BEATO JOSEF
MAYR NUSSER
Josef Mayr Nusser – mais conhecido por Pepi - nasceu
no dia 27 de Dezembro de 1910, em Bolzano, Itália, numa família de forte
tradição cristã, dedicados à terra e produtores de vinho. Tinha o desporto no
sangue; gostava de patinagem; lia avidamente livros bons e sérios; cultivava
uma intensa vida espiritual. A Pepi agradavam as estrelas; ficava encantado ao
olhar para o céu; quando fosse grande queria ser astrónomo. No entanto, teve de
contentar-se com o diploma da Escola de Comercial e trabalhar no escritório de
várias empresas de Bolzano.
Admirava a dimensão caritativa de São Vicente de Paulo
e de Frederico Ozanam e a frontalidade e coerência de Thomas More, o chanceler
inflexível que, quatro séculos antes, para não perder a sua fé, se opôs ao Rei
da Inglaterra, que o mandou decapitar. Irresistível e impetuoso a arrastar e a
dinamizar a juventude: cuidava da sua formação humana e espiritual, dizendo que
"para dar testemunho hoje, é a nossa única arma eficaz", porque sobre
a Europa adensam-se as nuvens escuras do nacional-socialismo e "à nossa
volta há a escuridão da descrença, da indiferença, do desprezo e, até, da
perseguição".
Para um jovem assim, foi natural a sua escolha para
presidente da Juventude Católica do Sul do Tirol que, naquela altura, estava a
organizar-se. Todos acreditavam que, se Pepi estava à sua frente, o movimento
ficava em boas mãos. Também era natural que, quem desempenhasse esta tarefa,
ficaria mais exposto e sobre ele recairiam as atenções das autoridades,
convencidas de que seria um perigoso formador de consciências e uma testemunha muito
temida. Não podemos deixar de referir, por exemplo, estas suas palavras, ditas
em 1936, premonitórias das suas escolhas futuras: "Hoje, mais do que em
qualquer outro tempo, é exigido à Acção Católica um catolicismo vivido. Hoje, deve
mostrar-se às multidões que o único líder que tem o direito de uma completa e
ilimitada autoridade, e a ser o nosso "condutor" é Cristo ". “
Dar testemunho da Luz, anunciar Cristo ao mundo. Uma missão corajosa… Dar
testemunho é, hoje, a única arma, a mais poderosa, uma arma bastante estranha. Nem
espada, nem violência, nem dinheiro, nem poder espiritual… nada disto é
necessário para construir o Reino de Cristo sobre a terra”, escreveu Pepi, no
dia 15 de Janeiro de 1938, na revista da juventude católica ‘Jugendwacht’ (Cuidar
da Juventude)
Pepi enamorou-se, tal como os outros jovens, quando conheceu
Hildegarda Straub, que trabalhava na
mesma empresa: havia uma grande e autêntica afinidade entre eles, e uma grande
comunhão de ideais. Pepi cortejou-a de forma persistente e tenaz até que ela, que
estava a pensar seriamente tornar-se freira, lhe disse que sim. Convencidos de
que no casamento havia espaço suficiente para testemunhar a sua fé e aspirar à
santidade, celebraram o seu casamento no dia 26 de Maio de 1942, na Igrejinha
de São Nicolau, em Bolzano, tendo presidido ao casamento o Padre Jacob Mayr Nusser,
irmão de Pepi. No ano seguinte, exultaram com o nascimento do seu primeiro
filho, Alberto. O noivado e o casamento não o afastaram das suas actividades
sociais e religiosas plurifacetadas. Em consequência disso, foi forçado a inscrever-se
nas divisões do exército nazista e levado para Konitz, a fim de, aí, fazer a
recruta e o treinamento militar. Juntamente com a doutrinação e treinamento
militar que o tornaria um perfeito membro das SS, prepararam-no para o
juramento, ensinando-lhe a fórmula: "Eu juro a ti, Adolf Hitler, Führer e
Chanceler do Reich, fidelidade e coragem. Prometo, solenemente, a ti e aos
superiores designados por ti obediência até à morte. E que Deus me ajude."
