PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “…Teve compaixão deles …” (cf. Marcos 6, 34) “… O Evangelho de hoje (Mc 6,30-34) narra-nos que os apóstolos, depois da sua primeira missão, voltaram para junto de Jesus e lhe contaram «tudo o que haviam feito e ensinado» (v. 30). Após a experiência da missão, certamente entusiasmante mas também cansativa, eles sentem a exigência de repousar. E Jesus, cheio de compreensão, preocupa-se em garantir-lhes um pouco de alívio e diz: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto, e descansai um pouco». Mas, desta vez, a intenção de Jesus não se pode realizar, porque a multidão, intuindo o lugar solitário para onde se teria dirigido de bar-co, juntamente com os seus discípulos, apressou-se para estar lá antes da sua chegada. O mesmo pode verificar-se, também, hoje. Por vezes, não conseguimos realizar os nossos projectos, porque acontece um imprevisto urgente que altera os nossos programas e requer flexibilidade e disponibilidade em relação às necessidades dos outros. Nestas circunstâncias, somos chamados a imitar o que Jesus fez: «Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas» (v. 34). Nesta breve frase, o evangelista apresenta-nos um flash de singular intensidade, fotografando os olhos do Mestre divino e o seu ensinamento. Observemos os três verbos deste fotograma: ver, ter compaixão, ensinar. Podemos chamá-los os verbos do Pastor. O olhar de Jesus não é neutro nem, pior ainda, frio e distante, porque Ele vê sempre com os olhos do coração. E o seu coração é tão terno e cheio de compaixão, que sabe sentir as necessidades inclusive as mais escondidas das pessoas. Além disso, a sua compaixão não indica simplesmente uma reacção emotiva perante uma situação de dificuldade das pessoas, mas é muito mais: é a atitude e a predisposição de Deus para com o homem e a sua história. Jesus manifesta-se como a realização da solicitude e da bondade de Deus pelo seu povo. Dado que Jesus se comoveu ao ver toda aquela gente necessitada de guia e de ajuda, esperaríamos que ele se preparasse para fazer algum milagre. Ao contrário, começou a ensinar-lhes muitas coisas. Eis o primeiro pão que o Messias oferece à multidão faminta e desorientada: o pão da Palavra. Todos nós precisamos da palavra da verdade, que guie e ilumine o caminho. Sem a verdade, que é o próprio Cristo, não é possível encontrar a orientação certa da vida. Quando nos afastamos de Jesus e do seu amor, ficamos desorientados e a existência transforma-se em desilusão e insatisfação. Com Jesus ao nosso lado, é possível proceder com segurança; é possível superar as provações; progredir no amor a Deus e ao próximo. Jesus fez-se dom para os outros, tornando-se assim modelo de amor e de serviço para cada um de nós…” (Papa Francisco, Ângelus, 22 de Julho de 2018)

sábado, 20 de julho de 2024

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XVI DOMINGOS COMUM       

“…Os Apóstolos voltaram para junto de Jesus
e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
Então Jesus disse-lhes:
«Vinde comigo para um lugar isolado
e descansai um pouco».
De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir
que eles nem tinham tempo de comer.
Partiram, então, de barco
para um lugar isolado, sem mais ninguém.
Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam;
e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar
e chegaram lá primeiro que eles.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão
e compadeceu-Se de toda aquela gente,
que eram como ovelhas sem pastor.
E começou a ensinar-lhes muitas coisas…”
(cf. Marcos 6, 30-34)


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Oração do Angelus, na Praça de São Pedro,  Roma, no dia 18 de Julho de 2021
 
A atitude de Jesus, que observamos no Evangelho da Liturgia de hoje (Mc 6, 30-34), ajuda-nos a compreender dois aspetos importantes da vida. O primeiro é o descanso. Aos Apóstolos, que regressam cansados da missão e narram com entusiasmo tudo o que fizeram, Jesus dirige com ternura um convite: «Vinde à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco» (v. 31). Convida ao descanso.
Agindo assim, Jesus oferece-nos um ensinamento precioso. Embora se regozije ao ver os seus discípulos felizes por causa dos prodígios da pregação, não se detém em elogios e perguntas, mas preocupa-se com o seu cansaço físico e interior. E por que faz isto? Porque quer alertá-los para um perigo, que está sempre à espreita também para nós: o perigo de nos deixarmos enredar pelo frenesi do fazer, de cairmos na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que alcançamos, e de nos sentirmos protagonistas absolutos. Quantas vezes acontece até na Igreja: estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e no centro voltamos a pôr-nos sempre nós. É por isso que convida os seus discípulos a descansar um pouco à parte, com Ele. Não se trata apenas de descanso físico, mas é também repouso do coração. Dado que não é suficiente “desligar a tomada”, é preciso descansar verdadeiramente. E como se faz isto? Para o fazer, é necessário voltar à essência das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho à correria das férias. Jesus não evitava as necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de mais nada, retirava-se em oração, em silêncio, na intimidade com o Pai. O seu terno convite - descansai um pouco - deveria acompanhar-nos: irmãos e irmãs, tenhamos cuidado com o eficientismo, acabemos com a corrida frenética que dita as nossas agendas. Aprendamos a parar, a desligar o telemóvel, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus.
No entanto, o Evangelho narra que Jesus e os discípulos não conseguem descansar como gostariam. As pessoas encontram-nos e afluem de todas as partes. Nessa altura, o Senhor compadece-se. Eis o segundo aspeto: a compaixão, que é o estilo de Deus. O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho, na Bíblia, encontramos esta frase: “Teve compaixão”. Comovido, Jesus dedica-se às pessoas e recomeça a ensinar (cf. vv. 33-34). Parece uma contradição, mas na realidade não é. Na verdade, só o coração que não se deixa levar pela pressa é capaz de se comover, ou seja, de não se deixar arrebatar por si mesmo e pelas coisas a fazer, e de se dar conta dos outros, das suas feridas, das suas necessidades. A compaixão nasce da contemplação. Se aprendermos a descansar verdadeiramente, seremos capazes de autêntica compaixão; se cultivarmos um olhar contemplativo, levaremos a cabo as nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se permanecermos em contacto com o Senhor e não anestesiarmos a parte mais profunda de nós mesmos, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o fôlego nem de nos devorar. Necessitamos – prestai atenção a isto – necessitamos de uma “ecologia do coração”, que se compõe de descanso, contemplação e compaixão. Aproveitemos a temporada de verão para isto! (cf. Santa Sé)

PARA REZAR



- SALMO 22

 

Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.

Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.

Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça,
e o meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.

SANTOS POPULARES

 


SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA

 

Brígida nasceu, em 1303, em Finster, na Suécia, uma nação do Norte da Europa que, há três séculos, havia acolhido a fé cristã, com o mesmo entusiasmo com que Brígida a tinha recebido dos seus pais, pessoas muito piedosas, pertencentes a nobres famílias, próximas à Casa real.

