- na oração do Angelus, na
Praça de São Pedro – Roma, no dia 5 de Março
Bom dia, amados irmãos e irmãs!
Neste primeiro domingo de Quaresma, o
Evangelho introduz-nos no caminho rumo à Páscoa, mostrando Jesus que permanece
por quarenta dias no deserto, submetido às tentações do diabo (cf. Mt 4, 1-11).
Este episódio coloca-se num momento específico da vida de Jesus: imediatamente
depois do baptismo no rio Jordão e antes do ministério público. Ele acabou de
receber a solene investidura: o Espírito de Deus desceu sobre Ele, o Pai do céu
declarou-o «Meu Filho muito amado» (Mt 3, 17). Jesus já está pronto para
iniciar a sua missão; e dado que ela tem um inimigo declarado, ou seja,
Satanás, Ele enfrenta-o imediatamente, “corpo a corpo”. O diabo recorre
precisamente ao título de “Filho de Deus” para afastar Jesus do cumprimento da
sua missão: «Se tu és o Filho de Deus...», repete (vv. 3.6), e propõe-lhe que
faça gestos milagrosos — que seja “feiticeiro” — como por exemplo transformar
as pedras em pão para saciar a sua fome, e lançar-se abaixo dos muros do templo
para ser salvo pelos anjos. A estas duas tentações, segue-se a terceira: adorar
o diabo, para ter o domínio sobre o mundo (cf. v. 9).
Mediante esta tríplice tentação, Satanás
quer desviar Jesus do caminho da obediência e da humilhação — porque sabe que
assim, por esta via, o mal será derrotado — e levá-lo pelo falso atalho do
sucesso e da glória. Mas as flechas venenosas do diabo são todas «detidas» por
Jesus com o escudo da Palavra de Deus (vv. 4.7.10.) que exprime a vontade do
Pai. Jesus não profere qualquer palavra própria: responde somente com a Palavra
de Deus. E, assim, o Filho, repleto da força do Espírito Santo, sai vitorioso
do deserto.
Durante os quarenta dias da Quaresma, como
cristãos, somos convidados a seguir os passos de Jesus e a enfrentar o combate
espiritual contra o Maligno com a força da Palavra de Deus. Não com a nossa
palavra. Não serve!... A palavra de Deus: ela tem a força para derrotar
Satanás. Por esta razão, é necessário familiarizar-se com a Bíblia: lê-la
frequentemente, meditá-la, assimilá-la. A Bíblia contém a Palavra de Deus, que
é sempre actual e eficaz. Alguém disse: o que aconteceria se tratássemos a
Bíblia como tratamos o nosso telemóvel? Se a trouxéssemos sempre connosco, ou
pelo menos o pequeno Evangelho de bolso, o que aconteceria? Se voltássemos
atrás quando o esquecemos: esqueces-te do telemóvel — oh, não o tenho, volto
atrás para o procurar; se a abríssemos várias vezes por dia; se lêssemos as
mensagens de Deus contidas na Bíblia como lemos as mensagens do telemóvel, o
que aconteceria? Obviamente a comparação é paradoxal, mas faz reflectir. Com
efeito, se tivéssemos sempre a Palavra de Deus no coração, nenhuma tentação
poderia afastar-nos de Deus e nenhum obstáculo nos poderia fazer desviar do
caminho do bem; saberíamos vencer as insinuações quotidianas do mal que está em
nós e fora de nós; seríamos mais capazes de levar uma vida ressuscitada segundo
o Espírito, acolhendo e amando os nossos irmãos, especialmente os mais débeis e
necessitados, e também os nossos inimigos.
A Virgem Maria, ícone perfeito da
obediência a Deus e da confiança incondicional à sua vontade, nos sustente no
caminho quaresmal, para que nos coloquemos à escuta dócil da Palavra de Deus, a
fim de realizar uma verdadeira conversão do coração. (cf. Santa Sé)