PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… Creio em um só Deus …” (cf. Símbolo Niceno-Constantinopolitano) Nesta festa celebramos Deus: o mistério de um único Deus. E este Deus é o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Três Pessoas, mas Deus é um só! O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito é Deus. Mas não são três deuses: é um Deus em três Pessoas. Trata-se de um mistério que nos foi revelado por Jesus Cristo: a Santíssima Trindade. Hoje paramos para celebrar este mistério, pois as Pessoas não são adjetivação de Deus, não. São Pessoas reais, diversas, diferentes; não são - como disse aquele filósofo - “emanações de Deus”, não, não! São pessoas. Há o Pai, a quem rezo com o Pai-Nosso; há o Filho, que me concedeu a redenção, a justificação; há o Espírito Santo, que habita em nós e na Igreja. E isto fala ao nosso coração, porque o encontramos encerrado naquela expressão de São João, que resume toda a Revelação: «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16). O Pai é amor, o Filho é amor, o Espírito Santo é amor. E na medida em que é amor, Deus, não obstante seja um e único, não é solidão, mas comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Pois o amor é essencialmente dom de si, e na sua realidade original e infinita é Pai que se entrega, gerando o Filho que, por sua vez, se entrega ao Pai, e o seu amor recíproco é o Espírito Santo, vínculo da sua unidade. Não é fácil compreender, mas pode-se viver este mistério, todos nós podemos, pode-se vivê-lo em grande medida! Este mistério da Trindade foi-nos revelado pelo próprio Jesus. Ele fez-nos conhecer o rosto de Deus como Pai misericordioso; apresentou-se a Si mesmo, verdadeiro homem, como Filho de Deus e Verbo do Pai, Salvador que dá a sua vida por nós; e falou do Espírito Santo que procede do Pai e do Filho, Espírito da Verdade, Espírito Paráclito - no domingo passado falamos sobre esta palavra “Paráclito” - ou seja, Consolador e Advogado. E quando Jesus apareceu aos Apóstolos, depois da ressurreição, Jesus enviou-os para evangelizar «todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19). Portanto, a festa de hoje faz-nos contemplar este maravilhoso mistério de amor e de luz, do qual derivamos e para o qual se orienta o nosso caminho terrestre. No anúncio do Evangelho e em todas as formas da missão cristã, não se pode prescindir desta unidade à qual Jesus chama, entre nós, seguindo a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo: não se pode prescindir desta unidade. A beleza do Evangelho deve ser vivida – a unidade - e testemunhada na concórdia entre nós, que somos tão diferentes! E ouso dizer que esta unidade é essencial para o cristão: não se trata de uma atitude, de um modo de dizer, não, é essencial, pois é a unidade que nasce do amor, da misericórdia de Deus, da justificação de Jesus Cristo e da presença do Espírito Santo no nosso coração. Na sua simplicidade e humildade, Maria Santíssima reflete a Beleza de Deus, Uno e Trino, pois aceitou plenamente Jesus na sua vida. Que Ela sustente a nossa fé e nos torne adoradores de Deus e servidores dos irmãos. (Papa Francisco, Oração do Angelus, Praça de São Pedro, no dia 30 de Maio de 2021)

domingo, 15 de junho de 2025

EM DESTAQUE:


SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE~

Domingo passado, com a Solenidade de Pentecostes, terminou o tempo Pascal e, a partir de segunda-feira, voltou o tempo Comum: tempo da Igreja; tempo em que somos chamados a viver o Evangelho, na normalidade da vida quotidiana, dando testemunho da alegria de sermos discípulos de Jesus crucificado e ressuscitado. Se pararmos um pouco e olharmos para trás, podemos compreender o único desígnio de Deus: do Céu, Deus Pai viu como os homens - depois do pecado de Adão e Eva (Gen 3) - se desviaram, sem conseguir encontrar o caminho de volta para o Céu; Deus enviou os profetas para ajudá-los a reencontrar o caminho, mas eles, não só não os ouviram, mas mataram-nos (Cf. Mt 23,34). Por fim, movido de compaixão, enviou-lhes o seu único Filho: "Deus fez-se carne e habitou entre nós" (Natal, Jo 1,14). Assim, Jesus, Filho de Deus, compartilhou a nossa condição humana - em tudo igual a nós, excepto no pecado - recordando-nos que fomos criados por Deus, somos seus filhos e Deus é Pai. Com as suas palavras ea sua vida, Jesus indicou-nos, na Verdade, o caminho para voltar ao Pai, à Vida Eterna. Desta forma, Jesus revelou-nos o rosto do Pai: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9), recordando-nos que o caminho para o Céu é possível para todos. Por isso, não devemos temer; não devemos ter vergonha... pois, Deus Pai é Amor, Fidelidade, Misericórdia. Obediente ao Pai, Jesus morreu na cruz para nos salvar. Ao terceiro dia, ressuscitou! Assim, ao vencer o pecado e a morte, abriu-nos o caminho para voltar ao seu e nosso Pai (Páscoa): um caminho que podemos percorrer com confiança, porque Jesus subiu ao Céu e deu-nos o Espírito Santo (Pentecostes). Este foi o seu primeiro dom aos fiéis: um Amor, que se tornou pessoa, derramado sobre nós, para que pudéssemos viver como filhos de Deus. Deste modo, entendemos porque, hoje, a liturgia nos faz viver a solenidade da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, uma espécie de síntese e, sobretudo, meta do caminho até agora percorrido.
Este Deus, que se apresenta como Uno e Trino, não está distante, como parece, mas tão perto de nós, como Pão partido, Corpus Christi, que celebraremos na próxima quinta-feira. Pão dos Anjos e caminho para o Céu. Trata-se de um dom que custodia e revela o Sagrado Coração de Jesus, solenidade que celebraremos depois de Corpus Christi.
Estas três celebrações litúrgicas representam o mistério da nossa fé, revelado nestes meses: do Natal à morte e ressurreição de Jesus, à Ascensão ao Céu e Pentecostes.
A heresia ariana - que colocava em dúvida a divindade de Jesus e o vínculo da Santíssima Trindade, condenada pelos Concílios de Nicéia (Credo Niceno de 325) e de Constantinopla (Credo Niceno-Constantinopolitano de 381), - favoreceu uma grande devoção à Trindade, tanto nas pregações como nas práticas de piedade. Depois, por volta do século VIII, apareceram, nos prefácios litúrgicos, referências à doutrina sobre a Santíssima Trindade. Por volta do ano Oitocentos, começou a celebrar-se, num domingo, uma Missa votiva em sua homenagem, uma decisão adversa, porque todo domingo compreende a memória da Trindade. Enfim, em 1334, o Papa João XXII introduziu a festa em toda a Igreja. (cf. vaticannews)

DA PALAVRA DO SENHOR



DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE       

“…Tendo sido justificados pela fé,
estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo,
pelo qual temos acesso, na fé,
a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos,
apoiados na esperança da glória de Deus.
Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações,
porque sabemos que a tribulação produz a constância,
a constância a virtude sólida,
a virtude sólida a esperança.
Ora, a esperança não engana,
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado…” (cf. Romanos 5, 1-5) 

PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, na Praça de São Pedro,  Roma, no dia 11 de Junho de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Com esta catequese, gostaria de orientar o nosso olhar para outro aspecto essencial da vida de Jesus: ou seja, as suas curas. Por isso, convido-vos a colocar diante do Coração de Cristo as vossas partes mais dolorosas ou frágeis, aqueles lugares da vossa vida onde vos sentis parados e bloqueados. Peçamos ao Senhor, com confiança, que ouça o nosso grito e nos cure!
O personagem que nos acompanha nesta reflexão ajuda-nos a compreender que nunca devemos abandonar a esperança, mesmo quando nos sentimos perdidos. Trata-se de Bartimeu, cego e mendigo, que Jesus encontrou em Jericó (cf. Mc 10, 40-52). O lugar é significativo: Jesus está a caminho de Jerusalém, mas inicia a sua viagem, por assim dizer, a partir do “submundo” de Jericó, uma cidade abaixo do nível do mar. Com efeito, com a sua morte, Jesus foi recuperar aquele Adão que caiu em baixo e que representa cada um de nós.
Bartimeu significa “filho de Timeu”: descreve aquele homem através de uma relação, mas está dramaticamente só. No entanto, este nome poderia significar também “filho da honra”, ou “da admiração”, exactamente o oposto da situação em que se encontra (é a interpretação dada, também, por Agostinho, em ‘O consenso dos evangelistas, 2, 65, 125: PL 34, 1138). E dado que o nome é tão importante na cultura judaica, significa que Bartimeu não consegue viver o que é chamado a ser.
Além disso, contrariamente ao grande movimento de pessoas que caminham atrás de Jesus, Bartimeu está parado. O evangelista diz que está sentado ao longo da estrada e, portanto, que precisa de alguém que o ponha de pé e o ajude a retomar o caminho.
O que podemos fazer quando nos encontramos numa situação que parece sem saída? Bartimeu ensina-nos a apelar aos recursos que temos em nós e que fazem parte de nós. Ele é um mendigo, sabe pedir, aliás, consegue gritar! Se desejas realmente algo, fazes tudo para o poder alcançar, até quando os outros te censuram, te humilham e te dizem para desistir. Se o desejas realmente, continua a gritar!
O grito de Bartimeu, descrito no Evangelho de Marcos - «Filho de David, Jesus, tende piedade de mim!» (v. 47) - tornou-se uma oração bem conhecida, na tradição oriental, que também nós podemos utilizar: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador!».
Bartimeu é cego, mas, paradoxalmente, vê melhor do que os outros e reconhece quem é Jesus! Perante o seu grito, Jesus detém-se e chama-o (cf. v. 49), pois não há grito que Deus não ouça, até quando não estamos conscientes de nos dirigirmos a Ele (cf. Ex 2, 23). Parece estranho que, diante de um cego, Jesus não vá imediatamente ter com ele; contudo, se pensarmos bem, é o modo de reactivar a vida de Bartimeu: impele-o a levantar-se, confia na sua possibilidade de caminhar. Aquele homem pode voltar a pôr-se de pé; pode ressurgir das suas situações de morte. Mas, para o fazer, deve realizar um gesto muito significativo: deve abandonar o seu manto (cf. v. 50)!
Para um mendigo, o manto é tudo: é a segurança, é a casa, é a defesa que o protege. Até a lei tutelava o manto do mendigo e impunha que fosse devolvido à noite, se tivesse sido penhorado (cf. Ex 22, 25). No entanto, muitas vezes, o que nos bloqueia são precisamente as nossas aparentes seguranças; aquilo que vestimos para nos defendermos e que, pelo contrário, nos impede de caminhar. Para ir ao encontro de Jesus e para se deixar curar, Bartimeu deve expor-se a Ele em toda a sua vulnerabilidade. Esta é a passagem fundamental para qualquer caminho de cura.
Até a pergunta que Jesus lhe dirige parece estranha: «Que queres que eu te faça?» (v. 51). Mas, na realidade, não é óbvio que queiramos ser curados das nossas doenças, às vezes preferimos ficar parados para não assumir responsabilidades. A resposta de Bartimeu é profunda: utiliza o verbo anablepein, que pode significar “ver de novo”, mas que poderíamos traduzir também como “elevar o olhar”. Com efeito, Bartimeu não só quer voltar a ver, mas também quer recuperar a sua dignidade! Para elevar o olhar, é preciso levantar a cabeça. Às vezes, as pessoas estão bloqueadas porque a vida as humilhou e só desejam reencontrar o seu valor.
O que salva Bartimeu, e cada um de nós, é a fé. Jesus cura-nos para podermos ser livres. Ele não convida Bartimeu a segui-lo, mas diz-lhe que ande, que se ponha novamente a caminho (cf. v. 52). Mas, Marcos conclui a narração, referindo que Bartimeu começou a seguir Jesus: escolheu, livremente, seguir aquele que é o Caminho!
Caros irmãos e irmãs: levemos com confiança a Jesus as nossas enfermidades e, também, as dos nossos entes queridos; levemos a dor de quantos se sentem perdidos e sem saída. Clamemos, também, por eles, certos de que o Senhor nos ouvirá e se deterá.  (cf. Santa Sé)

PARA REZAR



- SALMO 8

 

Refrão: Como sois grande em toda a terra, Senhor, nosso Deus!

 

Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos,
a lua e as estrelas que lá colocastes,
que é o homem para que Vos lembreis dele,
o filho do homem para dele Vos ocupardes? Refrão

Fizestes dele quase um ser divino,
de honra e glória o coroastes;
destes-lhe poder sobre a obra das vossas mãos,
tudo submetestes a seus pés: Refrão

Ovelhas e bois, todos os rebanhos,
e até os animais selvagens,
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que se move nos oceanos. Refrão

  

SANTOS POPULARES

 


BEATO FRANCISCO PACHECO E COMPANHEIROS
 
Os jesuítas, sob a liderança de São Francisco Xavier (1506-1552), foram os primeiros a iniciar a evangelização do Japão, que se desenvolveu com resultados notáveis ​​nas décadas seguintes a 1549, a ponto de, em 1587, haver aproximadamente 300.000 católicos japoneses, com o seu principal centro em Nagasaki.
Mas, em 1587, o xogum (marechal da coroa) Hideyoshi, chamado de Taicosama pelos cristãos, que até então demonstrava condescendência para com os católicos, emitiu um decreto de expulsão contra os jesuítas (então a única ordem religiosa presente no Japão) por razões não esclarecidas.
O decreto foi parcialmente cumprido, mas a maioria dos jesuítas permaneceu no país, implementando uma estratégia de prudência, em silêncio e sem interferência externa, continuando, cautelosamente, o trabalho de evangelização.
Tudo isso até 1593, quando alguns frades franciscanos desembarcaram no Japão, vindos das Filipinas e, diferentemente dos jesuítas, começaram a pregar, publicamente, sem cautela. Somaram-se, a isso, complicações políticas entre a Espanha e o Japão, que provocaram a reacção do xogum Hideyoshi, que emitiu a ordem de aprisionar os franciscanos e alguns neófitos japoneses.
As primeiras prisões ocorreram em 9 de Dezembro de 1596, e os 26 presos, incluindo três jesuítas japoneses, foram martirizados em 5 de Fevereiro de 1597. Os primeiros mártires do Japão foram crucificados e trespassados, ​​na região de Nagasaki, que, mais tarde, tomou o nome de "monte sagrado" e foi proclamado santo pelo Papa Pio IX, em 1862.
Após um período de trégua, e apesar da perseguição sofrida, a comunidade católica aumentou, também devido à chegada de outros missionários, não apenas jesuítas e franciscanos, mas também dominicanos e agostinianos.
Mas, em 1614, a grande comunidade católica sofreu uma furiosa perseguição decretada pelo xogum Ieyasu (Taifusama), que se prolongou por várias décadas, destruindo, quase completamente, a comunidade no Japão, causando muitos mártires, mas também muitas apostasias entre os fiéis japoneses aterrorizados.
As razões que levaram a essa longa e sangrenta perseguição foram várias, começando pela inveja dos bonzos budistas que ameaçavam a vingança dos seus deuses; depois, o medo de Ieyasu e dos seus sucessores, Hidetada e Iemitsu, pela crescente influência da Espanha e de Portugal, terras da maioria dos missionários, que eram considerados seus espiões, pelas intrigas dos violentos calvinistas holandeses; e, finalmente, pela imprudência de muitos missionários espanhóis.
De 1617 a 1632, a perseguição atingiu o seu pico mais alto de vítimas; as torturas, de acordo com o estilo oriental, eram variadas e refinadas, não poupando nem mesmo as crianças; os mártires pertenciam a todas as condições sociais, de missionários e catequistas, a nobres de famílias reais; de senhoras ricas a jovens virgens; de idosos a crianças; de pais de família a padres japoneses.
A maioria foi amarrada a um poste e queimada lentamente, de modo que a "colina sagrada" de Nagasaki ficou, sinistramente, iluminada pela fileira de tochas humanas, durante noites e noites; outros foram decapitados ou cortados membro por membro.
Não listaremos, aqui, as outras dezenas de tormentos mortais aos quais foram submetidos, para não criar uma galeria de horrores, mesmo que, infelizmente, eles testemunhem como a maldade humana, quando desenfreada na invenção de formas cruéis para infligir aos seus semelhantes, supera qualquer comparação com a ferocidade dos animais, que pelo menos agem por instinto e para obter alimento.
Além dos primeiros 26 santos mártires, de 1597, já mencionados, a Igreja, por meio da recolha de testemunhos, pôde reconhecer a validade do martírio de, pelo menos, 205 vítimas, entre os milhares que perderam as suas vidas, anonimamente, e o Papa Pio IX pôde proclamá-los beatos, em 7 de Julho de 1867.
Dos 205 beatos, 33 eram da Ordem da Companhia de Jesus (Jesuítas); 23 Agostinianos e Terciários Agostinianos Japoneses; 45 Dominicanos e Terciários da Ordem do Rosário; 28 Franciscanos e Terciários; todos os outros eram fiéis japoneses ou famílias inteiras, muitos dos quais eram Irmãos do Rosário.
Não há uma celebração única para todos, mas as Ordens religiosas, em grupos ou individualmente, definiram o seu próprio dia de celebração.
 
