BEATA MARIA
DE JESUS
DELUIL-MARTINY
DELUIL-MARTINY
Maria nasceu em Marselha - França, no dia 28 de Maio
de 1841, filha de Paulo Deluil-Martiny - um brilhante advogado e excelente
católico – e de Anaïs Maria de Solliers, sobrinha bisneta da Venerável Ana
Madalena Remuzat (1696-1730), uma Irmã Visitandina que, durante a peste de 1720,
tinha conseguido que Marselha se consagrasse ao Sagrado Coração de Jesus. No
baptismo, realizado no dia a seguir ao nascimento, recebeu o nome de Maria
Carolina Filomena Deluil-Martiny. Na sua casa, a devoção ao Sagrado Coração era
considerada "património familiar". Recebeu dos pais uma educação
esmerada, completada pela formação humana e espiritual dada pelas religiosas da
Visitação. Um dia, as Irmãs contam as suas travessuras a Mons. de Mazenod,
fundador dos Oblatos de Maria Imaculada (canonizado em 1995), que lhes respondeu:
"Não se preocupem; são coisas de criança… Verão que, um dia, será a Santa
Maria de Marselha".
Em 1848, após vários distúrbios, o rei Luís Filipe
abdicou do trono de França. As ruas tranquilas de Marselha - cidade cheia de
recordações de São Lázaro, de Santa Marta e de Santa Maria Madalena - foram
invadidas pelo ódio revolucionário. Maria tinha apenas 7 anos. Aproveitando-se
da distração momentânea dos adultos, Maria saiu de casa para ver de perto o que
estava a acontecer. Chegou até junto das barricadas feitas pelos soldados. Sem
medo, aproximou-se e observou tudo com muito interesse. Alguns soldados ignoram-na;
outros sorriram diante da sua inocente e da sua viva curiosidade. Um soldado
agarrou-lhe a mão e conduziu-a a sua casa. Estes episódios da sua infância revelam
a sua personalidade: vivaz, esperta, brilhante, muito culta e muito a par das
coisas da sociedade e da história.
Aos 16 anos, prosseguiu a sua formação, em Lyon, com
as religiosas do Sagrado Coração, fundadas por Sofia Barat (Santa Sofia Barat).
Terminados os estudos superiores, em 1858, fez exercícios espirituais e foi
falar com o Padre João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, sobre a sua vocação.
O santo sacerdote respondeu-lhe: “Minha filha, antes de a conheceres, terás de
rezar muitos ‘Veni, Sancte Spiritus’ (Vem, Espírito Santo). Sim!... Serás toda
de Deus, mas deverás esperar longamente no mundo”. De facto, Maria aguardou,
durante muitos anos, a inspiração do que Deus queria dela.
Embora vivendo com a sua família, ocupando-se dos seus
pais, Maria pratica as obras de apostolado; coloca-se ao serviço dos mais pobres;
ajuda os sacerdotes e as missões. Quando Daniel Comboni – grande missionário da
África e fundador dos Missionários Combonianos – visitou França, teve a ajuda
preciosa da jovem Maria Deluil-Martiny.
Em 1864, providencialmente, veio ter às suas mãos um
folheto, procedente do Mosteiro da Visitação de Bourg-en-Bresse, intitulado: ‘Guarda
de honra do Sagrado Coração: finalidade da obra’. Maria leu e releu aquelas
linhas que pareciam dirigidas à sua alma de fogo. No dia 7 de Fevereiro,
escreveu para o Mosteiro pedindo para ser inscrita na ‘Guarda de Honra’ e
oferecendo-se, cheia de entusiasmo, para trabalhar pela obra.
Então, começou a ser trocada uma activa
correspondência entre a Irmã Maria do Sagrado Coração e a "pequena
Maria", como a chamava, carinhosamente, a fundadora. Maria conseguiu o seu
primeiro êxito fazendo chegar a ‘Guarda de Honra’ até Sofia Barat, que se
inscreveu juntamente com todas as suas religiosas.
No dia 5 de Junho de 1864, o Cardeal de Villecourt
consagrou, solenemente, a nova igreja de Nª Sª da Guarda, em Marselha. Foi uma
cerimónia impressionante à qual assistiu, também, o Cardeal Pitra (Cardeal beneditino, representante da Santa Sé,
teólogo e arqueólogo notável pelas suas grandes descobertas arqueológicas) e grande número de bispos franceses. Maria conseguiu
que os dois cardeais e 20 bispos se inscrevessem na ‘Guarda de Honra’.
