a apoiar programas pastorais e catequéticos; a construir novas igrejas e a atender às necessidades de saúde e de educação dos nossos irmãos e irmãs, nos territórios de missão.
No dia 19 de Outubro, ao reflectirmos juntos sobre a nossa vocação baptismal de sermos “missionários da esperança entre os povos”, renovamos o nosso doce e alegre compromisso de levar Jesus Cristo, nossa Esperança, até os confins da Terra.
Obrigado! Obrigado por tudo o que fazeis para me ajudar a servir os missionários, ao redor do mundo. Deus vos abençoe.
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XXIX DOMINGO COMUM

 

“…Permanece firme no que aprendeste
e aceitaste como certo,
sabendo de quem o aprendeste.
Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras;
elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação,
pela fé em Cristo Jesus.
Toda a Escritura, inspirada por Deus,
é útil para ensinar, persuadir, corrigir
e formar segundo a justiça.
Assim o homem de Deus será perfeito,
bem preparado para todas as boas obras.
Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo,
que há de julgar os vivos e os mortos,
pela sua manifestação e pelo seu reino:
Proclama a palavra,
insiste a propósito e fora de propósito,
argumenta, ameaça e exorta,
com toda a paciência e doutrina…”
(cf. II Timóteo 3, 14 – 4, 2)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 15 de Outubro de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Nas catequeses do Ano jubilar, até este momento, percorremos a vida de Jesus, seguindo os Evangelhos, desde o Seu nascimento até à morte e ressurreição. Assim, a nossa peregrinação na esperança encontrou o seu fundamento sólido, o seu caminho seguro. Agora, na última parte do caminho, deixaremos que o mistério de Cristo, culminante na Ressurreição, liberte a sua luz de salvação, em contacto com a realidade humana e histórica actual, com as suas interrogações e desafios.
A nossa vida é cadenciada por inúmeros acontecimentos, cheios de diferenciadas e ligeiras variações e experiências. Às vezes, sentimo-nos alegres, outras tristes, realizados, tensos, gratificados ou desmotivados. Vivemos atarefados; concentramo-nos para obter resultados; até chegamos a atingir metas elevadas, prestigiadas. Por outro lado, sentimo-nos suspensos, precários, à espera de sucessos e reconhecimentos que demoram a chegar, ou que nunca chegam. Em síntese, experimentamos uma situação paradoxal: gostaríamos de ser felizes; no entanto, é muito difícil sê-lo de modo contínuo e sem sombras. Fazemos as contas com o nosso limite e, ao mesmo tempo, com o ímpeto irreprimível de o procurar ultrapassar. No íntimo, sentimos que nos falta sempre algo.
Na verdade, não fomos criados para a falta, mas para a plenitude; para rejubilar com a vida, com a vida em abundância, segundo a expressão de Jesus, no Evangelho de João (cf. 10, 10).
Este anseio abismal do nosso coração pode encontrar a sua resposta última não nos papéis, nem no poder; não no ter, mas na certeza de que existe alguém que se faz garante deste impulso constitutivo da nossa humanidade; na consciência de que esta espera não será desiludida nem frustrada. Esta certeza coincide com a esperança. Não significa pensar de modo optimista: muitas vezes, o optimismo desilude-nos; vê implodir as nossas expectativas, enquanto a esperança promete e cumpre.
Irmãs e irmãos: Jesus Ressuscitado é a garantia desta meta! Ele é a fonte que sacia a nossa aridez; a sede infinita de plenitude que o Espírito Santo entranha no nosso coração. Com efeito, a Ressurreição de Cristo não é um simples acontecimento da história humana, mas o evento que a transformou, a partir de dentro.
Pensemos numa fonte de água!... Quais são as suas características? Sacia e refresca as criaturas; irriga a terra e as plantas; torna fértil e vivo o que, de outra forma, permaneceria árido. Refresca o viandante cansado, oferecendo-lhe a alegria de um oásis de vigor. Uma nascente aparece como uma dádiva gratuita para a natureza, para as criaturas, para os seres humanos. Sem água não se pode viver!
O Ressuscitado é a fonte viva que não torna árido nem sofre alterações. Permanece sempre pura e pronta para quem quer que tenha sede. E quanto mais saboreamos o mistério de Deus, tanto mais nos sentimos atraídos por Ele, sem nunca nos saciarmos completamente. No décimo livro das Confissões, Santo Agostinho apreende precisamente este anseio inesgotável do nosso coração, exprimindo-o no célebre Hino à beleza: «Infundiste a tua fragrância; e respirei e anseio por ti; saboreei, e tenho fome e sede; tocaste-me, e ardi de desejo da tua paz» (X, 27, 38).
Com a sua Ressurreição, Jesus garantiu-nos uma fonte permanente de vida: Ele é o Vivente (cf. Ap 1, 18); o amante da vida; o vitorioso sobre toda a morte. Por isso, é capaz de nos oferecer descanso, ao longo do caminho terreno; e de nos assegurar a perfeita quietude, na eternidade. Só Jesus morto e ressuscitado responde às perguntas mais profundas do nosso coração: existe realmente um ponto de chegada para nós? A nossa existência tem sentido? E como pode ser resgatado o sofrimento de tantos inocentes?
Jesus ressuscitado não faz descer uma resposta “do alto”, mas torna-se nosso companheiro nesta viagem, muitas vezes, cansativa, dolorosa, misteriosa. Só Ele pode encher o nosso cantil vazio, quando a sede se torna insuportável.
E Ele é, também, o ponto de chegada do nosso caminho. Sem o seu amor, a viagem da vida tornar-se-ia um vaguear sem, rumo, sem meta; um erro trágico com um destino fracassado. Somos criaturas frágeis! O erro faz parte da nossa humanidade; é a ferida do pecado que nos faz cair, renunciar, desesperar. Ressuscitar, pelo contrário, significa levantar-se e pôr-se de pé. O Ressuscitado garante a meta; conduz-nos para casa, onde somos esperados, amados, salvos. Percorrer o caminho, com Ele ao nosso lado, significa experimentar que somos sustentados não obstante tudo; saciados e revigorados nas provações e nas fadigas que, como pedras pesadas, ameaçam bloquear ou desviar a nossa história.
Caríssimos: da Ressurreição de Cristo brota a esperança que nos faz saborear, apesar do cansaço da vida, uma profunda e alegre quietude: aquela paz que só Ele nos poderá conceder no fim, sem fim. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR


 

- SALMO 120

Refrão: O nosso auxílio vem do Senhor,

              que fez o céu e a terra.

 

Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.

Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há de dormir nem adormecer
aquele que guarda Israel.

O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a luz durante a noite.

O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre.


SANTOS POPULARES

 


SANTA LAURA DE SANTA CATARINA DE SENA
 
Maria Laura de Jesús Montoya y Upegui nasceu em Jericó, Antioquia,  uma pequena aldeia colombiana, no dia 26 de Maio de 1874. Era filha de Dolores Upegui de João da Cruz Montoya. Como a sua mãe se recusou a vê-la antes do baptismo, foi baptizada quatro horas após o nascimento, à pressa. Tão à pressa que o seu pai nem teve tempo de combinar com a esposa o nome dela. O pároco escolheu o seu nome: Maria Laura de Jesus. Quando o pai, espantado, lhe disse que não sabia se existia uma "Santa Laura", o pároco respondeu, apressadamente, que, se não existisse, a menina teria mais um motivo para se tornar santa
Entretanto, a pequena Laura teve que lidar com a experiência do sofrimento: ainda não tinha três anos quando o seu pai foi assassinado, naqueles anos particularmente sangrentos da história colombiana. Felizmente, ela tinha uma mãe cristã exemplar ao seu lado, que a ensinou a perdoar e a fazia rezar, todos os dias, um "Pai-Nosso", pelo assassino do seu pai. A pequena órfã sentia uma grande fome de afecto: os seus avós acolheram-na, juntamente com a sua mãe e as suas irmãs mais novas, mais por piedade do que por amor.
Laura não frequentou a escola porque, no entender dos avós, a sua casa ficava muito longe da escola. A sua mãe ensinou-a a ler, escrever e, acima de tudo, a amar a Deus.
Já mais crescidinha, foi enviada para um internato e, aos dezasseis anos, Laura decidiu tornar-se professora.
Como estudante trabalhadora, para poder pagar os seus estudos, Laura cuidava dos oitenta pacientes do asilo psiquiátrico, roubando horas de sono para estudar em livros emprestados da biblioteca de formação de professores. A sua inteligência prodigiosa não só lhe permitiu passar, com louvor, nas provas de acesso à Universidade, como também obteve uma bolsa de estudos, concedida pelo Estado, graças à qual se formou como professora, aos 19 anos.
Acompanhada pela sua mãe, Laura leccionou, durante alguns anos, em várias escolas. Jovem professor, procurava transmitir não apenas conhecimentos básicos, mas também incutir valores cristãos.
Laura, que sempre se sentira atraída pela vida consagrada e, repetidamente, pensava tornar-se carmelita, foi desaconselhada pelos seus próprios directores espirituais: ela era inquieta demais para um convento de clausura; extrovertida e dinâmica demais para a vida contemplativa.
Descobriu a sua vocação, por puro acaso, ao saber da situação discriminatória e miserável enfrentada pelos indígenas colombianos. Pensar nos indígenas e decidir fazer algo pela sua promoção humana e evangelização era parte fundamental da sua vida. Porém, não conseguiu encontrar uma congregação que estivesse disposta a acolhê-la e aos seus projectos.