O grupo de 33 jesuítas inclui o padre português Francisco Pacheco, que nasceu em Ponte de Lima, diocese de Viana do Castelo, em 1556, de pais nobres. Era filho de Garcia Lopes Pacheco e Maria Borges de Mesquita. Desde a adolescência foi atraído pelos empreendimentos dos missionários, naquela época de grandes descobertas geográficas e de aproximação de povos de outras civilizações.
Aos 30 anos, entrou na Companhia de Jesus e, seis anos depois, em 1592, obteve permissão para ser enviado, como missionário, para o Extremo Oriente. Durante 12 anos, esteve, primeiro, na Índia; depois, em Macau. Em 1604, obteve permissão para se mudar para o Japão, onde desenvolveu o seu apostolado em várias áreas, obtendo excelentes resultados.
Depois, voltou a Macau para dirigir o Instituto Jesuíta; mais tarde regressou ao Japão, de onde foi expulso, devido à perseguição.
Retornou à Terra do Sol Nascente, quase imediatamente, e colaborou com o bispo Cerqueira, de quem se tornou vigário e depois o substituiu como Administrador Apostólico. Em vez de Nagasaki, estabeleceu-se em Cocinotzu d'Arima, um local próximo ao mar e considerado mais seguro.
Quando a perseguição recomeçou, um cristão apóstata denunciou o esconderijo, onde se tinha refugiado com dois irmãos cristãos fiéis. Foi capturado, com eles, em 18 de Dezembro de 1625. O mesmo destino recaiu sobre o Irmão coadjutor, Gaspar Sadamatzu e sobre o casal que o acolheu.
Foram levados para a prisão de Samabara, onde receberam tratamentos terríveis, ficando expostos aos elementos naturais do inverno; durante a sua prisão, o Padre Francisco admitiu, na Companhia de Jesus, os seus três catequistas japoneses, Rinscei, Xinsuki e Kinsaco.
Em 17 de Junho de 1626, foram transferidos para Nagasaki, por ordem do governador Cavaci, e, em 20 de Junho de 1626, o Padre Francisco Pacheco foi queimado vivo, nas colinas da cidade, com outros oito religiosos da Companhia de Jesus. As suas cinzas foram, então, espalhadas no mar.
O grupo, cuja memória litúrgica é celebrada é no dia 20 de Junho, era composto da seguinte forma: Francisco Pacheco (português), Baldassarre de Torres (espanhol), João Baptista Zola (italiano), Pedro Rinscei (japonês), Vicente Caun (coreano), João Kinsaco (japonês), Paulo Xinsuki (japonês), Miguel Tozò (japonês) e Gaspar Sadamatzu (japonês), irmão coadjutor.
Em 12 de Julho de 1626, foram mortos os fiéis cristãos que os ajudaram: os irmãos Mâncio e Matias Araki e o casal Pedro Cioboie e Susana Araki.
Foram beatificados, pelo Papa Pio IX, no dia 7 de Julho de 1867.
 

sábado, 7 de junho de 2025

EM DESTAQUE:

 


SOLENIDADE DO PENTECOSTES
 
A Igreja celebra, neste Domingo, 8 de Junho, a Solenidade de Pentecostes. Esta solenidade faz memória da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos no Cenáculo.
Esta festa de Pentecostes tem as suas raízes no judaísmo, onde era conhecida como a ‘Festa das Semanas’, originalmente uma celebração agrícola que marcava o fim da colheita do trigo e a entrega da Lei a Moisés, no Monte Sinai.
Para os cristãos, o Pentecostes adquiriu um outro significado, depois da Ressurreição de Jesus Cristo e da Sua ascensão ao céu. O livro dos Actos dos Apóstolos relata que, cinquenta dias depois da Páscoa, os Apóstolos e outros discípulos estavam reunidos, no mesmo lugar, quando ficaram "cheios do Espírito Santo", com manifestações como as línguas de fogo e o dom de falar em línguas estranhas. Este acontecimento é frequentemente considerado como o nascimento da Igreja, cuja missão é anunciar o Evangelho a todos os povos.

DA PALAVRA DO SENHOR


 

DOMINGO DE PENTECOSTES      

“…Quando chegou o dia de Pentecostes,
os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu,
um rumor semelhante a forte rajada de vento,
que encheu toda a casa onde se encontravam.
Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo,
que se iam dividindo,
e poisou uma sobre cada um deles.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo…”
(cf. Actos dos Apóstolos 2, 1-4)


PALAVRA DO PAPA LEÃO



 

- na Audiência-Geral, na Praça de São Pedro,  Roma, no dia 28 de Maio de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Desejo reflectir novamente sobre uma parábola de Jesus. Também, neste caso, trata-se de uma narração que alimenta a nossa esperança. Com efeito, às vezes, temos a impressão de não conseguir encontrar um sentido para a nossa vida: sentimo-nos inúteis, inadequados, precisamente como os operários que aguardam, na praça do mercado, à espera que alguém os leve para trabalhar. Mas, por vezes, o tempo passa, a vida corre, e não nos sentimos reconhecidos nem apreciados. Talvez não tenhamos chegado a tempo; talvez outros se tenham apresentado antes de nós, ou, porventura, as preocupações nos tenham detido noutro lugar.
A metáfora da praça do mercado é muito adequada até aos nossos tempos, pois o mercado é o lugar dos negócios, onde infelizmente as pessoas compram e vendem até o afecto e a dignidade, procurando obter algum lucro. E, quando não se sentem valorizadas, reconhecidas, chegam a correr o risco de se vender ao primeiro licitante. Ao contrário, o Senhor recorda-nos que a nossa vida tem valor, e o seu desejo é ajudar-nos a descobri-lo.
Também na parábola que, hoje, comentamos, há operários que esperam que alguém os faça trabalhar por um dia. Estamos no capítulo 20 do Evangelho de Mateus e, inclusive aqui, encontramos uma figura que tem um comportamento insólito, que surpreende e questiona. É o dono de uma vinha que sai pessoalmente para ir em busca dos seus operários. Evidentemente, quer estabelecer uma relação pessoal com eles.
Como eu dizia, trata-se de uma parábola que infunde esperança, porque nos diz que este dono sai, várias vezes, à procura de quem espera dar um sentido à sua vida. O dono sai logo de madrugada e depois, de três em três horas, volta a procurar trabalhadores para enviar à sua vinha. Seguindo este esquema, depois de sair às três horas da tarde, já não haveria razão para sair novamente, dado que o dia de trabalho terminava às seis horas.
Pelo contrário, este dono incansável, que quer valorizar a vida de cada um, a todo o custo, sai, também, às cinco horas. Os trabalhadores que permaneceram na praça do mercado, provavelmente, tinham perdido toda a esperança. Aquele dia tinha sido em vão. E, no entanto, alguém ainda acreditou neles. Que sentido tem chamar operários só para a última hora do dia de trabalho? Que sentido tem ir trabalhar apenas uma hora? Contudo, até quando nos parece que podemos fazer pouco na vida, vale sempre a pena. Há sempre a possibilidade de encontrar um sentido, pois Deus ama a nossa vida! 
Eis que a originalidade deste dono se vê também no fim do dia, na hora do pagamento. Com os primeiros trabalhadores, aqueles que vão para a vinha de madrugada, o dono tinha estabelecido um denário, que era o custo típico de um dia de trabalho. Para os outros, diz que lhes dará o que for justo. E é, precisamente, aqui que a parábola volta a provocar-nos: o que é justo? Para o dono da vinha, isto é, para Deus, é justo que cada um tenha o necessário para viver. Ele chamou, pessoalmente, os trabalhadores, conhece a sua dignidade e quer pagar-lhes com base nela. E dá, a todos, um denário.
A história diz que os trabalhadores da primeira hora ficam desiludidos: não conseguem ver a beleza do gesto do dono, que não foi injusto, mas simplesmente generoso; não considerou apenas o mérito, mas também a necessidade. Deus quer dar a todos o seu Reino, ou seja, a vida plena, eterna e feliz. E é o que Jesus faz em relação a nós: não faz classificações, dá tudo de Si mesmo a quantos lhe abrem o coração!
À luz desta parábola, o cristão de hoje poderia ser tentado a pensar: “Por que começar a trabalhar imediatamente? Se a remuneração é a mesma, por que trabalhar mais?”. Santo Agostinho respondia, assim, a estas dúvidas: «Por que razão, pois, demoras em seguir quem te chama, enquanto estás certo da remuneração, mas incerto quanto ao dia? Presta atenção a não tirares de ti, devido à tua hesitação, o que ele te oferecer em conformidade com a sua promessa» (Discurso 87, 6, 8).
Gostaria de dizer, especialmente aos jovens, que não esperem, mas que respondam com entusiasmo ao Senhor que nos chama a trabalhar na sua vinha. Não demoreis, arregaçai as mangas, pois o Senhor é generoso e não ficareis desiludidos! Trabalhando na sua vinha, encontrareis a resposta àquela pergunta profunda que trazeis dentro de vós: qual é o sentido da minha vida?
Caros irmãos e irmãs, não desanimemos! Até nos momentos obscuros da vida, quando o tempo passa sem nos dar as respostas que procuramos, peçamos ao Senhor que volte a sair e nos alcance onde estamos à sua espera. O Senhor é generoso e virá em breve! (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 103

 

Refrão: Mandai, Senhor, o vosso Espírito

              e renovai a terra!

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.

Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.

Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.