É aqui que entrou em crise a fé de Pepi, a quem pareceu uma blasfémia envolver
o Deus em que acreditava no culto do chefe, promovido a ídolo.
"Cabe-nos, hoje, assistir ao culto do líder (Führer)
que roça a idolatria", escreveu ele, em 1936. "Não posso jurar a este
Führer”, disse em alta voz, na manhã do dia 4 de Outubro de 1944, acrescentando
que não se sentia nacional-socialista (nazi) por motivos religiosos. Aos outros
soldados, que o convidaram a retratar-se, respondeu sem ênfase, mas com
profunda convicção, que "se ninguém tiver coragem de dizer não a Hitler, o
nacional-socialismo nunca mais vai acabar." Uma escolha, a sua, amadurecida
em longas conversas com o seu irmão, Padre Jacob, e com a sua própria esposa, a
quem escreveu: "Reza por mim, para que na hora da provação eu possa agir
sem hesitação, de acordo com os ditames de Deus e de minha consciência ( ...)
tu és uma mulher corajosa, e nem mesmo os sacrifícios pessoais que, possivelmente,
te serão pedidos, poderão levar-te a condenar o teu marido porque preferiu
perder a vida a abandonar o caminho do dever”.
Pepi foi imediatamente preso. Foi julgado e condenado
à morte por traição ao Führer e como "derrotista". Metido num
comboio, no início de Fevereiro de 1945, juntamente com outros 40 opositores, foi
enviado para o campo de concentração de Dachau. O comboio teve de parar em
Erlangen, porque a linha férrea tinha sido bombardeada pelos aliados: Pepi
estava muito doente; tinha febre altíssima; a diarreia estava a matá-lo. Um dos
guardas (um ex-seminarista) teve compaixão dele e tomou a iniciativa de o levar
ao médico. Tiveram de andar a pé durante três horas, até encontrar um médico
nazista que, sem o examinar, o enviou de volta, dizendo: "Isso não é nada
de grave; pode retomar a viagem."
De volta ao comboio, Pepi morreu nessa mesma noite: no
dia 24 de Fevereiro de 1945. "Por pneumonia", dizia o telegrama que,
mais de um mês depois, chegou a sua casa. Foi sepultado no cemitério de Erlangen
mas, em 1958, os seus restos mortais foram transladados para Bolzano e
repousam, agora, na pequena Igreja de São José, em Stella di Renon, próximo de
Bolzano.
A morte de Pepi foi o culminar do seu testemunho de
Fé: "Por Cristo e pela fé", disse a Igreja, que oficialmente
sancionou esta declaração, depois de um longo processo de investigação que
reconheceu que Pepi foi martirizado por ódio à fé. Em 1980, um antigo soldado
alemão, que escoltava os prisioneiros para Dachau, escreveu a Hildegarda,
mulher de Pepi,( faleceu em 1998) uma carta que terminava assim: “Josef Mayr
Nusser morreu por Cristo, estou certo disso, ainda que só me tenha apercebido
disso 34 anos depois. Estou convencido que, durante catorze dias, vivi junto de
um santo”. No testemunho do militar dava-se conta do facto de que, apesar das
condições muito precárias da vida na prisão e durante o terrível transporte no
comboio para Dachau, Josef Mayr dividia a comida com os outros prisioneiros,
exortava-os a não desistir e infundia esperança no coração de todos. Na sua sacola,
foram encontradas apenas três coisas: um Evangelho, um missal e o rosário.
A beatificação de Josef Mayr Nusser está marcada para
o dia 18 de Março de 2017, na Catedral de Bolzano. A celebração será presidida
pelo Arcebispo de Bolzano, Ivo Muser, em nome e por vontade do Papa Francisco. O
dia apresentado para a sua memória litúrgica será 24 de Fevereiro, dia da sua
morte.