SÃO CARLOS EUGÉNIO
DE MAZENOD
DE MAZENOD
Carlos José Eugénio de Mazenod nasceu no dia 1 de Agosto de 1782,
em Aix-en-Provence, no Sul da França. Era filho de Carlos António de Mazenod
e de Maria Rosa Eugénia Joannis. Foi baptizado, no dia seguinte, na Igreja da
Madalena, em Aix-en-Provence. A França estava mergulhada em profundas mudanças
que abriram portas à “revolução francesa”. Aparentemente, o menino estava predestinado a uma carreira brilhante
e uma vida abastada, graças à sua família que pertencia à pequena nobreza. O
seu pai, jovem advogado, tornou-se aos 26 anos, em 1771, presidente do Tribunal
de Contas de Aix. A sua mãe era filha de um abastado médico da cidade. A
situação financeira dos de Mazenod era óptima.
No entanto, as perturbações decorrentes da Revolução Francesa
(1789) iriam mudar, para sempre, a situação de Carlos Eugénio. Os de Mazenod
opuseram-se tenazmente aos princípios orientadores da revolução. Por isso, corriam
o rico de serem presos e decapitados. Carlos Eugénio, que tinha somente oito
anos de idade, teve que fugir de França, com toda a sua família, deixando todos
os seus bens para trás. Começou, então, para a família de Mazenod um longo e penoso
exílio que duraria onze anos.
A família de Mazenod refugiou-se em Itália, andando de cidade em
cidade, até encontrar um modo seguro de vida. O pai viu-se obrigado a entrar
para o ramo do comércio para poder manter a sua família. Porém, revelou-se tão
inábil para os negócios que, ao fim de alguns anos, a sua família ficou à beira
da ruína. Carlos Eugénio estudou, durante algum tempo, no Colégio dos Nobres,
em Turim, mas a necessidade de partir rumo a Veneza marcaria, para ele, o fim
de uma frequência escolar regular.
Um sacerdote local, Don Bartolo Zinelli, que era próximo da
família de Mazenod, decidiu ajudar na formação do jovem francês. Don Bartolo
deu a Carlos Eugénio uma educação fundamental, impregnada do sentido de Deus e
do desejo de uma vida piedosa, algo que o acompanharia para sempre, apesar dos
altos e baixos da sua existência.
Uma nova mudança, desta vez rumo a Nápoles, acarretou um período
de aborrecimento, combinado com um sentimento de impotência. A família mudou-se
novamente, desta vez para Palermo onde, graças à bondade do Duque e da Duquesa
Cannizzaro, Carlos Eugénio pôde experimentar, pela primeira vez depois de muito
tempo, do estilo de vida da nobreza que ele achava tão agradável. Recebeu o
título de "Conde de Mazenod"; iniciou-se nos hábitos do tribunal e
pôs-se a sonhar com um futuro brilhante.
Em 1802, aos 20 anos de idade, Carlos Eugénio pôde voltar ao seu
país natal. Todos os seus sonhos e ilusões rapidamente se desfizeram. Em
França, ele não passava de “cidadão” Mazenod. Com a “revolução”, aquele país
tinha mudado demais! Os seus pais tinham-se separado. A sua mãe tentava
recuperar o património familiar e ocupava-se a tentar casar Carlos Eugénio com
uma herdeira rica. O jovem tornou-se pessimista face ao futuro que se lhe apresentava.
Mas, o seu cuidado tão espontâneo para com os outros, aliado à fé que havia
desenvolvido em Veneza, começaram a estabilizar a vida de Carlos Eugénio, que
ficou profundamente chocado com a situação desastrosa em que se encontrava a
Igreja, em França, provocada, atacada e dizimada pela Revolução Francesa.
Começou a sentir o chamamento ao sacerdócio e, apesar da oposição
da mãe, entrou para o Seminário de Saint-Sulpice em Paris. No dia 21 de
Dezembro de 1811, foi ordenado sacerdote em Amiens.
Regressando a Aix-en-Provence, o Padre de Mazenod não assumiu nenhuma
paróquia, mas começou a exercer o seu ministério sacerdotal ocupando-se,
especialmente, na ajuda espiritual aos mais pobres: os prisioneiros, os jovens,
os empregados, os camponeses. Frequentemente, o Padre Carlos Eugénio tinha de
enfrentar a oposição do clero local. Porém, encontrou outros sacerdotes
igualmente zelosos e prontos a quebrar as práticas enraizadas na vida do clero
francês.
O Padre Carlos Eugénio e os seus companheiros pregavam em provençal
- a linguagem corrente dos seus interlocutores - e não em francês, que era a
língua das pessoas instruídas. Iam de aldeia em aldeia, ensinando aos aldeões e
passando horas e horas nos confessionários. Entre essas “missões paroquiais”, o
grupo reencontrava-se para uma intensa vida comunitária de oração, estudo e de
vivência da fraternidade. Atribuíram a si mesmos um nome: “Os Missionários da
Provença”.
Para assegurar a continuidade da obra, o Padre de Mazenod tomou
uma importante decisão: foi a Roma falar com o Papa e pediu-lhe autorização
para que o seu grupo fosse reconhecido como Congregação de Direito Pontifício.
A sua fé e a sua perseverança deram frutos e foi assim que, em 17 de Fevereiro
de 1826, o Papa Leão XII aprovou a nova Congregação, sob o nome de
"Oblatos de Maria Imaculada". O Padre Carlos Eugénio foi eleito
Superior-Geral e continuou a inspirar e a guiar os seus membros durante 35
anos, até à sua morte.