Graças à direcção espiritual do Padre Calage, Maria
foi, pouco a pouco, descobrindo e amadurecendo a sua vocação. O Bem-aventurado
Papa Pio IX e o Cardeal Dechamps, Arcebispo de Malines-Bruxelas, interessaram-se
por ela. Este último definiu-a como “a Santa Teresa d’Ávila do nosso século”.
Finalmente, a 20 de Junho de 1873, solenidade do
Sagrado Coração de Jesus, Maria, com algumas amigas, fundou o Instituto das
Filhas do Coração de Jesus, cuja finalidade é dedicar-se, na clausura, à adoração
da Eucaristia, à oração e à imolação pela conversão do mundo distante de Deus,
reparação pelos sacrilégios e pela santificação dos sacerdotes. O centro é
Jesus Eucarístico oferecido ao Pai em todos os altares do mundo, presente no
Tabernáculo, adorado noite e dia, vivido na intimidade da graça santificante e
da caridade. O seu modelo, como ela mesma explica, é Nossa Senhora.
Seguiram-se breves e densos anos. Muitas jovens
acorreram e a Madre Maria de Jesus – nome que adoptou quando se tornou
religiosa – fundou mais dois mosteiros: Aix-en-Provence e La Servianne, perto
de Marselha, numa propriedade herdada da sua mãe.
A Madre Maria cresceu na intimidade com Jesus, educou
as suas “filhas” nessa intimidade com Ele e na doação total. As suas “filhas” amavam-na
como a uma mãe.
Em Abril de 1882, foi obrigada a fechar o mosteiro de
Aix-en-Provence devido à ameaça de perseguição por parte do governo francês. As
religiosas são acolhidas, umas em Berchem e outras em La Servianne.
A Madre Maria de Jesus escreveu: “Legalmente, eles não
têm nenhum poder sobre nós, na La Servianne: estou na minha casa, na propriedade
da minha família desde há quatro gerações e nenhum tribunal pode mandar-me sair
daqui. Mas, em nome da revolução, com o motim, os infames poderão quanto Deus
permitir. Não haverá regras que os detenham. Quanto a nós, permaneçamos muito
tranquilas...”.
A Madre Maria de Jesus foi uma religiosa, uma
contemplativa, mas não vivia nas nuvens, fora do mundo. Não é nem ignorante,
nem ingénua. A família e o ambiente do qual provinha abriram-lhe os olhos a
tudo. Assim, o quadro que traçou, nesta carta de 8 de Dezembro de 1882, estava
completo; a sua visão da História do mundo era lúcida, com um conhecimento
claro de quanto, na sociedade, gerava a rebelião contra Cristo e a Sua Igreja.
Na segunda parte da carta, ela escreveu: "Ao ver o triunfo do erro, a
aparente legalidade com que se quer legitimar tanto mal, deveríamos desesperar-nos
do presente e do futuro? Não, irmãs, nunca! Jesus venceu satanás e o mundo! A
Jesus Cristo pertence todo poder; ao ouvir o seu Nome todos os joelhos se
dobram, inclusive nos abismos. As nações foram-Lhe dadas em herança. Enquanto
Ele permite que o monstro infernal se agite aos seus pés, em fugazes e falsos
sucessos, Ele vence e triunfa, os Anjos já cantam a Sua vitória definitiva. As
portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja fundada por Ele. O triunfo
final não é para aqueles que trazem as insígnias do dragão, mas para nós que
levamos o nome de Jesus Cristo sobre as nossas frontes e o Seu amor nos nossos
corações! (...) A Igreja prossegue, de luta em luta, de conquista em conquista,
até à eternidade bendita. Engana-se quem quisesse, no momento presente, julgar
o conjunto das coisas. Nós temos a promessa e a certeza da vida eterna e aquilo
que conforta: Deus triunfa tão mais grandiosamente quanto mais a nós custa a
vitória (...) A nossa tarefa é lavrar a terra, trabalhar removendo penosamente
o terreno! Outros colherão a seara... Mas esta, fecunda e copiosa, será colocada
certamente no celeiro do Pai celeste... Modestas operárias desta grande obra,
trabalhemos no silêncio e na esperança. Rezemos: é a condição para o sucesso;
reparemos, porque a dor suprema é a de ver Deus ultrajado e blasfemado;
soframos, lutemos, morramos, se for preciso, certas de que lá no alto a
Providência vela, a Omnipotência de Deus nos assiste e tornar-se-á vitoriosa
(...) Nós somos da estirpe de Maria Santíssima, a qual Deus mesmo pôs na
inimizade perpétua com a raça de satanás, estirpe à qual Ele dá a vitória por
meio de Jesus Cristo, sem, entretanto, eximi-la da fadiga, nem privá-la da
honra e do mérito da luta".
