- na oração do Angelus, na Praça de São Pedro – Roma, no dia
23 de Julho
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A página evangélica de hoje propõe três
parábolas com as quais Jesus fala às multidões sobre o Reino de Deus. Analiso a
primeira: a do grão bom e da erva daninha, que ilustra o problema do mal no
mundo e ressalta a paciência de Deus (cf. Mt 13, 24-30.36-43). Quanta paciência
tem Deus! Também cada um de nós pode dizer isto: «Quanta paciência tem Deus
comigo!». A narração situa-se num campo com dois protagonistas opostos. Por um
lado, o dono do campo que representa Deus e espalha a semente boa; por outro, o
inimigo que representa Satanás e espalha a erva daninha.
Com o passar do tempo, no meio do trigo
cresce também o joio e, face a esta realidade, o dono e os seus servos têm
atitudes diferentes. Os servos queriam intervir arrancando o joio; mas o dono,
que se preocupa sobretudo com a salvação do trigo, opõe-se dizendo: «Não; para
que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele» (v. 29). Com esta
imagem, Jesus diz-nos que neste mundo o bem e o mal estão tão interligados, que
é impossível separá-los e arrancar todo o mal. Só Deus pode fazer isso e
fá-lo-á no juízo final. Com as suas ambiguidades e com o seu carácter
multifacetado, a situação presente é o campo da liberdade, o campo da liberdade
dos cristãos, no qual se cumpre o difícil exercício do discernimento entre o
bem e o mal.
E, por conseguinte, trata-se de conjugar,
neste âmbito, com grande confiança em Deus e na sua providência, duas atitudes
aparentemente contraditórias: a decisão e a paciência. A decisão consiste em
querer ser grão bom — todos o queremos —, com todas as nossas forças, e
portanto afastarmo-nos do maligno e das suas seduções. A paciência significa
preferir uma Igreja que é fermento na massa, que não teme sujar as mãos lavando
as roupas dos seus filhos, e não uma Igreja de «puros», que pretende julgar
antes do tempo quem está no Reino de Deus e quem não está.
O Senhor, que é a Sabedoria encarnada,
ajuda-nos, hoje, a compreender que o bem e o mal não se podem identificar com
territórios definidos ou determinados grupos humanos: «Estes são os bons, este
são os maus». Ele diz-nos que a linha de fronteira entre o bem e o mal passa
pelo coração de cada pessoa, passa pelo coração de cada um de nós, ou seja:
somos todos pecadores. Sinto vontade de vos perguntar: «Quem não é pecador levante
a mão». Ninguém! Porque todos o somos, somos todos pecadores. Jesus Cristo, com
a sua morte na cruz e a sua ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado
e concedeu-nos a graça de caminhar rumo a uma nova vida; mas com o Baptismo
concedeu-nos também a Confissão, porque temos sempre necessidade de ser
perdoados dos nossos pecados. Olhar sempre e unicamente para o mal que está
fora de nós, significa não querer reconhecer o pecado que está também em nós.
E depois Jesus ensina-nos um modo diverso
de olhar para o campo do mundo, de observar a realidade. Somos chamados a
aprender os tempos de Deus — que não são os nossos tempos — e também o “olhar”
de Deus: graças à influência benéfica de uma expectativa trepidante, aquilo que
era joio ou parecia joio, pode tornar-se um produto bom. É a realidade da
conversão. É a perspectiva da esperança!
Que a Virgem Maria nos ajude a colher, na
realidade que nos circunda, não só a sujidade e o mal, mas também o que é bem e
bom; a desmascarar a obra de Satanás mas, sobretudo, a confiar na acção de Deus
que fecunda a história. (cf.
Santa Sé)