PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “…Vigiai… Estai preparados” (cf. Mateus 24, 37-44) Hoje começamos o caminho do Advento, que culminará no Natal. O Advento é o tempo que nos é concedido para acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, também para verificar o nosso desejo de Deus, para olhar em frente e nos preparar ao regresso de Cristo. Ele voltará a nós na festa do Natal, quando fizermos memória da sua vinda histórica na humildade da condição humana; mas vem dentro de nós todas as vezes que estamos dispostos a recebê-lo, e virá de novo no fim dos tempos para «julgar os vivos e os mortos». Por isso, devemos estar vigilantes e esperar o Senhor com a expetativa de o encontrar. A liturgia hodierna introduz-nos precisamente neste tema sugestivo da vigilância e da expetativa. No Evangelho (cf. Mc 13, 33-37) Jesus exorta a prestar atenção e a vigiar, a fim de estarmos prontos para o acolher no momento do regresso. Diz-nos: «Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo [...]; vigiai, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo» (vv. 33-36). A pessoa atenta é a que, em meio ao barulho do mundo, não se deixa tomar pela distração ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação voltada antes de tudo aos outros. Com esta atitude percebemos as lágrimas e as necessidades do próximo e podemos dar-nos conta também das suas capacidades e qualidades humanas e espirituais. A pessoa atenta também se preocupa com o mundo, procurando contrastar a indiferença e a crueldade presentes nele, e alegrando-se pelos tesouros de beleza que contudo existem e devem ser preservados. Trata-se de ter um olhar de compreensão para reconhecer quer as misérias e as pobrezas dos indivíduos e da sociedade, quer a riqueza escondida nas pequenas coisas de cada dia, precisamente ali onde nos colocou o Senhor. A pessoa vigilante é a que aceita o convite a vigiar, ou seja, a não se deixar dominar pelo sono do desencorajamento, da falta de esperança, da desilusão; e ao mesmo tempo, rejeita a solicitação de tantas vaidades de que o mundo está cheio e atrás das quais, por vezes, se sacrificam tempo e serenidade pessoal e familiar. É a experiência dolorosa do povo de Israel, narrada pelo profeta Isaías: Deus parecia ter deixado desviar para longe dos seus caminhos o seu povo (cf. 63, 17), mas estes era um efeito da infidelidade do próprio povo (cf. 64, 4b). Também nós encontramo-nos frequentemente nesta situação de infidelidade à chamada do Senhor: Ele indica-nos o caminho bom, o caminho da fé, o caminho do amor, mas nós procuramos a nossa felicidade noutro lugar. Estar atentos e vigilantes são os pressupostos para não continuar a “desviar para longe dos caminhos do Senhor”, perdidos nos nossos pecados e nas nossa infidelidades; estar atentos e ser vigilantes são as condições para permitir que Deus irrompa na nossa existência, para lhe restituir significado e valor com a sua presença cheia de bondade e ternura. Maria Santíssima, modelo na expetativa de Deus e ícone da vigilância, nos guie ao encontro do filho Jesus, revigorando o nosso amor por Ele. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, na Praça de São Pedro, Roma, no dia 3 de Dezembro de 2017)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO


- na Audiência - Geral, na Praça de São Pedro, Roma no dia 6 de Dezembro

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, gostaria de falar sobre a viagem apostólica que realizei recentemente ao Myanmar e ao Bangladesh. Foi um grande dom de Deus e, por isso, dou-lhe graças por todas as coisas, especialmente pelos encontros que pude realizar. Renovo a expressão da minha gratidão às autoridades dos dois países e aos respectivos Bispos, por todo o trabalho de preparação e pelo acolhimento reservado a mim e aos meus colaboradores. Desejo transmitir um sentido “obrigado” ao povo birmanês e bengalês, que me demonstraram tanta fé e muito afecto: obrigado!
Pela primeira vez, um sucessor de Pedro visitou o Myanmar e isto aconteceu pouco depois de terem sido estabelecidas relações diplomáticas entre esse país e a Santa Sé.
