- na Homilia da Missa com os Jovens de Myanmar, no dia 30 de
Novembro, na Catedral de Santa Maria - Yangon
Quando já se aproxima do fim a minha visita à vossa
linda terra, uno-me convosco para agradecer a Deus pelas muitas graças que
recebemos nestes dias. Contemplando-vos a vós, jovens do Myanmar, e a todos
aqueles que nos acompanham fora desta catedral, quero partilhar uma frase, da
primeira Leitura de hoje, que ressoa dentro de mim. Tirada do profeta Isaías, é
retomada por São Paulo na sua carta à jovem comunidade cristã de Roma.
Escutemos, uma vez mais, estas palavras: «Como são bem-vindos os pés dos que
anunciam as boas-novas!» (Rm 10, 15; cf. Is 52, 7)
Queridos jovens do Myanmar: desejo aplicar a vós estas
palavras depois de ter ouvido as vossas vozes, hoje, enquanto cantáveis. Sim,
bem-vindos são os vossos pés, e é bom e encorajador ver-vos, porque nos
anunciais «uma boa-nova», a boa-nova da vossa juventude, da vossa fé e do vosso
entusiasmo. Claro, vós sois uma boa-nova, porque sois sinais concretos da fé da
Igreja em Jesus Cristo, que nos traz uma alegria e uma esperança que jamais
terão fim.
Alguns interrogam-se: como é possível falar de
boas-novas quando tantos sofrem, ao nosso redor? Onde estão as boas-novas,
quando tanta injustiça, pobreza e miséria estende a sua sombra sobre nós e o
nosso mundo? Contudo, gostaria que, deste lugar, partisse uma mensagem muito
clara. Gostaria que as pessoas soubessem que vós, homens e mulheres jovens do
Myanmar, não tendes medo de acreditar na boa-nova da misericórdia de Deus,
porque essa boa-nova tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. Como mensageiros
desta boa-nova, estais prontos a anunciar uma palavra de esperança à Igreja, ao
vosso país, ao mundo inteiro. Estais prontos a anunciar a boa-nova aos irmãos e
irmãs que sofrem e precisam das vossas orações e da vossa solidariedade, mas
também da vossa paixão pelos direitos humanos, pela justiça e pelo crescimento
daquilo que Jesus dá: amor e paz.
Mas, gostaria, também, de vos propor um desafio.
Ouvistes com atenção a primeira Leitura? Nela, São Paulo repete três vezes a
palavra «sem». É uma palavra pequena, mas que nos faz pensar sobre o nosso
lugar no projecto de Deus. De facto, Paulo formula três perguntas que eu
gostaria de colocar, pessoalmente, a cada um de vós. A primeira: «Como hão-de
acreditar sem terem ouvido falar d’Ele?» A segunda: «Como hão-de ouvir falar,
sem um mensageiro que O anuncie?» A terceira: «Como há-de um mensageiro
anunciar, sem ser enviado?» (cf. Rm 10, 14-15).
Gostaria que todos vós pensásseis, profundamente,
nestas três questões. Mas, não tenhais medo! Como pai (talvez fosse melhor
dizer avô!) benévolo, não quero deixar-vos sozinhos perante tais perguntas.
Permiti oferecer-vos alguns pensamentos que vos podem guiar no caminho da fé e
ajudar-vos a discernir aquilo que o Senhor está a pedir-vos.
A primeira pergunta de São Paulo é: «Como hão-de acreditar
sem terem ouvido falar d’Ele?». O nosso mundo está cheio de tantos ruídos e
distrações que podem sufocar a voz de Deus. Para que outros sejam chamados a
ouvir falar d’Ele e a crer n’Ele, precisam de O encontrar em pessoas que sejam
autênticas, pessoas que sabem como ouvir. Certamente, é o que vós quereis ser.
Mas, só o Senhor pode ajudar-vos a ser genuínos. Por isso, falai com Ele na
oração. Aprendei a ouvir a sua voz, falando serenamente com Ele no íntimo do
vosso coração.
