- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro – Roma, no dia 3 de Maio
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, desejo falar-vos sobre a Viagem Apostólica
que, com a ajuda de Deus, realizei recentemente ao Egipto. Fui àquele país na
sequência de um quádruplo convite: do Presidente da República, de Sua Santidade
o Patriarca Copto-ortodoxo, do Grande Imã de Al-Azhar e do Patriarca
Copto-Católico. Agradeço, a cada um deles, o acolhimento que me reservaram,
verdadeiramente caloroso. E agradeço a todo o povo egípcio a participação e o
afecto com que viveu esta visita do Sucessor de Pedro.
O Presidente e as Autoridades civis
empenharam-se, de forma extraordinária, para que este evento pudesse
desenrolar-se da melhor maneira possível; para que fosse um sinal de paz, um
sinal de paz para o Egipto e para toda aquela região que, infelizmente, sofre
pelos conflitos e pelo terrorismo. Com efeito, o lema da Viagem foi «O Papa da
paz num Egipto de paz».
A minha visita à Universidade Al-Azhar, a
mais antiga universidade islâmica e a máxima instituição académica do Islão
sunita, teve um duplo horizonte: o diálogo entre os cristãos e os muçulmanos e,
ao mesmo tempo, a promoção da paz no mundo. Em Al-Azhar, teve lugar o encontro
com o Grande Imã, encontro que, depois, abrangeu a Conferência Internacional
pela Paz. Neste contexto, apresentei uma reflexão que valorizou a história do
Egipto como terra de civilização e terra de aliança. Para toda a humanidade, o
Egipto é sinónimo de civilização antiga, de tesouros de arte e de conhecimento;
e isto recorda-nos que a paz se constrói mediante a educação, a formação da
sabedoria, de um humanismo que engloba, como parte integrante, a dimensão
religiosa, a relação com Deus, como recordou o Grande Imã, no seu discurso. A
paz constrói-se, também, partindo novamente da aliança entre Deus e o homem,
fundamento da aliança entre todos os homens, baseada no Decálogo escrito nas
tábuas de pedra do Sinai mas, muito mais profundamente, no coração de cada
homem de todos os tempos e lugares; lei que se resume nos dois mandamentos do
amor de Deus e do próximo.
Este mesmo fundamento está na base da
construção da ordem social e civil, em que são chamados a colaborar todos os
cidadãos, de todas as origens, culturas e religiões. Esta visão de laicidade
sadia emergiu durante o intercâmbio de discursos com o Presidente da República
do Egipto, na presença das autoridades do país e do Corpo diplomático. O grande
património histórico e religioso do Egipto e o seu papel na região do Médio
Oriente conferem-lhe uma tarefa peculiar no caminho rumo a uma paz estável e
duradoura, que não se apoie no direito da força, mas na força do direito.
Os cristãos, no Egipto, assim como em cada
nação da terra, estão chamados a ser fermento de fraternidade. E isto só é
possível se viverem, em si mesmos, a comunhão em Cristo. Um forte sinal de
comunhão, graças a Deus, foi possível oferecê-lo juntamente com o meu querido
irmão Papa Tawadros II, Patriarca dos Coptas ortodoxos. Renovamos o compromisso
- assinando inclusive uma Declaração Conjunta - de caminhar juntos e de nos
comprometermos a fim de que não se repita o Baptismo administrado nas respectivas
Igrejas. Rezamos juntos pelos mártires dos recentes atentados que atingiram
tragicamente aquela Igreja venerável; e o seu sangue fecundou aquele encontro
ecuménico, no qual participou também o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu:
o Patriarca ecuménico, meu querido irmão.
O segundo dia da viagem foi dedicado aos
fiéis católicos. A Santa Missa celebrada no Estádio disponibilizado pelas
autoridades egípcias foi uma festa de fé e de fraternidade, em que sentimos a
presença viva do Senhor Ressuscitado. Ao comentar o Evangelho, exortei a
pequena comunidade católica no Egipto a reviver a experiência dos discípulos de
Emaús: a encontrar sempre em Cristo, Palavra e Pão de vida, a alegria da fé, o
fervor da esperança e a força de testemunhar no amor que «encontramos o
Senhor!».
Vivi o último momento juntamente com os sacerdotes,
os religiosos, as religiosas e os seminaristas, no Seminário Maior. Há muitos
seminaristas: esta é uma consolação! Foi uma liturgia da Palavra, na qual foram
renovadas as promessas da vida consagrada. Nesta comunidade de homens e
mulheres que escolheram oferecer a vida a Cristo pelo Reino de Deus, vi a
beleza da Igreja no Egipto, e rezei por todos os cristãos do Médio Oriente,
para que, guiados pelos seus pastores e acompanhados pelos consagrados, sejam
sal e luz naquelas terras, no meio daqueles povos. O Egipto, para nós, foi
sinal de esperança, de refúgio, de ajuda. Quando aquela parte do mundo estava
faminta, Jacob, com os seus filhos, foi lá ter; depois, quando Jesus foi
perseguido, foi para lá. Por isso, narrar-vos esta viagem significa percorrer o
caminho da esperança: para nós, o Egito é aquele sinal de esperança tanto para
o passado como para o presente, desta fraternidade que eu quis contar-vos.
Agradeço novamente a quantos tornaram
possível esta Viagem e àqueles que, de diversas maneiras, deram a sua
contribuição, especialmente as muitas pessoas que ofereceram as suas orações e
os seus sofrimentos. A Sagrada Família de Nazaré, que emigrou para as margens
do Nilo, fugindo da violência de Herodes, abençoe e proteja sempre o povo
egípcio e o guie pelas sendas da prosperidade, da fraternidade e da paz. Obrigado!
(cf. Santa Sé)