- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro – Roma, no dia 10 de Maio
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso itinerário de catequeses sobre a
esperança cristã, hoje meditamos sobre Maria, Mãe da esperança. Maria
atravessou mais de uma noite no seu caminho de mãe. Desde a primeira menção na
história dos evangelhos, a sua figura destaca-se como se fosse o personagem de
um drama. Não foi simples responder com um «sim» ao convite do anjo: e, no
entanto, ainda na flor da idade, ela respondeu com coragem, não obstante nada
soubesse do destino que a esperava. Maria, naquele instante, parece uma das
muitas mães do nosso mundo, corajosas até ao extremo quando se trata de acolher,
no próprio ventre, a história de um novo homem que nasce.
Aquele «sim» foi o primeiro passo de uma
longa lista de obediências - longa lista de obediências! - que acompanharão
todo o seu itinerário de mãe. Assim, nos evangelhos, Maria aparece como uma
mulher silenciosa que, com frequência, não compreende tudo o que acontece ao
seu redor, mas medita cada palavra e acontecimento no seu coração.
Nesta perspectiva, podemos ver um perfil
belíssimo da psicologia de Maria: não é uma mulher que se deprime face às
incertezas da vida, especialmente quando nada parece correr bem. Nem sequer uma
mulher que protesta com violência, que se enfurece contra o destino da vida que,
muitas vezes, nos revela um semblante hostil. Pelo contrário, é uma mulher que
ouve. Não vos esqueçais que existe sempre uma grande relação entre a esperança
e a escuta, e Maria é uma mulher que ouve. Maria acolhe a existência do modo
como se nos apresenta: com os seus dias felizes, mas também com as suas
tragédias que nunca gostaríamos de ter encontrado. Até a noite suprema de
Maria, quando o seu Filho foi pregado na cruz.
Até àquele dia, Maria tinha quase desaparecido
da trama dos evangelhos. Os escritores sagrados deixam entender este lento
escondimento da sua presença; o seu permanecer muda diante do mistério de um
Filho que obedece ao Pai. Contudo, Maria reaparece precisamente no momento
crucial: quando grande parte dos amigos fogem por terem medo. As mães não traem
e, naquele instante, aos pés da cruz, nenhum de nós pode dizer qual tenha sido
a paixão mais cruel: se a de um homem inocente que morre no patíbulo da cruz,
ou a agonia de uma mãe que acompanha os últimos instantes da vida do seu filho.
Os evangelhos são lacónicos e extremamente discretos. Mencionam com um simples
verbo a presença da Mãe: «estava» (Jo 19, 25). Ela estava. Nada dizem sobre a
sua reacção: se chorou ou não... Nada!... Nem uma pincelada para descrever a
sua dor. Sobre esses pormenores, mais tarde irrompeu a imaginação de poetas e
pintores que nos deixaram imagens que entraram na história da arte e da
literatura. Contudo, os evangelhos dizem só: ela «estava». Estava ali, no
momento mais triste, mais cruel, e sofria com o filho. «Estava».
Maria «estava», simplesmente, lá. Ei-la novamente:
a jovem de Nazaré, agora com cabelos brancos pelo passar dos anos, ainda
ocupada com um Deus que só deve ser abraçado, e com uma vida que chegou ao
limiar da escuridão mais densa. Maria «estava» na escuridão mais espessa, mas
«estava». Não foi embora. Maria está fielmente presente, cada vez que surge a
necessidade de manter uma vela acesa num lugar de bruma e neblina. Nem ela
conhece o destino de ressurreição que o seu Filho estava a abrir, naquele
instante, para todos nós, homens: está ali por fidelidade ao plano de Deus do
qual se proclamou serva, no primeiro dia da sua vocação, mas também por causa
do seu instinto de mãe que, simplesmente, sofre cada vez que um filho atravessa
uma paixão. Os sofrimentos das mães: todos nós conhecemos mulheres fortes que
enfrentaram muitos sofrimentos dos filhos!
Encontrá-la-emos no primeiro dia da
Igreja, ela, mãe de esperança, no meio daquela comunidade de discípulos tão
frágeis: um negou, muitos fugiram, todos sentiram medo (cf. At 1, 14). Mas ela,
simplesmente, estava ali, do modo mais normal, como se fosse algo totalmente
natural: na primeira Igreja envolvida pela luz da Ressurreição, mas também
pelos tremores dos primeiros passos que devia dar no mundo.
Por isso, todos nós a amamos como Mãe. Não
somos órfãos: temos uma mãe no céu, que é a Santa Mãe de Deus. Porque nos
ensina a virtude da esperança, até quando tudo parece sem sentido: ela
permanece sempre confiante no mistério de Deus, até quando Ele parece
desaparecer por culpa do mal do mundo. Que nos momentos de dificuldade, Maria,
a Mãe que Jesus ofereceu a todos nós, possa sempre amparar os nossos passos e
dizer ao nosso coração: «Levanta-te! Olha em frente, olha para o horizonte»,
porque Ela é Mãe de esperança. Obrigado. (cf. Santa Sé)