A personalidade de Brígida certamente foi forte e decidida, desde criança. Pertencia a uma família aristocrática. Sentiu o chamamento a consagrar a sua vida a Jesus; mas concordou em casar-se com Ulf, governante de um importante distrito do Reino da Suécia, como o seu pai queria. A primeira parte da sua vida, marcada por uma fé forte, foi vivida num casamento feliz, do qual nasceram oito filhos. Uma delas, Catarina – que a seguirá até Roma – também foi canonizada. Juntamente com o seu marido, adoptou a Regra dos Terciários Franciscanos e fundou um pequeno hospital. Guiada por um estudioso religioso, estudou a Bíblia e foi tão apreciada pela sua pedagogia que foi chamada pelo rei da Suécia para apresentar, à jovem rainha, a cultura sueca. Depois de mais de vinte anos de casamento, o seu marido morreu.

Então, começou a segunda parte da sua vida.

Brígida fez uma escolha radical e decisiva: despojou-se dos seus bens e foi viver no Mosteiro Cisterciense de Alvastra.

As experiências místicas que serão relatadas nos seus oito livros do ‘Apocalipse’ datam desse período, e, a partir daqui, começa, também, a sua nova missão.

Em 1349, foi a Roma para obter o reconhecimento da sua Ordem, chamada do ‘Santíssimo Salvador’ e que desejava que fosse composta por freiras e religiosos. Decidiu, então, instalar-se na Cidade Eterna (Roma), numa casa na Piazza Farnese que ainda hoje alberga a Cúria Geral das ‘Brigidinas’ (religiosas de Santa Brígida). No entanto, sofreu com os maus costumes e a degradação generalizada que se vivia na cidade, na qual se fazia sentir fortemente a ausência do Papa, na época, a residir em Avinhão, França. O cerne da sua missão – como a da sua contemporânea Santa Catarina de Sena – foi, portanto, pedir ao Papa que regressasse ao Túmulo de São Pedro, a Roma.

A outra “frente”, em que o seu compromisso foi forte, foi a da paz na Europa. Escreveu aos príncipes para pôr fim à Guerra dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra. As suas obras de caridade foram decisivas nesse período. Ela, que era nobre, viveu na pobreza, chegando a mendigar às portas das igrejas. São os anos das suas peregrinações a vários pontos da Itália: de Assis ao Gargano, ao Santuário de São Miguel Arcanjo; e, finalmente, a peregrinação das peregrinações - à Terra Santa: tinha quase 70 anos, mas isso não a impediu de cumprir o seu propósito.

Foi central, para sua experiência de fé, a contemplação e devoção à Paixão de Cristo e da Virgem Maria. Isto é demonstrado, ainda hoje,pelo “Rosário Brigidino” e pelas orações, ligadas a agradecimentos particulares que Jesus lhe prometeu por quem as recitasse.

Brígida da Suécia morreu no dia 23 de Julho de 1373, em Roma. Confiou a Ordem à sua filha Catarina que, uma vez viúva, se juntou a ela quando Brígida estava em Farfa. A sua grande desilusão foi o facto de o Papa não ter regressado, permanentemente, a Roma. Em 1367, o Papa Urbano V regressou lá, mas apenas por um curto período. Gregório XI ali se estabelecerá definitivamente, ainda que alguns anos após a morte de Brígida.

Foi canonizada, em 1391, pelo Papa Bonifácio IX. Santa Brígida é a padroeira da Suécia. Foi declarada co-padroeira da Europa, em 1999, pelo Papa João Paulo II, que sublinhou como “a Igreja, sem se pronunciar sobre revelações individuais, aceitou a autenticidade global da sua experiência interior”. A sua figura é muito cara aos últimos Papas. Bento XVI dedicou-lhe uma catequese, na audiência geral; e o Papa Francisco quis canonizar a mulher que no século XX renovou a Ordem do Santíssimo Salvador, Maria Elisabete Hesselblad, a quem daria uma forte marca ecuménica, sempre no despertar daquela busca de paz e de unidade, tão cara a Brígida.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 23 de Julho.


domingo, 14 de julho de 2024

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XV DOMINGOS COMUM
        
“…Jesus chamou os doze Apóstolos
e começou a enviá-los dois a dois.
Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros
e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho,
a não ser o bastão:
nem pão, nem alforge, nem dinheiro;
que fossem calçados com sandálias,
e não levassem duas túnicas.
Disse-lhes também:
«Quando entrardes em alguma casa,
ficai nela até partirdes dali.
E se não fordes recebidos em alguma localidade,
se os habitantes não vos ouvirem,
ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés
como testemunho contra eles».
Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento,
expulsaram muitos demónios,
ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos. (cf. Marcos 6, 7-13)

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Oração do Angelus, na Praça de São Pedro,  Roma, no dia 15 de Julho de 2018
 
O Evangelho de hoje (cf. Mc 6, 7-13) narra o momento em que Jesus envia os Doze em missão. Depois de os ter chamado pelo nome, um por um, «para andarem com Ele» (Mc 3, 14) ouvindo as suas palavras e observando os seus gestos de cura, convocava-os agora para os «enviar dois a dois» (6, 7) às aldeias que Ele se preparava para visitar. É uma espécie de “aprendizagem” daquilo que serão chamados a fazer depois da Ressurreição do Senhor, com o poder do Espírito Santo.
O texto evangélico analisa o estilo do missionário, que podemos resumir em dois pontos: a missão tem um centro; a missão tem um rosto.
O discípulo missionário tem antes de mais um seu centro de referência, que é a pessoa de Jesus. A narração indica isto usando uma série de verbos que têm a Ele como sujeito — «chamou», «enviou-os», «dava-lhes poder», «ordenou», «dizia-lhes» (vv. 7.8.10) — de modo que o ir e o agir dos Doze aparecem como o irradiar-se de um centro, o repropor-se da presença e da obra de Jesus na sua ação missionária. Isto manifesta que os Apóstolos nada têm de seu para anunciar, nem capacidades próprias para demonstrar, mas falam e agem porque foram «enviados», enquanto mensageiros de Jesus.
Este episódio evangélico refere-se também a nós, e não só aos sacerdotes, mas a todos os batizados, chamados a testemunhar, nos vários ambientes de vida, o Evangelho de Cristo. E também para nós esta missão é autêntica apenas a partir do seu centro imutável que é Jesus. Não é uma iniciativa dos fiéis individualmente nem dos grupos, nem sequer das grandes agregações, mas é a missão da Igreja inseparavelmente unida ao seu Senhor. Cristão algum anuncia o Evangelho «por conta própria», mas unicamente enviado pela Igreja que recebeu o mandato do próprio Cristo. É precisamente o Batismo que nos torna missionários. Um batizado que não sentir a necessidade de anunciar o Evangelho, de anunciar Jesus, não é um bom cristão.
A segunda característica do estilo do missionário é, por assim dizer, um rosto, que consiste na pobreza dos meios. O seu equipamento responde a um critério de sobriedade. Com efeito, os Doze receberam a ordem de «que nada levassem para o caminho a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto» (v. 8). O Mestre quis que eles fossem livres e ligeiros, sem apoios nem favores, com a única certeza do amor d’Aquele que os envia, fortalecidos unicamente pela sua palavra que vão anunciar. O cajado e as sandálias são o equipamento dos peregrinos, porque eles são mensageiros do reino de Deus, não empresários omnipotentes; não funcionários rigorosos, nem estrelas em tournée. Pensemos, por exemplo, nesta Diocese de Roma, da qual eu sou o Bispo. Pensemos nalguns Santos desta Diocese de Roma: São Filipe Neri, São Bento José Labre, Santo Aleixo, Beata Ludovica Albertoni, Santa Francisca Romana, São Gaspar del Bufalo e muitos outros. Não eram funcionários nem empresários, mas trabalhadores humildes do Reino. Tinham este rosto. E a este “rosto” pertence também a maneira como a mensagem é acolhida: com efeito, pode acontecer que não sejamos acolhidos nem ouvidos (cf. v. 11). Também isto é pobreza: a experiência da falência. A vicissitude de Jesus, que foi rejeitado e crucificado, antecipa o destino do seu mensageiro. E só se estivermos unidos a Ele, morto e ressuscitado, conseguiremos encontrar a coragem da evangelização… (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 84

 

Refrão: Mostrai-nos o vosso amor,
             dai-nos a vossa salvação.

Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis
e a quantos de coração a Ele se convertem.
A sua salvação está perto dos que O temem
e a sua glória habitará na nossa terra.

Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade,
abraçaram-se a paz e a justiça.
A fidelidade vai germinar da terra
e a justiça descerá do Céu.

O Senhor dará ainda o que é bom,
e a nossa terra produzirá os seus frutos.
A justiça caminhará à sua frente
e a paz seguirá os seus passos.


SANTOS POPULARES

 


SÃO LOURENÇO DE BRINDES

 

Júlio César Russo nasceu em Brindes, na Apúlia (em italianoPuglia – pronuncia-se ‘Pulha’), Itália a 22 de Julho de 1559. Era filho de Guilherme Russo e de Elizabete Masella. Foi baptizado, no dia seguinte, na Catedral de Brindes. Conhecemos muito pouco da sua infância, vivida na sua cidade natal, onde recebeu a primeira formação. Órfão de pai, foi acolhido pelos frades conventuais de Brindes, com os quais frequentou, com o mais elevado aproveitamento, a escola. Tendo morrido, também, a mãe foi acolhido, ainda adolescente, na casa de um tio sacerdote, em Veneza, com o qual aprofundou a sua formação cultural e espiritual.

Em Veneza, começou a frequentar os Padres Capuchinhos, que moravam num humilde Convento, junto da pequenina Igreja de Santa Maria dos Anjos, na ilha de Giudecca. Atraído pela vida pobre e austera, pediu e obteve permissão para entrar na Ordem. Então, assumiu i nome ‘Loureço’: Frei Lourenço. Tendo vestido o hábito capuchinho, em Verona, a 19 de Fevereiro de 1575, Frei Lourenço cumpriu, com fervor, o ano de noviciado, verdadeira escola de ascese e santidade, e emitiu a profissão religiosa, no dia 24 de Março de 1576. Em seguida, primeiro em Pádua e depois em Veneza, iniciou o estudo de Filosofia e Teologia, mostrando, rapidamente, uma excepcional agudeza intelectual e uma insaciável sede de saber. Dava particular importância ao estudo da Sagrada Escritura, que aprendeu toda de memória, aperfeiçoando-se também nas línguas bíblicas. Aplicou-se, afincadamente, na busca da perfeição religiosa, seguindo a escola de São Boaventura, que privilegiava o fervor da vontade e a ascensão do espírito.

Depois da ordenação sacerdotal, recebida das mãos do patriarca de Veneza, D. João Trevisan, a 18 de Dezembro de 1582, a principal actividade de Lourenço foi o ministério da pregação. Percorreu toda a Itália anunciando a Palavra de Deus.

Entre 1583 e 1586, desenvolveu o ofício de leitor, e, no triênio seguinte, de 1586 a 1589, foi guardião e mestre de noviços. Em 1590, foi eleito provincial da Toscana. De 1594 a 1597, foi provincial de Veneza; e para o mesmo cargo foi chamado para a Suíça, em 1598. Dois anos antes, em 1596, tinha sido eleito definidor-geral (primeiro Conselheiro, em alguma ordens religiosas)

Fundamental foi a acção de Frei Lourenço na difusão da Ordem Capuchinha, na Europa. Fundou conventos em Insbruck (1593) em Salzburg (1596). Em 1597, fundou o convento de Trento, e, em seguida, 1599, na Boémia. Em Praga, em 1599, com uma população, na sua maioria, com tendências reformistas e anticatólicas, conseguiu - com intensa actividade apostólica, centrada no ministério da pregação e no diálogo aberto e familiar - fundar um convento e o retorno à fé católica de muita gente. Em 1600, fundou mais dois conventos: em Viena e em Graz. Um facto importante foi a sua participação na cruzada anti-turca: em 1601. Por influência de Frei Lourenço, foi alcançada a vitória de Albareal.

No Capítulo-Geral de 24 de Maio de 1602 Frei Lourenço foi eleito Geral dos Capuchinhos e, como sua primeira acção neste cargo, visitou a todos os frades, nos seus conventos. Na altura, a Ordem tinha 30 províncias e cerca de 9000 religiosos, distribuídos por toda Europa.

No fim do seu mandato de três anos, foi enviado, pelo Papa Paulo V, para a Baviera e Boémia, em missão diplomática entre o Duque Maximiliano de Wittelsbach e as autoridades imperiais, para a constituição de uma liga católica contra a união evangélica luteranos e calvinistas, que desejava dividir os estados católicos para ter vantagens territoriais.

Entre 1610 e 1613, residiu no Mónaco, como representante da Santa Sé. No Capítulo-Geral de 1613, foi eleito, pela terceira vez, Definidor-Geral. Então, foi enviado, como visitador, à Província de Génova, onde foi aclamado Provincial e, por isso, só em 1616 pode retornar à sua Província de Veneza e dedicar-se a um período mais intenso de retiro e oração.

Características particulares da sua espiritualidade, tipicamente franciscana e cristocêntrica, foram o culto da Eucaristia e a devoção a Maria. A santa missa, por ele celebrada com muito fervor, prolongava-se, normalmente, por duas ou três horas e, depois, por um indulto do Papa Paulo V, oito, dez ou doze horas. À Virgem Maria ele atribuía cada dom e cada graça, e nada poupava para difundir a sua devoção.

Mesmo desejando viver uma vida mais serena, retirado das lides apostólicas activas, teve - a pedido do Papa – de continuar as suas missões diplomáticas, até ao momento em que adoeceu gravemente.

Frei Lourenço de Brindes morreu, em Lisboa, no dia 22 de Julho de 1619, com 60 anos. O seu corpo foi levado para Vilafranca del Bierzo, Léon - Espanha, onde foi sepultado na igreja do Mosteiro das Franciscanas Descalças.

Apesar dos muitos trabalhos a que foi chamado, Frei Lourenço escreveu diversas obras, editadas entre 1928 e 1956, na Edição da “Opera Omnia”.

Frei Lourenço de Brindes foi beatificado, no dia 23 de Maio de 1783, pelo Papa Pio VI. E foi canonizado, pelo Papa Leão XIII, no dia 8 de Dezembro de 1881.

