SÃO BASÍLIO
Basílio nasceu
no ano 330, na cidade de Cesareia, na Capadócia, actual Turquia. Foi o mais
velho de nove irmãos: quatro rapazes e cinco raparigas. Três dos irmãos alcançaram
a dignidade episcopal. Das cinco irmãs, a mais velha, Macrina, dedicou a sua
vida a Deus. Os seus pais, Basílio e Emélia, eram ricos e gozavam de grande estima
entre os seus concidadãos. Ainda criança, Basílio foi acometido de uma doença
grave. A oração persistente e confiada do seu pai obteve um verdadeiro milagre
de Deus: a cura. Entregue aos cuidados de sua avó, Basílio recebeu os primeiros
ensinamentos da vida cristã. Mais tarde, iniciou os estudos em Cesareia, completando-os
em Constantinopla. Aí conheceu aquele que foi o seu maior amigo: Gregório, de
Nazianzo que, no amor a Jesus encontrou o caminho da santidade. A este amigo
chamamos, também, São Gregório Nazianzeno. Quando Basílio voltou a Cesareia,
seu pai já havia morrido. O exemplo, as palavras animadoras e o testemunho da
sua avó Macrina despertaram nele o desejo de abandonar o mundo e levar uma vida
de penitência, de renúncia às coisa mundanas e de entrega total a Jesus. Com
este objectivo, visitou diversos eremitas no Egipto, na Síria, na Palestina e na
Mesopotâmia. Depois desta peregrinação, voltou a Cesareia determinado a concretizar
o seu sonho. O bispo Diânio, conferiu-lhe o leitorado. Entretanto, Diânio, embora
fiel aos ideais do cristianismo, proferiu, nos concílios de Antioquia e de Sárdica
( hoje, Sófia, capital da Bulgária), declarações que abalaram a Igreja e fizeram
com que a ortodoxia fosse posta em dúvida. Basílio, profundamente entristecido
com este facto e para não se expor e perder a fé, com grande pesar, afastou-se
do bispo, a quem dedicava grande amizade, e dirigiu-se para o Ponto, onde a sua
santa mãe e a sua irmã mais velha tinham fundado um convento para donzelas
cristãs. Basílio, imitando o seu exemplo, fundou um convento para homens, cuja
direcção foi, mais tarde, entregue ao seu irmão, Pedro: São Pedro de Sebaste. A
estas duas fundações, seguiram-se outras e cresceu, consideravelmente, o número
de conventos, no Ponto. Foi nesta época que Basílio escreveu obras belíssimas
sobre a vida religiosa, compôs a regra da vida monástica que até hoje é
observada pelos monges da Igreja Oriental. Basílio é considerado o pai do monaquismo
na Igreja Oriental. A vida de Basílio era regida por uma austeridade que
causava admiração a todos. Ele, fundador da Ordem - chamada Ordem de São
Basílio - era a regra viva, dando a todos os religiosos um verdadeiro exemplo
de todas as virtudes monásticas. O rigor da sua penitência deixara-o tão magro e
frágil que parecia ter só pele e osso. Entretanto, o bispo Diânio, estando
gravemente enfermo, mandou chamar para perto de si o seu santo amigo que o
acompanhou até ao último suspiro. Para suceder a Diânio, no bispado de
Cesareia, foi escolhido Eusébio: foi das suas mãos que Basílio recebeu o
presbiterado, com a missão de pregar. Basílio continuou a sua vida austera,
como se estivesse no meio dos seus confrades. Como, porém, a fama de santidade
e sabedoria do santo servo de Deus começasse a incomodar e a irritar o bispo
Eusébio, Basílio retirou-se para viver na solidão. Porém, Eusébio, intimidado
pelas reclamações e ameaças do povo, chamou Basílio a Cesareia e encarregou-o
de rebater a propaganda herética do arianismo; de cuidar dos pobres atingidos
pela miséria provocada por uma grande carestia de vida; de orientar diversos
conventos, de ambos os sexos, que precisavam de um guia espiritual da envergadura
de Basílio. Os serviços que, naquela ocasião, prestou à população, quer como
pregador, quer como confessor, foram tantos e tão dedicados que o próprio
bispo, mudando de atitude e de sentimentos, se tornou um seu dedicado amigo e
nada fazia sem antes se aconselhar com Basílio. O Bispo Eusébio morreu no ano
370. O seu sucessor foi Basílio. Como bispo de Cesareia, Basílio veio a ser um
astro luminoso da Igreja do Oriente. Cumpridor dos deveres episcopais, modelo
exemplaríssimo em todas as virtudes, Basílio tornou-se um baluarte do cristianismo
contra os contínuos e rudes ataques da heresia ariana, cujos defensores mais
ardentes e poderosos se encontravam ao redor do imperador Valente que era um adepto
fanático daquela seita. O imperador Valente não via com bons olhos o trabalho
apostólico de Basílio e o rumo comprometido que a diocese de Cesareia tomava,
sob a direcção do seu santo pastor. Uma comissão imperial, chefiada pelo
valente capitão Modesto, foi enviada a Cesareia com ordens especiais para pôr
fim à actividade apostólica de Basílio. Esta comissão não obteve nenhum êxito.