Apesar dos contratempos, um Bispo abraçou a sua ideia e, do nada, surgiram as "catequistas missionárias dos indígenas", que deixaram Medellín, em 1914, para se juntar aos indígenas, na selva. Laura, com a sua mãe - agora com mais de setenta anos - e algumas amigas partiram naquela primeira expedição. Combinaram heroísmo com um toque de loucura e, mais tarde, ficaram conhecidas como "Lauritas", em homenagem à sua fundadora: Madre Laura de Santa Catarina de Sena (seu nome de freira).Depois de revolucionar o conceito de missão com novas ferramentas pedagógicas e novos métodos de evangelização, a Madre Laura passou os seus últimos nove anos numa cadeira de rodas, mas com um espírito verdadeiramente missionário, de alma e coração unidos ao carisma da sua Congregação.
A Madre Laura de Santa Catarina de Sena morreu no dia 21 de Outubro de 1949, quando as suas freiras eram já cerca de 500 e as noviças cerca de 100. Serviam 22 povos indígenas.
Ao longo dos anos, estes números mais que duplicaram, e a Congregação está presente em 19 países.
Madre Laura - Maria Laura de Jesús Montoya y Upegui - foi beatificada no 25 de Abril de 2004, pelo Papa João Paulo II que disse a propósito: “…"Ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam quem era Ele" (Jo 21, 4). É possível que o homem não conheça o Senhor, apesar das numerosas manifestações ao longo da história. A Madre Laura Montoya, ao ver como viviam tantos indígenas, longe dos centros urbanos, desconhecendo Deus, dedicou-se a fundar a Congregação das Missionárias de Maria Imaculada e de Santa Catarina de Sena, para levar a luz do Evangelho aos habitantes das florestas.
Esta Beata colombiana sentiu-se mãe espiritual dos indígenas, aos quais quis mostrar o amor de Deus. Os seus tempos não foram fáceis, porque as tensões sociais ensanguentavam também naquela época a sua nobre pátria. Inspirando-nos na sua mensagem pacificadora, pedimos-lhe, hoje, que a amada Colômbia goze depressa da paz, da justiça e do progresso integral…” e canonizada no dia 12 de Maio de 2013, pelo Papa Francisco. Na homilia da celebração, disse o Papa: “…Santa Laura Montoya foi um instrumento de evangelização, primeiro como professora e depois como mãe espiritual dos indígenas, nos quais infundiu a esperança, acolhendo-os com este amor aprendido de Deus, e levando-os até Ele com uma pedagogia eficaz que respeitava a sua cultura e não se opunha a ela. Na sua obra de evangelização, Madre Laura fez-se verdadeiramente toda por todos, segundo a expressão de São Paulo (cf. 1 Cor 9, 22). Também, hoje, as suas filhas espirituais levam o Evangelho aos lugares mais recônditos e necessitados, como uma espécie de vanguarda da Igreja.
Esta primeira santa, nascida na linda terra colombiana, ensina-nos a ser generosos com Deus, a não viver a fé solitariamente — como se fosse possível viver a fé de modo isolado — mas a comunicá-la, a irradiar a alegria do Evangelho com a palavra e o testemunho de vida, onde quer que nos encontremos. Seja qual for o lugar onde vivemos, devemos irradiar esta vida do Evangelho. Ensina-nos a ver o rosto de Jesus reflectido no outro, a vencer a indiferença e o individualismo, que corrói as comunidades cristãs e o nosso próprio coração, e ensina-nos também a acolher todos sem preconceitos, sem discriminação nem reticências, com um amor autêntico, oferecendo-lhes o melhor de nós mesmos e, sobretudo, compartilhando com eles o que possuímos de mais precioso, que não são as nossas obras nem as nossas organizações, não! O que temos de mais valioso é Cristo e o seu Evangelho.
Laura Montoya foi a primeira mulher colombiana a ser declarada santa, cumprindo assim, em certo sentido, a profecia do seu apressado, mas esclarecido pároco.
A memória litúrgica de Santa Laura de Santa Catarina de Sena é celebrada no dia 21 de Outubro.