- na Oração do Ângelus, no dia 13 de Agosto, na Praça de São
Pedro – Roma
Caros irmãos e irmãs, as minhas
saudações!
A página do Evangelho de hoje (Mt 14,
22-33) descreve o episódio em que Jesus, depois de ter rezado toda a noite na
margem do lago da Galileia, se dirige para a barca dos seus discípulos,
caminhando sobre as águas.
A barca encontra-se no meio do lago,
bloqueada por um vento contrário. Logo que vêem Jesus a caminhar sobre as
águas, os discípulos pensam que é um fantasma e têm medo. Mas Ele dá-lhes
confiança: «coragem, sou eu, não tenhais medo!» (v. 27) Pedro, com a sua
habitual impetuosidade, diz-lhe : «Senhor, se és tu, manda-me caminhar até
ti sobre as águas!» E Jesus disse-lhe: «Vem!» (vv. 28-29). Pedro desceu da
barca e meteu-se a caminhar sobre a água, em direcção a Jesus. Mas, por causa
do vento, teve medo e começou a afundar-se. Então gritou: «Senhor, salva-me!» E
Jesus estendeu-lhe a mão e agarrou-o (vv.30-31).
Este relato do Evangelho contém um rico
simbolismo e faz-nos reflectir sobre a nossa fé, enquanto indivíduos e enquanto
comunidade eclesial e, também, sobre a fé de cada um de nós aqui presentes
nesta Praça de S. Pedro.
A comunidade, esta comunidade eclesial,
tem fé? Como é a fé de cada um de nós e a fé da nossa comunidade?
A barca é a vida de cada um de nós, mas
é, também, a vida da Igreja; o vento contrário representa as dificuldades e as
provações. A invocação de Pedro: “ Senhor, ordena que vá até ti!” e o seu grito
“salva-me” parecem-se com o nosso desejo de sentir a proximidade do Senhor, mas
também o medo e a angústia que acompanham os momentos mais duros da nossa vida
e da vida das nossas comunidades, marcadas por fragilidades internas e por
dificuldades externas.
Para Pedro, não foram suficientes as
palavras de Jesus, que eram como a corda que Jesus lhe estendia para se agarrar
e enfrentar as águas hostis e turbulentas. É o que nos pode acontecer também.
Quando não nos agarramos à Palavra de Deus, mas consultamos os horóscopos e as
cartomantes, começamos a afundar-nos. Isto mostra que a fé não é muito forte. O
Evangelho de hoje lembra-nos que a fé no Senhor e na sua palavra não nos abre
um caminho onde tudo é fácil e tranquilo; ela não nos tira das tempestades da
vida. A fé dá-nos a segurança de uma Presença, não se esqueçam disso!... A fé
dá-nos a segurança de uma Presença; a presença de Jesus que nos impulsiona para
ultrapassar as tempestades existenciais, a certeza de uma mão que nos agarra,
mesmo quando está escuro. A fé, em resumo, não é uma fuga dos problemas da
vida, mas ela é um sustentáculo no caminho e dá um sentido à vida.
Este episódio é uma magnífica imagem da
realidade da Igreja de todos os tempos: uma barca, que ao longo da travessia,
deve enfrentar também os ventos contrários e as tempestades, que ameaçam
afundá-la. O que a salva, não são a coragem nem as qualidades dos seus homens;
a garantia contra o naufrágio é a fé em Jesus e na sua palavra. Eis a garantia.
Nesta barca estamos em segurança, apesar
das nossas misérias e das nossas fraquezas, sobretudo quando nos ajoelhamos e
adoramos o Senhor, como os discípulos que no fim, se prostraram diante dele e
disseram: «verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!» (v.33). Que belo é dizer a
Jesus: «verdadeiramente tu és o Filho de Deus». Digamo-lo juntos:
«verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!» Mais uma vez! «Verdadeiramente tu és
o Filho de Deus!»
Que a Virgem Maria nos ajude a
perseverar bem firmes na fé para resistirmos às tempestades da vida e a
permanecer na barca da Igreja, rejeitando a tentação de subir para as barcas
encantadas mas pouco seguras das ideologias, das modas e dos slogans. (cf. Santa Sé)