Apesar das instruções de que eram portadores, das lisonjas e das ameaças, das
argumentações subtis e sofísticas, não puderam impedir que o espírito, a
inteligência, a coragem e a intrepidez do santo bispo se mostrassem de uma
superioridade admirável. Nas três audiências, para as quais convidaram Basílio,
este respondeu com tanta mansidão, clareza e energia, que no relatório que apresentaram
ao imperador, confessaram redondamente a sua derrota. O imperador Valente, em
consequência deste fracasso, não mais importunou os cristãos. Por ocasião da Festa
da Epifania, ele mesmo foi a Cesareia assistir ao Santo Sacrifício, celebrado
por Basílio. Ficou tão admirado com a majestade e o esplendor daquele acto
sagrado que, embora não se atrevesse a receber a sagrada comunhão das mãos do
bispo foi, com os fiéis, levar as oferendas ao altar. O Bispo Basílio, por
motivos de sabedoria e de prudência, julgou conveniente dispensar, por esta
vez, o rigor das leis disciplinares da Igreja. O imperador Valente caiu em si e
começou a tratar os cristãos com mais clemência e tolerância. Alguns dos seus
cortesãos não concordavam com a nova atitude do imperador e, lançando mão de
todos os meios, conseguiram, por fim, fazer aprovar um decreto que ordenava a
expatriação de Basílio. No dia em que devia ser executada a iniqua sentença,
caiu gravemente enfermo o único filho do imperador. O estado de saúde da imperatriz
foi muito afectado e ficou com perturbações sérias e preocupantes. Entre as dores
e os desesperos, a imperatriz dizia que tudo o que se estava a passar era um
justo castigo de Deus pelo mal feito a Basílio. O Bispo Basílio foi reabilitado
e recebido, no palácio imperial, com grandes honras. Valente prometeu, ao
bispo, a educação do príncipe herdeiro na religião cristã, se lhe alcançasse de
Deus o restabelecimento do seu filho. De facto, o príncipe sarou mas o imperador,
não cumprindo depois a palavra, teve o desgosto de perder o filho. Recomeçaram,
então, as maquinações contra Basílio. Estava já lavrada a acta que ordenava seu
o exílio. Por três vezes, o imperador se dispôs a pôr-lhe a sua assinatura e,
por três vezes, se lhe quebrou a pena. Assustado com este facto, Valente pegou
no papel e, com mãos trémulas, rasgou o documento. Nunca mais se organizou
qualquer campanha contra o santo. O capitão Modesto fez as pazes com Basílio. Um
outro oficial, chamado Eusébio e que tinha dado ordem de prisão ao bispo,
retirou-a diante da atitude ameaçadora do povo, em defesa do seu pastor. À
tempestade, seguiu a bonança. Basílio pôde, por fim, com tranquilidade e paz,
dedicar-se aos trabalhos do apostolado. Foram tantos os rigores da sua vida que
aos 49 anos, já era um velho. Mas, apesar de fraco de corpo, era um herói de espírito.
Morreu no ano de 379, com 49 anos de idade. Figura entre os quatro grandes
doutores da Igreja do Oriente. A sua memória litúrgica faz-se no dia 2 de Janeiro.