Foi com tristeza que ouvi a comunicação do Senhor Presidente da República quando decidiu promulgar a lei que aprova o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Discordo e lamento profundamente tal decisão. Os pressupostos invocados pelo Presidente, no seu esforço de auto-justificação, apontavam para uma decisão de sentido contrário. O Presidente desculpou-se com a crise e com a maioria de esquerda que voltaria a aprovar a lei, se agora fosse vetada. O Presidente acobardou-se, foi incoerente com os ditames da sua consciência, atraiçoou a expectativa da maioria dos portugueses, precisamente aqueles que o elegeram. Perdeu a oportunidade de, com o seu veto, proclamar a aberração que tal lei incorpora no viver e sentir de uma sociedade verdadeiramente humana e digna. Tal decisão, contrariamente ao propalado pelos apoiantes dessa lei, exprime um retrocesso civilizacional e abre uma ferida grave na cultura portuguesa. Dizer NÃO teria sido um sinal de respeito e defesa dos autênticos valores que dão sentido e forma à vida e dignificaria o cargo que neste momento ocupa. E, mesmo que os partidos de esquerda obrigassem o Presidente a promulgar a lei, este estaria de mãos limpas. Com atitudes destas, o Presidente não pode contar connosco. É com tristeza e desilusão que afirmo que, nesse dia, o presidente me perdeu... EP
SEM PARTIDARICES
Jorge Miranda: “casamento homossexual é inconstitucional”
O constitucionalista Jorge Miranda, segundo notícia do JN de 16 de Março, afirma que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é inconstitucional, salientando no entanto que os homossexuais podem constituir família e ter um "regime jurídico civil adequado". Em declarações aos jornalistas à margem de um encontro sobre o Tratado de Lisboa, o constitucionalista reiterou a sua posição face ao casamento homossexual, que disse ser "contrário à Constituição". Na sua opinião, "não pode invocar-se a norma que foi acrescentada no artigo 13 a respeito da orientação sexual como factor de discriminação", uma vez que, sustentou, "não há factor de discriminação". "Os homossexuais têm todos os direitos dos cidadãos portugueses, inclusive o direito de casar. O que não podem é casar com pessoas do mesmo sexo. O artigo 13 não envolve o direito de casar dos homosse-xuais". Por outro lado, a Constituição portuguesa, no seu artigo 36, sobre a família, "distingue o direito de constituir família e o direito de contrair casamento (...) Os homossexuais poderão, eventualmente, constituir família e poderá haver um regime jurídico civil adequado a essa situação, como acontece na França, o que não podem é contrair casamento”. O especialista clarificou que o casamento não tem de ter necessariamente "por fim específico" a procriação, mas sublinhou que "só através do casamento ou da união de facto entre heterossexuais é que há filiação". A Constituição, no seu artigo 68, "fala na paternidade e maternidade como valores fundamentais que a Constituição deve proteger". Jorge Miranda recordou ainda que a Declaração Universal dos Direitos do Homem "fala expressamente no direito que homem e mulher têm de casar. (...) Todo o sentido da Constituição e da Declaração Universal, sem falar sequer na tradição civilizacional, é no sentido de o casamento ser restrito a heterossexuais. O que não impede que possa haver um regime adequado de união civil entre homossexuais, mas não casamento".
PALAVRA DA IGREJA
Papa Bento XVI
No dia 13 de Maio, em Fátima, no seu encontro com responsáveis da Pastoral Social da Igreja, o Papa afirmou que o aborto e o casamento homossexual estão entre os desafios mais “insidiosos e perigosos” que ameaçam o mundo de hoje. Palavras do Papa: “As iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concep-ção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum».
Congregação para a Doutrina da Fé:
“A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimónio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade actual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do património comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade.”
( in Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais )
D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa:
“A Igreja nunca aceitará o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. A família baseia-se no contrato entre um homem e uma mulher, onde acontece a procriação ( ... ) Ajudar a família é, antes de mais, respeitá-la na sua dignidade e na sua natureza antropológica de instituição baseada no contrato entre um homem e uma mulher, que origine uma comunidade específica, onde acontece a procriação e a caminhada em conjunto na descoberta da vida (...) O projecto de lei, recentemente votado na Assembleia da República, ( NR: e agora promulgado pelo Presidente da República ) em ordem a reconhecer que uniões entre pessoas do mesmo sexo são casamento e fundam uma família, altera a dignidade da família natural, levará ao enfraquecimento da sua auto-estima e contribuirá para o enfraquecimento da comunidade familiar. (...)
