- na Audiência-Geral, na Praça
de São Pedro – Roma, no dia 29 de Março
Bom dia, amados irmãos e irmãs!
O texto da Carta de São Paulo aos Romanos,
que há pouco ouvimos, oferece-nos um grande dom. Com efeito, estamos habituados
a reconhecer em Abraão o nosso pai na fé; hoje, o Apóstolo leva-nos a
compreender que, para nós, Abraão é pai na esperança; não apenas pai na fé, mas
pai na esperança. E isto porque na sua vicissitude já podemos ver um anúncio da
Ressurreição, da vida nova que vence o mal e até a morte.
No texto diz-se que Abraão acreditou no
Deus «que dá vida aos mortos e chama à existência o que está no vazio» (Rom 4,
17); e depois esclarece: «Ele não vacilou na fé, embora tenha reconhecido que o
seu corpo estava sem vigor e o seio de Sara amortecido» (Rom 4, 19). Eis, esta
é a experiência que também nós somos chamados a viver. O Deus que se revela a
Abraão é o Deus que salva e faz sair do desespero e da morte: o Deus que chama
à vida. Na vicissitude de Abraão, tudo se torna um hino ao Deus que liberta e
regenera, tudo se faz profecia. E, assim, se torna para nós, para nós que agora
reconhecemos e celebramos o cumprimento de tudo isto, no mistério da Páscoa.
Com efeito, Deus «que dos mortos ressuscitou Jesus» (Rom 4, 24), a fim de que
também nós, nÉle, possamos passar da morte à vida. Assim, na verdade, Abraão
pode dizer-se justamente «pai de muitos povos», pois resplandece como anúncio
de uma nova humanidade - nós! - por Cristo resgatada do pecado e da morte, e
introduzida, de uma vez para sempre, no abraço do amor de Deus.
Nesta altura, Paulo ajuda-nos a elucidar o
vínculo profundamente estreito entre a fé e a esperança. Com efeito, Ele afirma
que Abraão, «esperando contra toda a esperança, teve fé» (Rom 4, 18). A nossa
esperança não se baseia em raciocínios, previsões nem seguranças humanas; e
manifesta-se quando já não há esperança, onde não há mais nada no que esperar,
exactamente como aconteceu com Abraão, diante da sua morte iminente e da
esterilidade da sua esposa Sara. Aproxima-se o fim para ambos, não podiam ter
filhos, e naquela situação Abraão acreditou, esperando contra toda a esperança.
E isto é grandioso! A profunda esperança radica-se na fé e, precisamente por
isso, é capaz de ir além de toda a esperança. Sim, porque não se fundamenta na
nossa palavra, mas na Palavra de Deus. Então, inclusive neste sentido, somos
chamados a seguir o exemplo de Abraão que, não obstante a evidência de uma
realidade que parece destinada à morte, confia em Deus e «estava plenamente convencido
de que Deus era poderoso e podia cumprir o que prometera» (Rom 4, 21). Gostaria
de vos fazer uma pergunta: nós, todos nós, estamos persuadidos disto? Estamos
convictos de que Deus nos ama e que está disposto a cumprir tudo aquilo que nos
prometeu? “Mas padre, quanto temos de pagar por isto?” Só há um preço: «abrir o
coração». Abri os vossos corações e esta força de Deus levar-vos-á em frente,
fará milagres e ensinar-vos-á o que é a esperança. Eis o único preço: abri o
coração à fé e Ele fará o resto.
Este é o paradoxo e, ao mesmo tempo, o
elemento mais forte, mais excelso na nossa esperança! Uma esperança fundada
numa promessa que, do ponto de vista humano, parece incerta e imprevisível, mas
que não esmorece nem sequer diante da morte, quando quem promete é o Deus da
Ressurreição e da Vida. Isto não é prometido por qualquer um! Aquele que faz a
promessa é o Deus da Ressurreição e da Vida.
Caros irmãos e irmãs, peçamos, hoje, ao
Senhor a graça de permanecer firmes não tanto nas nossas seguranças, nas nossas
capacidades, mas na esperança que deriva da promessa de Deus, como verdadeiros
filhos de Abraão. Quando Deus promete, Ele cumpre a sua promessa. Nunca falta à
Sua palavra. E, então, a nossa vida assumirá uma nova luz, na consciência de
que Aquele que ressuscitou o seu Filho, há-de ressuscitar-nos também a nós,
tornando-nos, na realidade, um só com Ele, juntamente com todos os nossos
irmãos na fé. Todos nós cremos. Hoje, estamos nesta praça; louvamos o Senhor,
cantamos ao nosso Pai e, depois, vamos receber a Bênção... Mas isto passa.
Todavia, também esta é uma promessa de esperança. Se, hoje, mantivermos o
coração aberto, garanto-vos que todos nós nos encontraremos na praça do Céu,
que nunca passa para sempre. Esta é a promessa de Deus, esta é a nossa esperança,
se abrirmos os nossos corações. Obrigado! (cf. Santa Sé)