SANTOS POPULARES


 

BEATO FLORIBERT BWANA CHUI BIN KOSITI
.
Floribert Bwana Chui nasceu em 13 de Junho de 1981, em Goma, na região do Kivu, na República Democrática do Congo. Extrovertido e inteligente, viveu fortes experiências de fé, no âmbito católico, que lhe moldaram a essência de um autêntico crente. Como muitos outros jovens, é um idealista, um sonhador, convencido de que pode mudar o mundo, e, por isso e para isso, também, se lançou na política, convencido, mais do que nunca, de que o Congo precisava dele para se renovar, após a triste experiência da guerra civil, da qual acabava de sair. E isso justamente quando, nos círculos estudantis, se espalhou a crença (que em Kinshasa é praticamente uma obrigação) de "não acreditar que serás tu quem vai endireitar o Congo". Talvez seja também por isso que, quando chegou a hora de escolher, ele se dedicou ao Direito, estudando Direito com paixão e de olhos no futuro, que parecia mais promissor e promissor do que nunca, dadas as suas habilitações e os recursos económicos de que a sua família dispunha.
Com o diploma, surgiu a oportunidade de conhecer, de perto, a Comunidade de Santo Egídio e ficou fascinado pelo que ela fazia pelos mais pobres do vizinho Ruanda. Entrou nela, aprendendo o gosto pela oração que se traduz em cuidado e ajuda a todos os marginalizados, segundo o carisma específico da Comunidade. A nível pessoal, cuidou dos "maibobo" - as crianças de rua que todos temiam e das quais ninguém queria aproximar-se: tornou-se amigo de algumas; irmão mais velho de outras, vagando pelos bairros mais infames e perigosos. "Assim que tinha algum dinheiro no bolso, usava-o para eles", recorda o seu pai. Com o diploma no bolso, imediatamente encontrou emprego como director da alfândega, para o controlo da qualidade das mercadorias: um cargo importante numa cidade fronteiriça como Goma, que também lhe permitiu fazer planos para o futuro e pensar no casamento. Desempenhava o seu trabalho com grande rigor e sentido de dever, que consistia em controlar a qualidade dos alimentos, em trânsito, na fronteira, e certificar a sua boa qualidade. Em Goma, era opinião comum que todos os directores deste departamento eram corruptos, como bem demonstrava a facilidade com que qualquer tipo de produto estragado podia ser encontrado nos mercados da cidade, e que, naturalmente, ostentavam o selo de certificação: os subornos tornaram-se a norma, num país classificado em 160º lugar, entre os 176 do Índice de Corrupção. No clima de pobreza generalizada no Congo, consolidou-se a ideia de que se pode enriquecer rapidamente e que todos os métodos são legais para isso.
A chegada de Floribert marcou uma mudança repentina de direcção no departamento, que nenhum operador económico da região esperaria. Um mês antes da sua morte, o seu departamento tinha elaborado um relatório muito detalhado sobre um grande lote de arroz estragado, pelo qual ele recebeu telefonemas e pressões, até mesmo de autoridades públicas, para fechar os olhos e receber os seus honorários, como todos os outros sempre fizeram. Estamos a falar de 4 a 5 toneladas de arroz estragado, pelas quais lhe ofereceram um suborno de 3.000 dólares: uma quantia enorme, considerando que, na época, o salário médio mensal de um soldado não ultrapassava 5 ou 6 dólares. Uma rápida consulta telefónica com um amigo médico, deu-lhe a certeza de que aquele arroz, se colocado no mercado, prejudicaria seriamente a saúde dos seus concidadãos. "Como cristão, não me posso dar ao luxo de apagar a minha responsabilidade e a minha consciência. É melhor morrer do que colocar a vida das pessoas em risco", foi a sua resposta, que acompanhou o relato da destruição dos produtos estragados.
A reacção dos empresários não tardou: no dia 7 de Julho de 2007, ele saiu repentinamente de casa, após um telefonema no qual foi convidado para uma reunião. Não se ouviu falar dele durante todo o domingo e, também, não deu notícias. Na tarde de segunda-feira, por volta das 15h, o seu corpo foi encontrado nas margens do lago, não muito longe da fronteira. No seu corpo havia sinais claros da tortura a que fora submetido, antes de ter sido estrangulado: dentes partidos, um braço quebrado, queimaduras graves por todo o corpo. Tudo porque ele acreditara, até o fim, que "se eu não destruísse o que era prejudicial à saúde de tantas pessoas; se eu aceitasse a corrupção, seria como se eu aceitasse a minha própria destruição".
O seu martírio, que foi reconhecido pelo Papa Francisco, em Novembro do ano passado, tornou-se um símbolo da resistência contra a corrupção que aflige a África e muitas outras regiões do mundo.
Floribert Bwana Chui será beatificado, no próximo dia 15 de Junho, na Basílica de São Paulo Fora de Muros, em Roma. A celebração em Roma será um tributo não apenas ao corajoso jovem congolês, mas também a todas as pessoas que, em várias partes do mundo, se levantam contra a injustiça e lutam por um futuro melhor. O testemunho de vida de Floribert Bwana Chui será, sem dúvida, uma fonte de inspiração para muitos que valorizam a dignidade humana e os direitos fundamentais. A sua beatificação é um testemunho da grandeza do espírito humano e da força da fé, uma celebração da vitória da justiça sobre a corrupção e da luz sobre as trevas.
A sua memória litúrgica será fixada no dia 9 de Junho.

sexta-feira, 30 de maio de 2025

EM DESTAQUE:

 


SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
 
A Igreja celebra, neste Domingo, 1 de Junho, a solenidade da Ascensão do Senhor: é um acontecimento importante da liturgia de todas as Igrejas cristãs, celebrado 40 dias depois da Páscoa da Ressurreição. Com a Ascensão ao Céu conclui-se a presença de Cristo na história do mundo e inicia o ‘Tempo do Espírito’ e a história da Igreja. Em muitos países, esta solenidade foi celebrada, de acordo com a mais antiga tradição cristã, na Quinta-Feira passada, dia 29 de Maio, conhecida como Quinta-Feira da Ascensão.
Estamos, ainda, no Tempo Pascal, tempo da alegria; da libertação da morte e do pecado, graças à Ressurreição; no tempo da promessa de salvação.
Jesus despede-se dos Apóstolos que, agora, estão preparados e prontos para a missão que Jesus lhes confiou. Porém, este afastamento de Jesus, esta separação são só aparentes porque o Senhor, invisível, continua a operar, misteriosamente, na Igreja. E virá, novamente, no final dos tempos.
Os Evangelhos falam pouco da Ascensão: Mateus e João terminam as suas narrações com a aparição de Jesus, depois da Ressurreição. Marcos dedica-lhe a última frase do texto, enquanto Lucas descreve muito mais, principalmente nos Actos dos Apóstolos: relata que, 40 dias depois da Páscoa – um número muito simbólico, em toda a Bíblia – Jesus conduz os apóstolos para Betânia e, ao chegar ao Monte das Oliveiras, os abençoa e fala a todos antes de subir para o céu Neste discurso, Jesus confirma a promessa da vinda do Espírito que não os deixará sós e prefigura a sua segunda vinda, no final dos tempos.
 
A celebração da Ascensão tem origens antigas e é testemunhada tanto por Eusébio de Cesareia como pela peregrina Egéria.
Inicialmente era celebrada em Belém, para evidenciar que tudo tinha começado ali, e estava unida à festa do Pentecostes, celebrada na tarde do mesmo dia. Mas, no século V-VI, estas memórias já eram celebradas separadamente, como o demonstram São João Crisóstomo e Santo Agostinho que dedicaram várias das suas homilias à Ascensão.
Voltando para o Pai, Jesus conclui um ciclo, que atravessou a sua existência humana para voltar aos céus, mesmo permanecendo vivo e presente na Igreja. Mas, é graças ao momento da Ascensão que esta dicotomia entre céus e terra é superada: Jesus parte, mas apenas precede – como um irmão, como um rei e como o Filho predilecto -, todos os homens no paraíso, ali onde está Deus. Como um homem, Jesus tinha descido aos infernos para salvar Adão e, assim, com a Ascensão, reitera, mais uma vez, que o céu é o destino que o homem deve almejar, a santidade, resumindo o sentido do mistério da Encarnação e o objectivo final da salvação. A glorificação da natureza humana, encarnada pelo Verbo em toda a sua pobreza e, mais tarde, elevada aos céus por Ele, é muito bem explicada em várias orações da tradição bizantina, nas quais supera-se a disputa entre céu e terra. (cf. Vaticannews)
 

DA PALAVRA DO SENHOR

 


VII DOMINGO DA PÁSCOA

          - SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR         

“…O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória,
vos conceda um espírito de sabedoria e de luz
para O conhecerdes plenamente
e ilumine os olhos do vosso coração,
para compreenderdes a esperança a que fostes chamados,
os tesouros de glória da sua herança entre os santos
e a incomensurável grandeza do seu poder
para nós os crentes.
Assim o mostra a eficácia da poderosa força
que exerceu em Cristo,
que Ele ressuscitou dos mortos
e colocou à sua direita nos Céus,
acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania,
acima de todo o nome que é pronunciado,
não só neste mundo,
mas também no mundo que há de vir.
Tudo submeteu aos seus pés
e pô-l’O acima de todas as coisas
como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo,
a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos…”
(cf. Efésios 1, 17-23)


