PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “…Eu vim trazer o fogo à terra …” (cf. Lucas 12, 49) O Evangelho deste domingo (cf. Lc 12, 49-53) faz parte dos ensinamentos de Jesus, dirigidos aos discípulos ao longo da sua subida rumo a Jerusalém, onde o espera a morte na cruz. Para indicar a finalidade da sua missão, Ele serve-se de três imagens: o fogo, o baptismo e a divisão. Hoje desejo falar da primeira imagem: o fogo. Jesus exprime-a com as seguintes palavras: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que ele já se tenha ateado?» (v. 49). O fogo de que Jesus fala é a chama do Espírito Santo, presença viva e concreta em nós, a partir do dia do nosso Baptismo. Ele — o fogo — é uma força criadora que purifica e renova, queima toda a miséria humana, todo o egoísmo e todo o pecado, transforma-nos a partir de dentro, regenera-nos e torna-nos capazes de amar. Jesus deseja que o Espírito Santo se propague como fogo no nosso coração, porque só começando a partir do coração o incêndio do amor divino poderá difundir-se e fazer progredir o Reino de Deus. Não começa na cabeça, mas no coração. E por isso, Jesus quer que o fogo entre no nosso coração. Se nos abrirmos completamente à acção deste fogo, que é o Espírito Santo, Ele infundir-nos-á a audácia e o fervor para anunciar a todos Jesus e a sua consoladora mensagem de misericórdia e de salvação, navegando em alto mar, sem receio. No cumprimento da sua missão no mundo, a Igreja — ou seja, todos nós que somos a Igreja — tem necessidade da ajuda do Espírito Santo para não se deter pelo medo nem pelo cálculo, para não se acostumar a caminhar dentro de limites seguros. Estas duas atitudes levam a Igreja a ser uma Igreja funcional, que nunca corre riscos. Ao contrário, a intrepidez apostólica que o Espírito Santo acende em nós como um fogo ajuda-nos a superar os muros e as barreiras, torna-nos criativos e estimula-nos a pôr-nos em movimento para percorrer inclusive caminhos inexplorados ou desalentadores, oferecendo esperança a quantos encontramos. Mediante este fogo do Espírito Santo somos chamados a tornar-nos cada vez mais comunidades de pessoas orientadas e transformadas, cheias de compreensão, pessoas com um coração dilatado e com um semblante jubiloso. Hoje mais do que nunca há necessidade de sacerdotes, de consagrados e de fiéis leigos com o olhar atento do apóstolo, para se comover e para se deter diante das dificuldades e das pobrezas materiais e espirituais, caracterizando assim o caminho da evangelização e da missão com o ritmo purificador da proximidade. É exactamente o fogo do Espírito Santo que nos leva a tornarmo-nos próximos dos outros: das pessoas que sofrem, dos necessitados, de tantas misérias humanas, de tantos problemas, dos refugiados, dos deserdados, daqueles que sofrem. Aquele fogo que deriva do coração. O fogo! Neste momento, penso também com admiração sobretudo nos numerosos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos que, no mundo inteiro, se dedicam ao anúncio do Evangelho com grande amor e fidelidade, não raro até à custa da própria vida. O seu testemunho exemplar recorda-nos que a Igreja não tem necessidade de burocratas, nem de funcionários diligentes, mas de missionários apaixonados, devorados pelo ardor de anunciar a todos a palavra consoladora de Jesus e a sua graça. Este é o fogo do Espírito Santo. Se a Igreja não receber este fogo, ou se não o deixar entrar em si, tornar-se-á uma Igreja arrefecida, ou apenas tíbia, incapaz de dar vida porque feita de cristãos frios e mornos. Hoje, far-nos-á bem pensar cinco minutos e perguntar-nos: «Mas como está o meu coração? É frio, é tíbio? É capaz de receber este fogo?». Pensemos cinco minutos nisto. Fará bem a todos nós. E peçamos à Virgem Maria que ore connosco e interceda por nós junto do Pai celestial, a fim de que Ele infunda em todos os fiéis o Espírito Santo, o fogo divino que aquece o coração e nos ajuda a ser solidários com as alegrias e os sofrimentos dos nossos irmãos. Que nos ajude no nosso caminho o exemplo de são Maximiliano Kolbe, mártir da caridade, cuja festa se celebra hoje: ele nos ensine a viver o fogo do amor a Deus e ao próximo. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, no Domingo, dia 14 de Agosto de 2016)

sábado, 16 de agosto de 2025

EM DESTAQUE:

 


- SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
 
Queridos irmãos e irmãs: feliz festa!...
Os Padres do Concílio Vaticano II deixaram-nos um texto maravilhoso sobre a Virgem Maria, que me apraz reler convosco hoje, enquanto celebramos a festa da sua Assunção à glória do céu. No final do documento sobre a Igreja, o Concílio diz o seguinte: «…a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cf. 2 Pe 3, 10)» (Lumen gentium, 68).
Maria, que Cristo ressuscitado levou consigo, em corpo e alma, para a glória, brilha como ícone de esperança para os seus filhos peregrinos na história.
Como não pensar nos versos de Dante, no último canto do Paraíso? Na oração colocada na boca de São Bernardo, que começa com «Virgem mãe, filha do teu filho» (XXXIII, 1), o poeta louva Maria porque, aqui em baixo, entre nós mortais, Ela é «fonte vivaz de esperança» (ibid., 12), ou seja, fonte viva, transbordante de esperança.
Irmãs e irmãos: esta verdade da nossa fé está em perfeita sintonia com o tema do Jubileu que estamos a viver: «Peregrinos de esperança». O peregrino precisa de uma meta que oriente a sua viagem: uma meta bonita, atraente, que guie os seus passos e o revigore quando está cansado, que reavive sempre no seu coração o desejo e a esperança. No caminho da existência, esta meta é Deus, Amor infinito e eterno, plenitude de vida, de paz, de alegria e de todo o bem. O coração humano sente-se atraído por tal beleza e enquanto não a encontra não é feliz; e, efectivamente, corre o risco de não a encontrar se se perder no meio da “floresta escura” do mal e do pecado.
Mas, eis a graça: Deus veio ao nosso encontro; assumiu a nossa carne, feita de terra e, simbolicamente, digamos que a levou consigo «para o céu», isto é, para Deus. É o mistério de Jesus Cristo, encarnado, morto e ressuscitado pela nossa salvação; e, inseparável d’Ele, está também o mistério de Maria, a mulher de quem o Filho de Deus recebeu a carne, e o mistério da Igreja, corpo místico de Cristo. Trata-se de um único mistério de amor e, portanto, de liberdade. Assim como Jesus disse “sim”, Maria também disse “sim”, acreditou na palavra do Senhor. E toda a sua vida foi uma peregrinação de esperança com o Filho de Deus e seu, uma peregrinação que, através da Cruz e da Ressurreição, a conduziu à pátria, ao abraço de Deus.
Por isso, enquanto estivermos a caminho, como indivíduos, como família, em comunidade, especialmente quando as nuvens chegarem e o caminho se tornar incerto e difícil, levantemos o olhar, olhemos para Ela, nossa Mãe, e reencontraremos a esperança que não engana (cf. Rm 5, 5). (Papa Leão XIV, Oração do Angelus, Castel Gandolfo, 15 de Agosto de 2025)
 

DA PALAVRA DO SENHOR



XX DOMINGO COMUM     

“…Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas,
ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca
e corramos com perseverança para o combate
que se apresenta diante de nós,
fixando os olhos em Jesus,
guia da nossa fé e autor da sua perfeição.
Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance,
Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia,
e está sentado à direita do trono de Deus.
Pensai n’Aquele que suportou contra Si
tão grande hostilidade da parte dos pecadores,
para não vos deixardes abater pelo desânimo.
Vós ainda não resististes até ao sangue,

na luta contra o pecado…” (cf. Hebreus 12, 1-4) 

PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 13 de Agosto de 2025
 
Estimados irmãos e irmãs!
Continuamos o nosso caminho na escola do Evangelho, seguindo os passos de Jesus, nos últimos dias da Sua vida. Hoje, meditamos sobre uma cena íntima, dramática, mas, também, profundamente verdadeira: o momento em que, durante a ceia pascal, Jesus revela que um dos Doze está prestes a traí-lo: «Em verdade vos digo, um de vós, que come comigo, me há-de trair» (Mc 14, 18).
Palavras fortes! Jesus não as pronuncia para condenar, mas sim para demonstrar que o amor, quando é verdadeiro, não pode prescindir da verdade. A sala, no andar superior, onde pouco antes tudo tinha sido preparado com esmero, enche-se, repentinamente, de uma dor silenciosa, feita de perguntas, suspeitas, vulnerabilidades. Trata-se de uma dor que até nós conhecemos bem, quando nas relações mais queridas se insinua a sombra da traição.
No entanto, é surpreendente a maneira como Jesus fala sobre o que está prestes a acontecer. Não levanta a voz; não aponta o dedo; não pronuncia o nome de Judas. Fala de tal modo que cada um possa interrogar-se. E é, exactamente, o que acontece. São Marcos diz-nos: «Começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um após outro: “Porventura sou eu?”» (Mc 14,19).
Prezados amigos: esta pergunta – “Porventura sou eu?” – é, talvez, uma das mais sinceras que podemos dirigir a nós mesmos. Não é a pergunta do inocente, mas do discípulo que se descobre frágil. Não é o clamor do culpado, mas o sussurro de quem, embora deseje amar, sabe que pode ferir. É a partir desta consciência que começa o caminho da salvação.
Jesus não denuncia para humilhar. Diz a verdade, porque quer salvar. E, para ser salvo, é preciso sentir: sentir que se está envolvido; sentir que se é amado não obstante tudo; sentir que o mal é real mas não tem a última palavra. Só quem conheceu a verdade de um amor profundo pode aceitar, inclusive, a ferida da traição.
A reacção dos discípulos não é raiva, mas tristeza. Não se indignam, entristecem-se. Trata-se de uma dor que nasce da possibilidade real de estar envolvido. E é, precisamente, esta tristeza, se acolhida com sinceridade, que se torna lugar de conversão. O Evangelho não nos ensina a negar o mal, mas a reconhecê-lo como dolorosa ocasião para renascer.
Além disso, Jesus acrescenta uma frase que nos inquieta e nos faz pensar: «Ai daquele por quem o Filho do Homem for traído! Melhor fora que nunca tivesse nascido!» (Mc 14, 21). São, certamente, palavras duras; mas devem ser bem compreendidas: não se trata de uma maldição, mas sim de um grito de dor. Em grego, aquele “ai” soa como uma lamentação, um “ai de mim”, uma exclamação de compaixão sincera e profunda.
Estamos habituados a julgar. Deus, ao contrário, aceita sofrer. Quando vê o mal, não se vinga, entristece-se. E aquele “melhor fora que nunca tivesse nascido” não é uma condenação infligida a priori, mas uma verdade que cada um de nós pode reconhecer: se renegarmos o amor que nos gerou; se, traindo, nos tornarmos infiéis a nós próprios, então, realmente, perderemos o sentido da nossa vinda ao mundo, excluindo-nos da salvação.
Contudo, precisamente ali, no ponto mais obscuro, a luz não se apaga. Aliás, começa a brilhar. Pois, se reconhecermos o nosso limite; se nos deixarmos tocar pela dor de Cristo, então, finalmente, poderemos renascer. A fé não nos exime da possibilidade do pecado, mas oferece-nos, sempre, uma saída: a da misericórdia!
Jesus não se escandaliza perante a nossa fragilidade. Sabe bem que nenhuma amizade está imune ao risco da traição. Mas, Jesus continua a ter confiança. Continua a sentar-se à mesa com os seus. Não renuncia a partir o pão até para quem o trairá. Eis a força silenciosa de Deus: nunca abandona a mesa do amor, nem sequer quando sabe que será deixado sozinho.
Caros irmãos e irmãs: hoje, também nós podemos perguntar-nos, com sinceridade: “Porventura sou eu?”. Não para nos sentirmos acusados, mas para abrir um espaço à verdade no nosso coração. A salvação começa aqui: na consciência de que poderíamos ser nós a quebrar a confiança em Deus, mas que também podemos ser nós a aceitá-la, a preservá-la, a renová-la.
No fundo, é nisto que consiste a esperança: saber que, embora possamos fracassar, Deus nunca falha. Ainda que possamos trair, Ele não se cansa de nos amar. E se nos deixarmos alcançar por este amor – humilde, ferido, mas sempre fiel – então realmente poderemos renascer. E começar a viver não já como traidores, mas como filhos sempre amados. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR



- SALMO 39
 
Refrão: Senhor, socorrei-me sem demora.
 
Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me.
Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do lamaçal,
assentou os meus pés na rocha
e firmou os meus passos.
 
Pôs em meus lábios um cântico novo,
um hino de louvor ao nosso Deus.
Vendo isto, muitos hão-de temer
e pôr a sua confiança no Senhor.
 
Eu sou pobre e infeliz:
Senhor, cuidai de mim.
Sois o meu protector e libertador:
ó meu Deus, não tardeis.
 

SANTOS POPULARES

 