O número de obras crescia: pregações, confissões, ministérios
jovens, responsabilidade por santuários marianos e por paróquias, visitas às
prisões, direcções de seminários, etc. No cumprimento de tantas tarefas, o
Padre Carlos Eugénio sempre insistia na necessidade de uma profunda formação
espiritual e de uma intensa vida comunitária. Amava Jesus Cristo
apaixonadamente e estava sempre pronto a assumir um novo compromisso se
enxergava nisso uma resposta às necessidades da Igreja. A “glória de Deus, o
bem da Igreja e a santificação das almas” eram a fonte do seu dinamismo
interior.
A diocese de Marselha tinha sido extinta, após a Concordata de
1802 entre Napoleão Bonaparte e o Papa Pio VII. Ao ser restabelecida, o tio do
Padre Carlos Eugénio, o Cónego Fortunato de Mazenod, foi nomeado Bispo de
Marselha. Então, o novo Bispo chamou o Padre Carlos Eugénio para ser o Vigário-Geral
da diocese, com a responsabilidade de todas as acções que levassem a uma renovação
e reconstrução da diocese.
Alguns anos depois, em 1832, o Padre Carlos Eugénio foi nomeado
Bispo-Auxiliar do seu tio. A sua ordenação episcopal aconteceu em Roma, o que
foi considerado como um desafio ao governo francês, que se achava no direito de
confirmar tais nomeações. Seguiu-se uma acérrima batalha diplomática, com o
Bispo Carlos Eugénio no centro de acusações, incompreensões, ameaças e
recriminações. Foi, para ele, um período doloroso, uma dor aumentada ainda mais
pelas crescentes dificuldades enfrentadas pela sua própria família religiosa.
Todavia, o Bispo Carlos Eugénio manteve-se firme no rumo certo e, finalmente,
as coisas acalmaram-se. Cinco anos mais tarde, depois da renúncia do seu tio, ele
foi nomeado Bispo de Marselha.
Apesar de ter fundado os “Oblatos de Maria Imaculada” para levar
os serviços da fé aos pobres dos campos da França, o zelo do Bispo de Mazenod pelo
Reino de Deus e o seu amor pela Igreja conduziram os “Oblatos” a abrirem-se ao
apostolado missionário, levando-os a instalar-se na Suíça, na Inglaterra e na
Irlanda. Devido ao seu zelo apostólico, o Bispo Carlos de Mazenod era visto
como um “segundo São Paulo”.
Bispos missionários vieram pedir-lhe que enviasse os “Oblatos”
para as suas áreas apostólicas, em expansão. Apesar do pequeno número de
membros do seu Instituto, o Bispo de Mazenod respondeu generosamente, enviando os
seus missionários para o Canadá, os Estados Unidos, o Ceilão (actual Sri
Lanka), a África do Sul e a Basutolândia (actual Lesoto).
Missionários ao seu modo, eles espalharam-se pregando, baptizando,
levando a todos o seu apoio. Frequentemente, instalavam-se em terras remotas e
ignoradas, estabelecendo e dirigindo novas dioceses e, ao seu jeito, “ousavam
tudo para fazer avançar o Reino de Deus”. Durante os anos que se seguiram, o
ímpeto missionário continuou de tal forma que actualmente o espírito de Carlos
Eugénio de Mazenod está bem vivo, em 68 países.
Para além da sua dedicação às actividades missionárias dos
“Oblatos”, o Bispo de Mazenod revelava-se um eminente pastor da Diocese de
Marselha. Cuidou de assegurar a melhor formação para os seus sacerdotes; criou
novas paróquias; construiu uma nova catedral e uma basílica espectacular, dedicada
a Nossa Senhora da Guarda, que domina a paisagem da cidade. Encorajou os seus
sacerdotes a buscarem o caminho da santidade; convidou um grande número de
comunidades religiosas a trabalharem na sua diocese; liderou os Bispos
franceses no apoio ao Papa para que fossem reconhecidos, em França, os seus
direitos e os da Santa Sé. Tornou-se uma das mais reconhecidas figuras da
Igreja, em França.
Em 1856, o imperador Napoleão III nomeou-o senador. Na ocasião da
sua morte, o Bispo de Mazenod era o máximo responsável dos Bispos da França.
Carlos José Eugénio de Mazenod, Bispo de Marselha, e Primaz da
França, faleceu no dia 21 de Maio de 1861, com 79 anos de idade. Terminava,
assim, uma vida riquíssima de verdadeiro apostolado e de actividades
missionárias, muitas das quais haviam sido conquistadas à base de muito
sofrimento. Para a sua família religiosa e para a sua diocese, ele tinha sido,
ao mesmo tempo, ponto de apoio e de inspiração; para Deus e para a Igreja, um
filho fiel e generoso.
No momento da sua morte, o santo Bispo Carlos de Mazenod, deixou
uma última recomendação aos seus filhos espirituais: “Entre vós, praticai bem a
caridade! A caridade!... E, no mundo, o zelo pela salvação das almas.”
Carlos José Eugénio de Mazenod foi beatificado no dia 19 de
Outubro de 1975, pelo Papa Paulo VI e canonizado em 3 de Dezembro de 1995, pelo
Papa João Paulo II.
A sua memória litúrgica
celebra-se no dia 21 de Maio.