SÃO JOÃO DA CRUZ
Juan de Yepes nasceu em 1542,
provavelmente no dia 24 de Junho, em Fontiveros, perto de Ávila, na Velha
Castela. Era o terceiro filho de Gonzalo de Yepes e de Catalina Alvarez. A família
era extremamente pobre porque o pai, de uma nobre família de Toledo, tinha sido
expulso de casa e deserdado por ter casado com Catalina, que era uma humilde
tecelã de seda. Órfão de pai em tenra idade, com nove anos, transferiu-se, com
a mãe e o irmão Francisco, para Medina del Campo, perto de Valladolid. Ali,
frequentou o Colegio de los Doctrinos, um colégio para crianças pobres,
desempenhando, também, alguns trabalhos humildes para as irmãs da igreja-convento
da Madalena. Em seguida, tendo em conta as suas qualidades humanas e os seus
resultados nos estudos, foi admitido como enfermeiro no Hospital da Conceição
e, depois, no Colégio dos Jesuítas, recém-fundado em Medina del Campo. Neste
colégio, João, com dezoito anos de idade, estudou ciências humanas, retórica e
línguas clássicas, durante três anos. No final da formação, percebeu claramente
qual era a sua vocação: entrar na vida religiosa. Entre as muitas ordens
religiosas presentes em Medina, sentiu-se chamado ao Carmelo. No Verão de 1563,
começou o noviciado com os Carmelitas da cidade, assumindo o nome religioso de
João de São Matias. No ano seguinte, foi destinado à prestigiosa Universidade
de Salamanca onde, durante três anos, estudou artes e filosofia. Em 1567, foi
ordenado sacerdote. Voltou a Medina del Campo para celebrar a sua primeira
Missa, rodeado pelo carinho dos seus familiares. Foi precisamente ali que teve
lugar o primeiro encontro entre João e Teresa de Jesus. O encontro foi decisivo
para ambos: Teresa expôs-lhes o seu plano de reforma do Carmelo, também no ramo
masculino da Ordem, e propôs a João que se adaptasse «para maior glória de Deus»;
o jovem sacerdote ficou fascinado pelas ideias de Teresa, a ponto de se tornar
um grande defensor do projecto. Os dois trabalharam juntos alguns meses,
compartilhando ideais e propostas para inaugurar, quanto antes, a primeira casa
de Carmelitas Descalços. A abertura ocorreu a 28 de Dezembro de 1568, em
Duruelo, lugar solitário da província de Ávila. Com João, formavam esta
primeira comunidade masculina reformada, outros três companheiros. Ao renovar a
sua profissão religiosa segundo a Regra primitiva, os quatro assumiram um novo nome.
Então, João denominou-se «da Cruz», como depois viria a ser conhecido
universalmente. No final de 1572, a pedido de Teresa de Jesus (Santa Teresa de
Ávila), tornou-se confessor e vigário do mosteiro da Encarnação, em Ávila, onde
ela era prioresa. Foram anos de estreita colaboração e amizade espiritual, que
a ambos enriqueceram. A esse período remontam inclusive as mais importantes
obras teresianas e os primeiros escritos de João. A adesão à reforma carmelita
não foi fácil, e causou a João, também, graves sofrimentos. O episódio mais traumático
foi, em 1577: o seu rapto e aprisionamento no convento dos Carmelitas de Antiga
Observância de Toledo, devido a uma acusação injusta. O santo permaneceu preso
durante meses, submetido a privações e constrições físicas e morais. Ali
compôs, além de outras poesias, o célebre Cântico espiritual. Finalmente, na
noite de 16 para 17 de Agosto de 1578, conseguiu fugir, de forma rocambolesca,
e refugiou-se no mosteiro das Carmelitas Descalças da cidade. Teresa de Jesus e
os companheiros reformados celebraram com imensa alegria a sua libertação. Após
um breve período de recuperação de forças, João foi destinado para a Andaluzia,
onde viveu dez anos, em vários conventos, com realce para a sua estada em Granada.
Assumiu cargos cada vez mais importantes na Ordem, até se tornar Vigário provincial,
e completou a redacção dos seus tratados espirituais. Depois, voltou para a sua
terra natal, como membro do governo-geral da família religiosa teresiana, que
já gozava de plena autonomia jurídica. Habitou no Carmelo de Segóvia,
desempenhando a função de superior daquela comunidade. Em 1591, foi exonerado
de qualquer responsabilidade e foi destinado à nova Província religiosa do
México. Enquanto se preparava para a longa viagem com outros dez companheiros,
retirou-se para um convento solitário perto de Jaén, onde adoeceu gravemente. João
enfrentou com exemplar serenidade e paciência os enormes sofrimentos que a
doença lhe provocava. Faleceu na noite 13 para 14 de Dezembro de 1591, enquanto
os irmãos de hábito recitavam o Ofício matutino. Despediu-se deles, dizendo:
«Hoje vou cantar o Ofício no Céu». Os seus restos mortais foram trasladados
para Segóvia. Foi beatificado pelo Papa Clemente X, em 1675, e canonizado pelo
Papa Bento XIII, em 1726. São João da Cruz é considerado um dos mais
importantes poetas líricos da literatura espanhola. As suas obras principais
são quatro: Subida ao Monte Carmelo, Noite obscura, Cântico espiritual e Chama
de amor viva. Em 1926, foi proclamado Doutor da Igreja, pelo Papa Pio XI. A sua
memória litúrgica faz-se no dia 14 de Dezembro. ( extraído da catequese do Papa
Bento XVI – Audiência geral de 16 de Fevereiro de 2011)