BEATO PEDRO ADRIANO TOULORGE
Pierre-Adrien (Pedro Adriano) nasceu no reinado de
Luís XV, no dia 4 de Maio de 1757, em Quièze, uma pequena aldeia da Normandia,
França. Foi baptizado no mesmo dia. Os seus pais eram lavradores – profissão
que passava de pai para filho - e eram profundamente cristãos.
Pedro Adriano foi o terceiro e último filho do casal
Toulorge.
Com 17 anos - quando começou o reinado de Luís XVI –
começou a frequentar o Seminário de Coutances, mantido pelos Padres Eudistas.
Em Junho de 1781, foi ordenado diácono.
Antigamente, em França, não se podia ordenar um padre
sem dar-lhe "um título", ou seja, ligá-lo ao serviço de uma igreja,
da qual receberia o digno sustento. Mas, como eram ordenados muitos padres, não
havia benefícios ou "títulos" que chegassem para todos. Como a Igreja
não podia sustentá-los, surgiu o hábito de criar "títulos clericais"
que eram vinculados a uma terra ou bens, fornecidos pela família do futuro
padre. Assim, o pai de Pedro Adriano, Juliano Toulorge, garantiu, em cartório,
"uma renda de cem libras anuais" para o filho, a partir da sua
ordenação ao subdiaconado. E, assim, Pedro Adriano recebeu o seu "título
eclesiástico".
Pedro Adriano foi ordenado padre, em Junho de 1782. Em
Janeiro de 1783, foi nomeado vigário de Doville, pequena paróquia de 168 lares,
colocada sob o patrocínio da Abadia Premonstratense de Blanchelande.
Em 1787, o Padre Pedro aderiu à Ordem Premonstratense,
fundada por São Norberto. Em Junho de 1788, emitiu os seus votos, sendo
designado para o serviço desta Abadia de Blanchelande que, por falta de
vocações, está prestes de ser encerrada.
Na primavera de 1789, têm início, em França, grandes
convulsões políticas e sociais que culminam com a tomada da Bastilha, em Julho
desse ano. A situação económica da França é desastrosa. Por sugestão
"genial" do arcebispo Talleyrand, em Novembro de 1789, são
confiscados todos os bens do clero que foram vendidos para cobrir a dívida
francesa. Porém, a crise continua a agravar-se e o clero tornou-se parte do
funcionalismo público, recebendo em troca um salário do Estado. Em 13 de
Fevereiro de 1790, a Assembleia Nacional decretou a supressão, pura e simples,
das ordens religiosas.
Em outubro de 1790, os religiosos da Abadia de
Blanchelande foram obrigados a abandonar as instalações e os padres foram cada
um para o seu lado.
O Padre Pedro Adriano foi residir na exploração
agrícola de um casal amigo, que o acolheu de boa vontade, e aí permaneceu,
discretamente, cerca de ano e meio lá um ano e meio, sem poder desenvolver
abertamente o seu ministério sacerdotal.
No verão de 1790, tinha sido votada a
"Constituição civil do clero" que previa - sem que o Papa tivesse uma
palavra a dizer - a eleição dos bispos pelo povo e, também, a eleição das
paróquias importantes, exigindo do clero pago pelo Estado um juramento de fidelidade.
Alguns bispos e muitos padres recusaram tal determinação, dando origem a uma
grande divisão na Igreja de França: os padres juramentados e os refractários.
A situação dos padres não juramentados (refractários)
tornou-se cada vez mais difícil. Uma lei de Agosto de 1792, condenava à
deportação todos os eclesiásticos que não tivessem prestado juramento.
Sentindo-se em perigo, o Padre Pedro decidiu deixar a França e emigrar para as
Ilhas Jersey, de domínio inglês, à espera de dias melhores.
Alguns dias antes de embarcar, nos inícios de
Setembro, um pavoroso massacre de padres teve lugar em Paris, na prisão dos
Carmelitas: 116 padres foram assassinados numa só noite.
Apenas chegado a Jersey, o Padre Pedro Adriano,
falando com outros padres, compreendeu que poderia ter permanecido em França,
sem estar preocupado, uma vez que as leis aprovadas não incluíam o clero
religioso. Então, regressou a França. Mas, alguns dias após o seu regresso, uma
nova lei decretou o desterro perpétuo dos emigrados e os emigrados, que,
entretanto, tinham retornado a França, tinham de sair num prazo de quinze dias.
O Padre Pedro Toulorge ficou perturbado, mas decidiu permanecer no seu país, e viver
o seu sacerdócio na clandestinidade.
Durante nove meses, andou de casa em casa, viajando de
noite e alterando, frequentemente, os seus disfarces. Os comités republicanos tiveram
conhecimento da actividade clandestina destes padres fugidios que celebravam
missas, faziam baptizados e casamentos, escondidos nas casas ou nas clareiras
das florestas. Então, o Comité de Salvação Pública, em Paris, ordenou aos cidadãos
que denunciassem estes padres antipatriotas.
