SÃO JOSÉ CAFASSO
- catequese
do Papa Bento XVI, no dia 30 de Ju7nho de 2010
“…José Cafasso nasceu em Castelnuovo d'Asti, o mesmo povoado de
São João Bosco, no dia 15 de Janeiro de 1811. Era o terceiro de quatro filhos.
A última, irmã Marianna, será a mãe do Beato José Allamano, fundador dos
Missionários e das Missionárias da Consolata. Nasceu na Piemonte do século XIX,
caracterizada por graves problemas sociais, mas também por muitos Santos que se
comprometiam na busca da solução dos mesmos. Eles viviam unidos entre si pelo
amor a Cristo e por uma profunda caridade para com os pobres: a graça do Senhor
sabe difundir e multiplicar as sementes de santidade! Cafasso fez os estudos
secundários e o biénio de filosofia no Colégio de Chieri e, em 1830, passou
para o Seminário teológico onde, em 1833, foi ordenado sacerdote. Quatro meses
mais tarde, entrou no lugar que para ele permanecerá a "etapa"
fundamental e única da sua vida sacerdotal: o "Colégio Eclesiástico de São
Francisco de Assis", em Turim. Tendo entrado ali para se aperfeiçoar na
pastoral, aí fez frutificar os seus dotes de director espiritual e o seu grande
espírito de caridade. Com efeito, o Colégio não era apenas uma escola de
teologia moral, onde os jovens sacerdotes, provenientes principalmente do
campo, aprendiam a confessar e a pregar, mas era também uma verdadeira escola
de vida sacerdotal, onde os presbíteros se formavam na espiritualidade de Santo
Inácio de Loyola e na teologia moral e pastoral do grande Bispo Santo Afonso
Maria de Ligório. O tipo de sacerdote que Cafasso encontrou no Colégio - e que
ele mesmo contribuiu para fortalecer, sobretudo como Reitor - era o do verdadeiro pastor, com uma rica vida
interior e um profundo zelo no cuidado pastoral: fiel à oração, comprometido na
pregação, na catequese, dedicado à celebração da Eucaristia e ao ministério da
Confissão, segundo o modelo encarnado por São Carlos Borromeu e por São
Francisco de Sales, e promovido pelo Concílio de Trento. Uma feliz expressão de
São João Bosco resume o sentido do trabalho educativo realizado naquela
Comunidade: "No Colégio aprendia-se a ser sacerdote".
São José Cafasso procurou realizar este modelo na formação dos
jovens presbíteros a fim de que, por sua vez, eles se tornassem formadores de
outros sacerdotes, religiosos e leigos, segundo uma corrente especial e eficaz.
Da sua cátedra de teologia moral, educava a ser bons confessores e directores
espirituais, preocupados com o verdadeiro bem espiritual da pessoa, animados
por um grande equilíbrio ao fazer sentir a misericórdia de Deus e, ao mesmo
tempo, um sentido perspicaz e vivo do pecado. Eram três as virtudes do
professor Cafasso, como recorda São João Bosco: calma, sagacidade e prudência.
Para ele, a verificação do ensinamento transmitido era constituída pelo
ministério da Confissão, à qual ele mesmo dedicava muitas horas do dia; procuravam-no
bispos, sacerdotes, religiosos, leigos eminentes e pessoas simples: a todos ele
sabia oferecer o tempo necessário. Além disso, de muitos que se tornaram santos
e fundadores de institutos religiosos, ele foi um sábio conselheiro espiritual.
O seu ensinamento nunca era abstracto, assente apenas nos livros que se
utilizavam naquela época, mas nascia da experiência viva da misericórdia de
Deus e do profundo conhecimento da alma humana, adquirida ao longo do tempo
transcorrido no confessionário e na direcção espiritual: tratava-se de uma
verdadeira escola de vida sacerdotal.
O seu segredo era simples: ser um homem de Deus; realizar, nos
pequenos gestos diários, "aquilo que pode ser para a maior glória de Deus
e para o benefício das almas". Amava o Senhor de modo total, era animado
por uma fé bem arraigada, sustentado por uma oração profunda e prolongada, e
vivia uma caridade sincera para com todos. Conhecia a teologia moral, mas
conhecia igualmente as situações e o coração das pessoas, cujo bem assumia como
o bom pastor. Aqueles que tinham a graça de estar próximos dele acabavam por
ser transformados, também eles, em bons pastores e válidos confessores.