PALAVRA DO PAPA LEÃO



- na Audiência-Geral, na Praça de São Pedro,  Roma, no dia 28 de Maio de 2025

Estimados irmãos e irmãs!
Continuamos a meditar sobre algumas parábolas do Evangelho que constituem uma ocasião para mudar de perspectiva e para nos abrirmos à esperança. Às vezes, a falta de esperança deve-se ao facto de nos fixarmos num certo modo rígido e fechado de ver as coisas, e as parábolas ajudam-nos a olhar para elas de outro ponto de vista.
Hoje, gostaria de vos falar de uma pessoa experiente, preparada - um doutor da Lei - que, contudo, deve mudar de perspectiva, porque está concentrado em si mesmo e não se dá conta dos outros (cf. Lc 10, 25-37). Com efeito, ele interroga Jesus sobre o modo como se “herda” a vida eterna, recorrendo a uma expressão que a entende como um direito inequívoco. Mas, por detrás desta pergunta, talvez se esconda, precisamente, uma necessidade de atenção: a única palavra sobre a qual pede explicações a Jesus é o termo “próximo”, que literalmente significa aquele que está perto.
Por isso, Jesus narra uma parábola que é um caminho para transformar aquela interrogação; para passar de quem me ama? a quem amou? A primeira é uma pergunta imatura; a segunda é a pergunta do adulto que compreendeu o sentido da sua vida. A primeira pergunta é a que pronunciamos quando nos colocamos num canto e esperamos; a segunda é a que nos impele a pôr-nos a caminho.
Com efeito, a parábola que Jesus narra tem como cenário uma estrada; é uma estrada difícil e insegura, como a vida. É a estrada percorrida por um homem que desce de Jerusalém, a cidade na montanha, para Jericó, a cidade abaixo do nível do mar. Trata-se de uma imagem que já prenuncia o que poderia acontecer: efectivamente, acontece que o homem é atacado, espancado, roubado e deixado meio-morto. É a experiência que ocorre quando as situações, as pessoas, às vezes até aqueles em quem confiamos, nos tiram tudo e nos deixam no meio do caminho.
No entanto, a vida é feita de encontros e, nestes encontros, revelamo-nos pelo que somos. Encontramo-nos diante do outro, perante a sua fragilidade e a sua fraqueza, e podemos decidir o que fazer: cuidar dele ou fingir que nada aconteceu. Um sacerdote e um levita descem por aquela mesma estrada. São pessoas que prestam serviço no Templo de Jerusalém; que habitam o espaço sagrado. Todavia, a prática do culto não leva automaticamente a ser compassivo. Com efeito, antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade! Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos!
Podemos imaginar que, depois de terem permanecido muito tempo em Jerusalém, o sacerdote e o levita têm pressa de voltar para casa. É precisamente a pressa, tão presente na nossa vida, que, muitas vezes, nos impede de sentir compaixão. Quem pensa que o seu percurso deve ter a prioridade, não está disposto a parar por outra pessoa.
Mas, eis que chega alguém que, efectivamente, é capaz de parar: trata-se de um samaritano, portanto, de alguém que pertence a um povo desprezado (cf. 2 Rs 17). No seu caso, o texto não especifica a direcção, mas diz apenas que se encontrava a caminho. Aqui, a religiosidade não tem nada a ver com isto. Este samaritano detém-se simplesmente porque é um homem diante de outro homem que precisa de ajuda.
A compaixão exprime-se através de gestos concretos. O evangelista Lucas concentra-se nas acções do samaritano, a quem chamamos “bom”, mas que no texto é simplesmente uma pessoa: o samaritano faz-se próximo; pois, se quisermos ajudar alguém, não podemos pensar em manter-nos à distância, devemos envolver-nos, sujar-nos, talvez contaminar-nos; faz curativos nas suas feridas, depois de as ter limpado com azeite e vinho; carrega-o na sua cavalgadura, isto é, responsabiliza-se por ele, pois só ajudamos verdadeiramente se estivermos dispostos a sentir o peso da dor do outro; leva-o para uma hospedaria, onde gasta dinheiro, “dois denários”, mais ou menos dois dias de trabalho; e compromete-se a voltar e eventualmente a pagar mais, porque o outro não é um pacote a entregar, mas alguém de quem devemos cuidar.
Caros irmãos e irmãs: quando é que, também nós, seremos capazes de interromper o nosso caminho e ter compaixão? Quando compreendermos que o homem ferido ao longo da estrada representa cada um de nós. E, então, a recordação de todas as vezes que Jesus parou para cuidar de nós tornar-nos-á mais capazes de compaixão.
Portanto, oremos para poder crescer em humanidade, a fim de que as nossas relações sejam mais verdadeiras, mais ricas de compaixão. Peçamos ao Coração de Cristo a graça de ter, cada vez mais, os seus próprios sentimentos. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR



 - SALMO 46

 

Refrão: Ergue-se Deus, o Senhor, em júbilo e ao som de trombetas!

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado

SANTOS POPULARES

 


