- na Audiência - Geral, na Praça de São Pedro, Roma no dia 20
de Dezembro
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de entrar no concreto da celebração
eucarística. A Missa é composta por duas partes: a Liturgia da Palavra e a
Liturgia Eucarística, tão estreitamente unidas entre si, que formam um único acto
de culto (cf. Sacrosanctum concilium, 56;
Ordenamento Geral do Missal Romano, 28). Portanto,
iniciada por alguns ritos preparatórios e concluída por outros, a celebração é
um único corpo que não se pode separar. Mas, para uma melhor compreensão,
procurarei explicar os seus vários momentos, cada um dos quais é capaz de tocar
e abranger uma dimensão da nossa humanidade. É necessário conhecer estes santos
sinais para viver plenamente a Missa e apreciar toda a sua beleza.
Quando o povo está reunido, a celebração começa com os
ritos introdutórios, que incluem a entrada dos celebrantes ou do celebrante; a
saudação “O Senhor esteja convosco” ou “A paz esteja convosco”; o acto
penitencial com a oração “Confesso”, na qual pedimos perdão pelos nossos
pecados; o Kyrie eleison; o hino do Glória e a oração colecta. Chama-se “oração
colecta” não porque ali se faz a colecta das ofertas, mas a colecta das
intenções de oração de todos os povos. E esta colecta da intenção dos povos eleva-se
ao céu como uma prece. A finalidade destes ritos introdutórios é fazer com «que
os fiéis reunidos formem comunidade e se predisponham a ouvir, com fé, a
palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 46). Não é um bom hábito olhar para o relógio e dizer:
“Estou a tempo, chego depois do sermão e assim cumpro o preceito”. A Missa
começa com o sinal da cruz, com estes ritos introdutórios, porque ali começamos
a adorar a Deus como comunidade. E, por isso, é importante procurar não chegar
atrasado mas, pelo contrário, devemos chegar antecipadamente, a fim de preparar
o coração para este rito, para esta celebração da comunidade.
Geralmente, enquanto se executa o cântico de entrada,
o sacerdote com os outros ministros chega, processionalmente, ao presbitério e,
aqui, saúda o altar com uma inclinação e, em sinal de veneração, beija-o e,
quando há incenso, incensa-o. Porquê? Porque o altar é Cristo: é figura de
Cristo. Quando fitamos o altar, olhamos precisamente para onde está Cristo. O
altar é Cristo. Estes gestos, que correm o risco de passar despercebidos, são
muito significativos, porque exprimem, desde o início, que a Missa é um encontro
de amor com Cristo o qual, «oferecendo o seu corpo na cruz [...] se tornou altar,
vítima e sacerdote» (Prefácio pascal V). Com efeito, sendo sinal de Cristo, o altar «é o
centro da acção de graças que se realiza com a Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 296), com toda a comunidade em volta do altar, que é Cristo;
não para nos olharmos na cara, mas para fitar Cristo, porque Cristo está no
centro da comunidade e não longe dela.
Depois há o sinal da cruz. O sacerdote que preside faz
o sinal da cruz e, de igual modo, o fazem todos os membros da assembleia,
conscientes de que o acto litúrgico se realiza «em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo». E, aqui, quero referir um pormenor: Vedes como as crianças
fazem o sinal da cruz? Não sabem o que fazem: às vezes, fazem uma gatafunhada,
que não é o sinal da cruz. Por favor: mãe e pai, avós, ensinai às crianças,
desde o início - desde pequeninos - a fazer bem o sinal da cruz. E
explicai-lhes que isso significa ter a Cruz de Jesus como protecção. A Missa
começa com o sinal da cruz. Toda a oração move-se, por assim dizer, no espaço
da Santíssima Trindade - “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” - que
é espaço de comunhão infinita; tem como origem e fim o amor de Deus, Uno e
Trino, manifestado e doado a nós, na Cruz de Cristo. Com efeito, o seu mistério
pascal é dom da Trindade e a Eucaristia brota sempre do seu Coração
trespassado. Portanto, fazendo o sinal da cruz, não só recordamos o nosso Baptismo
mas, também, afirmamos que a prece litúrgica é o encontro com Deus, em Jesus
Cristo, que por nós se encarnou, morreu na cruz e ressuscitou glorioso.
Em seguida, o sacerdote dirige a saudação litúrgica,
com a expressão: «O Senhor esteja convosco», ou outra semelhante - existem
diversas - e a assembleia responde: «E com o teu espírito». Estamos em diálogo;
estamos no início da Missa e temos que pensar no significado de todos estes
gestos e palavras. Entramos numa “sinfonia”, na qual ressoam vários tons de
vozes, e inclusive momentos de silêncio, em vista de criar o “acordo” entre
todos os participantes, ou seja, de nos reconhecermos animados por um único
Espírito e por um mesmo fim. Com efeito, «a saudação sacerdotal e a resposta do
povo manifestam o mistério da Igreja congregada» (Ordenamento Geral do Missal
Romano, 50). Exprime-se assim a fé comum e o desejo recíproco de estar com o
Senhor e de viver a unidade com a humanidade inteira.
Esta é uma sinfonia orante, que se vai criando e
apresenta, logo a seguir, um momento muito comovedor, pois quem preside convida
todos a reconhecer os seus próprios pecados. Todos somos pecadores. Não sei,
talvez algum de vós não seja pecador... Se alguém não é pecador, levante a mão,
por favor; assim todos veremos. Mas não há mãos levantadas, está bem: tendes
uma boa-fé! Todos somos pecadores; é por isso que, no início da Missa, pedimos
perdão. É o acto penitencial. Não se trata apenas de pensar nos pecados
cometidos, mas muito mais: é o convite a confessar-nos pecadores, diante de
Deus e da comunidade - perante os irmãos - com humildade e sinceridade, como o
publicado no templo. Se, verdadeiramente, a Eucaristia torna presente o
Mistério pascal, ou seja, a passagem de Cristo da morte para a vida, então a
primeira coisa que devemos fazer é reconhecer quais são as nossas situações de
morte para poder ressuscitar com Ele para a nova vida. Isto leva-nos a
compreender como é importante o acto penitencial. E, por isso, retomaremos este
tema na próxima catequese.
Vamos, passo a passo, na explicação da Missa. Mas
recomendo-vos: por favor, ensinai bem as crianças a fazer o sinal da cruz! (cf. Santa Sé)