PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… Aumenta a nossa fé…” (cf. Lucas 17,5) A página do Evangelho de hoje (cf. Lc 17, 5-10) apresenta o tema da fé, introduzido pela pergunta dos discípulos: «Aumenta a nossa fé!» (v. 6). Uma bela oração, que devemos recitar muito durante o dia: «Senhor, aumenta a minha fé!». Jesus responde com duas imagens: o grão de mostarda e o servo disponível. «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: “Arranca-te daí e planta-te no mar”, e ela havia de vos obedecer» (v. 6). A amoreira é uma árvore forte, bem enraizada na terra e resistente aos ventos. Portanto, Jesus quer fazer compreender que a fé, ainda que pequena, pode ter a força de erradicar até mesmo uma amoreira. E depois transplantá-la no mar, o que é algo ainda mais improvável: mas nada é impossível para aqueles que têm fé, porque eles não confiam nas suas próprias forças, mas em Deus, que tudo pode. A fé comparável com o grão de mostarda é uma fé que não é soberba nem autoconfiante; não pretende ser a de um grande crente, por vezes fazendo má figura! É uma fé que na sua humildade sente uma grande necessidade de Deus e na sua pequenez abandona-se com plena confiança a Ele. É a fé que nos dá a capacidade de olhar com esperança para os altos e baixos da vida, que nos ajuda a aceitar até mesmo as derrotas e os sofrimentos, sabendo que o mal nunca teve, nunca terá, a última palavra. Como podemos compreender se realmente temos fé, isto é, se a nossa fé, ainda que pequena, é genuína, pura, direta? Jesus nolo explica indicando qual é a medida da fé: o serviço. E fá-lo com uma parábola que, à primeira vista, é um pouco desconcertante, pois apresenta a figura de um senhor arrogante e indiferente. Mas precisamente este modo de fazer do mestre faz sobressair qual é o verdadeiro centro da parábola, ou seja, a atitude de disponibilidade do servo. Jesus quer dizer que o homem de fé se comporta assim em relação em Deus: rende-se completamente à sua vontade, sem cálculos nem pretensões. Esta atitude para com Deus reflecte-se também na forma como nos comportamos em comunidade: reflecte-se na alegria de estarmos ao serviço uns dos outros, encontrando já nisto a nossa recompensa e não nos reconhecimentos nem nas vantagens que disto podem derivar. É o que Jesus ensina no final deste relato: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”» (v. 10). Servos inúteis, ou seja, sem pretensão de ser agradecidos, sem reivindicações. «Somos servos inúteis» é uma expressão de humildade e disponibilidade que faz tanto bem à Igreja e recorda a atitude correcta de trabalhar nela: o serviço humilde de que Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 3-17). (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Roma, 6 de Outubro de 2019)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SANTOS POPULARES



TODOS OS SANTOS

No dia 1 de Novembro, celebramos a memória de Todos-os-Santos. Numa única festa, louvamos a Deus pelo amor que fez germinar no coração de tantos homens e mulheres que se confiaram a Cristo e de deram, na caridade, aos outros. Agora, revestidos da glória de Cristo ressuscitado, contemplam a face de Deus e rejubilam na Sua presença. Na vida, professaram a sua fé mostrando-a nas suas boas obras; fizeram-se uma oblação até ao fim, até ao martírio; renunciaram às vaidades do mundo para, na sua pobreza, encontrar o verdadeiro tesouro: Cristo. A propósito desta solenidade, disse o Papa Bento XVI: “… ‘Para que serve o nosso louvor aos santos, o nosso tributo de glória, esta nossa solenidade’. Com esta interrogação tem início uma famosa homilia de São Bernardo para o dia de Todos os Santos. É uma pergunta que se poderia fazer também hoje. E é actual a resposta que o Salmo nos oferece: ‘Os nossos santos - diz São Bernardo - não têm necessidade das nossas honras, e nada lhes advém do nosso culto. Por minha vez, devo confessar que, quando penso nos santos, sinto-me arder de grandes desejos’. (Disc. 2; Opera Omnia Cisterc. 5, 364ss.). Eis, portanto, o significado da solenidade hodierna: contemplando o exemplo luminoso dos santos, despertar em nós o grande desejo de ser como os santos: felizes por viver próximos de Deus, na sua luz, na grande família dos amigos de Deus. Ser santo significa: viver na intimidade com Deus, viver na sua família. Esta é a vocação de todos nós, reiterada com vigor pelo Concílio Vaticano II, e hoje proposta de novo, solenemente, à nossa atenção. Mas como é que podemos tornar-nos santos, amigos de Deus? A esta interrogação pode-se responder, antes de mais, de forma negativa: para ser santo não é necessário realizar acções nem obras extraordinárias, nem possuir carismas excepcionais. Depois, vem a resposta positiva: é preciso, sobretudo, ouvir Jesus e depois segui-lo sem desanimar diante das dificuldades. ‘Se alguém me serve Ele admoesta-nos que me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há-de honrá-lo’ (Jo 12, 26). Quem nele confia e o ama com sinceridade, como o grão de trigo sepultado na terra, aceita morrer para si mesmo. Com efeito, Ele sabe que quem procura conservar a sua vida para si mesmo, perdê-la-á; e quem se entrega, quem se perde a si mesmo encontra a própria vida (cf. Jo 12, 24-25). A experiência da Igreja demonstra que cada forma de santidade, embora siga diferentes percursos, passa sempre pelo caminho da cruz, pelo caminho da renúncia a si mesmo. As biografias dos santos descrevem homens e mulheres que, dóceis aos desígnios divinos, enfrentaram por vezes provações e sofrimentos indescritíveis, perseguições e o martírio. Perseveraram no seu compromisso, ‘vêm da grande tribulação - lê-se no Apocalipse -, lavaram as suas túnicas e branquearam-nas no sangue do Cordeiro’ (Ap 7, 14). Os seus nomes estão inscritos no livro da Vida (cf. Ap 20, 12); a sua morada eterna é o Paraíso. O exemplo dos santos constitui para nós um encorajamento a seguir os mesmos passos, a experimentar a alegria daqueles que confiam em Deus, porque a única verdadeira causa de tristeza e de infelicidade para o homem é o facto de viver longe de Deus…” ( cf. Bento XVI, Homilia do dia 1 de Novembro de 2006 )