BEATO DIEGO ODDI
 
José Oddi nasceu em Vallinfreda, Roma, no dia 6 de Junho de 1839, filho de Vicente Oddi e de Bernardina Pasquali, uma família de camponeses. Foi baptizado no mesmo dia do nascimento. A sua juventude foi marcada pela luta diária pela sobrevivência. A família era pobre, mas rica em sentimentos religiosos, honestidade moral e virtudes cristãs, o que fazia da pequena casa um ninho de felicidade e paz. O pároco interessou-se pela sua educação civil e religiosa e José prezava os ensinamentos que recebia. Desde muito jovem, foi apelidado de "frade", quer pela sua dedicação ao trabalho e à oração, quer por ter manifestado o desejo de entrar para um convento. Em 3 de Outubro de 1841, recebeu o Crisma e, aos 12 anos, fez a Primeira Comunhão.
Até os 32 anos, ajudou os pais nos trabalhos pesados ​​do campo. Depois de fazer 20 anos, os seus pais começaram a falar-lhe, cada vez mais insistentemente, sobre o seu casamento. Mas, apesar das muitas solicitações; dos convites mais ou menos óbvios; da insistência da sua mãe, a resposta demorou a chegar. Até que um dia, cansado das insistências da mãe, José decidiu falar: "Não quero casar-me!". O que havia acontecido?
Pouco tempo antes, enquanto se fazia a colheita da cevada, na quinta da família, José estava debruçado a ceifar. De repente, pareceu-lhe ouvir que o chamavam, repetidamente. Continuando o seu árduo trabalho, José sentiu, no íntimo do seu coração, a resposta que queria dar Àquele que o chamava. Amadureceu essa resposta durante muito tempo: todos os dias, ao fim da tarde, ao voltar dos campos, passava pela igreja para conversar com Deus e com a Mãe do Céu, a quem José sempre esteve ligado por uma forte devoção filial. Rezava, sempre, invocando a luz do Espírito: "Senhor, o que queres de mim?" A partir daquele chamamento, Deus penetrou em toda a sua vida.
Algum tempo depois deste misterioso chamamento, José foi visitar, com um grupo de peregrinos, o Retiro de São Francisco, em Bellegra. Tinha, na altura, 21 anos. Ficou fascinado pelo lugar e pela vida santa que os frades levavam ali. E, não conseguiu mais livrar-se daquela sugestão. Passaram-se quatro anos. A lembrança do Retiro de São Francisco permaneceu no seu coração. Então, na primavera de 1864, decidiu fazer uma nova visita ao Convento. Um frade veio abrir-lhe a porta, com uma palavra gentil e um sorriso aberto: era o Irmão Mariano, de Roccacasale, também já proclamado Beato.
Mais tarde, José contou como decorreu aquele encontro: "... Eu queria beijar-lhe a mão, mas ele retirou-a, deixando-me beijar-lhe o seu hábito. Pedi-lhe que me desse algum conselho, alguma advertência, pensando, comigo mesmo, o que poderia ele dar-me. Ele respondeu-me: "Sê bom; sê bom, meu filho!..." E ao dizer isso, levantou-se e indicou-me que o seguisse para a igreja."
As palavras simples do Irmão Mariano tiveram uma importância decisiva em tudo o que aconteceu depois. Nelas, José percebeu o significado secreto da sua própria vida. Aumentou o tempo dedicado à oração; retomou o trabalho e fortaleceu-se na certeza da sua vocação. Pouco a pouco, a sua vocação tornou-se uma só coisa com sua vida.
Vencida a resistência do pai, em 1871, com 32 anos, entrou no Convento de Bellegra, suportando as circunstâncias adversas, ligadas à expropriação dos bens eclesiásticos, pelo Reino da Itália. Enquanto esperava que a tempestade anticlerical passasse, o Superior, vendo José cumprindo fiel e diligentemente a tarefa de cuidar do jardim e, depois, o ofício de mendicante, no dia 12 de Abril de 1872, vestiu-o com o hábito franciscano de Oblato Terciário. Infelizmente, os religiosos, expulsos do Convento em 17 de Maio de 1877 - e hospedados na casa dos Saulini, durante oito meses e 12 dias - acharam oportuno adiar o ano probatório canónico de José, até 12 de Fevereiro de 1885. Ao ser admitido no noviciado, como noviço leigo, José adoptou o nome de ‘Irmão Diego’. Concluído o noviciado, em 14 de Fevereiro de 1886, o Irmão Diego fez a profissão simples e, em 16 de Maio de 1889, foi admitido à profissão de votos solenes e perpétuos.
Desde os primeiros momentos da sua entrada no convento, Frei Diego observou as regras e constituições. Analfabeto, mas espirituoso e de fácil convívio, surpreendia a todos com as suas palavras que fluíam de um coração acostumado a usá-las em conversas com Deus. Dia e noite, trabalhando, caminhando, ele orava continuamente.
Quando ele andava pelas aldeias a pedir esmolas, depois de terminar a sua ronda diária pelas casas, ao anoitecer, entrava na igreja e participava da oração com os fiéis, ali reunidos. Então, convencia o sacristão a ir para casa, pois ele se encarregaria do toque das "Ave-Marias" e de fechar a igreja. Permanecia em oração, durante a noite, e, pela manhã, os benfeitores, onde ele estava hospedado, encontravam a sua cama intacta.
Dessa conversa contínua com o Senhor, ele extraia a sabedoria, a profundidade da fé, que os outros acolhiam através das suas palavras e dos seus discursos. Não foram apenas os fiéis comuns que foram edificados por ele; mas, também, padres e párocos, bispos e cardeais. Vê-lo participar na missa e a aproximar-se da Sagrada Comunhão era equivalente a um sermão para aqueles que o viam.
Além da oração assídua e profunda, era, também, a austeridade da sua vida, que fazia com que aqueles que dele se aproximavam o admirassem. Andava, sempre, a pé, por estradas pedregosas e lamacentas, com os pés mal protegidos pelas sandálias franciscanas, sob a neve e a chuva do inverno, na poeira e sob o açoite do sol no verão.
Na normalidade da vida de Frei Diego pode descobrir-se as grandes coisas que Deus fez nele. Houve muitos acontecimentos extraordinários que diziam respeito às coisas humildes e simples dos camponeses e pastores que Frei Diego conheceu. O fenómeno mais verdadeiro era ele com seu sorriso: por onde passava, deixava tudo ser atravessado pelo sopro criador de Deus.
É muito significativo que, certa vez, o Papa, São Pio X, ao vê-lo, tivesse exclamado: "Aqui está um verdadeiro filho de São Francisco". De facto, na vida do Irmão Diego cumpriram-se algumas palavras de São Francisco, dirigidas aos frades: «Os frades não devem chamar seu a nada: nem à casa, nem ao lugar, nem a qualquer outra coisa. E, como peregrinos e estrangeiros neste mundo, servindo ao Senhor na pobreza e na humildade, saiam para pedir esmola com confiança. Não devem ter vergonha disso, porque o Senhor fez-se pobre por nós, neste mundo. Esta é a sublimidade da altíssima pobreza que vos constituiu, meus caríssimos irmãos, herdeiros e reis do reino dos céus; vos fez pobres de coisas e ricos de virtudes. Que esta seja a vossa porção de herança, que conduz à terra dos viventes. E, aderindo totalmente a esta pobreza, caríssimos irmãos, não queiram possuir mais nada debaixo do céu para sempre, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Regra Bulada VI, FF 16) (Segunda Regra de São Francisco de Assis, assim referida, por ter sido, formalmente, aprovada com a força de uma bula, documento emanado do papa)
"E aqueles que não sabem letras, não se preocupem em aprendê-las; mas, procurem, acima de tudo, desejar o Espírito do Senhor e a sua santa oração: orar sempre a Ele, com um coração puro, ter humildade, paciência na perseguição e na enfermidade, e amar aqueles que nos perseguem, nos repreendem e nos caluniam" (Regra Bulada X, 8-10 FF 104).
Estas palavras de São Francisco descrevem perfeitamente as características dominantes do Irmão Diego: humildade e alegria, amor a Deus e ao próximo. Quando pedia esmola aos camponeses, sabia ouvir com paciência e amorosa compreensão os seus desabafos, os seus desejos, aliviando-lhes a dor e confortando-os nos momentos de desânimo. Não havia pessoa que não se alegrasse com a presença de Frei Diego e se recomendavam às suas orações.
Mas, a sua força física não aguentou mais. Na tarde do dia 3 de Junho de 1919, o Irmão Diego, estendido no pobre leito da enfermaria do Convento, aguardava a boa irmã morte. Os cinquenta anos passados ​​no Convento foram como um Rosário recitado incessantemente, tanto ele rezou, trabalhou e fez o bem a todas as criaturas que encontrou no seu caminho. Agora, estava cansado, mas calmo e feliz. Esperava, impacientemente, pela chegada da irmã morte. Esperou que ela cantasse como o seu Pai Seráfico (São Francisco) havia feito. Ele conhecia e gostava muito de um hino popular à Nossa Senhora: "Um dia irei vê-la, no céu, minha pátria!"
Frei Diego morreu, cantarolando este hino, agora com uma voz muito fraca, os seus lábios movendo-se imperceptivelmente. Era o dia 3 de Junho de 1919. Tinha 80 anos. Morreu no Convento de Pelagra, com a fama da santidade que o envolveu durante toda a vida.
O seu túmulo está na Igreja do Convento de S. Francisco, em Bellegra, Roma.
Foi beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 3 de Outubro de 1999. Na homilia, o Papa disse: “…A espiritualidade franciscana, centrada numa vida evangelicamente pobre e simples, distingue Frei Diego Oddi, que hoje contemplamos no coro dos Beatos. Na escola de São Francisco, ele aprendeu que nada pertence ao homem a não ser os vícios e os pecados e que tudo o que a pessoa humana possui, na realidade é dom de Deus (cf. Regra não selada XVII, em Fontes Franciscanas, 48). Desta forma, aprendeu a não se angustiar inutilmente, mas a expor a Deus "orações, súplicas e agradecimentos" por todas as necessidades, como escutámos do apóstolo Paulo na segunda Leitura (cf. Fl 4, 6).
Durante o seu longo serviço de esmoleiro, foi autêntico anjo de paz e bem para todas as pessoas que o encontravam, sobretudo porque sabia ir ao encontro das necessidades dos mais pobres e provados. Com o seu testemunho jubiloso e sereno, com a sua fé genuína e convicta, com a sua oração e o seu incansável trabalho, o Beato Diego indica as virtudes evangélicas, que são a via-mestra para alcançar a paz …”
A memória litúrgica do Beato Diogo Oddi é celebrada no dia 3 de Junho.
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domingo, 25 de maio de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


VI DOMINGO DA PÁSCOA         

“…Um Anjo transportou-me em espírito
ao cimo de uma alta montanha
e mostrou-me a cidade santa de Jerusalém,
que descia do Céu, da presença de Deus,
resplandecente da glória de Deus.
O seu esplendor era como o de uma pedra preciosíssima,
como uma pedra de jaspe cristalino.
Tinha uma grande e alta muralha,
com doze portas e, junto delas, doze Anjos;
tinha também nomes gravados,
os nomes das doze tribos dos filhos de Israel:
três portas a nascente, três portas ao norte,
três portas ao sul e três portas a poente.
A muralha da cidade tinha na base doze reforços salientes
e neles doze nomes: os doze Apóstolos do Cordeiro.
Na cidade não vi nenhum templo,
porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro.
A cidade não precisa da luz do sol nem da lua,
porque a glória de Deus a ilumina
e a sua lâmpada é o Cordeiro…”
(cf. Apocalipse 21, 10-14.22-23)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, na Praça de São Pedro,  Roma, no dia 21 de Maio de 2025
 
