- na Audiência-Geral, na Praça de São Pedro , Roma, no dia 10
de Janeiro
Caríssimos
irmãos e irmãs, bom dia!
No
percurso das catequeses sobre a celebração eucarística, vimos que o ‘Acto
penitencial’ nos ajuda a despojar-nos das nossas presunções e a apresentar-nos
a Deus como realmente somos, conscientes de sermos pecadores, na esperança de
sermos perdoados.
Precisamente
do encontro entre a miséria humana e a misericórdia divina, adquire vida a gratidão
expressa no “Glória”, «um hino antiquíssimo e venerável, com o qual a Igreja,
congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro»
(Ordenamento Geral do Missal Romano, 53).
O
início deste hino — “Glória a Deus nas alturas” — retoma o cântico dos Anjos no
nascimento de Jesus, em Belém, anúncio jubiloso do abraço entre o céu e a
terra. Este cântico inclui-nos também a nós, reunidos em oração: «Gloria a Deus
nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade».
Após
o “Glória”, ou então, na sua ausência, imediatamente depois do ‘Acto
penitencial’, a oração adquire forma particular na prece denominada “colecta”,
por meio da qual se expressa o carácter próprio da celebração, que varia de
acordo com os dias e os tempos do ano (cf. ibid., 54). Mediante o convite
«oremos», o sacerdote exorta o povo a recolher-se com ele num momento de
silêncio, com a finalidade de tomar consciência de estar na presença de Deus e
fazer emergir, cada qual no próprio coração, as intenções pessoais com as quais
participa na Missa (cf. ibid., 54). O sacerdote diz «oremos»; e, depois, há um
momento de silêncio, e cada um pensa naquilo de que precisa; no que deseja
pedir, na oração.
O
silêncio não se reduz à ausência de palavras, mas consiste em predispor-se a
ouvir outras vozes: a do nosso coração e, sobretudo, a voz do Espírito Santo.
Na liturgia, a natureza do silêncio sagrado depende do momento em que se
realiza: «Durante o ‘Acto penitencial’ e após o convite à oração, ajuda ao
recolhimento; depois da leitura ou da homilia, é uma exortação a meditar,
brevemente, sobre o que se ouviu; após a Comunhão, favorece a prece interior de
louvor e de súplica» (ibid., 45). Portanto, antes da oração inicial, o silêncio
ajuda a recolher-nos em nós mesmos e a pensar por que estamos ali. Eis, então,
a importância de ouvir o nosso espírito para o abrir depois ao Senhor. Talvez
tenhamos vivido dias de cansaço, de alegria, de dor, e queremos dizê-lo ao
Senhor, invocar a sua ajuda, pedir que esteja próximo de nós; temos familiares
e amigos doentes, ou que atravessam provações difíceis; desejamos confiar a
Deus o destino da Igreja e do mundo. É para isto que serve o breve silêncio
antes que o sacerdote, recolhendo as intenções de cada um, recite em voz alta a
Deus, em nome de todos, a oração comum que conclui os ritos de introdução,
realizando precisamente a “colecta” das intenções individuais. Recomendo
vivamente aos sacerdotes que observem este momento de silêncio e não se
apressem: «oremos», e que se faça silêncio. Recomendo isto aos presbíteros. Sem
este silêncio, corremos o risco de descuidar o recolhimento da alma.
O
sacerdote recita esta súplica, esta oração de colecta, de braços abertos: é a
atitude do orante, assumida pelos cristãos desde os primeiros séculos — como
testemunham os frescos das catacumbas romanas — para imitar Cristo de braços
abertos no madeiro da cruz. Ali, Cristo é o Orante e, ao mesmo tempo, a oração!
No Crucificado, reconhecemos o Sacerdote que oferece a Deus o culto que lhe é
agradável, ou seja, a obediência filial.
No
Rito Romano, as orações são concisas, mas ricas de significado: podem fazer-se
muitas meditações bonitas sobre estas preces. Muito belas! Voltar a meditar os
seus textos, até fora da Missa, pode ajudar-nos a aprender como dirigir-nos a
Deus, o que pedir, que palavras usar. Possa a liturgia tornar-se para todos nós
uma verdadeira escola de oração. (cf.
Santa Sé)