O Padre Toulorge e os seus confrades fugitivos não
ousam mais pedir hospitalidade, por medo de serem traídos. Na noite de 2 de
Setembro de 1793, cansado, tolhido de frio, deitado num fosso, o Padre Pedro vê
passar uma mulher. Para-a, pede-lhe auxílio e revela-lhe a sua condição
sacerdotal. Esta confessa que também é religiosa: a"Irmã Santa Paula",
antiga beneditina, expulsa do Priorado de Varenguebec, e agora refugiada em
casa da sua família. Mas ela não pode esconder o Padre Pedro: é demasiado
perigoso para os seus. Para enganar os inimigos, ela fornece-lhe roupas civis
comuns. Mas, a aparência do Padre Adriano pareceu suspeita a dois trabalhadores
que se cruzaram com ele. Estes alertaram a guarda nacional. E o Padre foi preso.
O Padre Pedro foi sujeito a um apertado
interrogatório, mas omitiu, caritativa e prudentemente, o nome das pessoas que
o acolheram. Declarou que, efectivamente não prestou o juramento mas, também,
afirmou que não de o fazer, de acordo com a lei. Contou tudo, omitindo, porém,
o facto de ter estado em Jersey. Viu-se forçado a improvisar: informou-se e viu
que a lei não o obrigava a sair da França e, por conseguinte, não saiu... Neste
pormenor, o Padre Pedro Adriano teve de mentir.
O presidente do tribunal quereria, sobretudo, provar -
porque lhe parecia ter sido o mais provável - que o Padre Pedro Adriano tinha
exercido, clandestinamente, o ministério sacerdotal e que, assim, o réu quis
favorecer "os progressos do fanatismo religioso".
Durante o seu interrogatório, o Padre Toulorge entrelaçou
habilmente a verdade e a falsidade, mas sofre por ter mentido, porque tinha medo.
Muitas interrogações foram surgindo no seu coração: um padre de Jesus Cristo
pode salvar a sua vida com mentiras? É necessário mentir para salvar a vida, ou
deve-se morrer pela verdade? Se perseverar nas suas mentiras de homem medroso,
e se sair em liberdade, nunca mais poderá ler honestamente, no Evangelho de São
João, as palavras de Jesus: A verdade tornar-vos-á livres.
Então, no dia da Festa da Natividade da Virgem, a
graça divina agiu no seu coração e fê-lo passar, num instante, do medo à
coragem: a coragem do mártir que põe a sua vida em jogo por força destas leis
perversas, dirigidas contra a Igreja católica e os seus padres. Do fundo da sua
prisão, comunicou ao procurador que tinha uma declaração a acrescentar. E, com
simplicidade e frontalidade, na frente do magistrado, o Padre Pedro Adriano
contou a sua história, a sua verdadeira história.
Foi levado para Coutances, no dia 8 de Setembro,
durante a noite. Nesse dia, a cidade estava a comemorar a chegada de Paris do
deputado montanhês Le Carpentier, filho nativo da região: um fracassado a quem
a Revolução forneceu a ocasião de uma vingança cruel sobre a aristocracia e a
religião. Carpentier, a quem o ódio servia de eloquência, tornou-se conhecido pela
sua virulência no processo contra o rei Luís XVI. Em Coutances, desde a noite
da sua chegada, procedeu a numerosas execuções, entre as quais a de uma mãe de
13 filhos, que lhe valeu, para sempre, o apelido de ‘carrasco’.
Em Coutances, depois de novo julgamento sumário, o
Padre Pedro Adriano foi condenado à morte. No meio de um silêncio
impressionante, ouviu-se a voz serena do Padre Pedro pronunciar, distintamente,
as palavras: “…Deo Gratias! Que a vontade de Deus seja feita e não a minha!
Adeus, senhores, até a eternidade, se forem dignos dela”.
Uma testemunha notou que o seu rosto transparecia,
realmente, de alegria.
No dia 13 de Outubro, um destacamento de regimento da
cidade levou-o até o local do suplício. A guilhotina tinha sido erguida na
praça onde, normalmente, se realizava a feira dos animais. Diante de uma
multidão muda de emoção, o jovem padre foi conduzido até ao cadafalso. Disse apenas
algumas, repetindo as palavras de Cristo, na Cruz: “Pai, nas vossas mãos
entrego o meu espírito”. Depois acrescentou: “ Peço-vos pelo restabelecimento e
conservação da vossa Santa Igreja. Perdoai, peço-vos, aos meus inimigos”.
Às quatro e meia da tarde, o carrasco mostrou à multidão
a cabeça ensanguentada do Padre Pedro Adriano Toulorge. Tinha 36 anos. Depois,
numa carroça, levaram o corpo do jovem mártir para o cemitério Saint-Pierre,
onde ficou sepultado. (cf. gaudiumpress.org)
O Padre Pedro Adriano, martirizado em 1793 pela
Revolução Francesa, foi beatificado no dia 29 de Abril de 2012. A celebração da
beatificação realizou-se na Catedral de Coutances e foi presidida pelo Cardeal
Ângelo Amato, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, em representação
do Papa Bento XVI.
A memória litúrgica do beato Pedro Adriano celebra-se
no dia 13 de Outubro.