Desejei, também neste caso, exprimir a proximidade de Cristo e da Igreja a um povo que sofreu devido a conflitos e repressões e que, agora, está a caminhar lentamente rumo a uma nova condição de liberdade e de paz. Um povo no qual a religião budista está fortemente radicada, com os seus princípios espirituais e éticos, e onde os cristãos estão presentes como pequeno rebanho e fermento do Reino de Deus. Tive a alegria de confirmar na fé e na comunhão esta Igreja, viva e fervorosa, durante o encontro com os Bispos do país e nas duas celebrações eucarísticas. A primeira foi no parque desportivo, no centro de Yangon, e o Evangelho daquele dia recordou que as perseguições, por causa da fé em Jesus, são normais para os discípulos, como ocasião de testemunho, mas que “nem sequer um fio de cabelo lhes será tocado” (cf. Lc 21, 12-19). A segunda Missa, último acto da visita a Myanmar, foi dedicada aos jovens: um sinal de esperança e um dom especial da Virgem Maria, na catedral que tem o seu nome. Nos rostos daqueles jovens, cheios de alegria, vi o futuro da Ásia: um futuro que não será de quem fabrica armas, mas de quem semeia fraternidade. E, sempre em sinal de esperança, benzi as primeiras pedras de 16 igrejas, do seminário e da nunciatura: dezoito!
Além da Comunidade católica, pude encontrar-me com as Autoridades de Myanmar, encorajando os esforços de pacificação do país e fazendo votos para que todos os vários componentes da nação, sem excluir ninguém, possam cooperar para tal processo, no respeito recíproco. Neste espírito, quis encontrar-me com os representantes das diversas comunidades religiosas presentes no país. Em particular, ao Supremo Conselho dos monges budistas manifestei a estima da Igreja pela sua antiga tradição espiritual e a confiança de que cristãos e budistas, juntos, possam ajudar as pessoas a amar a Deus e ao próximo, rejeitando qualquer violência e opondo-se ao mal com o bem.
Ao deixar Myanmar, fui ao Bangladesh, onde o meu primeiro gesto foi prestar homenagem aos mártires da luta pela independência e ao “Pai da Nação”. A população do Bangladesh é, em grande parte, de religião muçulmana e, por conseguinte, a minha visita - depois das do beato Paulo VI e de São João Paulo II - deu um ulterior passo a favor do respeito e do diálogo entre o cristianismo e o islão.
Recordei às Autoridades do país que a Santa Sé apoiou, desde o início, a vontade do povo bengalês de se constituir como nação independente, assim como a exigência de que nela seja sempre tutelada a liberdade religiosa. Em particular, quis exprimir solidariedade ao Bangladesh no seu compromisso de socorrer os refugiados Rohingyas, que afluem em massa ao seu território, onde a densidade demográfica é já uma das mais elevadas do mundo.
A Missa celebrada num histórico parque de Daca foi enriquecida com a Ordenação de dezasseis sacerdotes: este foi um dos eventos mais significativos e jubilosos da viagem. De facto, tanto no Bangladesh como em Myanmar, e nos outros países do sudeste asiático, graças a Deus, não faltam vocações, sinal de comunidades vivas, nas quais ressoa a voz do Senhor que chama para o seguir. Partilhei esta alegria com os Bispos do Bangladesh e encorajei-os no seu generoso trabalho em prol das famílias, dos pobres, da educação, do diálogo e da paz social. E partilhei esta alegria com muitos sacerdotes, consagradas e consagrados do país, assim como com os seminaristas, as noviças e os noviços, nos quais vi rebentos da Igreja, naquela terra.
Em Daca vivemos um momento forte de diálogo inter-religioso e ecuménico, que me deu a oportunidade de evidenciar a abertura do coração como base da cultura do encontro, da harmonia e da paz. Também visitei a “Casa Madre Teresa”, onde a santa se hospedava quando ia àquela cidade, e que acolhe muitos órfãos e pessoas com deficiência. Lá, segundo o seu carisma, as religiosas vivem cada dia a oração de adoração e o serviço a Cristo, pobre e sofredor. E nunca falta, nos seus lábios, o sorriso: religiosas que rezam muito, que servem os sofredores e mantêm continuamente o sorriso. É um bonito testemunho. Agradeço muito a estas irmãzinhas.
O último evento foi com os jovens bengaleses, rico de testemunhos, cantos e danças. Mas como dançam bem, esses bengaleses! Sabem dançar bem! Uma festa que manifestou a alegria do Evangelho recebido por aquela cultura: uma alegria fecundada pelos sacrifícios de tantos missionários, catequistas e pais cristãos. No encontro estavam presentes, também, jovens muçulmanos e de outras religiões: um sinal de esperança para o Bangladesh, para a Ásia e para o mundo inteiro. Obrigado. (cf. Santa Sé)