Após o exame das suas obras, definidas como “verdadeiros tesouros de sabedoria”, o Papa João XXIII, no dia 17 de Março de 1959, declarou São Lourenço de Brindes ‘Doutor Apostólico da Igreja’.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 21 de Julho.


terça-feira, 9 de julho de 2024

DA PALAVRA DO SENHOR

 


       

“…O Espírito entrou em mim e fez-me levantar.
Ouvi então Alguém que me dizia:
«Filho do homem,
Eu te envio aos filhos de Israel,
a um povo rebelde que se revoltou contra Mim.
Eles e seus pais ofenderam-Me até ao dia de hoje.
É a esses filhos de cabeça dura e coração obstinado
que te envio, para lhes dizeres:
‘Eis o que diz o Senhor’.
Podem escutar-te ou não
– porque são uma casa de rebeldes -,
mas saberão que há um profeta no meio deles»…”
(cf. Ezequiel 2, 2-5)

 


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na homilia da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, na Basílica de São Pedro,  Roma, no dia 29 de Junho de 2021


Dois grandes Apóstolos, Apóstolos do Evangelho, e duas colunas angulares da Igreja: Pedro e Paulo. Hoje, celebramos a sua festa. Observemos de perto estas duas testemunhas da fé: no centro da sua história, não está a própria destreza; no centro, está o encontro com Cristo que lhes mudou a vida. Fizeram a experiência de um amor que os curou e libertou e, por isso, tornaram-se apóstolos e ministros de libertação para os outros.
Pedro e Paulo são livres unicamente porque foram libertados. Detenhamo-nos neste ponto central.
Pedro, o pescador da Galileia, foi libertado em primeiro lugar da sensação de ser inadequado e da amargura de ter falido, e isso verificou-se graças ao amor incondicional de Jesus. Embora fosse um hábil pescador, várias vezes experimentou, em plena noite, o sabor amargo da derrota por não ter pescado nada (cf. Lc 5, 5; Jo 21, 5) e, perante as redes vazias, sentiu a tentação do desânimo; apesar de forte e impetuoso, muitas vezes se deixou tomar pelo medo (cf. Mt 14, 30); embora fosse um discípulo apaixonado do Senhor, continuou a pensar à maneira do mundo, sem conseguir entender e aceitar o significado da Cruz de Cristo (cf. Mt 16, 22); apesar de dizer-se pronto a dar a vida por Ele, bastou sentir-se suspeitado de ser um dos Seus para se atemorizar chegando a negar o Mestre (cf. Mc 14, 66-72).
Mas Jesus amou-o desinteressadamente e apostou nele. Encorajou-o a não desistir, a lançar novamente as redes ao mar, a caminhar sobre as águas, a olhar com coragem para a sua própria fraqueza, a segui-Lo pelo caminho da Cruz, a dar a vida pelos irmãos, a apascentar as suas ovelhas. Deste modo libertou-o do medo, dos cálculos baseados apenas nas seguranças humanas, das preocupações mundanas, infundindo nele a coragem de arriscar tudo e a alegria de se sentir pescador de homens. Foi precisamente a ele que chamou para confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22, 32). Como ouvimos no Evangelho, deu-lhe as chaves para abrir as portas que levam a encontrar o Senhor e o poder de ligar e desatar: ligar os irmãos a Cristo e desatar os nós e as correntes das suas vidas (cf. Mt 16, 19).
Tudo isto só foi possível, porque antes, como nos dizia a primeira Leitura, Pedro foi libertado. As correntes que o mantêm prisioneiro são quebradas e, tal como aconteceu na noite da libertação dos israelitas da escravidão do Egito, é convidado a levantar-se depressa, colocar o cinto e calçar as sandálias para sair. E o Senhor abre as portas diante dele (cf. At 12, 7-10). É uma nova história de abertura, de libertação, de correntes quebradas, de saída do cárcere que o prende. Pedro faz a experiência da Páscoa: o Senhor libertou-o.
Também o apóstolo Paulo experimentou a libertação por obra de Cristo. Foi libertado da escravidão mais opressiva, a de si mesmo, e de Saulo – nome do primeiro rei de Israel – tornou-se Paulo, que significa «pequeno». Foi libertado também daquele zelo religioso que o tornara fanático na defesa das tradições recebidas (cf. Gal 1, 14) e violento ao perseguir os cristãos. Foi libertado. A observância formal da religião e a defesa implacável da tradição, em vez de o abrir ao amor de Deus e dos irmãos, haviam-no endurecido: era um fundamentalista. Foi disto que Deus o libertou; ao invés, não o poupou a tantas fraquezas e dificuldades que tornaram mais fecunda a sua missão evangelizadora: as canseiras do apostolado, a enfermidade física (cf. Gal 4, 13-14); as violências e perseguições, os naufrágios, a fome e sede, e – segundo as suas próprias palavras – um espinho que o atormentava na carne (cf. 2 Cor 12, 7-10).
Paulo compreendeu assim que «o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte» (1 Cor 1, 27), que tudo podemos n’Ele que nos dá força (cf. Flp 4, 13), que nada poderá jamais separar-nos do seu amor (cf. Rm 8, 35-39). Por isso, no final da sua vida, como nos dizia a segunda Leitura, Paulo pode dizer: «o Senhor esteve comigo» e «me livrará de todo o mal» (2 Tm 4, 17.18). Paulo fez a experiência da Páscoa: o Senhor libertou-o.
Queridos irmãos e irmãs, a Igreja olha para estes dois gigantes da fé e vê dois Apóstolos que libertaram a força do Evangelho no mundo, só porque antes foram libertados pelo encontro com Cristo. Ele não os julgou, nem humilhou, mas partilhou de perto e afetuosamente a sua vida, sustentando-os com a sua própria oração e, às vezes, admoestando-os para os impelir à mudança. A Pedro, disse Jesus com ternura: «Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça» (Lc 22, 32); a Paulo, pergunta: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At 9, 4). De igual modo procede Jesus também connosco: assegura-nos a sua proximidade, rezando por nós e intercedendo junto do Pai; e repreende-nos com doçura quando erramos, para podermos encontrar a força de nos levantar novamente e retomar o caminho.
Tocados pelo Senhor, também nós somos libertados. E sempre temos necessidade de ser libertados, porque só uma Igreja liberta é uma Igreja credível. Como Pedro, somos chamados a ser libertos da sensação da derrota face à nossa pesca por vezes malsucedida; a ser libertos do medo que nos paralisa e torna medrosos, fechando-nos nas nossas seguranças e tirando-nos a coragem da profecia. Como Paulo, somos chamados a ser libertos das hipocrisias da exterioridade; libertos da tentação de nos impormos com a força do mundo, e não com a debilidade que deixa espaço a Deus; libertos duma observância religiosa que nos torna rígidos e inflexíveis; libertos de vínculos ambíguos com o poder e do medo de ser incompreendidos e atacados.
Pedro e Paulo oferecem-nos a imagem duma Igreja confiada às nossas mãos, mas conduzida pelo Senhor com fidelidade e ternura – é Ele que conduz a Igreja –; duma Igreja débil, mas forte com a presença de Deus; a imagem duma Igreja libertada que pode oferecer ao mundo aquela libertação que ele, sozinho, não se pode dar a si mesmo: a libertação do pecado, da morte, da resignação, do sentimento da injustiça, da perda da esperança que embrutece a vida das mulheres e dos homens do nosso tempo.
Hoje, nesta celebração e depois, interroguemo-nos: quanta necessidade de libertação têm as nossas cidades, as nossas sociedades, o nosso mundo? Quantas correntes devem ser quebradas e quantas portas trancadas devem ser abertas! Podemos ser colaboradores desta libertação, mas só se, primeiro, nos deixarmos libertar pela novidade de Jesus e caminharmos na liberdade do Espírito Santo. (cf. Santa Sé)


PARA REZAR




- SALMO 122

 

Refrão: Os nossos olhos estão postos no Senhor.

              até que se compadeça de nós

             

Levanto os olhos para Vós,
para Vós que habitais no Céu,
como os olhos do servo
se fixam nas mãos do seu senhor.
 
