- na oração do Angelus, na Praça de São Pedro – Roma, no dia
16 de Julho
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Jesus, quando falava, usava uma linguagem
simples e servia-se também de imagens, que eram exemplos tirados da vida
diária, a fim de poder ser compreendido, facilmente, por todos. Por isso,
gostavam de o ouvir e apreciavam a sua mensagem que ia directamente ao coração;
e não era aquela linguagem difícil de compreender, que usavam os doutores da
Lei da época, que não se entendia bem, que era rígida e afastava o povo. E, com
esta linguagem, Jesus fazia compreender o mistério do Reino de Deus; não era
uma teologia complicada. E o Evangelho de hoje dá-nos um exemplo: a parábola do
semeador (cf. Mt 13, 1-23).
O semeador é Jesus. Observamos que, com
esta imagem, Ele se apresenta como alguém que não se impõe, mas se propõe; não
nos atrai conquistando-nos, mas doando-se: lança a semente. Ele espalha com
paciência e generosidade a sua Palavra, que não é uma gaiola nem uma armadilha,
mas uma semente que pode dar fruto. E como pode dar fruto? Se a acolhermos.
Por isso, a parábola diz respeito
sobretudo a nós: com efeito, ela fala mais do terreno do que do semeador. Jesus
faz, por assim dizer, uma «radiografia espiritual» do nosso coração, que é o
terreno no qual a semente da Palavra cai. O nosso coração, como um terreno,
pode ser bom e então a Palavra dá fruto — e muito —; mas pode também ser duro,
impermeável. Isto acontece quando ouvimos a Palavra, mas ela escorrega,
precisamente como numa estrada: não entra.
Entre o terreno bom e a estrada, o asfalto
— se lançarmos uma semente na «calçada», nada cresce — há, contudo, dois
terrenos intermédios que, de maneiras diversas, podemos ter em nós. O primeiro,
diz Jesus, é o pedregoso. Tentemos imaginar: um terreno pedregoso é um terreno
«onde não há muita terra» (cf. v. 5), e portanto a semente germina, mas não
consegue ganhar raízes profundas. É assim o coração superficial, que acolhe o
Senhor, quer rezar, amar e testemunhar, mas não persevera, cansa-se e não
cresce. É um coração sem consistência, no qual as pedrinhas da preguiça
prevalecem sobre a terra boa, onde o amor é inconstante e passageiro. Mas, quem
acolhe o Senhor só quando lhe apetece, não dá fruto.
Depois, há o último terreno, aquele
espinhoso, cheio de sarças que sufocam as plantas boas. O que representam estas
sarças? «A preocupação do mundo e a sedução da riqueza» (v. 22), assim diz
Jesus, explicitamente. As sarças são os vícios que estão em contraste com Deus,
que sufocam a sua presença: antes de tudo, os ídolos da riqueza mundana, viver
avidamente, para si mesmos, pelo ter e pelo poder. Se cultivarmos estas sarças,
sufocamos o crescimento de Deus em nós. Cada um pode reconhecer as suas sarças
pequenas ou grandes, os vícios que habitam no seu coração, aqueles arbustos
mais ou menos radicados que não agradam a Deus e impedem que se tenha o coração
limpo. É necessário arrancá-los, senão a Palavra não dará fruto, a semente não
crescerá.
Queridos irmãos e irmãs, Jesus convida-nos
hoje a olhar para dentro de nós: a agradecer pelo nosso terreno bom e a
trabalhar nos terrenos que ainda o não são. Perguntemo-nos se o nosso coração
está aberto para acolher com fé a semente da Palavra de Deus. Questionemo-nos
se os nossos pedregulhos da preguiça ainda são muitos e grandes; encontremos e
chamemos pelo nome as sarças dos vícios. Encontremos a coragem para limpar o
terreno, uma boa limpeza do nosso coração, levando ao Senhor, na confissão e na
oração, as nossas pedrinhas e as nossas sarças. Fazendo assim, Jesus, o bom
samaritano, será feliz em realizar mais um trabalho: purificar o nosso coração,
tirando as pedras e os espinhos que sufocam a Palavra.
A Mãe de Deus, que hoje recordamos com o
título de Bem-Aventurada Virgem do Monte Carmelo, insuperável no acolhimento da
Palavra de Deus e em pô-la em prática (cf. Lc 8, 21), nos ajude a purificar o
coração e vos mantenha na presença do Senhor. (cf. Santa Sé)