Mas, falai também com os Santos, com os nossos amigos
no Céu que vos podem inspirar. Como Santo André, que hoje festejamos. Era um
simples pescador e tornou-se um grande mártir, uma testemunha do amor de Jesus.
Mas, antes de se tornar um mártir, cometeu os seus erros e precisou de ser
paciente, aprendendo gradualmente como ser um verdadeiro discípulo de Cristo.
Também vós, não tenhais medo de aprender com os vossos erros! Possam os Santos
guiar-vos até Jesus, ensinando-vos a colocar as vossas vidas nas mãos d’Ele.
Sabeis que Jesus é cheio de misericórdia. Então, partilhai com Ele tudo o que
tendes no coração: os medos e as preocupações, os sonhos e as esperanças.
Cultivai a vida interior, como faríeis com um jardim ou um campo. Isso requer
tempo, requer paciência. Mas, como um agricultor sabe esperar o crescimento da
seara, assim também a vós: se tiverdes paciência, o Senhor conceder-vos-á a
graça de produzir muito fruto, um fruto que depois podereis partilhar com os
outros.
A segunda pergunta de Paulo é: «Como hão-de ouvir
falar, sem um mensageiro que O anuncie?». Eis aqui uma grande tarefa, confiada
especialmente aos jovens: ser «discípulos missionários», mensageiros da
boa-nova de Jesus, sobretudo para os da vossa idade e os vossos amigos. Não
tenhais medo de gerar confusão, de colocar perguntas que levem as pessoas a
pensar! Nem tenhais medo se, às vezes, notardes que sois poucos e dispersos por
aqui e por ali. O Evangelho cresce sempre a partir de pequenas raízes. Por
isso, fazei-vos ouvir! Gostaria de vos pedir para gritar, mas não com a voz;
gostaria que gritásseis com a vida, com o coração, de modo a ser sinais de esperança
para quem está desanimado; uma mão estendida para quem está doente; um sorriso
acolhedor para quem é estrangeiro; um apoio carinhoso para quem está sozinho.
A última pergunta de Paulo é: «Como há-de um
mensageiro anunciar, sem ser enviado?». No final da Missa, seremos todos
enviados a partilhar com os outros os dons que recebemos. Isto poderia ser um
pouco desanimador, já que nem sempre sabemos aonde nos pode enviar Jesus. Mas,
Ele nunca nos envia sem, ao mesmo tempo, caminhar ao nosso lado e sempre um
pouco à nossa frente, para nos introduzir em novas e magníficas partes do seu
Reino.
No Evangelho de hoje, como é que o Senhor envia André
e o seu irmão Simão Pedro? Dizendo-lhes: «Segui-Me» (Mt 4, 19). Eis aqui o que
significa o envio: não atirar-se para a frente com as próprias forças, mas
seguir Cristo! O Senhor convidará alguns de vós a segui-Lo como sacerdotes,
tornando-se assim «pescadores de homens». A outros, chamá-los-á para se
tornarem pessoas consagradas. E, a outros ainda, chamá-los-á à vida matrimonial
para serem pais e mães amorosos. Seja qual for a vossa vocação, exorto-vos:
sede corajosos!… Sede generosos e, sobretudo, sede alegres!
Aqui, nesta linda catedral, dedicada à Imaculada
Conceição, encorajo-vos a olhar para Maria. Quando disse sim à mensagem do
anjo, Ela era jovem como vós. Mas, teve a coragem de confiar na boa-nova que
ouvira e de a traduzir numa vida de fiel dedicação à sua vocação, de total
doação de Si mesma e de completo abandono à solicitude amorosa de Deus. Como
Maria, possais ser todos dóceis mas corajosos em levar Jesus e o seu amor aos
outros!
Queridos jovens, com grande afecto, confio todos vós e
vossas famílias à sua intercessão materna. E peço, por favor, que vos lembreis
de rezar por mim. Myanmar pyi ko Payarthakin Kaung gi pei pa sei [Deus abençoe
o Myanmar]! (cf. Santa Sé)