Como os olhos da serva
se fixam nas mãos da sua senhora,
assim os nossos olhos se voltam para o Senhor nosso Deus,
até que tenha piedade de nós.
 
Piedade, Senhor, tende piedade de nós,
porque estamos saturados de desprezo.
A nossa alma está saturada do sarcasmo dos arrogantes
e do desprezo dos soberbos. 

SANTOS POPULARES

 


SANTOS LUÍS MARTIN E MARIA ZÉLIA GUÉRIN

 

Luís era relojoeiro; Zélia era rendeira: ambos de origem burguesa, são santos por eleição. Luís Martin e Zélia Guérin eram os pais de Teresinha do Menino Jesus. É o segundo casal de esposos, depois de Luís e de Maria Beltrame Quattrocchi, a serem beatificados, em 2001, pelo Papa João Paulo II.

Eram filhos de militares e foram educados num ambiente disciplinado, severo, muito rigoroso e marcado por um certo jansenismo ainda rastejante na França da época. Os dois receberam uma educação de cunho religioso: Luís, nos Irmãos das Escolas Cristãs; Zélia, nas Irmãs da Adoração Perpétua. Ao terminar os estudos, no momento de escolher o seu futuro, Luís orientou-se para a aprendizagem do ofício de relojoeiro, não obstante o exemplo do pai, conhecido oficial do exército napoleónico. Zélia, inicialmente, ajudava a mãe na administração da loja da família. Depois, especializou-se no "ponto de Alençon", na escola que ensina a tecer rendas. Em poucos anos, os seus esforços foram premiados: Zélia abriu uma modesta fábrica para a produção de rendas e obteve um discreto sucesso.

Ambos nutrem, desde a adolescência, o desejo de entrar numa comunidade religiosa. Ele pediu para ser admitido entre os Cónegos Regulares de Santo Agostinho, do Mosteiro do Grande São Bernardo, nos Alpes suíços, mas não foi aceite porque não conhecia o latim. Também ela tentou entrar nas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, mas compreendeu que não é a sua estrada.

Durante três anos, Luís viveu em Paris, hóspede de parentes, para aperfeiçoar a sua formação de relojoeiro. Naquele período, foi submetido a muitas solicitações por parte do ambiente parisiense, impregnado de impulsos revolucionários. Aproximou-se até de uma associação secreta, mas afastou-se imediatamente. Insatisfeito com o clima que se respirava na capital, transferiu-se para Alençon, onde iniciou a sua actividade, levando, até à idade de 32 anos, um estilo de vida quase ascético. Entretanto, Zélia, com a receita da sua empresa, manteve toda a família, vendendo rendas para a alta sociedade parisiense. O encontro entre os dois aconteceu em 1858, na ponte de São Leonardo, em Alençon. Ao ver Luís, Zélia percebeu distintamente que ele seria o homem da sua vida.

Casaram ao fim de alguns meses de noivado. Conduzem uma vida conjugal no seguimento do Evangelho, ritmada pela missa quotidiana, pela oração pessoal e comunitária, pela confissão frequente, pela participação na vida paroquial. Da sua união nasceram nove filhos, quatro dos quais morreram prematuramente. Entre as cinco filhas que sobreviveram, está Teresa, a futura santa, que nasceu em 1873. As recordações da carmelita sobre os seus pais são uma fonte preciosa para compreender a sua santidade. A família Martin educou as suas filhas a tornar-se não só boas cristãs mas também honestas cidadãs. Aos 45 anos, Zélia recebeu a terrível notícia de que tinha um tumor no seio. Viveu a doença com firme esperança cristã até à morte ocorrida em Agosto de 1877.

Com 54 anos, Luís teve que se ocupar, sozinho, da família. A primogénita tem 17 anos e a última, Teresa, tem 4 e meio. Então, transferiu-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia. Deste modo, as filhas receberam os cuidados da tia Celina. Entre os anos de 1882 e 1887, Luís acompanhou as três filhas ao Carmelo. O sacrifício maior para ele foi afastar-se de Teresa que entra para as carmelitas, com apenas 15 anos. Luís foi atingido por uma enfermidade que o tornou inválido e que o levou à perda das faculdades mentais. Foi internado no sanatório de Caen. Morreu em Julho de 1894.

Foram canonizados, na Praça de São Pedro, no dia 18 de Outubro de 2015, pelo Papa Francisco.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 12 de Julho.

 


sábado, 29 de junho de 2024

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XIII DOMINGOS COMUM        

“…Não foi Deus quem fez a morte,
nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos.
Pela criação deu o ser a todas as coisas,
e o que nasce no mundo destina-se ao bem.
Em nada existe o veneno que mata,
nem o poder da morte reina sobre a terra,
porque a justiça é imortal.
Deus criou o homem para ser incorruptível
e fê-lo à imagem da sua própria natureza.
Foi pela inveja do demónio que a morte entrou no mundo,
e experimentam-na aqueles que lhe pertencem…”
(cf. Sabedoria 1, 13-15; 2, 23-25)


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO



- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 26 de Junho de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, celebra-se o dia mundial contra o abuso e o tráfico ilícito de drogas, instituído pela Assembleia geral das Nações Unidas em 1987. O tema deste ano é ‘A evidência é clara: investir na prevenção’.

São João Paulo II afirmou que «a toxicodependência empobrece todas as comunidades onde ela ocorre. Diminui a força humana e a fibra moral. Mina os valores estimados. Destrói a vontade de viver e de contribuir para uma sociedade melhor». É o que fazem a toxicodependência e o consumo de drogas. Mas, recordemos, ao mesmo tempo, que cada toxicodependente «traz consigo uma história pessoal diferente, que deve ser escutada, compreendida, amada e, na medida do possível, curada e purificada. [...] Continuam a ter, mais do que nunca, uma dignidade como pessoas que são filhos de Deus». Todos têm uma dignidade!

No entanto, não podemos ignorar as más intenções e acções dos contrabandistas e dos traficantes de drogas. São assassinos! O Papa Bento XVI usou palavras severas, durante a visita a uma comunidade terapêutica: «digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão a provocar a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai-lhes exigir satisfações. A dignidade humana não pode ser espezinhada desta maneira». E a droga espezinha a dignidade humana!