SANTA MARIA MICAELA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
 
Maria Micaela Desmaisières y López de Dicastillo nasceu em Madrid, Espanha, no dia 1 de Janeiro de 1809, numa família da nobreza espanhola. O seu pai, Miguel Desmaissières y Flores, tinha antepassados militares, originários da Flandres, no norte da Bélgica. A sua mãe, Bernarda López de Dicastillo y Olmeda, Condessa de la Vega del Pozo e Marquesa de los Llanos de Alguazas, descendia de uma família de Navarra.
Foi batizada três dias após o nascimento, na paróquia de São José, em Madrid. Devido à situação política, a sua mãe - dama de companhia da rainha Maria Luísa de Parma, esposa do rei Carlos IV - deixou o seu posto para seguir o seu marido, brigadeiro do exército espanhol.
Micaela recebeu uma educação digna da sua posição, frequentando o Colégio das Irmãs Ursulinas, de Pau, na França. No entanto, alguns acontecimentos dolorosos ocorreram na sua família. Em 1822, o seu pai morreu devido aos ferimentos sofridos durante a Guerra da Independência. Três anos depois, o seu irmão Luis, também soldado de carreira, perdeu a vida numa queda de cavalo. Na mesma época, uma das suas irmãs, Engrácia, sofreu um grande trauma que a deixou com a sua saúde mental seriamente comprometida.
Após todos esses acontecimentos, a sua mãe retirou as filhas restantes do internato e completou a sua educação em casa, ensinando-lhes tudo o que precisavam de saber para se tornarem boas donas de casa.
Micaela revelou um grande talento artístico: pintava quadros religiosos e miniaturas e tocava harpa. Ela aprendeu, também, a montar, tornando-se uma amazona experiente.
Nos verões, passava férias, com a família, em Guadalajara, onde a sua mãe havia herdado uma casa de campo.
Durante a epidemia de cólera, que atingiu a cidade, em 1834, Micaela foi a primeira a levar socorro às vítimas, dando um exemplo de nobreza de espírito e de caridade cristã.
A partir de 26 de Fevereiro de 1838, foi-lhe concedido o título vitalício de Viscondessa de Jorbalán, concedido pela sua mãe.
Apesar de ser profundamente devota da Eucaristia, como a sua mãe lhe havia incutido, Micaela não sentia necessidade de uma maior exigência e compromisso no seu viver religioso. Nunca lhe passara pela cabeça consagrar-se, de maneira especial, a Deus. Como jovem do seu tempo, o mais natural era seguir pelo caminho do casamento: era considerada um excelente partido e já tivera alguns namorados. Tudo mudou quando Francisco Javier Fernández de Henestrosa y Santisteban, filho do Marquês de Villadarias, a pediu em casamento.
O relacionamento durou três anos, durante os quais os dois jovens fizeram a experiência de um verdadeiro amor. No entanto, na véspera do casamento, o Marquês rompeu o noivado: estava financeiramente arruinado por causa do seu apoio à causa carlista (ele apoiava Dom Carlos de Espanha, que se considerava o herdeiro legítimo do trono). Nestas circunstâncias, o Marquês de Villadarias, pai de Francisco, decidiu procurar uma noiva, mais rica, para o seu filho, que pudesse trazer um dote bem maior. Pela primeira vez, Micaela, profundamente humilhada, foi exposta à coscuvilhice da nobreza madrilena.
Em 1841, morreu a sua mãe. Dois anos depois, outra das suas irmãs, Manuela, também morreu, depois de ter sido forçada a seguir o seu marido, que havia sido exilado por razões políticas e foi tão cruel com ela que havia exigido para si a herança, que, na realidade, pertencia a Micaela.
Antes de morrer, a Condessa confiou Micaela aos cuidados do seu director espiritual, o jesuíta Padre Eduardo José Rodriguez de Carasa. Ele ajudou Micaela, dividida entre os seus deveres religiosos e as exigências da sua classe social, a escapar de uma vida dupla.
De acordo com as suas instruções, Maria Micaela levantava-se de madrugada para rezar, assistir à missa e passar o resto do dia a praticar obras de caridade, para que à noite pudesse comparecer a jantares, apresentações teatrais e a bailes. Ela tentava sorrir, mesmo durante as reuniões sociais, apesar de alguns problemas físicos: sofria, constantemente, de dores de estômago.
Em 1844, o Padre Carasa apresentou-a a Maria Inácia Rico de Grande, uma mulher em quem confiava, que, no dia 6 de Fevereiro, a levou, pela primeira vez, ao Hospital de São João de Deus, em Madrid, que abrigava várias mulheres, prostitutas e outras, que sofriam de doenças venéreas. Em particular, Micaela aproximou-se de uma jovem, filha de um banqueiro, que havia sido enganada por uma falsa marquesa, despojada de todos os seus bens, que acabou num bordel e contraiu a sífilis. Micaela conseguiu convencê-la a retornar à sua família.
Até então, ela desconhecia a situação daquelas mulheres, assim como desconhecia o destino ao qual corriam o risco de retornar após a libertação. A partir daquele episódio, Micaela concebeu a ideia de fundar algo para ajudar aquelas mulheres, vítimas da pobreza e da ignorância.
Por isso, fundou, em Madrid, em 21 de Abril de 1845, a Casa de Maria Santíssima das Abandonadas, que foi confiada a uma comissão de sete nobres voluntárias. A sua tarefa era educar as mulheres de rua, liberadas do hospital, ensinar-lhes os fundamentos da fé cristã e prepará-las para um trabalho digno.
Dois anos depois de empreender essa iniciativa, Micaela recebeu uma carta do seu irmão Diego, embaixador espanhol em Paris. Na carta, ele convidava-a para se juntar a ele porque a sua esposa, a Condessa de Sevillano, tinha dificuldade em adaptar-se ao novo ambiente.
Assim, confiando o trabalho à sua amiga, a Marquesa de Malpica, Micaela partiu para a França. Mais tarde, lembrou-se daquele período como um "ano perdido": ela adorava as últimas modas e sempre queria ser o centro das atenções. A sua religiosidade era pouco mais do que formal, com novenas e orações praticadas com indiferença.
Em Abril de 1847, porém, ela participou num retiro de espiritualidade. No dia 23 de Maio, festa de Pentecostes, ela recebeu uma "luz interior", para usar as suas próprias palavras: "Compreendi que Deus era tão grande, tão poderoso, tão bom, tão amoroso, tão misericordioso, que decidi não servir a mais ninguém a não ser o Senhor que reúne tudo isso para preencher meu coração."
A certeza da presença real de Cristo gerou nela confiança e abandono n’Ele, que lhe proveria tudo o que a sua alma e o seu trabalho necessitavam. Deus dotou-a de graças especiais, enquanto os seus esforços ascéticos se dirigiam principalmente à bondade, à humildade e à obediência.
Micaela continuou o seu compromisso, estendendo, juntamente com o Padre François de la Bouillerie, o culto eucarístico a Paris; fez o mesmo em Bruxelas, onde seguiu o seu irmão e a sua esposa. Tentou entrar nas Filhas da Caridade, em Paris; depois, nas Visitandinas. Devido à oposição do seu irmão e dos seus confessores, teve que desistir, continuando a sua vida de longa oração e penitência.
Ao voltar a Madrid, encontrou o Lar em condições precárias. Então retomou a sua administração. Depois de tentar confiar a sua gestão a professores leigos e, em seguida, a algumas Irmãs da Sagrada Família de Bordéus, decidiu, tendo compreendido a vontade de Deus, permanecer ao lado das suas filhas, a partir de 12 de Outubro de 1850.
Seguiram-se anos de árduo sacrifício: gastou a sua fortuna a sustentar o colégio, chegando mesmo a pedir esmolas. Encontrou duras hostilidades ao seu trabalho: foi caluniada, difamada e ameaçada de morte; o colégio correu mesmo o risco de ser incendiado.
Micaela foi deixada sozinha, até mesmo por clérigos que consideravam o seu trabalho inútil. O pároco local chegou mesmo a recusar-lhe a permissão para guardar o Santíssimo Sacramento na Capela do Colégio. Mas, ela respondeu-lhe que, se o Senhor se fosse embora, ela iria com Ele. Possuía um carácter tenaz, semelhante ao do seu pai, fortalecido pelas provações que enfrentara.
Em 1856, com a morte do Padre Rodríguez de Carasa, o Padre Antonio Maria Claret (canonizado em 1950) assumiu a sua direcção espiritual. Ele já conhecia Micaela do seu tempo como confessor na corte espanhola.
Ajudou-a, não apenas na sua vida pessoal, mas também na elaboração das Constituições. Assim, nasceram as Irmãs Adoradoras, Servas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, aprovadas pelo Cardeal Arcebispo de Toledo, em 25 de Abril de 1858.
Em 6 de Janeiro de 1859, Micaela e as suas primeiras sete companheiras fizeram os votos temporários. Em 15 de Junho de 1860, somente ela emitiu os votos perpétuos: agora era Madre Maria Michela do Santíssimo Sacramento (abreviadamente Madre Sacramento) e foi nomeada Superiora- Geral.
A congregação recebeu o decreto pontifício de louvor em 15 de Setembro de 1860, enquanto as Constituições receberam aprovação inicial, para um período probatório de cinco anos, em 23 de Setembro de 1861, seguida pela aprovação papal definitiva, em 24 de Novembro de 1866.
Assim, a fundadora indicou, nas Constituições, os propósitos da nova congregação: por um lado, a adoração contínua do Santíssimo Sacramento; por outro, tratar com benevolência e verdadeira caridade as meninas órfãs ou infelizes que desejassem abandonar a vida de corrupção e escândalo a que se entregaram, proporcionando-lhes a educação e a criação necessárias.
A Madre Maria Micaela, devido à sua nobreza, não foi esquecida pela Corte Espanhola: de facto, a Rainha Isabel II chamou-a de volta para a sua casa. O encontro dessas duas mulheres foi benéfico para as actividades religiosas e sociais, que também se multiplicaram noutros ramos.
Em 1865, a cólera atingiu a Espanha novamente, particularmente em Valência, onde havia um Colégio de Adoradoras. A Madre Fundadora correu, mais uma vez, para a linha da frente, para ajudar as suas filhas, colegas freiras e as meninas que ela ajudava, que haviam sido infectadas. Ela, também, foi atingida pela doença e morreu no dia 24 de Agosto de 1865. Foi enterrada na cidade de Valência, no cemitério, numa vala comum.
À sua morte, a Congregação estava a crescer: já estavam a funcionar sete colégios e havia outros planeados. A Madre Maria Micaela deixou uma imensa riqueza de escritos: as Regras da Congregação, cartas, relatos de viagens, a sua autobiografia, notas espirituais íntimas de exercícios e retiros, o seu testamento e muitos outros.
Em 1889, o processo de beatificação foi iniciado na diocese de Valência.
Em 1891, os seus restos mortais foram transferidos do cemitério para a casa das Servas Adoradoras da cidade e colocados num artístico sarcófago.
De acordo com as normas da época, dois milagres foram aprovados para a sua beatificação, em 1925. No dia 7 de Junho de 1925, o Papa Pio XI proclamou-a Beata e, em 4 de Março de 1934, proclamou-a Santa.
A memória litúrgica de Santa Maria Micaela é celebrada no dia 15 de Junho.
Hoje, as Servas Adoradoras do Santíssimo Sacramento e da Caridade dão continuidade à missão indicada pela sua fundadora por meio de escolas, colégios e casas de acolhimento para mulheres e meninas vítimas de prostituição ou em risco de marginalização. Estão presentes em 25 países.

