BEATA MARIA ROSA DE JESUS PELLESI
Bruna Pellesi nasceu no dia 11 de Novembro de 1917, em
Prignano sulla Secchia, em Itália. Desde criança, era dotada de grande beleza,
elegância, bom humor, doçura, alegria e muita paz. Aos 17 anos, despertou para o
amor. A sua existência parecia ter tomado o caminho da plena realização e da
felicidade. Este binómio - amor-felicidade - era o sonho que acalentava com
todo o seu entusiasmo. Mas, deste mesmo sonho, Deus, com toda a exuberância do
seu amor, traçou para ela, de um modo inesperado, um outro caminho. Nos seus
sonhos, nas suas expectativas, surgiram dois protagonistas que, no íntimo do
seu coração, geraram uma luta "difícil e profunda": seguir os anseios
do seu coração: que lhe segredavam a felicidade de um amor partilhado na
família; a alegria de uma realização profissional; o desafio de uma profunda
inserção na sociedade para se dedicar ao bem comum, ou os da sua alma: que a
desafiavam a ouvir a voz do Senhor; a deixar tudo para O seguir; a dedicar-se
completa e radicalmente ao Seu projecto de vida e de amor incondicional a
Cristo? Tratava-se de fazer as contas com dois "galanteios", para
decidir se, e por quem, deixar-se seduzir. No fim, tratou-se de uma escolha de
êxito previsto, pois, em todo o caso, teria sido um ceder ao amor e cair nos
braços do amado. Contudo, este novo amor configurou-se como chamada e
pressentimento de um misterioso dom. Bruna acabou por ceder ao Amor, àquele
amor maior e que se sente com mais força.
Com um sonho a realizar, chegou à casa das Irmãs
Franciscanas de Santo Onofre, em Rímini, Itália, fundadas, em 1885, por
Faustina – filha dos Condes Zavagli - nobre de família e ainda mais de ânimo que,
como religiosa, recebeu o nome de Irmã Teresa de Jesus Crucificado. Mais tarde,
por sugestão da própria Irmã Maria Rosa Pellesi, esta Congregação mudou de nome
e, actualmente, chamam-se Irmãs Franciscanas Missionárias de Cristo.
O coração faz as suas escolhas sofridas, que só o Amor
maior consegue explicar e permite realizar. E a Irmã Maria Rosa de Jesus
Pellesi, aos 22 anos, sem qualquer hesitação, obedeceu a este imperativo
absoluto.
De 1940 a 1942, Bruna Pellesi permaneceu em formação.
Foram anos do silêncio e da fadiga, da sementeira e da expectativa. O trabalho
era interior, desenvolvido nas profundezas do coração. Dessa sementeira, feita
em profundidade e no escondimento, ver-se-iam os frutos mais tarde. De facto,
quando a tempestade da dor a surpreendeu, suportou o choque sem esmorecer,
perdendo algumas folhas, mas nunca a raiz e a serenidade.
No mês de Novembro de 1945, entrou, definitivamente,
no sanatório, devido à tuberculose que a tinha contagiado. Tinha apenas 27 anos
dos quais 22 tinham sido vividos no seio da sua família e 5 no convento. Ela
ainda não sabia, mas restavam-lhe exactamente outros 27 anos, que seriam
vividos inteiramente no sanatório. Dentro deste ‘claustro’, não escolhido nem
previsto, aconteceu-lhe de tudo: chorou e sorriu, venceu a monotonia com a
escuta e o amor, transformou o ordinário em extraordinário, fez grandes as
mínimas coisas. Lá o seu dom nutriu-se da dor, o seu sorriso alimentou-se da
doença e a sua felicidade de lágrimas. Livre e grande, desde o início até ao
fim, permaneceu-lhe o coração. E isto foi suficiente para voar alto, para
sonhar o sol, transfigurar os seus dias e inebriar-se de felicidade e, sem
algum rumor, fazer-se santa.
A sua vida foi, claramente, dividida em duas partes.
Os primeiros 27 anos, maravilhosos como os lírios do campo, foram um sonho e passaram
rapidamente. Os outros 27, pesados e intermináveis, entrelaçados do início ao
fim com a doença, serviram-lhe para se realizar. Ambos foram ligados pela mesma
força: fazer a vontade de Deus e fazer-se santa a qualquer preço. Este foi o
tesouro que, com fadiga e sem deixar ver, procurou, encontrou e conservou.
Fê-lo entre lágrimas e sorrisos, densas sombras e fendas de luz, às vezes
suspensa entre o céu e a terra, grandeza e pobreza, oscilando sem parar dos
abismos aos cimos, mas sempre com as mesmas invencíveis paixão e paciência.
O mais curioso, em todas estas vicissitudes, é que a
Irmã Maria Rosa passou a sua vida a falar de alegria, de paz, de serenidade, de
amor e de felicidade para descrever a sua experiência: sentia-se "quase
atordoada de alegria" por um "dom tão grande"; "não pude
deixar de chorar pensando na bondade misericordiosa de Deus". A sua saúde
era muito precária, mas ela dizia: "o meu coração canta e sou muito
feliz!".
A Irmã Maria Rosa de Jesus Pellesi faleceu no dia 1 de
Dezembro de 1972. Fechou os seus olhos na terra para os abrir no céu. O seu
sorriso celeste transfigurou a noite sem fim do seu calvário na manhã do oitavo
dia e no alvorecer da esperança!
Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 29 de
Abril de 2007, na Catedral de Rimini, Itália, numa celebração presidida, em
nome do Papa, pelo Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para
as Causas dos Santos. Na homilia, o Cardeal Saraiva Martins disse: “… Este
quarto domingo da Páscoa é chamado do "Bom Pastor" devido ao trecho
evangélico proposto, no qual aparece a alegoria ou comparação do pastor. Neste
contexto litúrgico, celebra-se o Dia Mundial de Oração pelas Vocações(…)
Os três verbos pronunciados por Jesus são de acção
muito personalizada: escutar, conhecer e seguir com os quais indica o movimento
da fé que pode preencher a nossa necessidade de vida plena e feliz à qual
aspiramos. Através desta constelação de palavras, ligadas entre si por um fio
luminoso e espiritual, pode-se construir a história integral da vocação cristã.
Em especial, como veremos daqui a pouco, nelas podemos encontrar traçado o
caminho que levou a nova Beata Maria Rosa Pellesi à santidade. (…)
Todos nós, caríssimos fiéis, fomos colocados pelas
mãos do Pai Bom nas mãos do Pastor Bom e chamados a alcançar quantos nos
precederam na vitalidade da fé, aqueles "com palmas nas suas mãos"
(Ap 7, 9). É a palma que Jesus entrega, através da Igreja, à sua esposa Rosa
Pellesi, ao beatificar esta religiosa pouco conhecida, talvez, mas que agora
poderá difundir o fascínio que promana do seu caminho de virgem franciscana.
Nas mãos do Senhor Crucificado e Ressuscitado Rosa
Pellesi manteve-se sempre e pela mão do Filho de Deus Vivo fez-se orientar,
sustentar, sem jamais se perder e fazendo de modo que não se desatasse o
vínculo de Cristo, ao qual estava ligada, tornando-se uma obra-prima de humanidade
e amor, de abandono e obediência, de mansidão e fortaleza.
A Palavra de Deus da hodierna liturgia é a moldura
ideal, como se tivesse sido escolhida de propósito, para colocar a Beata Maria
Rosa Pellesi, que ilumina a santidade da sua vida, revestindo-a de luz
evangélica.
Nos longos 27 anos de vida no sanatório, obrigada à
reclusão forçada mas heroicamente acolhida, desdobra-se nela o abismo do
Mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo que se transmite a ela e,
como tal, chama-a a passar através da grande tribulação, deixando que as suas
vestes fossem lavadas, tornadas cândidas com o sangue do Cordeiro a quem Maria
Rosa une, sem reservas, o seu holocausto, segundo quanto nos apresentou, na
segunda leitura, a esplêndida página do Apocalipse.
Basta pensar que as costas da encantadora moça de
Pigneto foi perfurada não por centenas, mas por milhares de toracocenteses para
a extracção do líquido contido na cavidade pleural, sem que jamais -
testemunham-no os médicos ainda vivos - tenha saído um só lamento da sua boca.
Era identificada no silêncio de Jesus, o cordeiro mudo
conduzido ao matadouro, segundo a narração de Isaías: "Foi maltratado e
resignou-se, não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha
emudecida nas mãos do tosquiador" (Is 53, 7).
Como símbolo da crucifixão da sua carne
permaneceu-lhe, por 17 anos, cravado no tórax, um fragmento de agulha, quebrada
devido a um erro médico, durante a quotidiana extracção. A este fragmento, a
Irmã Maria Rosa, em atitude de profunda humildade, chamava "a minha
lança". A crucifixão, na imagem da Irmã Maria Rosa aqui exposta, está
simbolizada pela coroa de espinhos que, com feliz intuição, lhe foi colocada
sobre o peito no acto de apertar-lhe o coração.
São Paulo recordou-nos na primeira Leitura, que
acabámos de ouvir: "Estabeleci-te como luz das nações, para levares a
salvação até aos confins da Terra". A Beata Maria Rosa, embora fechada num
angustioso hospital, pairava com o anseio missionário de Cristo sobre a humanidade
e dizia: "Gostaria de abraçar o mundo", e antes de morrer exclamou:
"mando um beijo a toda a humanidade".
É o seu grito de missionária do amor; é o
completamento em si daquilo que falta à paixão de Cristo e ao sonho de Cristo
para que n'Ele todos sejamos um só.
Se existe um sinal imediato de reconhecimento da Irmã
Maria Rosa este é certamente o sorriso que se tornava a primeira caridade para
quem vivia com ela, mas que se traduzia também em gestos humanos humilíssimos e
fortes de escuta, paciência, serviço que lhe requeriam um preço elevado de
abnegação e de dom de si: "O meu coração está apertado, não obstante eu
sou feliz, muito feliz; iniciei a minha vida, no sanatório, chorando; mas pedi
ao Bom Deus para a terminar cantando as suas misericórdias".
No cortejo das santas Virgens que seguem o Cordeiro
onde quer que Ele vá acrescentou-se uma nova presença: a Beata Maria Rosa,
sinal certo de que a orientação seguida por ela leva deveras à autêntica
santidade.
A Beata Maria Rosa, colocada pela Igreja sobre o
candelabro, exorta-nos à esperança e a não nos deixarmos esmorecer pelos nossos
limites e culpas, porque Deus nada deixa incompleto. Rezemos também nós, como
ela pedia para si mesma: "Que Jesus Senhor aja em mim, a fim de construir,
sobre os escombros da minha miséria, aquela obra-prima que Ele determinou desde
a Eternidade". A obra-prima da perfeição evangélica, a obra-prima da
própria santificação…”
A memória litúrgica da Beata Maria Rosa de Jesus
Pellesi celebra-se no dia 1 de Dezembro.