- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro – Roma, no dia 31 de Maio
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na iminência da solenidade de Pentecostes,
não podemos deixar de falar da relação que há entre a esperança cristã e o
Espírito Santo. O Espírito é o vento que nos impele para a frente, que nos
mantém no caminho, que nos faz sentir peregrinos e forasteiros, e não permite
que descansemos sobre os nossos próprios louros e que nos tornemos um povo
“sedentário”.
A Carta aos Hebreus compara a esperança a
uma âncora (cf. 6, 18-19); a esta imagem podemos acrescentar a da vela. Se a
âncora é o que dá à barca a segurança e a mantém “ancorada” entre as ondas do
mar, ao contrário a vela é o que a faz caminhar e avançar sobre as águas. A esperança
é, deveras, como uma vela; ela recolhe o vento do Espírito Santo e transforma-o
em força motriz que impele a barca, dependendo das circunstâncias, ao largo ou
à beira-mar.
O Apóstolo Paulo conclui a sua Carta aos
Romanos com estes votos: ouvi bem, escutai bem que auspício bonito: «O Deus da
esperança vos encha de toda a alegria e de toda a paz na vossa fé, para que,
pela virtude do Espírito Santo, transbordeis de esperança» (15, 13). Reflictamos
um pouco sobre o conteúdo desta belíssima palavra.
A expressão “Deus da esperança” não
significa somente que Deus é o objecto da nossa esperança, ou seja, Aquele que
esperamos alcançar um dia, na vida eterna; quer dizer, também, que Deus é
Aquele que já neste momento nos faz esperar, aliás, nos torna «alegres na
esperança» (Rm 12, 12): alegres, agora, por esperar, e não só esperar para ser
alegres. É a alegria de esperar e não esperar para ter alegria, já hoje.
“Enquanto houver vida, haverá esperança”, diz o ditado popular; e é verdade,
também, o contrário: enquanto houver esperança, há vida. Os homens necessitam
de esperança para viver e precisam do Espírito Santo para esperar.
São Paulo — ouvimos — atribui ao Espírito
Santo a capacidade de nos fazer até “transbordar de esperança”. Transbordar de
esperança significa nunca desanimar; significa esperar «contra qualquer
esperança» (Rm 4, 18), ou seja, esperar até quando falta qualquer motivo humano
para esperar, como aconteceu com Abraão no momento em que Deus lhe pediu para
sacrificar o único filho, Isaac, e como sucedeu também, ainda mais, com a Virgem
Maria aos pés da cruz de Jesus.
O Espírito Santo torna possível esta
esperança invencível dando-nos o testemunho interior de que somos filhos de
Deus e seus herdeiros (cf. Rm 8, 16). Como poderia Aquele que nos entregou o
seu único Filho não nos dar, também, com Ele, todas as coisas? (cf. Rm 8, 32).
«A esperança — irmãos e irmãs — não desilude: a esperança não engana, porque o
amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi
dado» (Rm 5, 5). Portanto, não desilude, porque há o Espírito Santo dentro de
nós que nos impele a ir em frente, sempre! E por esta razão, a esperança não
desilude.
Há mais: o Espírito Santo não nos torna
somente capazes de esperar, mas, inclusive, de ser semeadores de esperança, de
ser também nós — como Ele e graças a Ele — “paráclitos”, ou seja, consoladores
e defensores dos irmãos, semeadores de esperança. Um cristão pode semear
amarguras, pode semear perplexidades, e isto não é cristão; e quem faz isto não
é um bom cristão. Semeia a esperança: semeia óleo de esperança, semeia perfume
de esperança e não vinagre de amargura e de desespero. O Beato cardeal Newman,
num seu discurso, dizia aos fiéis: «Instruídos pelo nosso próprio sofrimento,
pela nossa própria dor, aliás, pelos nossos próprios pecados, teremos a mente e
o coração treinados para qualquer obra de amor em relação aos necessitados.
Seremos, conforme a nossa capacidade, consoladores à imagem do Paráclito — ou
seja, do Espírito Santo — e em todos os sentidos que esta palavra comporta:
advogados, assistentes, portadores de conforto. As nossas palavras e os nossos
conselhos, o nosso modo de fazer, a nossa voz, o nosso olhar, serão gentis e
tranquilizadores» (Parochial and Plain Sermons, vol. v, Londres 1870, pp. 300
s.). E são, sobretudo, os pobres, os excluídos, os desamados a precisar de
alguém que para eles se torne “paráclito”, ou seja, consolador e defensor, como
o Espírito Santo faz com cada um de nós, que estamos aqui na praça: consolador
e defensor. Nós devemos fazer o mesmo com os mais necessitados, com os mais
descartados, com aqueles que mais precisam, aqueles que mais sofrem. Defensores
e consoladores!
O Espírito Santo alimenta a esperança não
só no coração dos homens, mas também na criação inteira. Diz o Apóstolo Paulo -
parece um pouco estranho, mas é verdade - que também a criação “aguarda
ansiosamente”, com a esperança de ser também ela libertada e “geme e sofre”
como que com dores de parto (cf. Rm 8, 20-22). «A energia capaz de mover o
mundo não é uma força anónima e cega, mas é a acção do Espírito de Deus que
“pairava sobre as águas” (Gn 1, 2) no início da criação» (Bento XVI, Homilia,
31 de maio de 2009). Também isto nos impele a respeitar a criação: não se pode
manchar um quadro sem ofender o artista que o criou.
Irmãos e irmãs, a próxima festa de
Pentecostes - que é o aniversário da Igreja - nos encontre concordes na oração,
com Maria, Mãe de Jesus e nossa. E o dom do Espírito Santo nos faça transbordar
de esperança. Dir-vos-ei algo mais: que nos faça prodigalizar esperança a todos
aqueles que mais necessitam, que são mais descartados e a todos aqueles que
dela precisam. Obrigado. (cf.
Santa Sé)