sábado, 26 de julho de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XVII DOMINGO COMUM         

“…Sepultados com Cristo no baptismo,
também com Ele fostes ressuscitados
pela fé que tivestes no poder de Deus
que O ressuscitou dos mortos.
Quando estáveis mortos nos vossos pecados
e na incircuncisão da vossa carne,
Deus fez que voltásseis à vida com Cristo
e perdoou-nos todas as nossas faltas.
Anulou o documento da nossa dívida,
com as suas disposições contra nós;
suprimiu-o, cravando-o na cruz…”
(cf. Colossenses 2, 12-14)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na homilia, na Catedral de Albano, no XVI Domingo do tempo comum, 20 de Julho de 2025

Caros irmãos e irmãs:

 

Estou muito feliz por hoje me encontrar, aqui, a celebrar a Eucaristia dominical nesta linda Catedral. Como sabeis, a minha chegada estava prevista para o dia 12 de maio, porém o Espírito Santo fez de modo diverso. Mas estou verdadeiramente feliz e, com esta fraternidade e alegria cristã, saúdo todos os presentes, Sua Eminência, o Bispo da Diocese, as Autoridades presentes e todos vós.

Na liturgia hodierna, a Primeira Leitura e o Evangelho falam-nos de hospitalidade, de serviço e de escuta (cf. Gn 18, 1-10; Lc 10, 38-42).

No primeiro caso, Deus visita Abraão na pessoa de “três homens” que se dirigem à sua tenda «na hora mais quente do dia» (cf. Gn 18, 1-2). Podemos imaginar a cena: o sol escaldante, a calma do deserto, o calor intenso e os três desconhecidos que procuram abrigo. Abraão, sentado «à porta da sua tenda», está no lugar de anfitrião, e é muito bonito ver como exerce a sua função: reconhecendo nos visitantes a presença de Deus, levanta-se, corre ao seu encontro, prostra-se por terra, pede-lhes que se detenham. E assim, toda a cena ganha vida. A tranquilidade da tarde é preenchida com gestos de amor que envolvem não só o Patriarca, mas também Sara, sua mulher, e os servos. Abraão não está já sentado, mas «de pé junto dos estranhos, debaixo da árvore» (Gn 18, 8), e aí Deus dá-lhe a notícia mais bonita que poderia esperar: «Sara, tua mulher, terá já um filho» (Gn 18, 10).

A dinâmica deste encontro pode fazer-nos refletir: Deus escolhe o caminho da hospitalidade para encontrar Sara e Abraão e para lhes anunciar o dom da sua fecundidade, que eles tanto desejavam e já nem sequer esperavam. Depois de tantos momentos de graça em que anteriormente os tinha visitado, volta a bater-lhes à porta, pedindo acolhimento e confiança. E aqueles dois idosos respondem positivamente, sem saber ainda o que está para acontecer. Reconhecem nos misteriosos visitantes a Sua bênção, a Sua própria presença. Oferecem-Lhe o que têm – comida, companhia, serviço e a sombra de uma árvore –, e recebem a promessa de uma vida nova e de uma descendência.

Embora em circunstâncias diferentes, o Evangelho fala do mesmo modo de agir de Deus. Também aqui, Jesus se apresenta como hóspede em casa de Marta e Maria. Não é um desconhecido: está em casa de amigos e o ambiente é de festa. Uma das irmãs acolhe-o com mil atenções, enquanto a outra o escuta sentada a seus pés, com a atitude típica do discípulo perante o mestre. Como sabemos, às queixas da primeira, que gostaria de receber alguma ajuda em questões práticas, Jesus responde convidando-a a apreciar o valor da escuta (cf. Lc 10, 41-42).

No entanto, seria errado ver estas duas atitudes como contrapostas entre si, bem como fazer comparações em termos de méritos entre as duas mulheres. Com efeito, o serviço e a escuta são duas dimensões gémeas do acolhimento.

Em primeiro lugar, na nossa relação com Deus. Na verdade, se é importante que vivamos a nossa fé com ações concretas e com a fidelidade aos nossos deveres, segundo o estado e a vocação de cada um, é também fundamental que o façamos a partir da meditação da Palavra de Deus e da atenção ao que o Espírito Santo sugere ao nosso coração, reservando, para isso, momentos de silêncio, momentos de oração, tempos em que, silenciando ruídos e distrações, nos reunimos diante d’Ele e construímos a unidade em nós mesmos. Esta é uma dimensão da vida cristã que hoje temos particular necessidade de recuperar, seja como valor pessoal e comunitário seja como sinal profético para o nosso tempo: dar lugar ao silêncio, à escuta do Pai que fala e «vê o oculto» (Mt 6, 6). Neste sentido, os dias de verão podem ser um tempo providencial para experimentar como é bela e importante a intimidade com Deus, e como ela pode também ajudar-nos a ser mais abertos e acolhedores uns para com os outros.

São dias em que dispomos de mais tempo livre, tanto para nos recolhermos e meditarmos, como para nos encontrarmos, deslocando-nos e visitando-nos reciprocamente. Saindo do turbilhão dos compromissos e das preocupações, aproveitemo-los para saborear alguns momentos de sossego e recolhimento, bem como para, indo a algum lado, partilhar a alegria de nos vermos – como acontece comigo, hoje e aqui. Façamos disto uma oportunidade para cuidarmos uns dos outros, para trocarmos experiências, ideias, para nos compreendermos mutuamente e darmos bons conselhos: isto faz-nos sentir amados, e todos precisamos de tal. Façamo-lo com coragem. Deste modo, na solidariedade, na partilha da fé e da vida, promoveremos uma cultura de paz, ajudando também aqueles que nos rodeiam a superar divisões e hostilidades e a construir a comunhão entre pessoas, povos e religiões.

O Papa Francisco disse que «se quisermos saborear a vida com alegria, devemos associar estas duas atitudes: por um lado, “estar aos pés” de Jesus, para o ouvir enquanto Ele nos revela o segredo de tudo; por outro, estar atentos e prontos na hospitalidade, quando Ele passa e bate à nossa porta, com o rosto do amigo que tem necessidade de um momento de conforto e fraternidade»  (Angelus, 21 de Julho de 2019). Disse estas palavras, de resto, poucos meses antes que a pandemia começasse. E, neste sentido, quanto nos ensinou aquela longa e dura experiência, que ainda hoje recordamos.