A Madre Maria de Jesus teve de vencer muitas
dificuldades até ver o seu Instituto aprovado. Governou-o apenas durante dez
anos porque, no dia 27 de Fevereiro de 1884, foi barbaramente assassinada por
um jardineiro que havia sido despedido do Convento La Servianne pela sua
preguiça e desleixo. Ele estava ligado a grupos anarquistas e, nela, o assassino
descarregou o seu ódio à Fé. As suas últimas palavras foram: "Eu perdoo-o!
Pela Obra!"
A Irmã Maria de Jesus Deluil-Martiny foi beatificada,
em Roma, no dia 22 de Outubro de 1989, pelo Papa João Paulo II. Na sua homilia,
a propósito desta nova beata, o Papa disse: “… ‘Eu venho para fazer a Tua
vontade’ (Hebreus 10, 9). Estas palavras, atribuídas a Cristo pela Carta aos
Hebreus, mostram bem o que Maria Deluil-Martiny foi chamada a cumprir ao longo
de toda a sua vida. Desde muito cedo, ela foi envolvida de compaixão pelas
‘feridas feitas ao amor de Jesus’ e pela recusa de Deus, tão frequente na
sociedade. Ao mesmo tempo, ela descobria a grandeza do dom feito por Jesus ao
Pai para salvar os homens; a riqueza do amor que irradia do seu Coração; a
fecundidade do sangue e da água que jorraram do deu lado aberto. Convenceu-se
de que era preciso participar no sofrimento redentor do Crucificado, em
espírito de reparação pelos pecados do mundo. Maria de Jesus ofereceu-se ao
Senhor, pelas provações e por uma contante purificação. Ela podia dizer com
verdade: ‘ Tenho por Jesus uma grande paixão… A sua vida está em mim; a minha
vida está n’Ele’. Rapidamente, Maria conseguiu que todos os que lhe estavam
próximos participassem do seu desejo de viver a oblação do Salvador numa
ardente participação no sacrifício da Missa. Quando fundou a congregação das
‘Filhas do Coração de Jesus’, colocou, no centro da vida religiosa, a adoração
eucarística. Compreendendo profundamente o sacrifício de Cristo, desejava
unir-se, sem descanso, à oferta do sangue de Cristo à Santíssima Trindade. Com
uma verdadeira compreensão da Eucaristia, inseriu nas orientações do Instituto
quer ‘uma contínua acção de graças’ ao Coração de Jesus pelos seus benefícios e
pela sua misericórdia, quer ‘contínuas súplicas para obter o advento do reino
de Jesus Cristo no mundo’. Entre as suas intenções da oração, tinham lugar de
relevo os sacerdotes, a sua santificação e a sua fidelidade.
Ao serviço desta exigente espiritualidade, Maria de
Jesus instituiu uma vida religiosa simples e austera, ritmada pelo ofício solene,
penetrada pela adoração, e, na qual, a vida consagrada fosse um autêntico dom
de si para que o amor de Cristo fosse reconhecida e estimado. Um dia, ela
escreveu: ‘O meu coração está cheio de grandes coisas: a oblação, a imolação, a
comunhão… Ó Deus, se o sacrifício da minha vida miserável puder servir para
propagar este secreto amor, toma-a…’ Quando lhe tiraram a vida, ela estava
pronta para oferecer-se com Jesus.
Maria de Jesus contemplava a Mãe do Salvador aos pés
da cruz e presente no meio da Igreja nascente. A Virgem Mãe era o seu
verdadeiro modelo. Com Maria, a fundadora das ‘Filhas do Coração de Jesus’ reza
e vigia para que os discípulos do Filho de Deus não cessem de anunciar ao munda
as maravilhas do seu amor…”
A memória litúrgica da Beata Maria de Jesus
Deluil-Martiny celebra-se no dia 27 de Fevereiro.