- da carta de Roma aos diocesanos do Porto
“ Caríssimos irmãos e amigos: De partida para
o Sínodo dos Bispos, partilhei convosco algumas ideias que trazia, em especial
respeitantes ao presente e ao futuro das nossas comunidades cristãs. O que
tenho ouvido a muitos membros do Sínodo, provenientes de diversas partes do mundo,
tem-me reforçado a convicção de que esse mesmo tema os preocupa e positivamente
os move. Por um lado, pronunciam-se sobre a necessidade premente de iniciações
cristãs propriamente ditas; por outro, requerem para tal a existência de
envolvimentos comunitários – famílias, grupos, paróquias – que as proporcionem
de facto. Todos reconhecem que ambientes excessivamente secularizados e muito
dispersivos, como os actuais, requerem reforçadas integrações comunitárias,
alimentadas pela Palavra de Deus, a oração e a prática sacramental, irradiando
em iniciativas de caridade concreta. Tem sido muito estimulante ouvir
testemunhos nesse sentido, provindos de meios tão distantes como o Sudoeste
Asiático, várias partes da África ou a América Latina, para não falar da nossa
“velha” Europa, onde tal vai acontecendo também, com promissoras ligações entre
paróquias, movimentos e grupos. Não se trata só de almejar o futuro, mas de o
ver a despontar aqui e além. Tudo isto me faz sonhar com uma Diocese do Porto
cada vez mais densa na sua malha comunitária e intercomunitária, com uma
corresponsabilidade crescente de padres, diáconos, consagrados e leigos, com
especial referência às famílias e aos catequistas, além de todos os outros
dedicados agentes dos vários âmbitos pastorais. A Nova Evangelização tem como
sujeito colectivo a Igreja diocesana, mesa de encontro e partilha de tudo
quanto o Espírito nos dá ‘para a vida do mundo’…”PALAVRA COM SENTIDO
PALAVRA COM SENTIDO
“… Realizou-se um casamento em Caná da Galileia…” (cf. João 2, 1)
“…O Evangelho deste domingo apresenta o evento prodigioso que aconteceu em Caná, uma aldeia da Galileia, durante uma festa de núpcias na qual participam também Maria e Jesus, com os seus primeiros discípulos (cf. Jo 2, 1-11). A mãe faz notar ao Filho que o vinho acabou e Jesus, depois de lhe ter respondido que ainda não chegou a sua hora, aceita contudo a sua solicitação e dá aos esposos o vinho melhor de toda a festa. O evangelista frisa que «este foi o início dos sinais realizados por Jesus; ele manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram nele» (v. 11).
Por conseguinte, os milagres são sinais extraordinários que acompanham a pregação da Boa Nova e têm a finalidade de suscitar ou reforçar a fé em Jesus. No milagre realizado em Caná, podemos entrever um acto de benevolência da parte de Jesus para com os esposos, um sinal da bênção de Deus sobre o matrimónio. Portanto, o amor entre o homem e a mulher é um bom caminho para viver o Evangelho, isto é, para se encaminhar com alegria pela via da santidade.
Mas o milagre de Caná não diz respeito só aos esposos. Cada pessoa humana está chamada a encontrar o Senhor na sua vida. A fé cristã é um dom que recebemos com o Baptismo e que nos permite encontrar Deus. A fé atravessa tempos de alegria e de sofrimento, de luz e de obscuridade, como em qualquer experiência de amor autêntico. A narração das bodas de Caná convida-nos a redescobrir que Jesus não se nos apresenta como um juiz pronto para condenar as nossas culpas, nem como um comandante que nos impõe que sigamos cegamente as suas ordens; manifesta-se como Salvador da humanidade, como irmão, como o nosso irmão maior, Filho do Pai: apresenta-se como Aquele que responde às expectativas e promessas de alegria que habitam o coração de cada um de nós.
Então podemos questionar-nos: conheço deveras o Senhor assim? Sinto-o próximo de mim, da minha vida? Estou a responder-lhe em sintonia com aquele amor esponsal que Ele manifesta cada dia a todos, a cada ser humano? Trata-se de nos darmos conta de que Jesus nos procura e nos convida a dedicar-lhe espaço no íntimo do nosso coração. E neste caminho de fé com Ele não somos deixados sozinhos: recebemos o dom do Sangue de Cristo. As grandes ânforas de pedra que Jesus manda encher de água para a transformar em vinho (v. 7) são sinal da passagem da antiga para a nova aliança: no lugar da água usada para a purificação ritual, recebemos o Sangue de Jesus, derramado de modo sacramental na Eucaristia e de maneira cruenta na Paixão e na Cruz. Os Sacramentos, que brotam do Mistério pascal, infundem em nós a força sobrenatural e permite saborear a misericórdia infinita de Deus.
A Virgem Maria, modelo de meditação das palavras e dos gestos do Senhor, nos ajude a redescobrir com fé a beleza e a riqueza da Eucaristia e dos demais Sacramentos, que tornam presente o amor fiel de Deus por nós. Assim poderemos apaixonar-nos cada vez mais do Senhor Jesus, nosso Esposo, e ir ao seu encontro com as lâmpadas acesas da nossa fé jubilosa, tornando-nos deste modo suas testemunhas no mundo.…” (Papa Francisco, Oração do Angelus, 17 de Janeiro de 2016 – II Domingo do Tempo Comum)