SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA
(relembrando)
(relembrando)
Brígida Birgersdotter nasceu, em 1303, em Finster,
Uplândia – Suécia. Era filha de Birger Persson - um homem de leis e de
ascendência nobre, da linhagem dos Finsta - e de Ingeborg Bengtsdotter. Por
intermédio dos seus pais e, mais tarde, do seu esposo, pertenceu aos círculos
políticos mais influentes da Suécia medieval que, três séculos antes, tinha
acolhido a fé cristã com o mesmo entusiasmo com que Brígida a recebeu dos seus
pais, pessoas muito piedosas, próximas da Casa reinante.
Na vida de Brígida, podemos distinguir dois períodos:
O primeiro é caracterizado pela sua condição de mulher,
num casamento feliz. O seu marido chamava-se Ulf e era governador de um
importante distrito do Reino da Suécia. O matrimónio durou vinte e oito anos,
até à morte de Ulf. Deste casamento, nasceram oito filhos, dos quais a segunda
Karin (Catarina), é venerada como Santa. Isto é um sinal eloquente do
compromisso educativo de Brígida em relação aos seus próprios filhos. De resto,
a sua sabedoria pedagógica foi apreciada a tal ponto, que o rei da Suécia,
Magnus, a chamou à corte por um certo período, com a finalidade de introduzir a
sua jovem esposa, Bianca de Namur, na cultura sueca.
Brígida, espiritualmente guiada por um douto religioso
que a iniciou no estudo das Escrituras, exerceu uma influência muito positiva
sobre a própria família que, graças à sua presença, se tornou uma verdadeira
«igreja doméstica». Juntamente com o marido, adoptou a Regra dos Terciários
franciscanos. Praticava com generosidade obras de caridade em prol dos
indigentes; fundou, também, um hospital. Ao lado da sua esposa, Ulf aprendeu a
melhorar a sua índole e a progredir na vida cristã. Quando regressou de uma
longa peregrinação a Santiago de Compostela, realizada, em 1341, juntamente com
outros membros da família, os cônjuges amadureceram o projecto de viver em
continência; mas, pouco tempo mais tarde, na paz de um mosteiro onde se tinha
retirado, Ulf concluiu a sua vida terrena.
Este primeiro período da vida de Brígida ajuda-nos a
apreciar aquela que hoje poderíamos definir uma autêntica «espiritualidade
conjugal»: juntos, os cônjuges cristãos podem percorrer um caminho de
santidade, sustentados pela graça do Sacramento do Matrimónio. Muitas vezes,
precisamente como aconteceu na vida de Santa Brígida e de Ulf, é a mulher que,
com a sua sensibilidade religiosa, com a delicadeza e a docilidade consegue
levar o marido a percorrer um caminho de fé. Penso, com reconhecimento, em
muitas mulheres que, dia após dia, ainda hoje, iluminam as próprias famílias
com o seu testemunho de vida cristã. Possa o Espírito do Senhor suscitar,
também nos dias de hoje, a santidade dos cônjuges cristãos, para mostrar ao
mundo a beleza do matrimónio vivido segundo os valores do Evangelho: o amor, a
ternura, a ajuda recíproca, a fecundidade na geração e na educação dos filhos,
a abertura e a solidariedade para com o mundo e a participação na vida da
Igreja.
Quando Brígida ficou viúva, teve início o segundo
período da sua vida. Renunciou a outro casamento para aprofundar a união com o
Senhor através da oração, da penitência e das obras de caridade. Portanto,
também as viúvas cristãs podem encontrar, nesta Santa, um modelo a seguir. Com
efeito, após a morte do marido, Brígida distribuiu os seus bens pelos pobres e,
mesmo sem nunca aceder à consagração religiosa, estabeleceu-se no mosteiro
cisterciense de Alvastra. Ali, tiveram início as revelações divinas, que a
acompanharam durante o resto da sua vida. Elas foram ditadas por Brígida aos
seus secretários-confessores, que as traduziram do sueco para o latim e as
reuniram numa edição de oito livros, intitulados Revelationes (Revelações). A
estes livros acrescenta-se um suplemento, que tem como título precisamente
Revelationes extravagantes (Revelações suplementares).
As Revelações de Santa Brígida apresentam um conteúdo
e um estilo muito diversificados. Às vezes, a revelação apresenta-se sob a
forma de diálogos entre as Pessoas divinas, a Virgem, os Santos e até os
demónios; diálogos em que também Brígida intervém. Outras vezes, ao contrário,
trata-se da narração de uma visão particular; e noutras, ainda, narra-se aquilo
que a Virgem Maria lhe revela acerca da vida e dos mistérios do Filho. O valor
das Revelações de Santa Brígida, por vezes objecto de algumas dúvidas, foi
especificado pelo Venerável João Paulo II, na Carta ‘Spes aedificandi’: «A
Igreja, ao reconhecer a santidade de Brígida, mesmo sem se pronunciar sobre
cada uma das revelações, acolheu a autenticidade do conjunto da sua experiência
interior» (n. 5).