Prezados irmãos e irmãs!
Estou feliz por vos dar as boas-vindas a esta minha primeira Audiência-Geral. Hoje, retomo o ciclo de catequeses jubilares, sobre o tema «Jesus Cristo, nossa esperança», iniciado pelo Papa Francisco.
Hoje, continuamos a meditar sobre as parábolas de Jesus, que nos ajudam a redescobrir a esperança, porque nos mostram como Deus age na história. Gostaria de meditar sobre uma parábola, um pouco especial, pois é uma espécie de introdução a todas as parábolas. Refiro-me à do semeador (cf. Mt 13, 1-17). Em certo sentido, nesta história, podemos reconhecer o modo de comunicar de Jesus, que tem muito a ensinar-nos para o anúncio do Evangelho, hoje.
Cada parábola narra uma história tirada da vida de todos os dias; mas quer dizer-nos algo mais, remetendo-nos para um significado mais profundo. A parábola desperta em nós interrogações; convida-nos a não nos limitarmos às aparências. Perante a história que me é contada ou a imagem que me é dada, posso interrogar-me: onde estou nesta história? O que diz esta imagem à minha vida? Aliás, o termo parábola vem do verbo grego paraballein, que significa lançar para a frente. A parábola projecta diante de mim uma palavra que me desperta, levando-me a questionar-me.
A parábola do semeador fala exactamente da dinâmica da palavra de Deus e dos efeitos que ela produz. Com efeito, cada palavra do Evangelho é como uma semente lançada no terreno da nossa vida. Jesus usa, muitas vezes, a imagem da semente, com diferentes significados. No capítulo 13 do Evangelho de Mateus, a parábola do semeador introduz uma série de outras pequenas parábolas, algumas das quais falam, precisamente, do que acontece na terra: o trigo e o joio, o grãozinho de mostarda, o tesouro escondido no campo. No que consiste, então, este solo? É o nosso coração, mas é, também, o mundo, a comunidade, a Igreja. Com efeito, a palavra de Deus fecunda e suscita cada realidade.
No início, vemos Jesus que sai de casa e à sua volta reúne-se uma grande multidão (cf. Mt 13, 1). A sua palavra fascina e intriga. Entre as pessoas, há, obviamente, muitas situações diferentes. A palavra de Jesus é para todos, mas age em cada um de modo diverso. Este contexto permite-nos compreender melhor o sentido da parábola.
Um semeador, muito original, sai para semear; mas não se preocupa com o lugar onde a semente cai. Lança a semente até onde é improvável que dê fruto: ao longo da estrada, entre as pedras, no meio dos arbustos. Esta atitude surpreende o ouvinte, levando-o a questionar-se: como é possível?
Estamos habituados a calcular as coisas - e às vezes é necessário - mas isto não vale no amor! O modo como este semeador “esbanjador” lança a semente é uma imagem da maneira como Deus nos ama. Aliás, é verdade que o destino da semente depende também do modo como o terreno a acolhe e da situação em que se encontra; mas, nesta parábola, Jesus diz-nos sobretudo que Deus lança a semente da sua palavra em todos os tipos de solo, isto é, em qualquer uma das nossas situações: às vezes, somos mais superficiais e distraídos; outras vezes, deixamo-nos levar pelo entusiasmo; por vezes, sentimo-nos oprimidos pelas preocupações da vida, mas há também momentos em que estamos disponíveis e somos acolhedores. Deus confia e espera que, mais cedo ou mais tarde, a semente floresça. É assim que nos ama: não espera que nos tornemos o melhor terreno, concede-nos sempre generosamente a sua palavra. Talvez precisamente vendo que Ele confia em nós, nasça em nós o desejo de ser uma terra melhor. Esta é a esperança, fundada na rocha da generosidade e da misericórdia de Deus.
Narrando o modo como a semente dá fruto, Jesus fala também da sua vida. Jesus é a Palavra, a Semente. E para dar fruto, a semente deve morrer. Então, esta parábola diz-nos que Deus está pronto a “desperdiçar” por nós e que Jesus está disposto a morrer para transformar a nossa vida.
Tenho em mente aquela maravilhosa pintura de van Gogh: O semeador ao pôr-do-sol. Aquela imagem do semeador, sob o sol ardente, fala-me também do trabalho do camponês. E surpreende-me que, por detrás do semeador, van Gogh tenha representado o grão já maduro. Parece-me exactamente uma imagem de esperança: de uma maneira ou de outra, a semente deu fruto. Não sabemos bem como, mas é assim! Contudo, no centro da cena não está o semeador, que se encontra de lado, mas toda a pintura é dominada pela imagem do sol, talvez para nos recordar que é Deus quem move a história, embora às vezes pareça ausente ou distante. É o sol que aquece os torrões da terra, fazendo amadurecer a semente.
Caros irmãos e irmãs: em que situação da vida de hoje a palavra de Deus nos alcança? Peçamos ao Senhor a graça de acolher sempre esta semente, que é a sua palavra. E se nos dermos conta de que não somos um terreno fecundo, não desanimemos, mas peçamos-lhe que nos trabalhe ainda mais para fazer de nós uma terra melhor. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 66

 

Refrão: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra!

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça e
governais as nações sobre a terra.

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu louvor aos confins da terra.


SANTOS POPULARES

 


SANTA MARIANA DE JESUS DE PAREDES Y FLORES
 
Mariana de Jesus de Paredes y Flores nasceu em Quito, capital de Equador (na época, pertença do Peru) no dia 31 de Outubro de 1618. Era uma linda jovem sul-americana, a oitava filha do capitão D. Jerónimo de Paredes y Flores, um nobre rico, e de Mariana de Granobles de Jamarillo, descendente directa dos “conquistadores” espanhóis, católica convicta e mulher virtuosa.
Mariana foi educada segundo os valores e princípios cristãos: o padre jesuíta João Camacho ficou muito impressionado com a sua inteligência e com a sua verdadeira compreensão dos mistérios divinos.
Dormia pouco; construía altares, no jardim, imitando cerimónias religiosas. Um dia, tentou convencer alguns de seus pares a irem, com ela, em missão, para converter os pagãos. Frequentemente, recomendava a recitação do Santo Rosário à sua família.
Mariana tinha poucos anos (4/5 anos) quando experimentou a dor de perder os seus pais. Foi, então, confiada à guarda da irmã mais velha da sua mãe, casada com o capitão Cosme de Casso, que já tinha três filhas, com idades próximas à de Mariana, que moravam fora da cidade. Fez a Primeira Comunhão, excepcionalmente, aos oito anos de idade e, a partir dos doze anos, pôde comungar diariamente. Por essa altura ela quis passar a ser chamada ‘Mariana de Jesus’, com a finalidade de mostrar a todos que ela pertencia inteiramente a Jesus.
Muitos, na aldeia, ficaram com inveja e os protestos chegaram até ao bispo, para grande desgosto de Mariana.
Os seus tios, para lhe darem uma educação mais completa, pensaram interna-la no Colégio do Convento de Santa Catarina de Sena, mas surgiram alguns contratempos. Mariana sentiu estes acontecimentos como a afirmação da vontade Deus, que contrariava este projecto dos seus tios. Ela decidiu que permaneceria com a sua família, dedicando-se ao Senhor para o bem dos seus concidadãos. O seu confessor, o Padre Monosalvas, convenceu os familiares a aceitarem esta decisão.
Mariana foi viver na cidade, com uma irmã casada que lhe pôs à disposição alguns cómodos isolados da casa. Privadamente, Mariana fez votos de pobreza, castidade e obediência, vestindo um hábito escuro, semelhante ao dos jesuítas.
O seu dia-a-dia transcorria de acordo com uma rotina estabelecida pelo seu confessor: cinco horas de oração; leituras espirituais e trabalhos domésticos (também, trabalhava como tecedeira), cuja renda era destinada aos pobres e doentes que ela acolhia, em sua casa, todos os dias: eram lavados, vestidos e, quando necessário, cuidados por ela, com humildade e sem ostentação. Ensinava as crianças, especialmente as índias, a ler e a escrever; falava-lhes da vida dos santos; ensinava-as a cantar e a tocar instrumentos musicais. Mariana tocava, muito bem, violão e piano. Saía de casa apenas para participar na missa diária. Fazia longos jejuns durante os quais o seu único alimento era a Eucaristia. Segundo o costume da época, ela também utilizou alguns instrumentos de penitência. O Senhor recompensou-a com dons místicos: lia os corações; caía em êxtase; fazia profecias.
Aos vinte e um anos, no dia 6 de Novembro de 1639, foi acolhida na Terceira Ordem Franciscana, que correspondia bem ao seu espírito de renúncia.
Mariana tinha uma devoção particular à Santíssima Trindade, ao Espírito Santo, à Paixão e Morte de Jesus e a Nossa Senhora de Loreto. Gostava de rezar, pensando na Santa Casa de Nazaré e na Anunciação de Nosso Senhor. A sua era uma oração interior, segundo a espiritualidade inaciana.
Em 1645, Quito foi atingida, primeiro, por um terremoto, que matou cerca de duas mil pessoas; e, depois, por uma terrível epidemia. Era o quarto domingo da Quaresma, quando, na Igreja dos Jesuítas, o Padre Alonso de Rojas, seu confessor, ofereceu, publicamente, a sua vida pela salvação do país. Mariana, que estava sentada em frente ao púlpito, levantou-se e declarou que estava disposta a assumir a promessa do Padre Alonso, tomando o seu lugar, considerando que o ministério sacerdotal era mais importante do que a sua própria vida. Pouco tempo depois, Mariana adoeceu e terminaram os infortúnios.
Com apenas 26 anos, Mariana deu a sua vida pela sua amada cidade. A notícia espalhou-se como fogo e o próprio Padre Alonso apresentou-a como uma heroína. O seu holocausto de caridade foi um exemplo para toda a nação.
A “Lírio de Quito”, como ficou conhecida, morreu no dia 26 de Maio, Quinta-Feira da Ascensão. O funeral foi seguido por muitos milagres, obtidos pela sua intercessão,
A sua extraordinária humildade e seu altíssimo nível de oração ficaram gravados na memória de todo o povo.
A jovem equatoriana foi beatificada no dia 20 de Novembro de 1853, pelo Beato Papa Pio IX. Foi canonizada pelo Papa Pio XII, no dia 9 de Junho de 1950, tornando-se a primeira santa equatoriana. Na homilia da Missa da canonização, disse o Papa: “…A história de Mariana de Jesus de Paredes é muito breve. Descendente de uma família nobre de origem espanhola, cuja árvore genealógica inclui Andaluzia e Castela, ela nasceu em Quito, em 1618. Desde o início, toda a doçura daquele clima, toda a claridade daquele céu e toda a graça das suas palmeiras e flores permeiam a sua alma. Prodígio de piedade, pela precoce maturidade do seu espírito, por volta dos dez anos de idade decidiu fazer os votos de pobreza, castidade e obediência. É evidente que a estaca retirada do tronco ibérico era forte e o solo do Novo Mundo era generoso. O exemplo dos missionários cativa-a, inflama a sua alma e enche-a de desejos elevados, que se expressam em orações fervorosas, contemplações extraordinárias e outros dons místicos, combinados com tais austeridades que a sua simples enumeração causaria profunda admiração. Vítima do amor em primeiro lugar, ela terminou os seus dias como um holocausto de caridade, em 1645, oferecendo a sua vida pelo seu povo. E, quando a terra parou de tremer e a peste se dissolveu no ar, ela deu o seu último suspiro, em paz e na serenidade que advém da sua confiança em Jesus. Tinha apenas 26 anos.
Ela não viveu num mosteiro, porque a Providência queria-a no meio do mundo; mas aspirava à perfeição, como a religiosa mais cumpridora poderia fazer. Ela não era uma figura pública; mas, hoje, ela é a honra de uma nação ilustre, que a aclama como sua "heroína nacional". Ela não dedicava as horas do seu dia exclusivamente à caridade; mas, no final ela deu a sua vida pelos seus irmãos. Ela amava a Igreja como a mais zelosa defensora dos seus direitos e a honrou com as suas virtudes. No fim, ela não foi sacrificada pela fúria dos outros, mas soube mortificar-se com as suas próprias mãos.
Que todos aprendam desta santa o imenso poder da virtude cristã, capaz de amadurecer um espírito com mais vigor do que o sol de Quito amadurece os frutos abundantes do solo equatoriano. Com ela, possa o mundo aprender e acolher as energias escondidas na oração e no sacrifício... Que as jovens modernas e mundanas aprendam o que uma alma apaixonada pelo Senhor pode fazer no seu próprio ambiente. E aqueles que vivem, hoje, na plena luz da devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus admirem os sentimentos desta vítima inocente, que já no alvorecer do século XVII sabia fazer da reparação o centro da sua espiritualidade…”
Santa Mariana de Jesus foi proclamada padroeira do Equador, e, no dia 30 de Novembro de 1945, no tricentenário da sua morte, a Assembleia Constituinte proclamou-a “Heroína Nacional da Pátria”.
Em 19 de Outubro de 2005, o Papa Bento XVI abençoou uma estátua de Santa Mariana de Jesus Paredes y Flores, obra do artista equatoriano Mário Tapia, que foi colocada entre as centenas de imagens que decoram o exterior da Basílica de São Pedro, no Vaticano. 
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 26 de Maio.

