- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 24 de Janeiro
Bom
dia, queridos irmãos e irmãs!
Esta
audiência realiza-se em dois lugares, ligados entre si: vós, aqui na Praça, e
um grupo de crianças doentes, que estão na Sala. Elas ver-vos-ão, e vós as
vereis: e, assim, estamos unidos. Saudemos as crianças que estão na Sala: achamos
melhor que não apanhassem frio, e é por isso que estão lá.
Regressei,
há dois dias, da Viagem Apostólica ao Chile e ao Peru. Um aplauso para o Chile
e para o Peru! Dois povos bons, bons... Dou graças ao Senhor porque tudo correu
bem: pude encontrar-me com o Povo de Deus em caminho naquelas terras —
inclusive com aqueles que não estão a caminho, que estão um pouco parados... mas,
são boa gente — e encorajar o desenvolvimento social daqueles países. Renovo a
minha gratidão às autoridades civis e aos irmãos Bispos - que me acolheram com
muita atenção e generosidade – e a todos os colaboradores e voluntários. Pensai
que, em ambos os países, havia mais de vinte mil voluntários: mais de vinte mil
no Chile e vinte mil no Peru. Boa gente: na maioria, jovens…
A
minha chegada ao Chile foi precedida por diversas manifestações de protesto,
por vários motivos, como lestes nos jornais. E isto tornou ainda mais actual e
vivo o lema da minha visita: «Mi paz os doy — Dou-vos a minha paz». São
palavras de Jesus, dirigidas aos discípulos, que repetimos em cada Missa: o dom
da paz, que somente Jesus morto e ressuscitado pode oferecer a quantos confiam
n’Ele. Nem só cada um de nós tem necessidade da paz; mas, também o mundo de
hoje, nesta terceira guerra mundial aos pedaços..., tem necessidade de paz.
Peço-vos: oremos pela paz!
No
encontro com as autoridades políticas e civis do país, encorajei o caminho da
democracia chilena, como espaço de encontro solidário e capaz de incluir as
diversidades; para esta finalidade, indiquei como método o caminho da escuta:
em particular, a escuta dos pobres, dos jovens e dos idosos, dos imigrantes e,
também, a escuta da terra.
Na
primeira Eucaristia, celebrada pela paz e pela justiça, ressoaram as
Bem-Aventuranças, especialmente: «Bem-aventurados os construtores da paz,
porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Uma Bem-Aventurança que deve
ser testemunhada com o estilo da proximidade, da vizinhança e da partilha,
fortalecendo, assim, com a graça de Cristo, o tecido da comunidade eclesial e
da sociedade inteira.
Neste
estilo de proximidade, contam mais as acções do que as palavras, e um gesto
importante que pude realizar foi visitar a prisão feminina de Santiago: o rosto
daquelas mulheres, muitas das quais jovens mães, com os seus filhinhos ao colo,
apesar de tudo exprimiam muita esperança. Encorajei-as a exigir, de si mesmas e
das instituições, um sério caminho de preparação para a reinserção, como
horizonte que dá sentido à pena quotidiana. Não podemos pensar num cárcere, em
qualquer prisão, sem esta dimensão da reinserção, porque se não houver esta
esperança da reinserção social, o cárcere será uma tortura infinita. Ao
contrário, quando nos esforçamos para reinserir — até os condenados à prisão
perpétua podem voltar a inserir-se — mediante o trabalho da prisão a favor da
sociedade, abre-se um diálogo. Mas, um cárcere deve ter sempre esta dimensão da
reinserção, sempre…
Com
os sacerdotes e os consagrados, e com os Bispos do Chile, vivi dois encontros
muito intensos, que se tornaram ainda mais fecundos pelo sofrimento partilhado
por causa de algumas feridas que afligem a Igreja, naquele país. Em particular,
confirmei os meus irmãos na rejeição de qualquer cumplicidade com os abusos
sexuais contra menores e, ao mesmo tempo, na confiança em Deus que, através
desta dura prova, purifica e renova os seus ministros.
As
outras duas Missas, no Chile, foram celebradas, uma no sul e a outra no norte.
No sul, na Araucanía, terra onde vivem os índios Mapuches, transformou em
alegria os dramas e as dificuldades deste povo, lançando um apelo a favor de
uma paz que seja harmonia das diversidades e da rejeição de toda a violência.
No norte, em Iquique, entre o oceano e o deserto, foi um hino ao encontro entre
os povos, que se exprime, de modo singular, na religiosidade popular.
