TODOS OS SANTOS
No dia 1 de Novembro,
celebramos a memória de Todos-os-Santos. Numa única festa, louvamos a Deus pelo
amor que fez germinar no coração de tantos homens e mulheres que se confiaram a
Cristo e de deram, na caridade, aos outros. Agora, revestidos da glória de
Cristo ressuscitado, contemplam a face de Deus e rejubilam na Sua presença. Na
vida, professaram a sua fé mostrando-a nas suas boas obras; fizeram-se uma
oblação até ao fim, até ao martírio; renunciaram às vaidades do mundo para, na
sua pobreza, encontrar o verdadeiro tesouro: Cristo. A propósito desta
solenidade, disse o Papa Bento XVI: “… ‘Para que serve o nosso louvor aos santos,
o nosso tributo de glória, esta nossa solenidade’. Com esta interrogação tem
início uma famosa homilia de São Bernardo para o dia de Todos os Santos. É uma
pergunta que se poderia fazer também hoje. E é actual a resposta que o Salmo
nos oferece: ‘Os nossos santos - diz São Bernardo - não têm necessidade das
nossas honras, e nada lhes advém do nosso culto. Por minha vez, devo confessar
que, quando penso nos santos, sinto-me arder de grandes desejos’. (Disc. 2;
Opera Omnia Cisterc. 5, 364ss.). Eis, portanto, o significado da solenidade
hodierna: contemplando o exemplo luminoso dos santos, despertar em nós o grande
desejo de ser como os santos: felizes por viver próximos de Deus, na sua luz,
na grande família dos amigos de Deus. Ser santo significa: viver na intimidade
com Deus, viver na sua família. Esta é a vocação de todos nós, reiterada com
vigor pelo Concílio Vaticano II, e hoje proposta de novo, solenemente, à nossa
atenção. Mas como é que podemos tornar-nos santos, amigos de Deus? A esta interrogação
pode-se responder, antes de mais, de forma negativa: para ser santo não é necessário
realizar acções nem obras extraordinárias, nem possuir carismas excepcionais. Depois,
vem a resposta positiva: é preciso, sobretudo, ouvir Jesus e depois segui-lo
sem desanimar diante das dificuldades. ‘Se alguém me serve Ele admoesta-nos que
me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. Se alguém me servir,
o Pai há-de honrá-lo’ (Jo 12, 26). Quem nele confia e o ama com sinceridade,
como o grão de trigo sepultado na terra, aceita morrer para si mesmo. Com
efeito, Ele sabe que quem procura conservar a sua vida para si mesmo,
perdê-la-á; e quem se entrega, quem se perde a si mesmo encontra a própria vida
(cf. Jo 12, 24-25). A experiência da Igreja demonstra que cada forma de
santidade, embora siga diferentes percursos, passa sempre pelo caminho da cruz,
pelo caminho da renúncia a si mesmo. As biografias dos santos descrevem homens
e mulheres que, dóceis aos desígnios divinos, enfrentaram por vezes provações e
sofrimentos indescritíveis, perseguições e o martírio. Perseveraram no seu
compromisso, ‘vêm da grande tribulação - lê-se no Apocalipse -, lavaram as suas
túnicas e branquearam-nas no sangue do Cordeiro’ (Ap 7, 14). Os seus nomes
estão inscritos no livro da Vida (cf. Ap 20, 12); a sua morada eterna é o
Paraíso. O exemplo dos santos constitui para nós um encorajamento a seguir os
mesmos passos, a experimentar a alegria daqueles que confiam em Deus, porque a
única verdadeira causa de tristeza e de infelicidade para o homem é o facto de
viver longe de Deus…” ( cf. Bento XVI, Homilia do dia 1 de Novembro de 2006 )