- na Audiência-Geral, na Praça
de São Pedro – Roma, no dia 7 de Março
Queridos
irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos
com a Catequese sobre a Santa Missa. Na última Ceia, depois de ter tomado o pão
e o cálice do vinho, e de ter dado graças a Deus, sabemos que Jesus «partiu o
pão». A esta acção corresponde, na Liturgia eucarística da Missa, a fracção do
Pão, precedida pela oração que o Senhor nos ensinou, ou seja, o “Pai-Nosso”.
E
assim começam os ritos de Comunhão, prolongando o louvor e a súplica da Oração
eucarística com a recitação comunitária do “Pai-Nosso”. Esta não é uma das
tantas orações cristãs, mas é a oração dos filhos de Deus: é a grande oração
que Jesus nos ensinou. Com efeito, entregue a nós no dia do nosso Baptismo, o
“Pai-Nosso” faz ressoar em nós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo. Quando
rezamos o “Pai-Nosso”, oramos como Jesus. Foi a oração que Jesus proferiu e que
nos ensinou; quando os discípulos lhe disseram: “Mestre, ensina-nos a rezar
como tu rezas”. E Jesus rezava deste modo. É tão bonito rezar como Jesus!
Formados pelo seu divino ensinamento, ousamos dirigir-nos a Deus chamando-o
“Pai” porque renascemos como seus filhos através da água e do Espírito Santo
(cf. Ef 1, 5). Na verdade, ninguém poderia chamá-lo familiarmente “Abbá” — “Pai”
— sem ter sido gerado por Deus, sem a inspiração do Espírito, como ensina São
Paulo (cf. Rm 8, 15). Devemos pensar: ninguém pode chamá-lo “Pai” sem a
inspiração do Espírito. Quantas vezes as pessoas dizem “Pai Nosso”, mas não
sabem o que estão a dizer. Porque sim, é o Pai, mas será que quando dizes “Pai”
sentes que Ele é o Pai, o teu Pai, o Pai da humanidade, o Pai de Jesus Cristo?
Tens uma relação com este Pai? Quando rezamos o “Pai-Nosso”, entramos em
relação com o Pai que nos ama, mas é o Espírito quem nos confere esta relação,
este sentimento de sermos filhos de Deus.
Que
oração melhor do que aquela que Jesus nos ensinou pode predispor-nos para a
Comunhão sacramental com Ele? Além da Missa, o “Pai-Nosso” é rezado, durante a
manhã e à noite, nas Laudes e nas Vésperas; deste modo, a atitude filial em
relação a Deus e de fraternidade para com o próximo contribuem para dar forma
cristã aos nossos dias.
Na
Oração do Senhor — no “Pai-Nosso” — pedimos o «pão de cada dia», no qual
entrevemos uma especial referência ao Pão eucarístico, do qual necessitamos
para viver como filhos de Deus. Imploramos também «o perdão dos nossos
pecados», e para sermos dignos de receber o perdão de Deus comprometemo-nos a
perdoar a quem nos tem ofendido. E isto não é fácil. Perdoar às pessoas que nos
ofenderam não é fácil; é uma graça que devemos pedir: “Senhor, ensina-me a
perdoar como tu me perdoaste”. É uma graça. Com as nossas forças não podemos:
perdoar é uma graça do Espírito Santo. Assim, enquanto nos abre o coração a
Deus, o “Pai-Nosso” dispõe-nos também ao amor fraterno. Por fim, pedimos, ainda,
a Deus para «nos libertar do mal» que nos separa d’Ele e nos divide dos nossos
irmãos. Compreendemos bem que estas são exigências muito adequadas para nos
prepararmos para a Sagrada Comunhão (cf. Ordenamento Geral do Missal Romano,
81).
Com
efeito, quanto pedimos no “Pai-Nosso” é prolongado pela oração do sacerdote
que, em nome de todos, suplica: «Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos
hoje a vossa paz». E depois recebe uma espécie de selo no rito da paz: em
primeiro lugar, invoca-se, de Cristo, que o dom da sua paz (cf. Jo 14, 27) —
tão diferente da paz do mundo — faça crescer a Igreja na unidade e na paz,
segundo a sua vontade; portanto, com o gesto concreto trocado entre nós, expressamos
«a comunhão eclesial e o amor recíproco, antes de receber o Sacramento» (OGMR,
82). No Rito romano, a troca do sinal de paz, colocado desde a antiguidade
antes da Comunhão, visa a Comunhão eucarística. Segundo a admoestação de São
Paulo, não é possível comungar o único Pão que nos torna um só Corpo, em
Cristo, sem nos reconhecermos pacificados pelo amor fraterno (cf. 1 Cor 10,
16-17; 11, 29). A paz de Cristo não pode enraizar-se num coração incapaz de
viver a fraternidade e de a reparar depois de a ter ferido. É o Senhor quem
concede a paz: Ele dá-nos a graça de perdoar a quem nos tem ofendido.
O
gesto da paz é seguido pela fracção do Pão que, desde o tempo dos apóstolos,
conferiu o nome a toda a celebração da Eucaristia (cf. OGMR, 83; Catecismo da
Igreja Católica, 1329). Cumprido por Jesus durante a última Ceia, partir o Pão
é o gesto revelador que permitiu aos discípulos reconhecê-lo depois da sua
ressurreição. Recordemos os discípulos de Emaús que, falando do encontro com o
Ressuscitado, narram «como o tinham reconhecido ao partir o pão» (cf. Lc 24,
30-31.35).
A
fracção do Pão eucarístico é acompanhada pela invocação do «Cordeiro de Deus»,
figura com a qual João Baptista indicou em Jesus «aquele que tira o pecado do
mundo» (Jo 1, 29). A imagem bíblica do cordeiro fala da redenção (cf. Êx 12,
1-14; Is 53, 7; 1 Pd 1, 19; Ap 7, 14). No Pão eucarístico, partido pela vida do
mundo, a assembleia orante reconhece o verdadeiro Cordeiro de Deus, ou seja,
Cristo Redentor, e suplica-o: «Tende piedade de nós... dai-nos a paz».
«Tende
piedade de nós», «dai-nos a paz» são invocações que, da oração do “Pai-Nosso” à
fracção do Pão, nos ajudam a predispor a alma a participar no banquete
eucarístico, fonte de comunhão com Deus e com os irmãos.
Não
nos esqueçamos da grande oração: a que Jesus nos ensinou e que é a oração com a
qual Ele rezava ao Pai. E esta oração prepara-nos para a Comunhão. (cf. Santa Sé)