Os
encontros com os jovens e com a Universidade Católica do Chile responderam ao
desafio crucial de conferir um sentido relevante à vida das novas gerações. Aos
jovens deixei a palavra programática de Santo Alberto Hurtado: “Que faria
Cristo no meu lugar?”. E à Universidade, propus um modelo de formação integral,
que traduz a identidade católica em capacidade de participar na construção de
sociedades unidas e plurais, onde os conflitos não são ocultados, mas geridos
no diálogo. Há sempre conflitos: até em casa; existem sempre. Mas, tratar mal
os conflitos é pior ainda. Não se devem esconder os conflitos debaixo da cama:
os conflitos que vêm à tona devem ser enfrentados e resolvidos mediante o
diálogo. Pensai nos pequenos conflitos que certamente tendes em casa: não
deveis escondê-los, mas enfrentá-los. Procurai o momento e falai entre vós: o
conflito resolve-se, assim, com o diálogo.
No
Peru, o lema da Visita foi: “Unidos por la esperanza — Unidos pela esperança”.
Unidos não numa uniformidade estéril, todos iguais: isto não é união; mas em
toda a riqueza das diferenças que herdamos da história e da cultura.
Testemunhou-o, emblematicamente, o encontro com os povos da Amazónia peruana,
que deu também início ao itinerário do Sínodo pan-amazónico, convocado para o
mês de Outubro de 2019, assim como o testemunharam os momentos vividos com a população
de Puerto Maldonado e com as crianças da Casa de acolhimento “O Principezinho”.
Juntos, dissemos “não” à colonização económica e à colonização ideológica.
Falando
às autoridades políticas e civis do Peru, apreciei o património ambiental,
cultural e espiritual daquele país, e pus em evidência as duas realidades que
mais gravemente o ameaçam: a degradação ecológico-social e a corrupção. Não sei
se, aqui, ouvistes falar de corrupção...não sei... Ela não existe só naqueles
lados: também aqui, e é mais perigosa que a gripe! Mistura-se e arruína os
corações. A corrupção arruína os corações. Por favor, não à corrupção! E
salientei que ninguém está isento da responsabilidade diante destes dois
flagelos, e que o compromisso para os contrariar diz respeito a todos.
A
primeira Missa pública, no Peru, celebrei-a à beira-mar, nos arredores da
cidade de Trujillo, onde a tempestade chamada “el Niño costeiro” atingiu, no
ano passado, duramente a população. Por isso, encorajei-a a reagir a essa e
também a outras tempestades, como a criminalidade, a falta de educação, de
trabalho e de alojamento seguro. Em Trujillo, encontrei-me também com os
sacerdotes e os consagrados do norte do Peru, partilhando com eles a alegria do
chamamento e da missão, e a responsabilidade da comunhão na Igreja. Exortei-os
a ser ricos de memória e fiéis às suas raízes. E entre estas raízes há a
devoção popular à Virgem Maria. Ainda em Trujillo, teve lugar a celebração
mariana durante a qual coroei a Virgem da Porta, proclamando-a “Mãe da
Misericórdia e da Esperança”.
O
último dia da viagem, domingo passado, passei-o em Lima, com um forte
significado espiritual e eclesial. No Santuário mais célebre do Peru, onde se
venera a pintura da Crucificação, chamada “Señor de los Milagros”, encontrei-me
com, aproximadamente, 500 religiosas de clausura, de vida contemplativa: um
verdadeiro “pulmão” de fé e de oração para a Igreja e para a sociedade inteira.
Na Catedral, realizei um especial acto de oração, por intercessão dos Santos
peruanos, seguindo-se o encontro com os Bispos do país, aos quais propus a
figura exemplar de São Turíbio de Mongrovejo. Também aos jovens peruanos
indiquei os Santos como homens e mulheres que não perderam tempo a “pintar” a
própria imagem, mas seguiram Cristo, que os fitou com esperança. Como sempre, a
palavra de Jesus dá sentido pleno a tudo, e assim também o Evangelho da última
celebração eucarística resumiu a mensagem de Deus ao seu povo, no Chile e no
Peru: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15). Assim — parecia
dizer o Senhor — recebereis a paz que Eu vos concedo e estareis unidos na minha
esperança. Eis, mais ou menos, o resumo desta minha viagem. Oremos por estas
duas nações irmãs, o Chile e o Peru, a fim de que o Senhor as abençoe. (cf.
Santa Sé)