- na homilia, no Santuário de Nossa Senhora do Loreto,
no dia 4 de Outubro
“…Na crise actual que atinge
não apenas a economia, mas vários sectores da sociedade, a Encarnação do Filho
de Deus fala-nos de quanto o homem é importante para Deus e Deus para o homem.
Sem Deus o homem acaba por deixar prevalecer o seu egoísmo sobre a
solidariedade e sobre o amor, as coisas materiais sobre os valores, o ter sobre
o ser. É preciso voltar para Deus para que o homem volte a ser homem. Com Deus,
mesmo nos momentos difíceis, de crise, o horizonte da esperança não desaparece:
a Encarnação diz-nos que jamais estamos sozinhos; Deus entrou em nossa
humanidade e acompanha-nos. (…) Existe ainda um ponto importante do relato
evangélico da Anunciação que quero destacar; um aspecto que jamais deixa de maravilhar-nos:
Deus pede o "sim" do homem; criou um interlocutor livre; pede que a
sua criatura Lhe responda com plena liberdade. São Bernardo de Claraval, num
dos seus Sermões mais célebres, quase "representa" a espera da parte
de Deus e da humanidade pelo "sim" de Maria, dirigindo-se a ela com
uma súplica: «O anjo espera a vossa resposta, porque chegou o tempo de voltar
ao que o enviou... Ó Senhora, dai essa resposta (…) que os céus esperam. Como o
Rei e Senhor de todos desejava ver a vossa beleza, assim deseja ardentemente a
vossa resposta afirmativa... Levantai-vos, correi, abri! Levantai-vos com a fé,
apressai-vos com a vossa oferta, abri com a vossa adesão!» (In laudibus
Virginis Matris, Hom. IV, 8: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4, 1966, p. 53s). Deus
pede a livre adesão de Maria para se tornar homem. Certo, o "sim" da Virgem
é fruto da Graça divina. Mas a graça não elimina a liberdade; pelo contrário,
cria-a e a sustém. A fé não tolhe nada à criatura humana, mas permite a sua
plena e definitiva realização” (cf. Zenit )