Com efeito, lendo estas Revelações, somos interpelados
sobre muitos temas importantes. Por exemplo, volta-se a descrever
frequentemente, com pormenores bastante realistas, a Paixão de Cristo, pela
qual Brígida teve sempre uma devoção especial, contemplando nela o amor
infinito de Deus pelos homens. Nos lábios do Senhor que lhe fala, ela põe, com
audácia, estas palavras comovedoras: «Ó, meus amigos, Eu amo tão ternamente as
minhas ovelhas que, se fosse possível, gostaria de morrer muitas outras vezes,
por cada uma delas, daquela mesma morte que padeci pela redenção de todas elas»
(Revelationes, Livro I, C. 59). Também, a dolorosa maternidade de Maria, que a
tornou Mediadora e Mãe de misericórdia, é um assunto que aparece com frequência
nas Revelações.
Ao receber estes carismas, Brígida estava consciente
de ser destinatária de um dom de grande predilecção da parte do Senhor: «Minha
filha — lemos no primeiro Livro das Revelações — Eu escolhi-te para mim; ama-me
com todo o seu coração... mais do que tudo quanto existe no mundo» (c. 1). De
resto, Brígida sabia bem, e disto estava firmemente convencida, que cada
carisma está destinado a edificar a Igreja. Precisamente por este motivo, muitas
das suas revelações eram dirigidas, em forma de admoestações até severas, aos
fiéis do seu tempo, também às Autoridades religiosas e políticas, a fim de que
vivessem coerentemente a sua vida cristã; mas fazia isto sempre com uma atitude
de respeito e de fidelidade integral ao Magistério da Igreja, de modo
particular ao Sucessor do Apóstolo Pedro.
Em 1349, Brígida deixou, para sempre, a Suécia e veio
em peregrinação a Roma. Não só tencionava participar no Jubileu de 1350, mas
também desejava obter do Papa a aprovação da Regra de uma Ordem religiosa que
ela queria fundar, intitulada ao Santo Salvador, e composta por monges e monjas
sob a autoridade da abadessa. Trata-se de um elemento que não nos deve
surpreender: na Idade Média existiam fundações monásticas com um ramo masculino
e outro feminino, mas com a prática da mesma regra monástica, que previa a
direcção de uma abadessa. Com efeito, na grande tradição cristã, à mulher são
reconhecidos a sua dignidade e — sempre a exemplo de Maria, Rainha dos
Apóstolos — o seu lugar na Igreja que, sem coincidir com o sacerdócio ordenado,
é igualmente importante para o crescimento espiritual da Comunidade. Além
disso, a colaboração de consagrados e de consagradas, sempre no respeito pela
sua vocação específica, tem uma grande importância no mundo contemporâneo.
Em Roma, acompanhada pela filha Karin, Brígida
dedicou-se a uma vida de intenso apostolado e de oração. E de Roma partiu em
peregrinação a vários santuários italianos, em particular a Assis, pátria de
São Francisco, por quem Brígida nutriu sempre uma grande devoção. Finalmente,
em 1371, coroou a sua maior aspiração: a viagem à Terra Santa, aonde foi em
companhia dos seus filhos espirituais, um grupo ao qual Brígida chamava «os
amigos de Deus».
Durante aqueles anos, os Pontífices encontravam-se em
Avinhão, longe de Roma: Brígida dirigiu-se sentidamente a eles, a fim de que
voltassem para a Sé de Pedro, na Cidade Eterna.
Brígida faleceu, em 1373, antes que o Papa Gregório XI
tivesse voltado, definitivamente, para Roma. Foi sepultada provisoriamente na
igreja romana de São Lourenço «in Panisperna» mas, em 1374, os seus filhos
Birger e Karin trasladaram-na para a pátria, para o mosteiro de Vadstena, sede
da Ordem religiosa fundada por Santa Brígida, que conheceu imediatamente uma
expansão notável. Em 1391, o Papa Bonifácio IX canonizou-a solenemente.
A santidade de Brígida, caracterizada pela
multiplicidade dos dons e das experiências que eu quis recordar, neste breve
perfil biográfico-espiritual, faz dela uma figura eminente na história da
Europa. Proveniente da Escandinávia, Santa Brígida testemunha como o
cristianismo permeou profundamente a vida de todos os povos deste Continente.
Declarando-a co-Padroeira da Europa, o Papa João Paulo II fez votos por que
Santa Brígida – que viveu no século XIV, quando a cristandade ocidental ainda
não estava ferida pela divisão — possa interceder junto de Deus, para obter a
graça tão almejada da plena unidade de todos os cristãos. Por esta mesma
intenção - que é, por nós, muito desejada - e para que a Europa saiba
alimentar-se, sempre, a partir das suas raízes cristãs, queremos rezar, caros
irmãos e irmãs, invocando a poderosa intercessão de Santa Brígida da Suécia,
discípula fiel de Deus e co-Padroeira da Europa. (cf. Santa Sé: catequese do Papa Bento XVI, em 27 de Outubro de 2010,
em Roma)