sábado, 17 de maio de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


V DOMINGO DA PÁSCOA       

“…Quando Judas saiu do cenáculo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Agora foi glorificado o Filho do homem
e Deus glorificado n’Ele.
Se Deus foi glorificado n’Ele,
Deus também O glorificará em Si mesmo
e glorificá-l’O-á sem demora.
Meus filhos,
é por pouco tempo que ainda estou convosco.
Dou-vos um mandamento novo:
que vos ameis uns aos outros.
Como Eu vos amei,
amai-vos também uns aos outros.
Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos:
se vos amardes uns aos outros». …”
(cf. João 13,31-35)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- discurso aos membros do Colégio Cardinalício, no dia 10 de Maio de 2025
 
Irmãos Cardeais!
Saúdo e agradeço a todos vós por este encontro e pelos dias que o precederam, que foram dolorosos pela perda do Papa Francisco e exigentes pela responsabilidade que enfrentamos juntos, mas, ao mesmo tempo, ricos de graça e consolação no Espírito, segundo a promessa que o próprio Jesus nos fez (cf. Jo 14, 25-27).
Caríssimos Cardeais, vós sois os colaboradores mais próximos do Papa, e isto é de grande conforto para mim, que aceitei um fardo claramente muito superior às minhas forças, assim como o seria para qualquer outra pessoa. A vossa presença recorda-me que o Senhor, tendo-me confiado esta missão, não me deixa sozinho a carregar tal responsabilidade. Sei, primeiramente, que posso contar sempre – sempre! – com a vossa ajuda, com a ajuda do Senhor, e, pela sua Graça e Providência, com a vossa proximidade e a de tantos irmãos e irmãs que, em todo o mundo, acreditam em Deus, amam a Igreja e apoiam o Vigário de Cristo com a oração e as boas obras.
Agradeço ao Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Giovanni Battista Re – que merece um aplauso! Pelo menos um, se não mais –, cuja sabedoria, fruto de uma longa vida e de muitos anos de fiel serviço à Sé Apostólica, nos ajudou muito neste tempo. Agradeço ao Camerlengo da Santa Igreja Romana, Cardeal Kevin Joseph Farrell – acredito que ele está aqui presente –, pelo precioso e árduo papel que desempenhou durante o tempo da Sede Vacante e da Convocação do Conclave. Dirijo também o meu pensamento aos irmãos Cardeais que, por motivos de saúde, não puderam estar presentes e, convosco, uno-me a eles em comunhão de afecto e oração.
Neste momento, ao mesmo tempo triste e alegre, providencialmente envolto pela luz da Páscoa, gostaria que olhássemos juntos para a partida do saudoso Papa Francisco e para o Conclave como um acontecimento pascal, uma etapa do longo êxodo através do qual o Senhor continua a guiar-nos em direcção à plenitude da vida. E, nesta perspectiva, confiamos ao «Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação» (2Cor 1, 3) a alma do falecido Pontífice e também o futuro da Igreja.
O Papa - começando por São Pedro até mim, seu indigno Sucessor - é um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso. Demonstram-no bem os exemplos de tantos dos meus Predecessores, o último dos quais, o próprio Papa Francisco, com o seu estilo de total dedicação ao serviço e sobriedade essencial na vida, de abandono em Deus no tempo da missão e de serena confiança no momento da partida para a Casa do Pai. Acolhamos esta preciosa herança e retomemos o caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé.
É o Ressuscitado, presente no meio de nós, que protege e guia a Igreja e que continua a reavivá-la na esperança, através do amor «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). Cabe a cada um de nós tornarmo-nos ouvintes dóceis da sua voz e ministros fiéis dos seus desígnios de salvação, recordando que Deus gosta de se comunicar, mais do que no estrondo do trovão e do terremoto, no «murmúrio de uma brisa suave» (1Rs 19, 12) ou, como alguns traduzem, numa “leve voz de silêncio”. Este é o encontro importante, a que não se pode faltar, e para o qual devemos educar e acompanhar todo o santo Povo de Deus que nos está confiado.
Nos últimos dias, pudemos ver a beleza e sentir a força desta imensa comunidade, que com tanto carinho e devoção saudou e chorou o seu Pastor, acompanhando-o com a fé e a oração no momento do seu encontro definitivo com o Senhor. Vimos qual é a verdadeira grandeza da Igreja, que vive na variedade dos seus membros unidos à única Cabeça, que é Cristo, «Pastor e Guarda» (1Pe 2, 25) das nossas almas. Ela é o seio onde também nós fomos gerados e, ao mesmo tempo, o rebanho (cf. Jo 21, 15-17), o campo (cf. Mc 4, 1-20) que nos foi dado para que o cuidemos e cultivemos, o alimentemos com os Sacramentos da salvação e o fecundemos com a semente da Palavra, para que, firme na concórdia e entusiasta na missão, caminhe, como outrora os israelitas no deserto, à sombra da nuvem e à luz da chama de Deus (cf. Ex 13, 21).
A este respeito, gostaria que hoje renovássemos juntos a nossa plena adesão a este caminho, que a Igreja universal percorre há décadas na esteira do Concílio Vaticano II. O Papa Francisco recordou e actualizou magistralmente os seus conteúdos na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, da qual gostaria de sublinhar alguns pontos fundamentais: o regresso ao primado de Cristo no anúncio (cf. n. 11); a conversão missionária de toda a comunidade cristã (cf. n. 9); o crescimento na colegialidade e na sinodalidade (cf. n. 33); a atenção ao sensus fidei (cf. nn. 119-120), especialmente nas suas formas mais próprias e inclusivas, como a piedade popular (cf. n. 123); o cuidado amoroso com os marginalizados e os excluídos (cf. n. 53); o diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades (cf. n. 84; Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 1-2).
Trata-se de princípios do Evangelho que sempre animaram e inspiraram a vida e o agir da Família de Deus, valores através dos quais o rosto misericordioso do Pai se revelou e continua a revelar-se no Filho feito homem, última esperança de quem procura, com sinceridade a verdade, a justiça, a paz e a fraternidade (cf. Bento XVI, Cart. enc. Spe salvi, 2; Francisco, Bula Spes non confundit, 3).
Justamente por me sentir chamado a seguir nessa linha, pensei em adoptar o nome de Leão XIV. Na verdade, são várias as razões, mas a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho.
Caríssimos irmãos, gostaria de concluir esta primeira parte do nosso encontro fazendo meu – e propondo-o também a vós – o desejo que São Paulo VI, em 1963, colocou no início do seu ministério petrino: «Passe pelo mundo inteiro, como uma grande chama de fé e de amor que inflame todos os homens de boa vontade, ilumine os caminhos da colaboração recíproca e atraia sobre a humanidade, agora e sempre, a abundância das divinas complacências, a própria força de Deus, sem a ajuda de quem nada é válido, nada é santo» (Mensagem à Família Humana Qui fausto die, 22 de junho de 1963).
Sejam esses também os nossos sentimentos, a serem traduzidos em oração e empenho, com a ajuda do Senhor. Obrigado! (cf. Santa Sé)