- na Audiência-Geral, no dia 27 de Setembro, na Praça de São
Pedro – Roma
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Desejo falar, nesta catequese, sobre o tema
“Missionários de esperança, hoje”. Sinto-me feliz por o fazer no início do mês
de Outubro que, na Igreja, é dedicado, de modo especial, à missão, e, também,
na festa de São Francisco de Assis, que foi um grande missionário de esperança!
Com efeito, o cristão não é um profeta de desventura.
Nós não somos profetas de desventura. A essência do seu anúncio é o oposto, o
contrário da desventura: é Jesus, morto por amor e que Deus ressuscitou, na
manhã de Páscoa. É este o núcleo da fé cristã. Se os Evangelhos se tivessem
interrompido com a sepultura de Jesus, a história deste profeta iria juntar-se
às tantas biografias de personagens heroicos que deram a vida por um ideal.
Neste caso, o Evangelho seria um livro edificante, até consolador, e não um
anúncio de esperança.
Mas, os Evangelhos não se encerram com a Sexta-Feira
Santa: vão além; e é precisamente este ulterior fragmento que transforma as
nossas vidas. Os discípulos de Jesus estavam entristecidos, naquele sábado,
depois da sua crucificação; aquela pedra colocada na entrada do sepulcro tinha
fechado também os três anos entusiasmantes vividos por eles com o Mestre de
Nazaré. Parecia que tudo tinha acabado e alguns, desiludidos e amedrontados, já
estavam a abandonar Jerusalém.
Mas, Jesus ressuscita! Este facto inesperado inverte e
subverte a mente e o coração dos discípulos. Porque Jesus não ressuscita só
para si, como se o seu renascimento fosse uma prerrogativa da qual devêssemos
ficar ciumentos. Ele eleva-se ao Pai porque deseja que a sua ressurreição seja
comunicada a cada ser humano, e que arrebate, para o alto, todas as criaturas.
E no dia de Pentecostes, os discípulos são transformados pelo sopro do Espírito
Santo. Não receberão apenas uma boa notícia para levar a todos mas, eles mesmos
se sentirão diferentes em relação a antes, como renascidos para uma vida nova.
A ressurreição de Jesus transforma-nos com a força do Espírito Santo. Jesus
está vivo; está vivo entre nós; está vivo e tem aquela força transformadora.
Como é bom pensar que somos anunciadores da
ressurreição de Jesus não só com palavras, mas com os factos e com o testemunho
da vida! Jesus não quer discípulos capazes unicamente de repetir fórmulas
aprendidas de cor. Deseja testemunhas: pessoas que propaguem esperança com o
seu modo de acolher, de sorrir, de amar. Principalmente de amar: porque a força
da ressurreição torna os cristãos capazes de amar mesmo quando parece que o
amor perdeu as suas razões. Há um “a mais” que habita a existência cristã e que
não se explica apenas com a força de ânimo ou com mais optimismo: a fé… A nossa
esperança não é um mero optimismo; é outra coisa, é mais! É como se os crentes
fossem pessoas com um “pedaço de céu” a mais em cima da cabeça. Isto é bonito:
nós somos pessoas com um pedaço de céu a mais em cima da cabeça, acompanhados
por uma presença que alguns nem conseguem intuir.
Por conseguinte, é dever dos cristãos, neste mundo,
abrir espaços de salvação, como células regeneradoras capazes de restituir
linfa ao que parecia estar perdido para sempre. Quando o céu está totalmente
enevoado, quem sabe falar do sol é uma bênção. O verdadeiro cristão é assim:
não é lamentoso nem zangado, mas convicto, pela força da ressurreição, de que
mal algum é infinito, noite alguma é sem fim, homem algum está definitivamente
errado, ódio algum é invencível pelo amor.
Claro, muitas vezes, os discípulos pagaram muito caro
esta esperança que Jesus lhes doou. Pensemos em tantos cristãos que não
abandonaram o seu povo, quando chegou o momento da perseguição. Ficaram ali,
onde havia a incerteza até do amanhã; onde não se podia fazer nenhum tipo de
projecto; permaneceram esperando em Deus. E pensemos nos nossos irmãos, nas
nossas irmãs do Médio Oriente que dão testemunho de esperança e oferecem,
inclusive, a vida por este testemunho. Estes são verdadeiros cristãos! Estes
trazem o céu no coração, olham além, sempre além. Quem teve a graça de abraçar
a ressurreição de Jesus ainda pode esperar no inesperado. Os mártires de todos
os tempos, com a sua fidelidade a Cristo, contam que a injustiça não tem a
última palavra na vida. Em Cristo ressuscitado, podemos continuar a esperar. Os
homens e as mulheres que têm um “por que” viver resistem mais nos tempos de
desventura do que os outros. Mas quem tem Cristo ao seu lado nada teme,
realmente. E, por isso, os cristãos, os verdadeiros cristãos, nunca são homens
fáceis e condescendentes. A sua mansidão não deve ser confundida com um sentido
de insegurança ou de submissão. São Paulo encoraja Timóteo a sofrer pelo
evangelho, e diz assim: «Porque Deus não nos deu um espírito de temor, mas de
fortaleza, de amor e de moderação» (2 Tm 1, 7). Se caem, levantam-se sempre.
Eis, queridos irmãos e irmãs, o motivo pelo qual o
cristão é um missionário de esperança. Não por seu mérito, mas graças a Jesus,
o grão de trigo que, ao cair na terra, morreu e deu muito fruto (cf. Jo 12,
24). (cf.
Santa Sé)