Dos Sermões de São Leão Magno, papa ( Séc. V )
Hoje, caríssimos irmãos, nasceu o nosso
Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida,
uma vida que destrói o temor da morte e nos infunde a alegria da eternidade
prometida. Ninguém é excluído desta felicidade, porque é comum a todos os
homens a causa desta alegria: Nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não
tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio para nos libertar a todos.
Alegre-se o santo, porque se aproxima a vitória; alegre-se o pecador, porque
lhe é oferecido o perdão; anime-se o gentio, porque é chamado para a vida. Ao chegar
a plenitude dos tempos, segundo os insondáveis desígnios divinos, o Filho de
Deus assumiu a natureza do género humano para a reconciliar com o seu Criador,
de maneira que o demónio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que
ele tinha vencido. Por isso, quando nasce o Senhor, os Anjos cantam jubilosos:
Glória a Deus nas alturas; e anunciam: Paz na terra aos homens por
Ele amados. Eles vêem, com efeito, como se levanta a Jerusalém celeste,
formada pelos povos de toda a terra. Perante esta obra inefável da misericórdia
divina, como não há-de alegrar-se o mundo humilde dos homens, se ela provoca
tão grande júbilo nos coros sublimes dos Anjos? Caríssimos irmãos, dêmos graças
a Deus Pai, por meio de seu Filho, no Espírito Santo, porque na sua infinita
misericórdia nos amou e teve piedade de nós: estando nós mortos pelo
pecado, fez-nos viver com Cristo, para que fôssemos n’Ele uma nova
criatura, uma nova obra das suas mãos. Deponhamos, portanto, o homem velho com
suas más acções e, já que fomos admitidos a participar do nascimento de
Cristo, renunciemos às obras da carne. Reconhece, ó cristão, a tua dignidade.
Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às
antigas misérias com um comportamento indigno da tua geração. Lembra-te de que
cabeça e de que corpo és membro. Não esqueças que foste libertado do poder das
trevas e transferido para a luz do reino de Deus… (Sermo 1 in Nativitate Domini, 1-3: PL 54, 190-193) do Ofício de
Leituras, dia de Natal.