Naturalmente, tudo isto implica fadiga. O serviço e a escuta não são sempre fáceis: exigem empenho, capacidade de renúncia. Por exemplo, na escuta e no serviço, a fidelidade e o amor com que um pai e uma mãe orientam a sua família implicam fadiga, o mesmo acontece com o empenho dos filhos, em casa e na escola, para corresponder aos seus esforços; é exigente o compreendermo-nos uns aos outros quando temos opiniões diferentes, o perdoarmo-nos quando se erra, o assistirmo-nos quando se está doente, o apoiarmo-nos quando se está triste. Mas só assim, com estes esforços, se constrói algo de bom na vida; só assim nascem e crescem relações autênticas e fortes entre as pessoas, e a partir de baixo, da quotidianidade, o Reino de Deus cresce, se difunde e se experimenta já presente (cf. Lc 7, 18-22).

Santo Agostinho, ao refletir sobre o episódio de Marta e Maria, comentou num dos seus discursos: «Nestas duas mulheres estão simbolizadas duas vidas: a presente e a futura; uma vivida na fadiga e a outra no repouso; uma atribulada, a outra bem-aventurada; uma temporária, a outra eterna» (Sermão 104, 4). E pensando no trabalho de Marta, Agostinho disse: «Quem na terra está isento deste serviço de cuidar dos outros? Quem na terra consegue descansar destas tarefas? Procuremos desempenhá-las de forma irrepreensível e com caridade [...]. O cansaço passará e o repouso chegará; mas o repouso só chegará por meio do cansaço. A barca passará e a pátria chegará; mas não se chegará à pátria senão por meio da barca» (ibid., 6-7).

Abraão, Marta e Maria recordam-nos hoje precisamente isto: que a escuta e o serviço são duas atitudes complementares para, na vida, nos abrirmos à presença abençoadora do Senhor. O seu exemplo convida-nos a conciliar com sabedoria e equilíbrio, ao longo de cada dia, contemplação e ação, repouso e fadiga, silêncio e trabalho, tendo sempre como medida a caridade de Jesus, como luz a sua Palavra e como manancial de força a sua graça, que nos sustenta para além das nossas próprias capacidades (cf. Fl 4, 13)  (cf. Santa Sé)

 


PARA REZAR

 


- SALMO 137

 

Refrão: Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor!

 

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos hei-de cantar-Vos
e adorar-Vos, voltando para o vosso templo santo.

Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.

O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
No meio da tribulação Vós me conservais a vida,
Vós me ajudais contra os meus inimigos.

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.


SANTOS POPULARES

 


BEATA MARIA VICENTA DE SANTA DOROTEIA OROZCO
 
Doroteia nasceu no dia 6 de Fevereiro de 1867, em Cotija, Michoacán, no México. Era filha de Luis Chávez e Benigna de Jesus Orozco, e a mais nova de quatro filhos. No baptismo, recebeu o nome de Doroteia ("dom de Deus"). A sua família era muito humilde; porém, apesar da pobreza, procurou dar a melhor educação aos seus filhos, sobretudo nos valores da fé cristã. Doroteia fez os seus primeiros estudos com o seu irmão Elísio, que era professor.
Cresceu com uma forte devoção ao Menino Jesus, chegando a convidar os seus amigos para rezar com ela; durante esse período, recebeu a Primeira Comunhão, em sua paróquia.
Por volta dos nove anos de idade, teve que acompanhar a família, na mudança para Guadalajara, um bairro habitado por famílias pobres. Lá, levou uma vida temente a Deus.
Por volta dos 24 ou 25 anos, contraiu uma grave doença pulmonar, que a obrigou a ser internada no pequeno hospital da Paróquia de Mexicaltzingo e a confiar-se aos cuidados das Senhoras da Conferência de São Vicente de Paulo. O carinho que recebeu convenceu Doroteia Chávez Orozco de que este era o seu caminho: consagrar-se a Deus e dedicar-se a cuidar dos "doentes pobres".
Após a sua recuperação, voltou ao mesmo hospital, em 19 de Julho de 1892, onde não só auxiliou as Senhoras da Conferência de São Vicente de Paulo, cuidando dos doentes, mas também, consagrando-se a Deus: assumiu o nome ‘Vicenta’. Em 1905, fundou uma nova congregação religiosa, para cuidar do hospital. Sob a direcção espiritual do Cónego Padre Miguel Cano e com o lema de São Paulo, "A caridade de Cristo nos anima", a Madre Vicenta de Santa Doroteia fundou a Congregação das Servas da Santíssima Trindade e dos Pobres.
Para ela, servir os pobres doentes era uma forma de glorificar a Deus, através do exercício da mais altruísta caridade. A sua vida foi um exemplo - tanto para os de fora, quanto para as outras freiras - de constante sacrifício, imolação, de perpétua abnegação, solicitude e zelo, de total esquecimento de si mesma e do seu conforto pessoal, de pura e constante paciência, de ardente caridade e terna compaixão pelos que sofrem, de mansidão e humildade aos pés de Jesus.
A tudo isso deve acrescentar-se um zelo e apostolado fecundos pela salvação das almas, uma união íntima com Deus, nascida de grande devoção e lágrimas ardentes. A Madre Vicenta foi nomeada Superiora-Geral e assim permaneceu durante 30 anos, sempre com bondade e gentileza; o Instituto foi abençoado por Deus, e as vocações fluíram abundantemente: em poucos anos, foram criadas, no México, 22 fundações, incluindo hospitais, clínicas e asilos, todos sob a administração de Madre Vicenta.
Mesmo para esta próspera instituição, chegou a hora da provação. Em 1914, as tropas revolucionárias de Venusiano Carranza, como parte da perseguição à Igreja Católica e das guerras civis da época, também ocuparam Guadalajara, e as Irmãs passaram por momentos terríveis. No entanto, quando, em 1926, o hospital de São Vicente de Paulo, em Zapotlánel Grande, foi ocupado por soldados feridos, as Irmãs cuidaram deles com caridade inabalável, independentemente de serem inimigos e perseguidores da Igreja.
Aos doentes e sofredores, a Madre Vicenta sempre dizia: "Continuem com espírito generoso no caminho da Cruz: recebam tudo isso como um sinal da Vontade Divina". Com paciência e humildade, ela sempre conseguiu controlar o seu temperamento, um tanto irascível.
Em 29 de Julho de 1949, sofreu um ataque cardíaco, causando alarme em toda a comunidade. No dia 30, foi internada no hospital da Santíssima Trindade, em Guadalajara. O seu estado piorou. Recebeu, então, o sacramento da Unção Enfermos; o Arcebispo da cidade veio ouvi-la em confissão e celebrar a Santa Missa. No momento da elevação da Hóstia, a Madre Vicenta concluiu a sua vida terrena.
Maria Vicenta de Santa Doroteia foi beatificada no dia 9 de Novembro de 1997, pelo Papa João Paulo II. Na homilia, o Papa disse: “…Templo precioso da Santíssima Trindade foi a alma forte e humilde da nova beata mexicana, Maria Vicenta de Santa Doroteia Chávez Orozco. Animada pela caridade de Cristo, sempre vivo e presente na sua Igreja, consagrou-se ao Seu serviço na pessoa dos «pobrezinhos enfermos», como maternalmente chamava. Inúmeras dificuldades e contratempos modelaram o seu carácter enérgico, pois Deus quis que ela fosse simples, doce e obediente, tornando-a pedra angular do Instituto das Servas da Santíssima Trindade e dos Pobres, fundado pela nova beata na cidade de Guadalajara, para cuidar dos enfermos e dos idosos.
Virgem sensata e prudente, edificou a sua obra no fundamento de Cristo sofredor, curando com o bálsamo da caridade e com o remédio do conforto os corpos feridos e as almas aflitas dos predilectos de Cristo: os indigentes, os pobres e os necessitados.
O seu exemplo luminoso, entretecido de oração, de serviço ao próximo e de apostolado, prolonga-se hoje no testemunho das suas filhas e de tantas pessoas de coração nobre, que se empenham com desvelo para levar aos hospitais e às clínicas a Boa Nova do Evangelho…”
A memória litúrgica da Beata Maria Vicenta de Santa Doroteia Chávez Orozco é celebrada no dia 30 de Julho.
 