A Igreja nunca aceitará a equivalência ao casamento das uniões entre pessoas do mesmo sexo, seja qual for o enquadramento legal que, porventura, lhe venha a ser dado.”
( in Expresso, 22 de Janeiro de 2010 )
PALAVRA COM SENTIDO
PALAVRA COM SENTIDO
“…[José]… Levanta-te, toma contigo o Menino e a Sua Mãe…” (cf. Mateus 2, 13)
E hoje é realmente um dia maravilhoso... Hoje celebramos a festa da Sagrada Família de Nazaré. O termo “sagrada” insere esta família no âmbito da santidade, que é dom de Deus mas, ao mesmo tempo, é adesão livre e responsável aos desígnios de Deus. Assim aconteceu com a família de Nazaré: ela permaneceu totalmente aberta à vontade de Deus.
Como não nos surpreendermos, por exemplo, com a docilidade de Maria à acção do Espírito Santo, que lhe pede para se tornar a mãe do Messias? Pois Maria, como todas as jovens da sua época, estava prestes a realizar o seu projecto de vida, ou seja, casar-se com José. Mas, quando se dá conta de que Deus a chama para uma missão particular, não hesita em proclamar-se sua “escrava” (cf. Lc 1, 38). Dela Jesus exaltará a grandeza, não tanto pelo seu papel de mãe, mas pela sua obediência a Deus. Jesus dis-se: «Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28), como Maria. E quando não compreende plenamente os acontecimentos que a envolvem, em silêncio, Maria medita, reflecte e adora a iniciativa divina. A sua presença aos pés da Cruz consagra esta disponibilidade total.
Além disso, no que diz respeito a José, o Evangelho não nos transmite nem sequer uma única palavra: ele não fala, mas age, obedecendo. É o homem do silêncio, o homem da obediência. A página do Evangelho de hoje (cf. Mt 2, 13-15.19-23) recorda três vezes esta obediência do justo José, referindo-se à fuga para o Egipto e ao regresso à terra de Israel. Sob a orientação de Deus, representado pelo Anjo, José afasta a sua família das ameaças de Herodes, salvando-a. Desta forma, a Sagrada Família mostra-se solidária para com todas as famílias do mundo que são obrigadas ao exílio; solidariza-se com todos aqueles que são forçados a abandonar a sua terra por causa da repressão, da violência e da guerra.
Por fim, a terceira pessoa da Sagrada Família: Jesus. Ele é a vontade do Pai: n'Ele, diz São Paulo, não havia “sim” e “não”, mas apenas “sim” (cf. 2 Cor 1, 19). E isto manifestou-se em muitos momentos da sua vida terrena. Por exemplo, o episódio no templo quando, aos pais que o procuravam angustiados, Ele respondeu: «Não sabíeis que devia estar na casa de meu Pai?» (Lc 2, 49) A sua repetição contínua: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou» (Jo 4, 34); a sua oração, no horto das oliveiras: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade» (Mt 26, 42). Todos estes acontecimentos constituem a perfeita realização das próprias palavras de Cristo, que diz: «Tu não quiseste sacrifício nem oferenda [...]. Então eu disse: “Aqui estou [...] para fazer a tua vontade”» (Hb 10, 5-7; Sl 40, 7-9).
Maria, José, Jesus: a Sagrada Família de Nazaré, que representa uma resposta coral à vontade do Pai: os três membros desta família ajudam-se uns aos outros a descobrir o plano de Deus. Eles rezavam, trabalhavam, comunicavam. E eu pergunto-me: tu, na tua família, sabes comunicar, ou és como aqueles jovens à mesa, cada qual com o telemóvel, enquanto conversam no chat? Naquela mesa parece que há um silêncio como se estivessem na Missa... Mas não comunicam entre si. Temos que retomar o diálogo, em família: pais, filhos, avós e irmãos devem comunicar entre si... Eis o dever de hoje, precisamente no dia da Sagrada Família. Que a Sagrada Família possa ser modelo das nossas famílias, a fim de que pais e filhos se ajudem mutuamente na adesão ao Evangelho, fundamento da santidade da família.
Confiemos a Maria “Rainha da família”, todas as famílias do mundo, especialmente aquelas provadas pelo sofrimento ou pela dificuldade, e invoquemos sobre elas o seu amparo maternal. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, na Praça de São Pedro, Roma, no dia 29 de Dezembro de 2019, Festa da Sagrada Família)
