- na Audiência-Geral, na Praça
de São Pedro – Roma, no dia 15 de Fevereiro
Bom dia, amados irmãos e irmãs!
Desde a infância, ensinam-nos que não é
bom orgulhar-se. Na minha terra, aqueles que se vangloriam são chamados
«pavões». E é correcto, porque orgulhar-nos daquilo que somos ou do que
possuímos, além de uma certa soberba, revela também uma falta de respeito pelos
outros, especialmente por quantos são mais desafortunados do que nós. Mas,
neste trecho da Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo surpreende-nos porque, por
duas vezes, nos exorta a orgulhar-nos. Então, do que é correcto orgulhar-se?
Pois, se ele exorta a orgulhar-se, é correcto orgulhar-se de algo. E como é
possível fazer isso, sem ofender o próximo, sem excluir ninguém?
No primeiro caso, somos convidados a
orgulhar-nos da abundância da graça que nos permeia em Jesus Cristo, por meio
da fé. Paulo deseja levar-nos a compreender que, se aprendermos a ver tudo na
luz do Espírito Santo, compreenderemos que tudo é graça! Tudo é dom! Com
efeito, se prestarmos atenção, quem age — tanto na história como na nossa vida
— não somos nós, mas, antes de tudo, Deus. Ele é o protagonista absoluto, que
cria tudo como dádiva de amor; que tece a trama do seu desígnio de salvação e
que o leva a cumprimento por nós, mediante o seu Filho Jesus. A nós, pede-se
que reconheçamos tudo isso; que o recebamos com gratidão e que o levemos a
tornar-se motivo de louvor, de bênção e de grande alegria. Se fizermos isso,
estaremos em paz com Deus e faremos experiência da liberdade. E, depois, esta
paz propaga-se a todos os âmbitos e a todos os relacionamentos da nossa vida:
estamos em paz connosco mesmos, estamos em paz em família, na nossa comunidade,
no trabalho e com as pessoas que encontramos todos os dias ao longo do nosso
caminho.
Mas Paulo exorta a orgulhar-se, também,
nas tribulações. Isto não é fácil de entender. Para nós, isso é mais difícil e
pode parecer que nada tem a ver com a condição de paz há pouco descrita. Ao
contrário, constitui o seu pressuposto mais autêntico e mais verdadeiro. Com
efeito, a paz que o Senhor nos oferece e nos garante não deve ser entendida
como ausência de preocupações, de desilusões, de faltas, de motivos de
sofrimento. Se fosse assim, caso conseguíssemos estar em paz, esse momento
acabaria depressa e inevitavelmente cairíamos no desânimo. Ao contrário, a paz
que brota da fé é um dom: é a graça de experimentar que Deus nos ama e que está
sempre ao nosso lado, não nos deixa sós nem sequer um instante da nossa vida. E
isto, como afirma o Apóstolo, gera paciência porque sabemos que, até nos
momentos mais difíceis e desconcertantes, a misericórdia e a bondade do Senhor
são maiores do que tudo e nada nos tirará das suas mãos e da comunhão com Ele.
Eis, então, por que a esperança cristã é
sólida, eis por que não desilude. Nunca desilude. A esperança não engana! Não
está fundada no que nós podemos fazer ou ser, e nem sequer naquilo em que
podemos acreditar. O seu fundamento, ou seja, o fundamento da esperança cristã,
é o que de mais fiel e seguro pode existir, isto é, o amor que o próprio Deus
alimenta por cada um de nós. É fácil dizer: Deus ama-nos. Todos o dizemos. Mas
pensai um pouco: cada um de nós é capaz de dizer: estou convicto de que Deus me
ama? Não é tão fácil dizê-lo. Mas é verdade. É um bom exercício, dizer a si
mesmo: Deus ama-me. Esta é a raiz da nossa segurança, a raiz da esperança. E o
Senhor infundiu abundantemente nos nossos corações o Espírito - que é o amor de
Deus - como artífice, como garante, exactamente para que possa nutrir a fé
dentro de nós e manter viva esta esperança. E esta segurança: Deus ama-me. «Mas,
neste momento difícil!» Deus ama-me. «E eu, que cometi esta acção feia e má?» Deus
ama-me. Ninguém nos priva desta segurança. E devemos repeti-lo como prece: ‘Deus
ama-me. Estou convicto de que Deus me ama; estou convicta de que Deus me ama…’
Agora compreendemos por que razão o
Apóstolo nos exorta a orgulhar-nos sempre de tudo isto. Orgulho-me do amor de
Deus, porque Ele me ama. A esperança que nos é oferecida não nos separa dos
outros, e muito menos nos leva a desacreditá-los ou a marginalizá-los. Ao
contrário, trata-se de uma dádiva extraordinária da qual somos chamados a
tornar-nos «canais» para todos, com humildade e simplicidade. E então o nosso
maior orgulho consistirá em ter como Pai um Deus que não tem preferências, que
não exclui ninguém, mas que abre a sua casa a todos os seres humanos, a começar
pelos últimos e pelos distantes, a fim de que, como seus filhos, aprendamos a
consolar-nos e a ajudar-nos uns aos outros. E não vos esqueçais: a esperança
não desilude! (cf. Santa Sé)