BEATA MARIA DE JESUS D’HOOGHVORST
Emília d’Oultremont nasceu no dia 11 de Outubro de
1818, em Wégimont - Liége, Bélgica, numa família nobre e impregnada dos valores
cristãos. Era filha do Conde Emílio d’Oultremont e da Condessa Maria de
Lierneux de Presles. Recebeu uma sólida formação humanística e religiosa, que
resultou num carácter enérgico, quer no plano físico – era uma óptima atleta -
quer no plano moral. Coragem e energia foram dois traços fundamentais da sua
personalidade.
A devoção ao Sagrado Coração, à Virgem Maria e, sobretudo,
à Eucaristia, enraizou-se na sua alma juvenil e caracterizou sempre o
desenvolvimento da sua espiritualidade. A personalidade da jovem desenvolveu-se
de forma serena e equilibrada, enriquecida com os seus extraordinários dons
humanos e espirituais. Ainda muito jovem, sente-se atraída fortemente por Deus,
como o absoluto, e descobre a pessoa e a espiritualidade de Santo Inácio de
Loyola.
Sendo o seu pai Embaixador de Bélgica na Santa Sé,
Emília acompanha-o em muitas das suas viagens através de Europa. Encontrando-se
em Roma, durante uma cerimónia, num palácio, Emília sentiu-se envolvida pela
graça e pelo amor de Deus que a levaram pronunciar, no íntimo do coração, estas
palavras: “Mestre, só Tu na minha vida!”. Naquele momento, pensou consagrar-se inteiramente
ao Senhor.
Mas, aos 18 anos, seguindo o costume da época, os seus
pais falaram-lhe do matrimónio. Como qualquer outra jovem, Emília teve diversas
propostas de casamento. Mas, quando conheceu o Conde Victor d’Hooghvorst van
der Linden - “um jovem de virtude sólida e de piedade excepcional”, como ela
mesma referiu - Emília reconheceu que o Senhor a queria conduzir pelo caminho
do matrimónio. O seu casamento com o Conde Victor foi celebrado no dia 19 de Outubro
de 1837. Viveu, em plenitude, a vida de uma esposa jovem e feliz. Deste
casamento, nasceram quatro filhos: Adriano, Edmundo, Olímpia e Margarida. A alegria
de ser mãe e a responsabilidade de cuidar e educar os seus filhos não a
desviaram de seu esforço de crescer na santidade e na fidelidade a Jesus. Por
isso, procurou ajuda espiritual, encontrando-a nos Padres Jesuítas, que a
compreenderam e orientaram no seu caminho de busca da perfeição.
De 1839 a 1846, Emília permaneceu em Roma e foi
brindada com experiências interiores que a dirigiram, sempre mais, para um amor
total a Deus. Aos 24 anos, quando já era mãe de dois filhos, enquanto rezava na
capela de Santo Inácio de Loyola, perto da Igreja de Jesus, em Roma, teve uma
visão do santo fundador dos Jesuítas que, com a Constituição da Ordem nas mãos,
lhe assegurou que, um dia, haveria de seguir a sua Regra.
Porém, a felicidade de Emília e de Victor seria de
curta duração. Em 10 de Agosto de 1847, o seu marido faleceu, vítima de
malária. Emília viveu esta prova com fé e prosseguiu com coragem a sua missão
de mãe e educadora. Aos 29 anos, Emília encontrou-se viúva e com quatro filhos,
entre os 2 e os 9 anos, que ela educou com amor. Consagrou-se a Deus com o voto
de castidade, dedicando-se ainda mais às obras de caridade. Nos quatro anos
seguintes à morte do seu marido, falecem também os seus pais. Nessa
circunstância, decidiu pôr os seus filhos num colégio, em França, e ela, com
suas filhas, faz os preparativos necessários para se estabelecer em Paris. Em
1854, deixou, definitivamente, a Bélgica e transferiu-se para Paris, para
seguir, mais de perto, a formação dos seus filhos, no Colégio dos Jesuítas.