Não se obtém a redução da toxicodependência liberalizando o seu consumo - isto é fantasia - como foi proposto, ou já actuado, nalguns países. Liberaliza-se e consome-se mais. Tendo conhecido tantas histórias trágicas de toxicodependentes e das suas famílias, estou convencido de que é moralmente necessário pôr fim à produção e ao tráfico destas substâncias perigosas. Quantos traficantes de morte – porque os traficantes de droga são traficantes de morte – existem, movidos pela lógica do poder e do dinheiro a qualquer preço! E este flagelo, que produz violência e semeia sofrimento e morte, exige um acto de coragem de toda a sociedade.

A produção e o tráfico de droga têm, também, um impacto destrutivo sobre a nossa casa comum. Por exemplo, isto tornou-se cada vez mais evidente na bacia amazónica.

Outra via prioritária para combater o abuso e o tráfico de drogas é a prevenção, que se faz promovendo mais justiça; educando os jovens para os valores que constroem a vida pessoal e comunitária; acompanhando os necessitados e dando esperança no futuro.

Nas minhas viagens a várias dioceses e países, tive a oportunidade de visitar diferentes comunidades de recuperação, inspiradas pelo Evangelho. Elas são um testemunho forte e cheio de esperança do compromisso dos sacerdotes, consagrados e leigos em pôr em prática a parábola do Bom Samaritano. Da mesma forma, sinto-me encorajado pelos esforços empreendidos por várias Conferências episcopais para promover legislações e políticas justas no que diz respeito ao tratamento dos toxicodependentes e à prevenção para acabar com este flagelo.

Por exemplo: destaco a rede de La Pastoral Latinoamericana de Acompañamiento y Prevençión de Adicciones (PLAPA). O estatuto desta rede reconhece que «a dependência do álcool, das substâncias psicoactivas e de outras formas de dependência (pornografia, novas tecnologias, etc.)... é um problema que nos atinge indistintamente, para além das diferenças geográficas, sociais, culturais, religiosas e etárias. Apesar das diferenças... queremos organizar-nos como comunidade: partilhar experiências, entusiasmo, dificuldades».

Menciono também os Bispos da África Austral que, em Novembro de 2023, convocaram um encontro sobre “Dar aos jovens poder como agentes de paz e esperança”. Os representantes dos jovens, presentes no encontro, reconheceram essa assembleia como «marco significativo para uma juventude saudável e activa em toda a região». Além disso, prometeram: «Aceitamos o papel de embaixadores e defensores na luta contra o consumo de narcóticos. Pedimos a todos os jovens que sejam sempre empáticos uns em relação aos outros».

Prezados irmãos e irmãs: perante a trágica situação da toxicodependência de milhões de pessoas em todo o mundo; diante do escândalo da produção e do tráfico ilícito de tais drogas, «não podemos ficar indiferentes. O Senhor Jesus parou, fez-se próximo, curou as feridas. Segundo o estilo da sua proximidade, também nós somos chamados a agir, a parar diante de situações de fragilidade e de dor, a saber escutar o clamor da solidão e da angústia, a inclinar-nos para levantar e dar nova vida a quantos caem na escravidão da droga».

 E rezemos pelos criminosos que dão drogas aos jovens: são criminosos, assassinos! Oremos pela sua conversão!

Neste Dia mundial contra a droga, como cristãos e comunidades eclesiais, renovemos o compromisso de rezar e trabalhar contra a droga. Obrigado! (cf. Santa Sé)

PARA REZAR

 


- SALMO 29

 

Refrão: Louvar-Vos-ei, Senhor, porque me salvastes.

             

Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.

 

Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.

 

Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.


SANTOS POPULARES

 


SÃO TOMÉ, APÓSTOLO

 

Tomé, em aramaico, significa "gémeo" e o apelido, com o qual era conhecido - Dídimo - tinha o mesmo significado, em grego. No entanto, não sabemos se Tomé - talvez um pescador e um dos primeiros discípulos a deixar tudo para seguir a Jesus – tinha algum irmão. Este Santo é venerado pelos católicos, ortodoxos e coptas. Os seus restos mortais descansam na igreja de Ortona, a ele dedicada. Ortona é um pequeno município italiano, na região dos Abruzos, na província de Chieti

Geralmente, quando se fala de São Tomé, começa-se de trás para frente: depois da Ressurreição, por não estar presente na aparição de Jesus aos Apóstolos, não acreditou no que lhe disseram. Porém, ninguém tem o direito de pensar que Tomé era uma pessoa tépida ou, pior ainda, um pecador. Era apenas um homem cuja fé, profunda, ainda devia ser posta à dura prova da vida, que ele não escondia: expôs as suas dúvidas e fez a Jesus as perguntas que brotavam do seu coração.
Por exemplo, quando Jesus voltou a Betânia, - onde o seu amigo Lázaro tinha falecido, - os discípulos ficaram com medo, porque na Judeia o clima não era nada favorável. Ali, Tomé demonstrou não ter medo de nada, a ponto de dizer: “Vamos morrer com Ele".

Durante a Última Ceia também, quando Cristo disse que ia preparar um lugar para todos, na Casa do Pai, Tomé ficou desorientado. Por isso, perguntou ao Senhor para aonde ia e qual seria o caminho para se chegar lá. Então, Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a vida!"

Assim, chegamos ao famoso episódio da incredulidade de Tomé. Toda a comunidade dos Apóstolos estava abalada pela morte de Jesus e pelas violências que padeceu. Porém, ao ressuscitar, Jesus apareceu, imediatamente, aos seus discípulos para tranquilizá-los. Tomé não estava lá, naquele momento e, por isso, não acreditou no que diziam. Talvez, por causa da sua teimosia inata ou pela dor de ter estado ausente, quis tocar as feridas dos cravos nas suas mãos e no seu peito. Afinal, ele era um homem como todos. Por isso, Jesus o satisfez, ao voltar oito dias depois. Assim, Tomé acreditou, imediatamente, a ponto de confessar: "Meu Senhor e meu Deus!", como ninguém jamais havia feito. Por fim, Jesus fez uma promessa, que servia para toda a humanidade, até o fim dos tempos: "Felizes dos que acreditam, sem terem visto".

Sabemos que Tomé não era muito instruído, mas, certamente, compensava esta lacuna pelo imenso amor que sentia por Jesus.

Segundo a tradição, o Apóstolo recebeu a missão de evangelizar a Síria e, depois, a cidade de Edessa, da qual partiu para fundar a primeira comunidade cristã, na Babilónia, Mesopotâmia, onde permaneceu sete anos. Dali, embarcou para a Índia. De Muziris, na Índia, onde já havia comunidade judaica promissora, que se tornou cristã, rapidamente, atravessou todo o país até chegar à China, sempre e somente por amor ao Evangelho. Ao voltar à Índia, foi martirizado, transpassado por uma lança, na actual Chennai, em 3 de Julho do ano de 72.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 3 de Julho.


terça-feira, 25 de junho de 2024

DA PALAVRA DO SENHOR

 


XII DOMINGOS COMUM    

“…O amor de Cristo nos impele,
ao pensarmos que um só morreu por todos
e que todos, portanto, morreram.
Cristo morreu por todos,
para que os vivos deixem de viver para si próprios,
mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles.
Assim, daqui em diante,
já não conhecemos ninguém segundo a carne.
Ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne,
agora já não O conhecemos assim.
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura.
As coisas antigas passaram: tudo foi renovado.
(cf. 2 Coríntios 5, 14-17)


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 19 de Junho de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Em preparação para o próximo Jubileu, convidei a dedicar o ano de 2024 «a uma grande “sinfonia” de oração».  Com a catequese de hoje, gostaria de recordar que a Igreja já possui uma sinfonia de oração, cujo compositor é o Espírito Santo, e é o Livro dos Salmos.

