- na Audiência-Geral, na Praça
São Pedro, Roma, no dia 4 de Abril de 2018
Queridos
irmãos e irmãs, bom dia!
Os
cinquenta dias do tempo litúrgico pascal são propícios para reflectir sobre a
vida cristã que, por sua natureza, é a vida que provém do próprio Cristo. De facto,
somos cristãos na medida em que deixamos Jesus Cristo viver em nós. Então, por
onde começar a fim de reavivar esta consciência se não pelo princípio, pelo
Sacramento que acendeu em nós a vida cristã? Pelo Baptismo. A Páscoa de Cristo,
com a sua carga de novidade, chega até nós através do Baptismo para nos
transformar à sua imagem: os baptizados pertencem a Jesus Cristo, Ele é o
Senhor da sua existência. O Baptismo é o «fundamento de toda a vida cristã»
(Catecismo da Igreja Católica, 1213). É o primeiro dos Sacramentos, porque é a
porta que permite a Cristo Senhor habitar a nossa pessoa e, a nós, imergir-nos
no seu Mistério.
O
verbo grego “baptizar” significa “imergir” (cf. CIC, 1214). O banho com a água
é um rito comum em várias crenças, para exprimir a passagem de uma condição
para outra, sinal de purificação para um novo início. Mas, para nós cristãos,
não deve passar despercebido que se é o corpo a ser imergido na água, é a alma
que é imersa em Cristo para receber o perdão do pecado e resplandecer de luz
divina (cf. Tertuliano, Sobre a ressurreição dos mortos, VIII, 3; ccl 2, 931;
pl 2, 806). Em virtude do Espírito Santo, o Baptismo imerge-nos na morte e
ressurreição do Senhor, afogando, na pia baptismal, o homem velho, dominado
pelo pecado que separa de Deus, e fazendo com que nasça o homem novo, recriado
em Jesus. N’Ele, todos os filhos de Adão são chamados para a vida nova. Ou
seja, o Baptismo é um renascimento. Estou certo, certíssimo, de que todos nós
recordamos a data do nosso nascimento: tenho a certeza. Mas questiono-me, com
alguma dúvida, e pergunto-vos: cada um de vós recorda qual foi a data do seu baptismo?
Alguns dizem sim: está bem!. Mas, é um sim um pouco débil, porque talvez muitos
não recordem. Mas, se festejamos o dia do nascimento, como não festejar — pelo
menos recordar — o dia do renascimento? Dar-vos-ei um trabalho de casa, uma
tarefa para fazer, hoje, em casa. Os que não se recordam a data do baptismo,
perguntem à mãe, aos tios, aos netos… Perguntem: “Sabes qual é a data do meu baptismo?",
e nunca mais a esqueçais. E demos graças ao Senhor por aquele dia, porque é
precisamente o dia em que Jesus entrou em nós, que o Espírito Santo entrou em
nós. Compreendestes bem o trabalho de casa? Todos devemos saber a data do nosso
baptismo. É outro aniversário: o aniversário do renascimento. Não vos esqueçais
de fazer isto, por favor.
Recordemos
as últimas palavras do Ressuscitado aos Apóstolos. São precisamente um mandato:
«Ide e fazei discípulos todos os povos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo» (Mt 28, 19). Através da água baptismal, quem crê em Cristo
é imerso na própria vida da Trindade.
De
facto, a água do Baptismo não é uma água qualquer, mas a água sobre a qual é
invocado o Espírito que «dá a vida» (Credo). Pensemos no que Jesus disse a
Nicodemos, para lhe explicar o nascimento para a vida divina: «Quem não nascer
da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é
carne, e o que nasceu do Espírito é espírito» (Jo 3, 5-6). Portanto, o Baptismo
é, também, chamado “regeneração”: acreditamos que Deus nos salvou «pela sua
misericórdia, com uma água que regenera e renova, no Espírito» (Tt 3, 5).
Por
conseguinte, o Baptismo é sinal eficaz de renascimento, para caminhar em
novidade de vida. Recorda-o São Paulo aos cristãos de Roma: «Ignorais,
porventura, que todos nós que fomos baptizados em Jesus Cristo, fomos baptizados
na sua morte? Pelo baptismo sepultámo-nos juntamente com Ele, para que, assim
como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos
nós também numa vida nova» (Rm 6, 3-4).
Imergindo-nos
em Cristo, o Baptismo torna-nos, também, membros do seu Corpo, que é a Igreja,
e participamos da sua missão no mundo (cf. CIC 1213). Nós baptizados não
estamos isolados: somos membros do Corpo de Cristo. A vitalidade que brota da
pia baptismal é ilustrada por estas palavras de Jesus: «Eu sou a videira, vós
as varas: quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto» (cf. Jo 15, 5). A
mesma vida, a do Espírito Santo, escorre de Cristo para os baptizados,
unindo-os num só Corpo (cf. 1 Cor 12, 13), crismado pela santa unção e
alimentado na mesa eucarística.
O
Baptismo permite que Cristo viva em nós; e a nós que vivamos unidos a Ele, para
colaborar na Igreja, cada um segundo a própria condição, para a transformação
do mundo. Recebido uma única vez, o baptismo ilumina toda a nossa vida, guiando
os nossos passos até à Jerusalém do Céu. Há um antes e um depois do Baptismo. O
Sacramento pressupõe um caminho de fé, que chamamos catecumenado, evidente
quando é um adulto que pede o Baptismo. Mas também as crianças, desde a
antiguidade, são baptizadas na fé dos pais (cf. Rito do Baptismo das crianças,
Introdução, 2). E sobre isto gostaria de vos dizer algo. Alguns pensam: mas por
que baptizar uma criança que não entende? Esperemos que cresça, que compreenda
e seja ela mesma a pedir o Baptismo. Mas, isto significa não ter confiança no
Espírito Santo, porque quando baptizamos uma criança, naquela criança entra o
Espírito Santo, e o Espírito Santo faz com que cresça naquela criança, desde
pequenina, virtudes cristãs que depois florescerão. Sempre se deve dar esta
oportunidade a todos, a todas as crianças, de ter dentro de si o Espírito Santo
que as guie durante a vida. Não deixeis de baptizar as crianças! Ninguém merece
o Baptismo, que é sempre dom gratuito para todos, adultos e recém-nascidos. Mas,
como acontece com uma semente cheia de vida, este dom ganha raízes e dá fruto
num terreno alimentado pela fé. As promessas baptismais que, a cada ano,
renovamos na Vigília Pascal devem ser reavivadas todos os dias, a fim de que o
Baptismo “cristifique”: não devemos ter medo desta palavra; o Baptismo
“cristifica-nos"; quem recebeu o Baptismo e é “cristificado” assemelha-se
a Cristo, transforma-se em Cristo, tornando-se, de verdade, outro Cristo. (cf. Santa Sé)