Indicava com clareza a todos os sacerdotes a santidade a alcançar, precisamente
no ministério pastoral. O Beato sacerdote Clemente Marchisio, fundador das
Filhas de São José, afirmava: "Quando entrei no Colégio eu era muito
travesso e desajuizado, e nem sabia o que queria dizer ser sacerdote, mas saí
dali muito diferente, com a plena compreensão da dignidade do presbítero".
Quantos sacerdotes foram por ele formados no Colégio e depois acompanhados
espiritualmente! Entre eles – como eu já disse – sobressai São João Bosco, que
o teve como director espiritual durante vinte e cinco anos, de 1835 a 1860: primeiro como
clérigo, depois como sacerdote e enfim como fundador. Todas as opções
fundamentais da vida de São João Bosco tiveram como conselheiro e guia São José
Cafasso, mas de um modo bem específico: Cafasso nunca procurou formar em Dom
Bosco um discípulo "à sua imagem e semelhança", e Dom Bosco não
copiou Cafasso; sem dúvida, imitou-o nas virtudes humanas e presbiterais –
definindo-o "modelo de vida sacerdotal" – mas em conformidade com as
suas atitudes pessoais e a sua vocação peculiar; um sinal da sabedoria do
mestre espiritual e da inteligência do discípulo: o primeiro não se impôs sobre
o segundo, mas respeitou-o na sua personalidade e ajudou-o a interpretar qual
era a vontade de Deus para ele. Caros amigos, trata-se de um ensinamento
precioso para todos aqueles que estão comprometidos na formação e educação das
jovens gerações, e é também uma forte evocação da importância de dispor de um
guia espiritual na própria vida, que ajude a compreender aquilo que Deus quer
de nós. Com simplicidade e profundidade, o nosso Santo afirmava: "Toda a
santidade, a perfeição e o lucro de uma pessoa encontram-se no acto de cumprir
perfeitamente a vontade de Deus (...) Felizes seríamos nós, se conseguíssemos
inserir assim o nosso coração no de Deus, unir de tal forma os nossos desejos,
a nossa vontade à sua, a ponto de formar um só coração e uma só vontade: querer
aquilo que Deus quer, desejá-lo daquele modo, naquele tempo e naquelas
circunstâncias que Ele quiser, e desejar tudo isto exclusivamente porque Deus o
quer".
Mas outro elemento caracteriza o ministério do nosso Santo: a
atenção aos últimos, de modo particular aos encarcerados, que na Turim do
século XIX viviam em lugares desumanos e desumanizadores. Também neste serviço
delicado, levado a cabo por mais de vinte anos, ele foi sempre o bom pastor,
compreensivo e compassivo: qualidades sentidas pelos prisioneiros, que
terminavam por ser conquistados por aquele amor sincero, cuja origem era o
próprio Deus. A simples presença de Cafasso fazia bem: tranquilizava, tocava os
corações empedernidos pelas vicissitudes da vida e sobretudo iluminava e
despertava as consciências indiferentes. Nos primeiros tempos do seu ministério
no meio dos encarcerados, ele recorria com frequência às grandes pregações que
chegavam a envolver praticamente toda a população carcerária. Com a passagem do
tempo, privilegiou a catequese simples, feita nos diálogos e nos encontros pessoais:
respeitador das vicissitudes de cada um, enfrentava os grandes temas da vida
cristã, falando da confiança em Deus, da adesão à sua vontade, da utilidade da
oração e dos sacramentos, cujo ponto de chegada é a Confissão, o encontro com
Deus que por nós se fez misericórdia infinita. Os condenados à morte foram
objecto de atenções humanas e espirituais muito especiais. Ele acompanhou ao
patíbulo 57 condenados à morte, depois de os ter confessado e de lhes ter
administrado a Eucaristia. Acompanhava-os com profundo amor, até ao último respiro
da sua existência terrena.
Faleceu no dia 23 de Junho de 1860, depois de uma vida oferecida
inteiramente ao Senhor e consumida em prol do próximo. O meu Predecessor, o
Venerável Servo de Deus Papa Pio XII, em 9 de Abril de 1948, proclamou-o
padroeiro dos cárceres italianos e, mediante a Exortação Apostólica ‘Menti
nostrae’, no dia 23 de Setembro de 1950, propô-lo como modelo aos sacerdotes
comprometidos na Confissão e na direcção espiritual…”
São José Cafasso foi canonizado pelo Papa Pio XII, no dia 22 de
Junho de 1947.
A sua memória litúrgica celebra-se no dia 23 de Junho.