- na Audiência-Geral, na Praça
de São Pedro – Roma, no dia 29 de Março
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A Primeira Carta do Apóstolo Pedro tem, em
si, uma carga extraordinária! É preciso lê-la uma, duas, três vezes para
compreender esta carga extraordinária: ela consegue infundir grande consolação
e paz, fazendo entender como o Senhor está sempre ao nosso lado e nunca nos
abandona, sobretudo nos momentos mais delicados e difíceis da nossa vida. Mas
qual é o «segredo» desta Carta e, de modo particular, do trecho que acabámos de
ouvir? (cf. 1 Pd 3, 8-17) Esta é uma pergunta. Sei que hoje abrireis o Novo
Testamento, procurareis a Primeira Carta de Pedro, lereis devagarinho, para
entender o segredo e a força desta Carta. Qual é o segredo desta Carta?
O segredo consiste no facto de que este
escrito afunda as suas raízes directamente na Páscoa, no coração do mistério
que estamos para celebrar, fazendo com que compreendamos toda a luz e a alegria
que brotam da morte e ressurreição de Cristo, que ressuscitou verdadeiramente,
e esta é uma linda saudação para fazermos no dia da Páscoa: «Cristo
ressuscitou! Cristo ressuscitou!», como muitos povos fazem. Recordar-nos de que
Cristo ressuscitou, está vivo entre nós e habita em cada um de nós. É por isso
que São Pedro nos convida, com vigor, a adorá-lo nos nossos corações (cf. v.
16). O Senhor começou a habitar ali no momento do nosso Baptismo e, dali,
continua a renovar-nos e à nossa vida, enchendo-nos com o seu amor e a
plenitude do seu Espírito. Eis, então, porque o Apóstolo nos recomenda a dizer
a razão da esperança que está em nós (cf. v. 16): a nossa esperança não é um
conceito, nem um sentimento; não é um telemóvel, nem uma porção de riquezas! A
nossa esperança é uma Pessoa, é o Senhor Jesus que reconhecemos vivo e presente
em nós e nos nossos irmãos, porque Cristo ressuscitou. Os povos eslavos quando
se cumprimentam, em vez de dizer «bom dia», «boa noite», nos dias de Páscoa
saúdam-se com a expressão «Cristo ressuscitou!», «Christos voskrese!» dizem
entre si; e sentem-se felizes por isso! Este é o «bom dia» e a «boa noite» que
se desejam: «Cristo ressuscitou!».
Compreendemos, então, que desta esperança
não se deve dizer só a razão teórica, com palavras, mas sobretudo com o
testemunho da vida; e isto deve acontecer quer no âmbito da comunidade cristã,
quer fora dela. Se Cristo está vivo e habita em nós, no nosso coração, então
devemos também deixar que se torne visível, sem escondê-lo, e que actue em nós.
Isto significa que o Senhor Jesus deve tornar-se cada vez mais o nosso modelo:
modelo de vida; e que devemos aprender a comportar-nos como Ele se comportou.
Fazer o que fez Jesus. Portanto, a esperança que habita em nós não pode
permanecer escondida dentro de nós, no nosso coração: seria uma esperança
débil, que não tem a coragem de sair e de se mostrar: mas a nossa esperança,
como se lê no Salmo 33, citado por Pedro, deve necessariamente desabrochar e
sair, tomando a forma bonita e inconfundível da doçura, do respeito e da
benevolência pelo próximo, chegando até a perdoar a quem nos faz mal. Uma
pessoa que não tem esperança não consegue perdoar, não consegue dar a
consolação do perdão nem obter a consolação de perdoar. Sim, porque assim fez
Jesus, e assim continua a fazer através de quantos lhes oferecem espaço no
próprio coração e na vida, na consciência de que o mal não se vence com o mal,
mas com a humildade, a misericórdia e a mansidão. Os mafiosos pensam que o mal
pode ser derrotado com o mal, e assim praticam a vingança e muitas outras coisas
que todos sabemos. Mas não sabem o que é a humildade, a misericórdia e a
mansidão. E porquê? Porque os mafiosos não têm esperança. Pensai nisto.
Eis por que São Pedro afirma que «é melhor
sofrer praticando o bem do que fazendo o mal» (v. 17): não significa que é bom
sofrer, mas que quando sofremos pelo bem, estamos em comunhão com o Senhor que aceitou
sofrer e ser crucificado pela nossa salvação.
Quando, também nós, nas situações mais
simples e nas mais importantes da nossa vida, aceitamos sofrer pelo bem, é como
se espalhássemos, ao nosso redor, as sementes da ressurreição, sementes de vida
e fizéssemos resplandecer, na escuridão, a luz da Páscoa. É por isso que o
Apóstolo nos exorta a responder sempre «desejando o bem» (v. 9): a bênção não é
uma formalidade; não é só um sinal de cortesia, mas um grande dom que nós
primeiro recebemos e depois temos a possibilidade de partilhar com os irmãos. É
o anúncio do amor de Deus, um amor sem medida, que não se esgota, que nunca
falta e que constitui o fundamento verdadeiro da nossa esperança.
Queridos amigos, compreendamos também por que
o Apóstolo Pedro nos chama «bem-aventurados», se devêssemos sofrer pela justiça
(cf. v. 13). Não é só por uma razão moral nem ascética, mas porque - cada vez
que desempenhamos a parte dos últimos e dos marginalizados ou não respondemos
ao mal com o mal, mas perdoando, sem vingança, perdoando e abençoando - sempre
que fazemos isto resplandecemos como sinais vivos e luminosos de esperança,
tornando-nos assim instrumentos de consolação e de paz, segundo o coração de
Deus. E, assim, vamos em frente com a doçura, a mansidão, com o ser amável e
praticando o bem também àqueles que não nos querem bem ou nos fazem mal. Em
frente! (cf. Santa Sé)