- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro, Vaticano - Roma, no dia 7 de Fevereiro
Prezados
irmãos e irmãs, bom dia!
Continuemos
as catequeses sobre a Santa Missa. Tínhamos chegado às Leituras.
O
diálogo entre Deus e o seu povo, desenvolvido na Liturgia da Palavra da Missa,
alcança o ápice na proclamação do Evangelho. Precede-o o cântico do Aleluia —
ou então, na Quaresma, outra aclamação — com o qual «a assembleia dos fiéis
acolhe e saúda o Senhor que está prestes a falar no Evangelho». Do mesmo modo
que os mistérios de Cristo iluminam toda a revelação bíblica, assim, na
Liturgia da Palavra, o Evangelho constitui a luz para compreender o sentido dos
textos bíblicos que o precedem, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Com
efeito, «de toda a Escritura, assim como de toda a celebração litúrgica, Cristo
é o centro e a plenitude». Jesus Cristo está sempre no centro, sempre!...
Por
isso, a própria liturgia distingue o Evangelho das outras leituras,
circundando-o de honra e veneração especiais. Com efeito, a sua leitura é
reservada ao ministro ordenado, que no final beija o Livro; pomo-nos à escuta
de pé, traçando o sinal da cruz na testa, nos lábios e no peito; os círios e o
incenso honram Cristo que, mediante a leitura evangélica, faz ressoar a sua
palavra eficaz. Destes sinais, a assembleia reconhece a presença de Cristo, o
qual lhe dirige a “boa notícia” que converte e transforma. Tem lugar um
discurso directo, como atestam as aclamações com as quais se responde à
proclamação: «Glória a Vós, Senhor». Levantamo-nos para ouvir o Evangelho: ali
é Cristo quem nos fala. É por isso que prestamos atenção, porque se trata de um
diálogo directo. É o Senhor quem nos fala…
Portanto,
na Missa, não lemos o Evangelho para saber o que aconteceu; mas, ouvimos o Evangelho
para tomar consciência do que fez e disse Jesus outrora; e aquela Palavra é
viva: a Palavra de Jesus que está no Evangelho é viva e chega ao meu coração.
Por isso, ouvir o Evangelho é muito importante; ouvir com o coração aberto,
porque é Palavra viva. Santo Agostinho escreveu que «a boca de Cristo é o
Evangelho. Ele reina no céu, mas não cessa de falar na terra». Se é verdade que
na Liturgia «Cristo ainda anuncia o Evangelho», consequentemente, participando
na Missa, devemos dar-lhe uma resposta. Nós ouvimos o Evangelho e devemos dar
uma resposta, na nossa vida.
Para
transmitir a sua mensagem, Cristo serve-se, inclusive, da palavra do sacerdote
que, após o Evangelho, pronuncia a homilia. Recomendada, vivamente, pelo
Concílio Vaticano II, como parte da própria Liturgia, a homilia não é um
discurso de circunstância — nem sequer uma catequese, como esta que agora faço
— nem uma conferência, nem sequer uma lição; a homilia é outra coisa. O que é a
homilia? É «um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o
seu povo», para que seja posta em prática, na vida. A autêntica exegese do
Evangelho é a nossa vida santa! A Palavra do Senhor termina o seu curso
fazendo-se carne em nós, traduzindo-se em obras, como aconteceu em Maria e nos
Santos. Recordai aquilo que eu disse na última vez: a Palavra do Senhor entra
pelos ouvidos, chega ao coração e vai às mãos, às boas obras. E também a
homilia segue a Palavra do Senhor, fazendo inclusive este percurso para nos
ajudar, a fim de que a Palavra do Senhor chegue às mãos, passando pelo coração.
Já
abordei o tema da homilia na Exortação ‘Evangelii gaudium’, onde recordei que o
contexto litúrgico «exige que a pregação oriente a assembleia, e também o
pregador, para uma comunhão com Cristo na Eucaristia, que transforme a vida».
Quem
profere a homilia deve cumprir bem o seu ministério — aquele que prega,
sacerdote, diácono ou bispo — oferecendo um serviço real a todos aqueles que
participam na Missa; mas, também, quantos o ouvem, devem desempenhar a sua
parte. Antes de tudo, prestando a devida atenção, ou seja, assumindo as justas
disposições interiores, sem pretensões subjectivas, consciente de que cada
pregador tem qualidades e limites. Se, às vezes, há motivos para se entediar,
porque a homilia é longa, ou não está centrada, ou é incompreensível, outras
vezes, ao contrário, o obstáculo é o preconceito. E quem pronuncia a homilia
deve estar consciente de que não faz algo próprio, mas prega dando voz a Jesus,
prega a Palavra de Jesus. E a homilia deve ser bem preparada, deve ser breve,
breve! Dizia-me um sacerdote que, certa vez, tinha ido a outra cidade, onde
moravam os pais, e o pai disse-lhe: “Sabes, estou feliz, porque com os meus
amigos encontramos uma igreja onde se celebra a Missa sem homilia!”. E, quantas
vezes, vemos que na homilia alguns adormecem, outros conversam, ou saem para
fumar um cigarro... Por isso, por favor, que a homilia seja curta, mas bem
preparada. E como se prepara uma homilia, caros sacerdotes, diáconos, bispos?
Como se prepara? Com a oração, com o estudo da Palavra de Deus e fazendo uma
síntese clara e breve; não deve superar 10 minutos, por favor! Concluindo,
podemos dizer que na Liturgia da Palavra, mediante o Evangelho e a homilia,
Deus dialoga com o seu povo, que o ouve com atenção e veneração e, ao mesmo
tempo, reconhece-o presente e activo. Portanto, se nos pusermos à escuta da
“boa notícia”, seremos convertidos e transformados por ela e, consequentemente,
capazes de transformarmo-nos a nós mesmos e ao mundo. Porquê? Porque a Boa
Notícia, a Palavra de Deus entra pelos ouvidos, vai ao coração e chega às mãos
para fazer boas obras. (cf. Santa Sé)