BEATA MARIA
DA ENCARNAÇÃO AVRILLOT
Bárbara Avrillot nasceu em Paris, no dia 1 de Fevereiro de 1566,
filha de Nicolau Avrillot - Senhor de Champstreaux, homem muito rico, muito
influente na corte e na vida religiosa francesa - e de Maria l’Huiller. Eram
muito devotos, muito bons cristãos e, daí, a sua influência na comunidade. Por não
terem filhos, prometeram ao Senhor consagrar-lhe o herdeiro que, porventura,
lhes viesse a ser dado. Este apareceu no dia 1 de Fevereiro de 1566. Era uma
menina e logo a consagraram ao Senhor e à Virgem Maria, vestindo-a sempre de
branco até à idade dos sete anos. Como era costume entre as famílias de classe
alta, os sete anos, Bárbara foi viver, como aluna interna, no colégio das Irmãs
Menores da Humildade de Nossa Senhora, que tinham residência em Longchamp. Aí,
Bárbara teve notoriedade pela sua inteligência, simplicidade e piedade. No seu
coração começou a sentir um forte apelo à vida religiosa.
Aos catorze anos, regressou a casa e ao seio da sua família. Não
teve oportunidade de amadurecer e discernir a sua vocação porque, aos dezasseis
anos, os seus pais deram-na em casamento ao Visconde de Villemor, Pedro Acarie,
homem de costumes irrepreensíveis, Senhor de Montbrost e de Roncenay,
proprietário de muitas terras, muito actuante na política da corte francesa e
cuja influência era tão forte quanto a da família de Bárbara.
O casal teve seis filhos. “A bela Acarie”, como Bárbara era
conhecida em Paris, iniciou a vida matrimonial e a de mãe dando, a todos,
exemplo de como se podia viver a vida na fidelidade a Jesus e ao Evangelho; na
prática religiosa de acordo com os mandamentos de Deus e no cumprimento dos
deveres da administração do lar. Além disso, sempre se esforçou por colocar a
família em primeiro lugar, frente às exigências da sociedade em que estava
inserida, e marcando-a com um verdadeiro selo de santidade.
Era incansável no auxílio aos
necessitados, especialmente durante o cerco de Paris, montado pelo rei Henrique
IV, em 1590, durante as guerras religiosas, em que se enfrentaram os católicos
e os huguenotes, com a intervenção militar dos espanhóis.
Filha devota da Igreja, Madame
Acarie participou em acções contra a heresia protestante alastrava em França.
Deus favoreceu-a com graças místicas extraordinárias, a par de muitas provações.
O rei Henrique IV, protestante, depois de extinguir a “Liga Católica” - à qual o
seu marido pertencia - mandou-o para o exílio e confiscou todos os seus bens.
Foram quatro anos de muitas atribulações financeiras e de aflição de espírito.
Porém, Bárbara não se deixou abater; tomou a defesa do seu marido, não se
detendo até provar a sua inocência e reaver todos os seus bens.
Foi com esta fibra que educou os seus filhos
na generosidade, no respeito e no serviço aos mais pobres, doentes e desamparados.
Ensinou-os a viver de maneira simples, sóbria, modesta e no amor à verdade: na
verdade que é Cristo. Ensinou-lhes, também, o espírito de sacrifício e a força de
vontade diante das dificuldades.
Neste período difícil da sua vida, conheceu o Padre Francisco de
Sales - depois Bispo, Fundador e Santo - que aprovava a sua atitude e o seu comportamento,
vindo a tornar-se o seu director espiritual.
Com o Édito de Nantes, de 13 de Abril de 1598, foi concedida, em
França, a liberdade de culto - com certos limites - aos protestantes
calvinistas, também conhecidos por ‘Huguenotes’. A promulgação deste édito
colocou fim às guerras religiosas que assolaram o país durante o século XVI.
Henrique IV, também protestante, tinha-se convertido, entretanto, ao
catolicismo para poder subir ao trono.
A tolerância concedida ao protestantismo causou muito sofrimento
aos Acarie. Como resultado, depois de muitas orações e trabalhos, Bárbara,
inspirada nos escritos de Santa Teresa de Ávila, resolveu dedicar-se, de alma e
coração, à instauração de um Carmelo reformado, em França. Apesar de ser
somente uma leiga cristã, em 1602 acolheu as primeiras vocações; obteve a autorização
do rei, que tinha por ela uma grande consideração; e, em 1603, o Papa Clemente
VIII enviou-lhe a sua autorização para a fundação de um mosteiro: surgiu,
assim, pela sua dedicação, o primeiro Mosteiro Carmelita, em França.
Em 29 de Agosto de 1604, seis Carmelitas Descalças espanholas - entre
as quais a futura Beata Ana de São Bartolomeu e a futura Serva de Deus, Ana de
Jesus - chegaram a Paris e, no dia 17 de Outubro do mesmo ano, foi iniciada a
vida monástica naquela cidade. Iniciou-se, assim, a grande missão de renovação
da espiritualidade católica, na França daquele tempo. Em 1605 e 1606, Bárbara
Avrillot teve a felicidade de ver a Ordem Carmelita expandir-se para Pontoise,
Dijon, Amiens e a alegria de ver três das suas filhas entrarem no Carmelo de
Amiens.
Em 1613, o seu marido, Pedro
Acarie, adoeceu gravemente. Depois de nove dias de grande sofrimento, morreu na
paz do Senhor, assistido pela sua esposa fiel e dedicada, e confortado pelos
sacramentos da Santa Igreja.
No dia 7 de Abril de 1614, Bárbara, livre de todos os deveres
terrenos, entrou para o Carmelo de Amiens como conversa - isto é, acolhida na
comunidade conventual mas, ainda sem a profissão dos votos - tomando o nome de
Maria da Encarnação. Mais tarde, fez os seus votos diante de uma das suas
filhas, que se tornara Abadessa do mosteiro.
Viveu a sua vida de clausura com humildade, trabalhando na cozinha
e atendendo as irmãs doentes; sofreu muito com a incompreensão de uma nova abadessa,
proveniente de outro Carmelo; foi agraciada com êxtases e visões que a confortavam
nas suas longas doenças e provações. Mulher de grande vigor espiritual, manteve-se
sempre activa e preparada para as discussões sobre o tema da fé, mas sempre
humilde e afectuosa como simples carmelita da sua comunidade.
Por motivos de saúde, foi transferida para o Carmelo de Pontoise,
em 7 de Dezembro de 1616. Ali, após uma longa enfermidade, faleceu no dia 18 de
Abril de 1618, Quinta-Feira Santa, enquanto a comunidade recitava os Salmos 21
e 101.
O seu corpo foi sepultado numa Capela, do Mosteiro de Pontoise.
A Irmã Maria da Encarnação
Avrillot, Madame Acarie como era designada, é considerada a "Mãe Fundadora
do Carmelo em França" porque, mais do que todos, contribuiu para a difusão
da reforma carmelita de Santa Teresa d'Ávila, em solo francês.
A Irmã Maria da Encarnação (Bárbara
Avrillot Acarie) foi beatificada pelo Papa Pio VI, em 5 de Junho de 1791.
A memória litúrgica da Beata
Maria da Encarnação celebra-se no dia 18 de Abril.
