BEATA EUSÉBIA
PALOMINO YENES
Eusébia Palomino Yenes nasceu no dia 15 de Dezembro de
1899, no pequeno povoado de Cantalpino, em Salamanca, Espanha, numa casinha
baixa, escura e fria. O seu pai Agostinho Palomino tinha uma saúde frágil e a sua
mãe, Joana Yenes de Villaflores, nunca sabia o que colocar na mesa para saciar
a fome dos seus filhos.
Quando criança, Eusébia acompanhava o seu pai a pedir
esmolas pelas ruas. O seu pai, após sofrer um acidente no trabalho braçal, não
podia mais exercer nenhuma actividade física pesada, por isso, teve necessidade
de estender a mão à caridade. Mas esta jovem recebeu do pai, desde muito cedo,
o testemunho da fé. Nas recordações mais queridas da sua infância estão a
participação nas pregações dos missionários que passavam pela sua cidade e um
grande susto, do qual foi livrada pela intercessão de Nossa Senhora, quando
caiu no poço ao tirar água para a família.
O seu pai, pobre de bens, mas rico dos valores cristãos,
fazia questão de ensinar-lhe as primeiras lições de catecismo, e instrui-la, o
mais que podia, na bondade e na caridade.
Ao frequentar a escola, com seis anos, Eusébia deparou-se
com um outro mundo que não era o seu. Na escola não tinha aproveitamento porque
faltava muito: tinha de ajudar a mãe a procurar e a apanhar lenha no bosque. Por
isso, abandonou a escola. Eusébia era muito inteligente e sabia muitas coisas
que as suas companheiras mais afortunadas não sabiam. Os seus trabalhos domésticos
e as suas poucas forças não a impediam de caminhar, alegremente, pelas estradas
da aldeia, para ir à catequese, para se preparar para a Primeira Comunhão. Aprendia
a doutrina com encanto e facilidade, porque eram coisas de Deus. No dia da Ascensão
de 1908, quando tinha 8 anos de idade, recebeu Jesus, pão da Eucaristia, pela
primeira vez; viveu este acontecimento com um fervor pouco usual na sua idade.
Eusébia estava convencida de que não era feita para
este mundo. Mais tarde, ela escreveu: “O pouco que eu tinha era muito para mim,
pois nada me podia distanciar das delícias que gozava pensando no céu”. As suas
devoções predilectas eram para Nossa Senhora e para as Santas Chagas de Jesus
Cristo.
Devido às necessidades extremas da sua família,
Eusébia começou a trabalhar para uma família: de manhã, cuidava das crianças;
da parte da tarde, trabalhava como ajudante na quinta, em tarefas de agrícolas.
Trabalhando em contacto directo com a natureza, Eusébia passou a contemplar o
Criador de todas as coisas em tudo o que via e tocava; e, assim, despertou no
seu coração o desejo de se consagrar inteiramente a Ele.
Aos 13 anos, no verão de 1912, Eusébia partiu com a sua
irmã Dolores para Salamanca. Superando a dor da saudade de casa, passou a
trabalhar num asilo, onde ajudava na limpeza, na cozinha, na arrumação e na costura.
Aconteceu, então, um facto simples mas muito significativo
para ela: um dia, estando a trabalhar na horta do asilo, Eusébia encontrou uma
medalha de Maria Auxiliadora e teve a certeza de que aquela doce Senhora seria a
companheira de toda a sua vida. Poucos dias depois, aconteceu um segundo e
providencial episódio: no dia 24 de Maio - Festa de Nossa Senhora Auxiliadora -
ao sair da missa na Igreja dos Jesuítas, viu passar uma procissão com a imagem
de Maria Auxiliadora e, imediatamente, pensou que poderia fazer-se religiosa.
Duas semanas depois, encontrou uma jovem que insistiu
que fosse com ela ao Oratório das Irmãs Salesianas. Vendo ali a imagem da sua
Auxiliadora, Eusébia ouviu uma voz interior que dizia: “É aqui o teu lugar”.
Mas, Eusébia resistia, pois a sua pobreza não lhe permitia ficar naquele lugar.
E quem era aquela jovem que a convidou para ir ao Oratório? Ela nunca o soube e,
também, nunca mais a encontrou na sua vida!...
Eusébia passou a frequentar o Oratório assiduamente,
até que um dia, as Irmãs salesianas a convidaram para morar com elas e, assim,
ajudar nos serviços da casa e começar a estudar.
Em 1921, Eusébia entrou, oficialmente, para o
Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora e emitiu os seus primeiros votos
religiosos no dia 5 de Agosto de 1924. Então, foi enviada para a casa do
Instituto Salesiano em Valverde del Camino, uma pequena cidade que, na época,
contava com cerca de 9.000 habitantes, situada na zona mineira de Andaluzia, próxima
da fronteira com Portugal. Nesta casa, ocupava-se da cozinha, da portaria, da
rouparia, do cuidado da pequena horta e da assistência às meninas do Oratório.
Eusébia sempre foi muito tímida e simples. Dedicando-se
ao Oratório, à catequese e às actividades domésticas, a Irmã Eusébia
destacava-se, dos demais, pela sua humildade, singeleza e sinceridade. Não
atraía pela espontaneidade, mas sim pelo carinho e pelo afecto com que
realizava as mais simples tarefas.
