- na Oração do Angelus, no dia 1 de Novembro, na Praça de São
Pedro – Roma
Prezados irmãos e irmãs, bom dia e feliz festa!
A solenidade de Todos os Santos é a “nossa” festa: não
porque somos bons, mas porque a santidade de Deus tocou a nossa vida. Os santos
não são pequenos modelos perfeitos, mas pessoas penetradas por Deus. Podemos
compará-los com os vitrais das igrejas, que fazem entrar a luz em várias
tonalidades de cor. Os santos são nossos irmãos e irmãs que receberam a luz de
Deus no seu coração e a transmitiram ao mundo, cada qual segundo a sua
“tonalidade”. Mas todos foram transparentes, lutaram para tirar as manchas e as
obscuridades do pecado, de modo a fazer passar a luz gentil de Deus. Eis a
finalidade da vida: fazer passar a luz de Deus; e é, também, o objectivo da
nossa vida.
Com efeito, no Evangelho de hoje, Jesus dirige-se aos
seus, a todos nós, dizendo-nos «Bem-aventurados» (Mt 5, 3). É a palavra com que
começa a sua pregação, que é “Evangelho”, “boa nova” porque é o caminho da
felicidade. Quem está com Jesus é bem-aventurado, feliz. A felicidade não
consiste em possuir; nem em tornar-se ‘alguém’. Não!... A felicidade autêntica
consiste em estar com o Senhor e viver por amor. Queres acreditar nisto? Digo,
novamente: A verdadeira felicidade não consiste em possuir o que quer que seja;
nem em tornar-se ‘alguém’; a felicidade autêntica consiste em estar com o
Senhor e viver por amor. Acreditais nisto? Devemos ir em frente para acreditar
nisto. Então, aos ingredientes para uma vida feliz chama-se “bem-aventuranças”…
São bem-aventurados os simples; os humildes que deixam espaço a Deus; os que
sabem chorar pelo próximo e pelos próprios erros; os que permanecem mansos; os
que lutam pela justiça; os que são misericordiosos para com todos; os que
preservam a pureza do coração; os que trabalham sempre pela paz e vivem na
alegria; os que não odeiam e, até quando sofrem, respondem ao mal com o bem.
Eis as bem-aventuranças. Não exigem gestos
sensacionais; não são para super-homens, mas para quem vive as provações e as
dificuldades de todos os dias: para nós. Assim são os santos: respiram, como
todos, o ar poluído do mal que há no mundo mas, ao longo do caminho, nunca
perdem de vista o caminho de Jesus, indicado nas bem-aventuranças, que são como
o mapa da vida cristã. Hoje, é a festa daqueles que alcançaram a meta indicada
por este mapa: não só os santos do calendário, mas muitos irmãos e irmãs “da
porta ao lado”, que talvez tenhamos encontrado e conhecido. Hoje, é uma festa
de família, de muitas pessoas simples e escondidas que, na realidade, ajudam
Deus a fazer progredir o mundo. E, hoje, há tantas, muitas! Obrigado a estes
irmãos e irmãs desconhecidos que ajudam Deus a fazer progredir o mundo; que
vivem entre nós… Saudemo-los todos com um caloroso aplauso!
Em primeiro lugar — reza a primeira bem-aventurança —
estão os «pobres de espírito» (Mt 5, 3). Que significa? Que não vivem para o
sucesso, o poder ou o dinheiro; sabem que quem acumula tesouros para si não
enriquece diante de Deus (cf. Lc 12, 21). Pelo contrário: julgam que o Senhor é
o tesouro da vida e o amor ao próximo a única fonte verdadeira de lucro. Às
vezes, ficamos descontentes por algo que nos falta ou preocupados se não somos
considerados como gostaríamos; recordemos que a nossa bem-aventurança não consiste
nisto, mas no Senhor e no amor: só com Ele, só amando vivemos felizes.
Por fim, gostaria de citar mais uma bem-aventurança,
que não se encontra no Evangelho, mas na conclusão da Bíblia e fala do final da
vida: «Felizes os mortos que morrem no Senhor» (Ap 14, 13). Amanhã, seremos
chamados a acompanhar, com a oração, os nossos defuntos, para que rejubilem
para sempre no Senhor. Recordemos com gratidão os nossos queridos e oremos por
eles.
Que a Mãe de Deus, Rainha dos Santos e Porta do Céu,
interceda pelo nosso caminho de santidade e pelos nossos queridos que nos
precederam e já partiram para a Pátria celeste. (cf.
Santa Sé)