Quando, no dia 8 de Dezembro de 1854, o Papa Pio IX
proclamou o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, Mãe de Deus,
Emília pediu a Nossa Senhora que lhe inspirasse o que era mais agradável a
Deus. Durante uma longa e intensa oração, na capela do Castelo da família, foi-lhe
revelado, por Nossa Senhora, o que Deus esperava dela: a fundação de uma
Congregação Religiosa destinada à reparação dos ultrajes cometidos contra o
Santíssimo Sacramento.
Com algumas jovens, de diversas nacionalidades,
iniciou, no ano seguinte, uma experiência de vida comunitária. Mas, o início
oficial da nova família religiosa teve lugar no dia 1 de Maio de 1857, em Estrasburgo.
A nova congregação religiosa surgiu com o nome de ‘Instituto de Maria
Reparadora’. Neste dia, Emília vestiu o hábito de religiosa e assumiu o nome de
Irmã Maria de Jesus; as suas companheiras assumiram compromissos idênticos; a
Irmã Maria de Jesus foi eleita a primeira superiora do Instituto, que seria
guiado pelo espírito de Santo Inácio.
Apesar dos trabalhos que que a direcção do Instituto
lhe exigiam, a Madre Maria de Jesus acompanhou, sempre e com solicitude, os
seus filhos, respeitando as suas opções de vida: os dois rapazes seguiram o
caminho do matrimónio; as duas filhas decidiram seguir os passos da mãe na vida
religiosa e entraram na Congregação por ela fundada. Desde as origens, a
unidade do grupo, na nova congregação religiosa, faz-se à volta da Eucaristia,
vivida na sua dupla dimensão de adoração e anúncio da Palavra, cuidando um
equilíbrio entre oração e actividade apostólica.
O espírito inaciano foi a alma que animou todo o seu
zelo apostólico, ao ponto de tomou decisões bastante arriscadas, como foi a
resposta ao pedido dos Jesuítas para que construísse uma casa na Índia. Com
apenas dois anos de fundação, as Irmãs do Instituto de Maria Reparadora
partiram para a Índia para se dedicarem à promoção humana e espiritual das
jovens relegadas a uma situação de inferioridade, devido à divisão das castas.
Foi o lançamento definitivo de uma expansão por vários países da Europa.
Os últimos anos de vida da Madre Maria de Jesus foram
marcados por sofrimentos de diversos géneros: lutos familiares; preocupação
pelos seus filhos; separações e dificuldades no seio da Congregação.
Com a saúde muito debilitada, quando se encontrava de
passagem por Florença - de regresso à Bélgica - estando na casa do seu filho
Adriano, a Madre Maria de Jesus faleceu, no dia 22 de Fevereiro de 1878. Tinha
59 anos de idade. O seu túmulo encontra-se na Igreja da Santa Cruz e de São
Bartolomeu, na Via Lucchesi, em Roma.
A Irmã Maria de Jesus - Emília d’Oultremont
d’Hooghvorst - foi beatificada, em Roma, no dia 12 de Outubro de 1997, pelo Papa
João Paulo II. A propósito desta nova Beata, na homilia da Missa, o Papa disse:
“… «A palavra de Deus é viva...penetra até dividir a alma» (Hb 4, 12). Emília
d’Hooghvorst acolheu esta palavra no mais íntimo de si mesma. Aprendendo a submeter-se
à vontade de Deus, realizou, em primeiro lugar, a missão de todo o casal
cristão: tornar o seu lar «um santuário doméstico da Igreja» Quando ficou viúva,
animada pelo desejo de participar no mistério pascal, a Madre Maria de Jesus
fundou a Sociedade de Maria Reparadora. Pela sua vida de oração, ela
recorda-nos que, na adoração eucarística, onde bebemos como na fonte da vida
que é Cristo, encontramos a força para a missão quotidiana. Que cada um de nós,
qualquer que seja o seu estado de vida, saiba «escutar a voz de Cristo», «que
deve ser a regra da nossa existência», como ela gostava de dizer! Esta
beatificação é também para as religiosas de Maria Reparadora um encorajamento a
prosseguirem o seu apostolado, com uma renovada atenção aos homens deste tempo.
Segundo o seu carisma próprio, elas responderão à missão: despertar a fé entre
os seus contemporâneos e ajudá-los no seu crescimento espiritual, participando
assim activamente na edificação da Igreja…”
A memória litúrgica da Beata Maria de Jesus celebra-se
no dia 22 de Fevereiro.