Como em cada sinfonia, nele há vários “movimentos”, ou seja, diferentes tipos de oração: louvor, acção de graças, súplica, lamentação, narração, reflexão sapiencial e outros, tanto na forma pessoal como na forma coral de todo o povo. São os cânticos que o próprio Espírito pôs nos lábios da Esposa, a Igreja. Como recordei, da última vez, todos os Livros da Bíblia são inspirados pelo Espírito Santo; mas, o Livro dos Salmos também o é, no sentido de que está cheio de veia poética.

Os salmos ocuparam um lugar privilegiado no Novo Testamento. Com efeito, houve e ainda há edições que contêm o Novo Testamento e os Salmos, juntos. Na minha escrivaninha, tenho uma edição em ucraniano do Novo Testamento e dos Salmos, de um soldado que morreu durante a guerra, que me foi enviada; ele rezava, na frente, com este livro. Nem todos os salmos - nem tudo de cada salmo - podem ser repetidos e feitos próprios pelos cristãos e ainda menos pelo homem moderno. Às vezes eles reflectem uma situação histórica e uma mentalidade religiosa que já não são nossas. Isto não significa que não sejam inspirados mas que, sob certos aspectos, estão ligados a um período e a uma fase provisória da revelação, como acontece, também, com grande parte da legislação antiga.

O que mais nos recomenda a aceitação dos salmos é que eles constituíram a oração de Jesus, de Maria, dos Apóstolos e de todas as gerações cristãs que nos precederam. Quando os recitamos, Deus ouve-os com aquela grandiosa “orquestração”, que é a comunhão dos santos. Segundo a Carta aos Hebreus, Jesus entra no mundo com o versículo de um salmo no coração: «Eis que venho, ó Deus, para cumprir a tua vontade» (cf. Hb 10, 7; Sl 40, 9); e, segundo o Evangelho de Lucas, deixa o mundo com outro salmo nos lábios: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46; cf. Sl 31, 6).

Ao uso dos salmos, no Novo Testamento, segue-se o dos Padres e de toda a Igreja, que fazem deles um elemento fixo na celebração da Missa e na Liturgia das horas. «Toda a Sagrada Escritura exala a bondade de Deus - diz Santo Ambrósio - mas de modo particular o doce Livro dos Salmos».  O doce livro dos salmos. Pergunto-me: recitais, às vezes, os salmos? Lêde a Bíblia e recitai um salmo. Por exemplo, quando estais um pouco tristes por ter pecado, recitais o salmo 50? Há muitos salmos que nos ajudam a ir em frente. Adquiri o hábito de recitar os salmos: garanto-vos que, no final, sereis felizes.

Mas não podemos viver apenas da herança do passado: é necessário fazer dos salmos a nossa oração. Escreveu-se que, num certo sentido, devemos tornar-nos nós mesmos “autores” dos salmos, fazendo-os nossos e rezando com eles.  Se há salmos, ou apenas versículos, que falam ao nosso coração, é bom repeti-los e recitá-los durante o dia. Os salmos são orações “para todas as estações”: não há estado de espírito nem necessidade que não encontre neles as melhores palavras para os transformar em oração. Diversamente de todas as outras preces, os salmos não perdem a eficácia por causa da repetição, aliás, aumentam-na. Porquê? Porque são inspirados por Deus e “exalam” Deus cada vez que alguém os lê com fé.

Se nos sentimos sobrecarregados de remorsos e culpas, pois somos pecadores, podemos repetir com David: «Tende piedade de mim, ó Deus, no vosso amor; / na vossa grande misericórdia» (Sl 51, 3). Se quisermos exprimir uma forte ligação pessoal com Deus, digamos: «Ó Deus, Vós sois o meu Deus, / procuro-vos desde a aurora, / a minha alma tem sede de Vós, / a minha carne anseia por Vós / numa terra árida, sedenta, sem água» (Sl 63, 2). Não foi por acaso que a Liturgia inseriu este salmo nas Laudes do Domingo e das solenidades. E se o medo e a angústia nos assaltam, vêm em nosso socorro aquelas palavras maravilhosas: «O Senhor é o meu pastor [...]. Ainda que eu atravesse um vale escuro, / nada temerei» (Sl 23, 1.4).

Os salmos permitem-nos não empobrecer a nossa oração, reduzindo-a apenas a pedidos, a um contínuo “dai-me, dai-nos...”. Aprendamos com o Pai-Nosso, que, antes de pedir o “pão nosso de cada dia”, diz: “Santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa vontade”. Os salmos ajudam-nos a abrir-nos a uma prece menos centrada em nós mesmos: uma oração de louvor, de bênção, de acção de graças; e ajudam-nos, também, a tornar-nos voz de toda a criação, envolvendo-a no nosso louvor.

Irmãos e irmãs, que o Espírito Santo, que ofereceu à Igreja Esposa as palavras para rezar ao seu divino Esposo, nos ajude a fazê-las ressoar na Igreja de hoje e a fazer deste ano de preparação para o Jubileu uma verdadeira sinfonia de oração. Obrigado! (cf. Santa Sé)


PARA REZAR

 


- SALMO 106
 
Refrão: Cantai ao Senhor, porque é eterno o Seu amor.
              Cantai ao Senhor, cantai!
 
Os que se fizeram ao mar em seus navios,
a fim de labutar na imensidão das águas,
esses viram os prodígios do Senhor
e as suas maravilhas no alto mar.
 
À sua palavra, soprou um vento de tempestade,
que fez encapelar as ondas:
subiam até aos céus, desciam até ao abismo,
lutavam entre a vida e a morte.
 
Na sua angústia invocaram o Senhor
e Ele salvou-os da aflição.
Transformou o temporal em brisa suave
e as ondas do mar amainaram.
 
Alegraram-se ao vê-las acalmadas,
e Ele conduziu-os ao porto desejado.
Graças ao Senhor pela sua misericórdia,
pelos seus prodígios em favor dos homens.

SANTOS POPULARES



BEATO FRANCISCO MOTTOLA


Francisco Mottola nasceu em Tropea, hoje na província de Vibo Valentia, na diocese de Mileto-Nicotera-Tropea, em 3 de Janeiro de 1901. Foi o filho mais velho de António Mottola e Concettina Bragò. Que tiveram vários filhos, mas só três sobreviveram. Francisco foi baptizado dois dias após o nascimento, com os nomes de Francisco Caetano Humberto. Francisco era muito animado, curioso e até inquieto. Também foi dotado de notável generosidade e sensibilidade para com todos.

