- na Audiência-Geral, no dia 22 de Novembro, na Praça de São
Pedro – Roma
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguindo as catequeses sobre a Missa, podemos
questionar-nos: o que é, no essencial, a Missa? A Missa é o memorial do
Mistério Pascal de Cristo. Ela torna-nos participantes da sua vitória sobre o
pecado e a morte e confere pleno significado à nossa vida.
Por esta razão, a fim de compreender o valor da Missa,
devemos entender, em primeiro lugar, o significado bíblico do “memorial”. Ele
«não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas eles tornam-se,
de certo modo, presentes e actuais. É assim que Israel entende a sua libertação
do Egipto: sempre que se celebra a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo tornam-se
presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles a sua vida»
(Catecismo da Igreja Católica, 1363). Jesus Cristo - com a sua paixão, morte,
ressurreição e ascensão ao céu - levou a cumprimento a Páscoa. E a Missa é o
memorial da sua Páscoa, do seu “êxodo”, que cumpriu por nós, para nos fazer
sair da escravidão e nos introduzir na terra prometida da vida eterna. Não é
somente uma lembrança: não! É mais do que isso: significa evocar o que aconteceu
há vinte séculos.
A Eucaristia leva-nos sempre ao ponto mais alto da acção
de salvação de Deus: o Senhor Jesus, tornando-se pão partido para nós, derrama
sobre nós toda a sua misericórdia e o seu amor, como fez na cruz, de modo a
renovar o nosso coração, a nossa existência e a nossa forma de nos relacionarmos
com Ele e com os irmãos. O Concílio Vaticano II afirma: «Sempre que no altar se
celebra o sacrifício da cruz, na qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado,
realiza-se também a obra da nossa redenção» (Cost. dogm. Lumen gentium, 3).
Cada celebração da Eucaristia é um raio daquele sol
sem ocaso que é Jesus ressuscitado. Participar na Missa, em particular aos
domingos, significa entrar na vitória do Ressuscitado; ser iluminados pela sua
luz; abrasados pelo seu calor. Através da celebração eucarística, o Espírito
Santo torna-nos participantes da vida divina que é capaz de transfigurar todo o
nosso ser mortal. E, na sua passagem da morte para a vida, do tempo para a
eternidade, o Senhor Jesus arrasta-nos, também, com Ele para fazer a Páscoa. Na
Missa, faz-se a Pascoa. Nós, na Missa, estamos com Jesus, morto e ressuscitado
e Ele arrasta-nos em frente, para a vida eterna. Na Missa, unimo-nos a Ele.
Aliás, Cristo vive em nós e nós vivemos n’Ele: «Estou crucificado com Cristo -
diz Paulo -, já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. A minha vida
presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou
por mim» (Gl 2, 19-20). Paulo pensava desta forma.
Com efeito, o seu sangue liberta-nos da morte e do
medo da morte. Liberta-nos não só do domínio da morte física, mas da morte
espiritual que é o mal, o pecado, que se apodera de nós todas as vezes que
somos vítimas do pecado nosso e alheio. E, então, a nossa vida é contaminada,
perde beleza, perde significado, desflorece.
Ao contrário, Cristo restitui-nos a vida; Cristo é a
plenitude da vida e, quando enfrentou a morte, aniquilou-a para sempre:
«ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou vida», confessa a Igreja
celebrando a Eucaristia (Oração eucarística IV). A Páscoa de Cristo é a vitória
definitiva sobre a morte, porque Ele transformou a sua morte em acto supremo de
amor. Morreu por amor! E na Eucaristia, Ele quer comunicar-nos este seu amor
pascal, vitorioso. Se o recebermos com fé, também nós podemos amar
verdadeiramente a Deus e ao próximo; podemos amar como Ele nos amou, oferecendo
a vida.
Se o amor de Cristo estiver em mim, posso doar-me
plenamente ao outro, na certeza interior de que, mesmo se o outro me ferir, eu
não morrerei; caso contrário, teria que me defender. Os mártires ofereceram a
sua vida devido a esta certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Só se experimentarmos
este poder de Cristo, o poder do seu amor, seremos realmente livres de nos doarmos
sem medo. É este o significado da Missa: entrar nesta paixão, morte, ressurreição,
ascensão de Jesus. Quando vamos à Missa é como se fôssemos ao calvário: é a
mesma coisa. Mas, pensai: no momento da Missa vamos ao calvário - usemos a
imaginação - e sabemos que o homem que ali está é Jesus. Sabendo isso, será que
nos permitiríamos conversar, tirar fotografias, dar um pouco de espectáculo?
Não! Porque é Jesus! Certamente, estaríamos em silêncio, no pranto e, também,
na alegria de sermos salvos. Quando entrarmos na Igreja para celebrar a Missa,
pensemos nisto: entro no calvário, onde Jesus oferece a sua vida por mim. E,
assim, desaparece o espectáculo, desaparecem as tagarelices e os comentários.
Estas coisas afastam-nos de algo tão bonito que é a Missa, o triunfo de Jesus.
Penso que agora ficou mais claro como a Páscoa se
torna presente e operante todas as vezes que celebramos a Missa, e este é o
sentido do memorial. A participação na Eucaristia faz-nos entrar no mistério
pascal de Cristo, concedendo-nos a oportunidade de passar, com Ele, da morte à
vida, ali no calvário. A Missa é refazer o calvário, não é um espectáculo. (cf. Santa Sé)