- na Audiência geral, no dia 14 de Novembro, em Roma.
No nosso tempo verifica-se um
fenómeno particularmente perigoso para a fé: há uma forma de ateísmo que se
define, precisamente, como "prático", que não nega as verdades da fé
nem os rituais religiosos, mas, simplesmente, os considera irrelevantes para a
existência quotidiana, desligados da vida, inúteis. Muitas vezes, acredita-se
em Deus de modo superficial, e vive- se "como se Deus não existisse"
. Este modo de vida leva à indiferença quanto à fé e quanto à questão de Deus.
Na realidade, o homem separado de Deus reduz-se a uma única dimensão, a horizontal,
e esse reducionismo é justamente uma das causas fundamentais dos totalitarismos
que tiveram consequências trágicas no século passado, e da crise de valores que
testemunhamos na realidade actual. Obscurecendo a referência a Deus, foi
obscurecido também o horizonte ético, para dar espaço ao relativismo e a uma
concepção ambígua de liberdade, que, em vez de ser libertadora, acaba por
amarrar o homem a ídolos. As tentações que Jesus enfrentou no deserto, antes do
seu ministério público, representam bem os "ídolos" que fascinam o
homem quando ele não vai além de si mesmo. Quando Deus perde a centralidade, o homem
perde o seu lugar, não encontra mais o seu lugar na criação, no relacionamento
com os outros. Não desapareceu o que a sabedoria antiga evocava com o mito de
Prometeu: o homem pensa que pode tornar-se "deus", mestre da vida e
da morte. Diante deste quadro, a Igreja, fiel a Cristo, não deixa jamais de
afirmar a verdade sobre o homem e sobre o seu destino. O Concílio Vaticano II
afirma de forma sucinta: "A razão mais alta da dignidade do homem consiste
na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o seu nascimento, o homem já está
convidado a conversar com Deus. Ele não existe, aliás, a não ser porque, criado
por Deus por amor, é mantido por Ele também por amor, nem pode viver plenamente
segundo a verdade se não O reconhecer livremente e não se confiar ao seu
Criador "(Gaudium et Spes, 19).