domingo, 20 de julho de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XVI DOMINGO COMUM     

“…Jesus entrou em certa povoação
e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa.
Ela tinha uma irmã chamada Maria,
que, sentada aos pés de Jesus,
ouvia a sua palavra.
Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço.
Interveio então e disse:
«Senhor, não Te importas
que minha irmã me deixe sozinha a servir?
Diz-lhe que venha ajudar-me».
O Senhor respondeu-lhe:
«Marta, Marta,
andas inquieta e preocupada com muitas coisas,
quando uma só é necessária.
Maria escolheu a melhor parte,
que não lhe será tirada».”
(cf. Lucas 10, 38-42)

 


PALAVRA DO PAPA LEÃO



- discurso aos participantes da peregrinação ecuménica ortodoxo-católica dos Estados Unidos da América, Castel Gandolfo, Quinta-Feira, 17 de Julho de 2025

 

Caros irmãos e irmãs:

Dirijo uma cordial saudação a todos, especialmente ao Arcebispo Metropolita Elpidophoros e ao Cardeal Tobin, a quem agradeço por terem escolhido organizar este encontro, no contexto da sua peregrinação. Bem-vindos. Lamento o atraso.

Esta manhã, havia várias reuniões agendadas. No entanto, estou muito feliz por poder passar este momento convosco, neste lindo lugar, em Castel Gandolfo.

Vieram dos Estados Unidos, que, como sabeis, é o meu país de origem, fazendo esta viagem, que pretende ser um retorno às raízes, às fontes, aos lugares e às memórias dos Apóstolos Pedro e Paulo, em Roma, e do apóstolo André, em Constantinopla.

É, também, uma forma de experimentar, de modo novo e concreto, a fé que nasce da escuta do Evangelho, da experiência do Evangelho que os Apóstolos nos transmitiram (cf. Rm  10,16). É significativo que a sua peregrinação se realize neste ano, em que celebramos o 1700º aniversário do Concílio de Niceia. O Credo, adoptado pelos Padres reunidos, permanece - juntamente com os acréscimos feitos pelo Concílio de Constantinopla, em 381 - a herança comum de todos os cristãos, para muitos dos quais o Credo é parte integrante das suas celebrações litúrgicas. Além disso, por uma coincidência providencial, este ano os dois calendários em uso nas nossas Igrejas coincidem, de modo que pudemos cantar em uníssono o Aleluia Pascal: "Cristo ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!"

Estas palavras proclamam que as trevas do pecado e da morte foram vencidas pelo Cordeiro imolado, Jesus Cristo, nosso Senhor. Isto inspira-nos grande esperança, porque sabemos que nenhum grito das vítimas inocentes da violência; nenhum lamento das mães que choram os seus filhos ficará sem ser ouvido. A nossa esperança está em Deus e, precisamente porque bebemos constantemente da fonte inesgotável da sua graça, somos chamados a ser testemunhas e portadores dela. A Igreja Católica celebra o nosso Ano Jubilar, cujo lema, escolhido pelo meu predecessor, o Papa Francisco, é ‘Peregrinantes in Spe’, isto é, peregrinos na esperança. Eminência, Metropolita Elpidophoros, o seu próprio nome diz-nos que é um portador de esperança! Espero que a sua peregrinação vos confirme a todos na esperança que nasce da fé no Senhor Ressuscitado!

Aqui em Roma, tivestes-vos em oração junto aos túmulos de Pedro e Paulo. Agora que ides visitar a Sé de Constantinopla, peço-vos que transmitais as minhas saudações e meu abraço, um abraço de paz, ao meu venerável irmão Patriarca Bartolomeu, que tão gentilmente participou da Santa Missa, no início do meu pontificado. Espero encontrar-vos novamente, dentro de alguns meses para participar da comemoração ecuménica do aniversário do Concílio de Niceia.

A vossa peregrinação é um dos frutos abundantes do movimento ecuménico que visa restaurar a plena unidade entre todos os discípulos de Cristo, segundo a oração do Senhor, na Última Ceia, quando Jesus disse: «para que todos sejam um» ( Jo  17, 21). Às vezes, tomamos por óbvios estes sinais de partilha e comunhão que, embora ainda não signifiquem a plena unidade, já manifestam o progresso teológico e o diálogo na caridade que caracterizaram as últimas décadas. Em 7 de Dezembro de 1965, na véspera da conclusão do Concílio Vaticano II, o meu predecessor, São Paulo VI, e o Patriarca Atenágoras assinaram uma Declaração Conjunta, apagando da memória e da vida da Igreja as sentenças de excomunhão que se seguiram aos acontecimentos de 1054. Antes disso, uma peregrinação como a vossa provavelmente nem sequer teria sido possível. A obra do Espírito Santo criou, nos corações, a prontidão para dar tais passos, como um prenúncio profético da unidade plena e visível. Nós, também, por nossa vez, devemos continuar a implorar ao Paráclito, ao Consolador, a graça de seguir o caminho da unidade e da caridade fraterna.

A unidade entre os crentes, em Cristo, é um dos sinais do dom divino da consolação; a Escritura promete que "em Jerusalém serão consolados" (Is  66,13). Roma, Constantinopla e todas as outras sedes não são chamadas a disputar a primazia, para não corrermos o risco de nos encontrarmos como os discípulos que, no caminho, no momento em que Jesus anunciava a sua iminente paixão, discutiram sobre quem entre eles era o maior (cf. Mc 9,33-37).

Na Bula de Proclamação do Ano Jubilar, o Papa Francisco observou que “este Ano Santo abrirá caminho para outro aniversário fundamental para todos os cristãos: em 2033, celebrar-se-ão dois mil anos da Redenção realizada através da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus” (Spes non confundit, 6). Espiritualmente, todos nós precisamos retornar a Jerusalém, a Cidade da Paz, onde Pedro, André e todos os Apóstolos, depois dos dias da Paixão e Ressurreição do Senhor, receberam o Espírito Santo, no Pentecostes, e de lá deram testemunho de Cristo, até os confins da terra. Que o retorno às raízes da nossa fé nos permita, a todos, experimentar o dom da consolação de Deus e nos permita, como o Bom Samaritano, derramar sobre a humanidade de hoje o óleo da consolação e o vinho da alegria. Obrigado. (cf. Santa Sé) 

PARA REZAR


 


- SALMO 14

 

Refrão: Ensinai-nos, Senhor, quem viverá em Vossa casa?

 

O que vive sem mancha e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração
e guarda a sua língua da calúnia.

O que não faz mal ao seu próximo,
nem ultraja o seu semelhante,
o que tem por desprezível o ímpio,
mas estima os que temem o Senhor.

O que não falta ao juramento mesmo em seu prejuízo
e não empresta dinheiro com usura,
nem aceita presentes para condenar o inocente.
Quem assim proceder jamais será abalado.