O ambiente familiar teve grande influência na sua formação humana e espiritual, na qual foram aproveitadas todas as oportunidades para dar graças a Deus. Eram frequentes as visitas dos sacerdotes à casa dos Mottola, assim como as pausas para oração diante do Santíssimo Sacramento e da imagem de Santa Maria da Roménia, venerada na catedral de Tropea.

Os seus pais preocuparam-se com a sua formação integral e, por isso, fizeram-no frequentar, desde cedo, o ensino básico, o ensino médio e o secundário no Seminário Episcopal de Tropea, do qual foi o primeiro seminarista, em 1911. Francisco saiu-se muito bem nos estudos, como atestam os resultados e testemunhos dos seus companheiros.

Em 21 de Junho de 1912, a sua mãe, que também o educou na fé, faleceu após uma grave crise depressiva pós parto: havia dado à luz, recentemente, a sua última filha, Titina. Foi a primeira e grande experiência de dor para Francisco, que, a partir de então, tornou-se ainda mais sensível ao mistério do sofrimento humano. Em 11 de Novembro de 1914, recebeu o Sacramento da Confirmação.
Em Outubro de 1917, foi para o Seminário Regional «Pio X» de Catanzaro, para frequentar os estudos filosóficos e teológicos. Depois de uma experiência de graça, vivida em 1918, sentiu o impulso de se entregar completamente ao Senhor, “em perfeita oblação”, para ser “um cartuxo de rua”.

Juntamente com alguns colegas, criou o «Circolo di Cultura Calabrese», (Círculo de Cultura da Calábria) um grupo de fraternidade, estudo e apostolado: queria, com eles, manter a mente e o coração abertos e despertos. Devido a problemas de saúde, porém, teve de passar quase todo o último ano do Seminário, em casa, em Tropea. Ordenado subdiácono, em Catanzaro, em 10 de Maio de 1923, recebeu o diaconado, em Tropea, em 25 de Dezembro e, no dia 5 de Abril de 1924, a ordenação sacerdotal.

Participou, então, na candidatura para a atribuição do cargo de pároco, em Parghelia, e venceu, mas, ao fim de um mês, teve de desistir por motivos de saúde. Teve, depois, outras tarefas: na Acção Católica diocesana e, durante vários anos, no ensino da Teologia.
Fiel às resoluções emitidas antes da ordenação sacerdotal, procurou manter o equilíbrio entre a actividade e a contemplação, certo de que não teria que se deixar arruinar por um activismo desenfreado, em detrimento da vida do espírito.

De 1929 a 1942, foi reitor do Seminário de Tropea e professor de disciplinas literárias. Em 1931, foi, também, nomeado Cónego Penitenciário da Catedral. Dotado de delicadeza, discrição e firmeza, acompanhou espiritualmente numerosos fiéis. Muitas vezes, permanecia no confessionário mesmo depois do meio-dia, encontrando descanso apenas em Jesus. Dedicou muito tempo à escuta dos seus irmãos sacerdotes, encorajando-os e rezando pela sua santificação, como já fazia com os muito jovens seminaristas; seguia-os a todos, pessoalmente ou por carta.
A sua paixão cultural levou-o, também, a promover diversas iniciativas, como o clube «Francisco Acri» e a revista «Parva favilla» (Pequena brasa), da qual foi director. Pela simplicidade, mas também pela profundidade, com que falava e expunha a Palavra de Deus, era também frequentemente convidado para realizar conferências e pregar retiros em diversas paróquias e para a Acção Católica.

Em 1935, começou a organizar um pequeno grupo, formado por jovens leigos que vinham visitá-lo, semanalmente: comunicou-lhes um ideal de acção caritativa e de oração contemplativa, vivida na vida quotidiana. Pouco antes, em 1931, surgiu também um grupo de sacerdotes que partilhavam o que o Padre Francisco chamava “a Ideia”.

Desde o início do seu ministério, teve muitos colaboradores leigos que o ajudaram na assistência aos pobres, no Seminário e na Acção Católica. Deles, liderados por Irma Scrugli (está em andamento a causa da sua beatificação), surgiram os ‘Oblatos do Sagrado Coração’: sacerdotes oblatos; religiosas oblatas e os Oblatos seculares. Estes, permanecendo no mundo, deveriam responder às necessidades e à solidão de muitos, especialmente daqueles que viviam nos campos.
Outro fruto da atenção do Padre Francisco Mottola para com os rejeitados pela sociedade, os "nuju du mundu", segundo uma expressão dialetal que ele usou, foram as Casas de Caridade: não deveriam ser simplesmente estruturas de acolhimento e de assistência às crianças, aos pobres, aos idosos e aos deficientes, mas locais onde se proporcionasse formação adequada a todos. Não instituições, mas famílias…

A primeira Casa de Caridade foi inaugurada em 8 de Dezembro de 1936, com três velhinhas e duas meninas. Outras casas se seguiram: em Tropea, Vibo Valentia, Parghelia, Roma. Descrevendo esta obra, o Padre Mottola declarou: «Sonhei com a Casa de Caridade pelo menos tão grande quanto a nossa terra, acolhendo toda a dor, não para eliminá-la, porque seria um sacrilégio, mas para divinizá-la e adorá-la de forma divinizada».

Nos primeiros meses de 1941, com apenas 41 anos, o Padre Francisco começou a sentir-se estranhamente cansado. Em Junho de 1942, ao chegar à estação de Reggio Calabria, desmaiou. Foi atingido por uma paralisia, que até lhe tirou o uso da fala. A doença parecia interromper a sua actividade sacerdotal, mas ele procurou aceitar o sacrifício e a cruz com amor e esperança. Durante os vinte e sete anos seguintes, nunca reclamou, segundo testemunhou sua irmã Titina, e continuou a inspirar esperança, embora quase não conseguisse mover-se.

Ainda conseguiu celebrar a missa, cimentando, assim, a sua relação com Deus. Mais do que nunca, naquele momento, viveu em espírito de oblação, entregando-se mesmo no sofrimento. Em todo o caso, não se deteve na sua própria condição, mas permaneceu atento ao mundo que o rodeava: acompanhou também, com grande interesse, os trabalhos do Concílio Vaticano II.
O Padre Francisco fez com que a Família dos Oblatos do Sagrado Coração fosse aprovada como Instituto Secular de direito diocesano, em 25 de Dezembro de 1968, pelo bispo de Tropea, Dom Vincenzo De Chiara. Os Oblatos do Sagrado Coração receberam o reconhecimento pontifício, em 1975.

O Padre Francisco Mottola faleceu, na casa paterna, em Tropea, na madrugada de 29 de Junho de 1969. Os seus restos mortais, inicialmente colocados no cemitério de Tropea, repousam, agora, na nave direita da Concatedral de Santa Maria da Roménia, em Tropea, aos pés do Crucifixo.
O Padre Francisco Mottola foi beatificado no 10 de Outubro de 2021, na Concatedral de Tropea, em celebração presidida pelo Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, como enviado do Santo Padre Francisco.

A memória litúrgica do Beato Francisco Mottola é celebrada no dia 30 de Junho.