Graças a sua prodigiosa memória, Eusébia costumava
lembrar-se dos feitos missionários, da vida dos santos, de episódios da devoção
mariana, dos factos da vida de Dom Bosco e, surpreendentemente, atraía para a sua
cozinha as jovens que desejavam a sua agradável companhia, sempre carregada de
fé, de palavras de bondade e de alegre amizade.
Era conhecida a sua devoção pelo Rosário das Santas
Chagas. Tinha o costume de rezar frequentemente a Via-Sacra. Insistia muito na
necessidade de confessar-se e de comungar, com frequência, para sermos bons
católicos.
E as notícias sobre a sua virtude espalhavam-se por
toda a parte: dizia-se que ela era humilde como jamais se tinha visto; que
rezava sempre; que profetizava acontecimentos; que tranquilizava as
consciências; que conduzia as almas à graça divina e, até, que fazia milagres...
Em 1930, a guerra civil já se fazia sentir. Eusébia comentou:
“A Espanha viverá dias sangrentos. Haverá mártires”. Ela mesma se ofereceu como
vítima pela liberdade da religião; consagrou-se ao Senhor “como vítima de amor
para a salvação das pessoas e para o crescimento do Reino de Jesus e de minha
mãe Maria”, conforme palavras que ela mesma escreveu na sua autobiografia,
redigida nos anos de enfermidade.
A partir de Agosto de 1932, Eusébia começou a sofrer
dores muito fortes devido à asma, uma enfermidade que tinha há muito tempo, mas
que nunca se havia apresentado assim. Com esta, outras doenças e dores se fizeram
sentir.
Até 1933, a Irmã Eusébia ainda auxiliava nas actividades
com as educandas; mas, a partir desse ano - quando a República Revolucionária
da Espanha decretou a ilegalidade da Igreja Católica - a sua saúde deteriorou-se
ainda mais e começou a ficar acamada a maior parte do tempo. Todos a queriam
ver: à volta do seu leito juntavam-se os padres, os seminaristas, as crianças
com as suas mães. Estava serena, abandonada nas mãos do Senhor, mesmo sabendo
que viriam dias terríveis. Um dia, disse aos seus visitantes: “ Agora o Rei
deverá ir-se embora; mas voltará e chamar-se-á Juan Carlos”. A história,
quarenta anos depois, veio confirmar as suas palavras. Quando sentia alguma melhoria na sua saúde, por
pequena que fosse, descia à Capela para rezar ou ao recreio onde reunia, à sua
volta, grande parte das alunas, atraídas pelo seu sorriso simples e amável.
No dia 4 de Outubro de 1934, enquanto algumas irmãs
rezavam com ela no lugar onde ela se encontrava, interrompeu a oração e
empalidecida disse: “Rezai muito pela Catalunha”. Foi o início da revolução das
Astúrias e da proclamação do Estado Catalão, em Outubro de 1934. Começou,
também, a perseguição religiosa que levou ao martírio milhares de católicos espanhóis.
A sua querida directora, a Irmã Carmem Moreno Benitez (agora beatificada) foi
fuzilada, juntamente com outra Irmã, no dia 6 de Setembro de 1936.
Em 1934, recolhida no seu quarto, por causa da doença,
pôde alegrar-se com a canonização de São João Bosco, a quem muito amava como
pai e fundador e em quem se espelhava na confiança plena em Maria Auxiliadora.
A Irmã Eusébia Palomino morreu na noite do dia 9 para
o dia 10 de Fevereiro de 1935, em Valverde del Camino, Huelva, Espanha. Nos
seus momentos de agonia, falava apenas das coisas belas do céu, da eternidade
feliz e, sorrindo, adormeceu na paz do Senhor.
O povo da cidade, as alunas e as Irmãs, que conheciam
de perto a heroicidade de Irmã Eusébia Palomino, já a consideravam santa.
Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 25 de
Abril de 2004. Na Homilia desta Missa, em que foram beatificadas outras
pessoas, entre elas a Beata Alexandrina de Balasar, a propósito de Eusébia
Palomino, disse o Papa: «…O Senhor diz a Pedro, de modo decidido e incisivo:
"Segue-Me". Também a Irmã Eusébia Palomino Yenes, das Filhas de Maria
Auxiliadora, ouviu o chamamento de Deus e respondeu com uma intensa
espiritualidade e profunda humildade na sua vida quotidiana. Como boa
salesiana, foi animada pelo amor à Eucaristia e à Virgem. Importante para ela
era amar e servir; o resto não tinha importância, fiel ao lema salesiano do
"da mihi animas, caetera tolle" (“Dai-me almas e ficai com o que
sobrar”).
Com a radicalidade e a coerência das suas opções, a
Irmã Eusébia Palomino Yenes delineia um caminho de santidade fascinante e
exigente para todos nós e, de modo especial, para os jovens do nosso tempo…”
A memória litúrgica da Beata Eusébia Palomino Yenes
celebra-se no dia 10 de Fevereiro.