SANTOS POPULARES



SÃO CRISTÓVÃO

A representação mais frequente de São Cristóvão mostra-o como um gigante barbudo, que carrega o Menino Jesus nos ombros, ajudando-o a atravessar um rio; o Menino segura o mundo nas pontas dos dedos, como se brincasse com uma bola. Esta imagem remonta a uma das lendas hagiográficas mais famosas sobre a vida do Santo, martirizado no dia 25 de Julho, na Lícia, na Anatólia, na Antiga Ásia Menor. Segundo esta tradição, o seu verdadeiro nome era Reprobus, um gigante que queria prestar serviço ao rei mais poderoso do mundo.
Ao chegar à Corte de um rei - que achava ser invencível - pôs-se ao seu serviço. Mas, certo dia, percebeu que o rei, ao escutar o canto de um trovador que falava do diabo, fez o Sinal da Cruz. Então, perguntou-lhe porquê. E o rei respondeu-lhe que tinha medo do diabo e que todas as vezes que ouvia falar do seu nome, fazia o Sinal da Cruz para buscar protecção.
O gigante, então, partiu em busca do diabo, que ele julgava ser mais poderoso do que o seu rei. Não demorou muito a encontra-lo; assim, pôs-se a servi-lo e a segui-lo. Porém, um dia, passando por uma rua onde havia uma cruz, o diabo desviou o seu caminho. Então, Reprobus perguntou-lhe porque havia agido daquela maneira. E o diabo foi obrigado a admitir que Cristo tinha morrido na Cruz; por isso, diante da Cruz, tinha que fugir, cheio de medo.
Então, Reprobus deixou o diabo de lado e partiu à procura de Cristo. Certo dia, encontrou um eremita que lhe sugeriu que construísse uma cabana nas margens de um rio - cujas águas eram muito perigosas - e se colocasse à disposição das pessoas que o quisessem atravessar, uma vez que tinha uma estatura gigantesca.
Um belo dia, o bom gigante ouviu uma voz de criança, que lhe pedia ajuda: era um menino que queria atravessar o rio. Então, o gigante colocou-o aos ombros e levou-o para o outro lado daquele rio perigoso. Enquanto fazia a travessia, o peso daquela criança aumentava cada vez mais; foi com muito custo que conseguiu chegar à outra margem. Lá, o menino revelou-lhe a sua identidade: era Jesus e o peso, que ele havia carregado, era o do mundo inteiro, salvado pelo sangue de Cristo.
Esta lenda, além de inspirar a iconografia ocidental, fez com São Cristóvão fosse invocado como padroeiro dos barqueiros, peregrinos, viajantes e motoristas.
No Oriente, São Cristóvão é, geralmente, representado com a cabeça de cão, como testemunham muitos ícones existentes em São Petersburgo e Sófia. A iconografia do santo cinocéfalo, segundo alguns, demonstra que se trata de um culto surgido em âmbito helénico-egípcio, com clara referência ao culto do deus Anúbis. Outra hipótese seria ainda bem mais plausível e complexa: Reprobus ter-se-ia alistado no exército romano e ter-se-ia convertido ao cristianismo com o nome de Cristóvão. Ao ser denunciado pelo seu apostolado entre os pelotões, foi conduzido diante de um juiz que fez todas as tentativas para que renunciasse a Cristo; tendo resistido, foi, por fim, decapitado.
Cristóvão “carregou Cristo” no seu coração até ao martírio, como o jumentinho carregou Cristo na Sua entrada triunfal, em Jerusalém, no dia de Ramos.
 
Por este motivo, ter-se-ia difundido no Oriente, inicialmente, o costume de representar Cristóvão com a cabeça de jumento, que, depois, teria mudado para uma cabeça de cão. Trata-se, porém, de uma iconografia existente no âmbito cristão, sem nenhuma relação com cultos pagãos.
Segundo a Lenda Dourada, o martírio de Cristóvão aconteceu em Anatólia. O Santo resistiu às torturas com hastes de ferro e metal incandescentes. Até as flechas, que lhe atiraram, ficaram suspensas no ar; uma delas, voltou e transpassou o olho do soberano, que havia ordenado seu o suplício. Assim, o rei mandou decapitar Cristóvão. Mas, antes de morrer, Cristóvão disse-lhe: “Banhe os olhos com o meu sangue e ficará curado”. O rei recuperou a visão e converteu-se. Desde então, São Cristóvão é invocado, também, contra as doenças da vista. (cf. vaticannews) 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR



XV DOMINGO COMUM     

“…Moisés falou ao povo, dizendo:
«Escutarás a voz do Senhor teu Deus,
cumprindo os seus preceitos e mandamentos
que estão escritos no Livro da Lei,
e converter-te-ás ao Senhor teu Deus
com todo o teu coração e com toda a tua alma.
Este mandamento que hoje te imponho
não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance.
Não está no céu, para que precises de dizer:
‘Quem irá por nós subir ao céu,
para no-lo buscar e fazer ouvir,
a fim de o pormos em prática?’.
Não está para além dos mares,
para que precises de dizer:
‘Quem irá por nós transpor os mares,
para no-lo buscar e fazer ouvir,
a fim de o pormos em prática?’.
Esta palavra está perto de ti,
está na tua boca e no teu coração,
para que a possas pôr em prática»…”
(cf. Deuteronómio 30, 10-14)


PALAVRA DO PAPA LEÃO

 


- na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Domingo, 6 de Julho de 2025

 

O Evangelho de hoje (Lc 10, 1-12.17-20) recorda-nos a importância da missão, à qual todos somos chamados, cada um segundo a própria vocação, nas situações concretas em que o Senhor o colocou.

Jesus envia setenta e dois discípulos (v. 1). Esse número simbólico indica que a esperança do Evangelho é destinada a todos os povos: é precisamente essa a grandeza do coração de Deus, a sua messe abundante, ou seja, a obra que Ele realiza no mundo para que todos os seus filhos sejam alcançados pelo seu amor e sejam salvos.

Ao mesmo tempo, Jesus diz: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara» (v. 2).

Por um lado, como um semeador, Deus saiu pelo mundo para semear com generosidade e colocou no coração do homem e da história o desejo do infinito, de uma vida plena, de uma salvação que o liberte. Por isso, a seara é grande: o Reino de Deus, como uma semente, germina no solo e as mulheres e os homens de hoje, mesmo quando parecem dominados por tantas outras coisas, esperam uma verdade maior, procuram um sentido mais pleno para as suas vidas, desejam a justiça, levam dentro de si um anseio de vida eterna.

Por outro lado, são poucos os operários que vão trabalhar no campo semeado pelo Senhor e que, além disso, são capazes de reconhecer, com os olhos de Jesus, o bom trigo que está pronto para a colheita (cf. Jo 4, 35-38). Há algo grande que o Senhor quer fazer na nossa vida e na história da humanidade, mas poucos são aqueles que se apercebem disso, que param para acolher o dom, que o anunciam e o levam aos outros.

Queridos irmãos e irmãs, a Igreja e o mundo não precisam de pessoas que cumprem os seus deveres religiosos mostrando a sua fé como um rótulo exterior; precisam, pelo contrário, de operários desejosos de trabalhar no campo da missão, de discípulos apaixonados que testemunhem o Reino de Deus onde quer que estejam. Talvez não faltem os “cristãos de ocasião”, que só de vez em quando dão lugar a algum sentimento religioso ou participam em algum evento; mas poucos são aqueles que estão prontos a trabalhar todos os dias no campo de Deus, cultivando no seu coração a semente do Evangelho para depois levá-la à vida quotidiana, à família, aos locais de trabalho e de estudo, aos vários ambientes sociais e àqueles que se encontram em necessidade.

Para fazer isso, não são necessárias muitas ideias teóricas sobre conceitos pastorais: é preciso, acima de tudo, rezar ao Dono da messe. Com efeito, em primeiro lugar está a relação com o Senhor, cultivando o diálogo com Ele. Então, será Ele que nos tornará seus operários e nos enviará ao campo do mundo como testemunhas do seu Reino.

Peçamos à Virgem Maria – Ela que participou na obra da salvação oferecendo generosamente o seu “Eis-me aqui” – que interceda por nós e nos acompanhe no caminho do seguimento do Senhor, para que também nós possamos tornar-nos operários alegres do Reino de Deus. (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 68

 

Refrão: Procurai, pobres, o Senhor, e encontrareis a vida.

 

A Vós, Senhor, elevo a minha súplica,
pela vossa imensa bondade respondei-me.
Ouvi-me, Senhor, pela bondade da vossa graça,
voltai-Vos para mim pela vossa grande misericórdia.

Eu sou pobre e miserável:
defendei-me com a vossa proteção.
Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em ação de graças O glorificarei.

Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.

Deus protegerá Sião,
reconstruirá as cidades de Judá.
Os seus servos a receberão em herança
e nela hão-de morar os que amam o seu nome.


SANTOS POPULARES

 


BEATA ANA MARIA JAVOUHEY
 
Ana Maria Javouhey nasceu no dia 10 de Novembro de 1779, em Jallongers, perto de Seurre, França. Foi a quinta filha de Claudine Javouhey e de Baltazar Javouhey. Aos sete anos, “Nanette”, como era tratada em família, foi, com a sua família, para Chamblanc; em 1789, fez a sua Primeira Comunhão e experimentou as convulsões sociais e a crise religiosa que surgiram, naqueles anos, a partir da Revolução Francesa: a imposição da Constituição Civil do clero, com alguns eclesiásticos a aderiram e outros que não.
Foi precisamente um deles, o abade Ballanche, que, com o seu apostolado semiclandestino, se tornou seu conselheiro e guia. Ana, a partir de 11 de Novembro de 1798, começou a interessar-se pela educação das crianças e pelo grande cuidado dos pobres doentes.
Desejando consagrar-se completamente a Deus, procurou uma Ordem religiosa que pudesse satisfazer a sua vocação; Ela foi a primeira a entrar no noviciado das Irmãs da Caridade, fundado por Santa Joana Antide Thouret, em Setembro-Novembro de 1800, em Besançon. Depois, em 1803, foi para a Suíça e entrou para o Mosteiro Trapista dirigido por Agostinho de Lastrange.
Mas, em Junho de 1804, retornou a Chamblanc para se juntar a três irmãs que também queriam consagrar-se a Deus. Em 14 de Abril de 1805, Domingo de Páscoa, as quatro irmãs tiveram os seus projectos abençoados e aprovados pelo Papa Pio VII, que estava de passagem por Chalon-sur-Saône, retornando de Paris, onde, no dia 2 de Dezembro de 1804, havia consagrado e coroado Napoleão Imperador.
Assim, tendo tomado coragem, elas abriram uma escola chamada "Associação de São José", em Chalon, em 1806. Entretanto, em 12 de Dezembro de 1806, Napoleão assinou a autorização para a pequena Comunidade. Em Maio de 1807, as quatro irmãs Javouhey e outras cinco freiras fizeram os seus votos, na igreja de São Pedro, elegendo Ana como superiora, que acrescentou Maria ao seu nome e adoptou o hábito azul dos vinicultores da Borgonha.
Após cinco anos de residência no antigo Mosteiro de Autun, a Associação de São José mudou-se, em Junho de 1812, para Cluny, no antigo convento das Recoletas, perto da famosa abadia de São Pedro. Desse lugar, a Fundação adoptou o nome de Congregação das "Irmãs de São José de Cluny".
A partir daí, a Madre Javouhey empreendeu outras iniciativas para difundir a Comunidade. Assim, em 10 de Janeiro de 1817, as quatro primeiras freiras desembarcaram na Ilha de Bourbon. O Rei Luís XVIII, entretanto, confirmou a existência da sua Congregação e autorizou-a a ensinar e a prestar assistência hospitalar.
Depois de ter fundado vários institutos, em França, a Madre Ana Maria embarcou, em Rochefort, no dia 1 de Fevereiro de 1823, para o Senegal, onde fundou quatro comunidades. Tendo retornado a França, em 1824, a laboriosa superiora dedicou-se à redacção dos Estatutos da Associação, que foram aprovados, nas diversas localidades, nos anos de 1825, 1827 e 1829.
O Ministro da Marinha, Chabrol, recorreu a ela para oferecer-se para reconstituir a antiga fundação da "Nouvelle-Angoulême", na Guiana Francesa, e a Madre Javouhey aceitou. Então, em 28 de Junho de 1828, ela deixou Brest e desembarcou em Caiena, no dia 10 de Agosto. Passou cinco anos de sacrifício, naquele clima tropical, para reconstituir o centro e a vila de La Massa, a 200 km de Caiena.
Em 1883, retornou a Cluny para resolver disputas que haviam surgido com o bispo de Autun, sobre a jurisdição da Fundação. Em 26 de Dezembro de 1835, ela retornou à Guiana e lá, com cerca de 500 escravos, libertados pelo Estado, assumiu a direcção de La Massa, que se tinha tornado um centro para a educação de negros, para os ajudar a aproveitar ao máximo asua liberdade e o seu trabalho.
Em 1843, ela deixou os seus amados negros para retornar a França, para lidar com os numerosos problemas espirituais levantados pelo seu trabalho; abriu um segundo noviciado, em Paris, que se tornou a actual Casa-Mãe.
O seu trabalho continuou até o esgotamento das suas forças.
A Madre Ana Maria Javouhey faleceu, em Paris, no dia 15 de Julho de 1851. Foi sepultada em Senlis, na grande capela da Congregação.
Foi uma mulher excepcional. Basta pensar que, para uma mulher, era algo fora do comum, naqueles tempos, viajar 45.000 km, através dos mares e com os veleiros da época. Muito à frente do seu tempo, a Madre Javouhey trabalhou, com todas as suas forças, pela promoção humana e cristã da raça negra; compreendeu, imediatamente, a necessidade de um clero local, por isso preparou os três primeiros padres senegaleses para o sacerdócio, ordenados, em Paris, em 1840, e uma jovem ex-escrava das Antilhas, tornou-se freira da Congregação e viveu e morreu na ilha de Santa Lúcia, no Caribe.
Ela tinha a intuição profética das Igrejas locais, sinais visíveis da universalidade da Igreja.
Desde 1817, ela enviou as suas ‘filhas’ para todas as partes do mundo, apesar dos eventos frequentemente desfavoráveis ​​da História.
O Papa Pio XI concedeu-lhe o título de "primeira missionária" pelo seu compromisso com a evangelização de terras distantes.
Uma mulher de inteligência surpreendentemente prática, vontade de ferro e personalidade forte, ela é bem descrita por uma frase do Rei da França, Luís Filipe (1835): "Madame Javouhey… mas, ela é um grande homem".
Como toda a fundadora, a Madre Javouhey deixou às Irmãs de São José de Cluny um "espírito" ou um modo de amar a Deus e um "projecto particular" ou um modo de servir a Igreja e o mundo; esses dois elementos constituem a sua herança familiar.
Ana Maria Javouhey foi beatificada no dia 15 de Outubro de 1950, na Basílica de São Pedro, Roma, pelo Papa Pio XII.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 15 de Julho.
 

domingo, 6 de julho de 2025

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XIV DOMINGO COMUM        

“…Alegrai-vos com Jerusalém,
exultai com ela, todos vós que a amais.
Com ela enchei-vos de júbilo,
todos vós que participastes no seu luto.
Assim podereis beber e saciar-vos
com o leite das suas consolações,
podereis deliciar-vos no seio da sua magnificência.
Porque assim fala o Senhor:
«Farei correr para Jerusalém a paz como um rio
e a riqueza das nações como torrente transbordante.
Os seus meninos de peito serão levados ao colo
e acariciados sobre os joelhos.
Como a mãe que anima o seu filho,
também Eu vos confortarei:
em Jerusalém sereis consolados.
Quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração
e, como a verdura, retomarão vigor os vossos membros.
A mão do Senhor manifestar-se-á aos seus servos…”
(cf. Isaías 66, 10-14)