BEATO PEDRO MARIA RAMÍREZ RAMOS
Pedro Maria Ramírez Ramos nasceu em 23 de Outubro de
1899, em La Plata, departamento de Huila, na Colômbia. Foi baptizado no dia
seguinte ao seu nascimento. Era o quarto dos sete filhos de Ramón Ramírez e de
Isabel Ramos. Teve outros irmãos, nascidos do casamento anterior do seu pai.
Pedro frequentou o ensino básico na escola da Vila e,
aos doze anos, entrou no Seminário Menor de La Mesa de Elías, em Huila, onde
estudou com muito bom aproveitamento. Em 4 de Outubro de 1915, aos dezasseis
anos, completados os estudos secundários, passou para o Seminário Maior de
Garzón, para fazer o curso teológico.
No entanto, em 1920, abandonou do seminário, aconselhado
pelo seu director espiritual que não via nele verdadeiros sinais de vocação e
determinação para seguir o caminho do sacerdócio. Para além disso, sugeriu que
procurasse uma cura para as suas frequentes dores de cabeça.
Pedro Ramos passou os oito anos seguintes dedicando-se
ao ensino. O seu tempo disponível foi dedicado ao serviço da paróquia, tendo
assumido a responsabilidade de director e secretário do coro paroquial. Mas, o
seu pensamento e o seu coração estavam ocupados pelo seu desejo de seguir a
vocação sacerdotal.
Em 1928, voltou ao seminário, agora ao Seminário Maior
de Maria Imaculada em Ibagué. Depois de profunda reflexão e de uma reunião,
muito elucidativa, com o bispo de Ibagué, foi admitido para terminar os estudos
teológicos. Pedro Ramos foi ordenado sacerdote, no dia 21 de Junho de 1931. Celebrou
a Missa Nova, a sua primeira missa, na igreja de São Sebastião, em La Plata, no
dia 16 de Julho seguinte.
Durante o seu primeiro ano de sacerdócio, o bispo de
Ibagué, monsenhor Pedro Martinez, nomeou-o Pároco de Chaparral. Depois, foi
destinado a Cunday, em 1934; a Fresno, em 1943; e, finalmente, a Armero-Tolima,
em 1946.
Em todas as paróquias por onde passou, deixou a imagem
de um padre cheio de fervor, com uma fé inabalável e muito dedicado à Virgem
Maria. Sempre se manteve fiel e firme na sua missão apostólica, como era de
esperar de um sacerdote a quem foi confiada uma comunidade cristã e para a qual
deveria ser testemunha da verdadeira fé e animador de uma prática religiosa
autêntica.
No dia 9 de Abril de 1948, em Bogotá, Jorge Eliecer
Gaitán, candidato liberal às eleições presidenciais, foi assassinado. Este facto
deu origem a uma explosão de violência, conhecida como "Bogotazo",
que atingiu, também, a povoação de Armero.
O Padre Pedro recebeu as primeiras notícias da revolta
quando estava no hospital de Armero, de visita a um doente. Também ele foi
envolvido nesta espiral de violência. Os revoltosos, e as multidões que os
apoiavam, difundiram a ideia de que todos os membros da Igreja Católica –
apesar destes fazerem, constantemente, apelo à não-violência - estavam do lado
do presidente, o conservador Mariano Ospina Pérez.
Nesse mesmo dia em que explodiu a violência - 9 de
Abril - por volta das 14h30, uma multidão armada, instigada por fanáticos e
pelo álcool, apresentou-se para prender o Padre Pedro. A Irmã Miguelina,
superiora do Convento das Irmãs da Misericórdia Eucarística, que ficava ao lado
da Igreja Paroquial, escondeu o Padre da fúria da multidão.
Durante a noite, as freiras e algumas famílias aconselharam
o Padre a escapar, ajudando-o a encontrar refúgio em lugar seguro e secreto. Porém,
voltando-se para a irmã Miguelina, o Padre Pedro respondeu: "Não fujo por
nenhum motivo. Quando vou rezar à Capela, consulto o meu "Amito". Ele
diz-me para ficar aqui. Vós sim, Madre, deveis tomar as providências necessárias".
"Amito" era um termo confidencial e amoroso com o qual o Padre Pedro
se referia ao Senhor: ele sentiu, portanto, que Ele queria que ele ficasse lá,
entre o seu povo.
Na manhã do dia 10 de Abril, o Padre Pedro celebrou a
missa e deu a comunhão às irmãs e a um grupo de estudantes. De seguida, saiu
para confessar um doente hospitalizado e para visitar cento e setenta
encarcerados, na prisão da vila.
Pouco antes do meio-dia, distribuiu - para evitar
profanações - as últimas hóstias consagradas às freiras, reservando uma para
si, em caso de extrema necessidade. Em seguida, escreveu, a lápis, o seu
testamento espiritual, que endereçou ao seu bispo e à sua família.
"Da minha parte", escreveu ele, "desejo
morrer por Cristo e na sua fé. A Vossa Excelência, Senhor Bispo, expresso a imensa
gratidão porque, sem o merecer, me fez Ministro do Altíssimo, Sacerdote de Deus
e, agora, Pastor de Armero, povo pelo qual quero derramar o meu sangue. Deixo uma
lembrança especial para o meu director espiritual, o santo Padre Dávila. Aos
meus familiares, digo que serei o primeiro no exemplo que eles devem seguir:
morrer por Cristo. Por todos, com um afecto especial, olharei do céu. A minha mais
profunda gratidão às Irmãs Eucarísticas. No céu, vou interceder por elas,
especialmente pela Madre superiora, a Irmã Miguelina. Em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo. Armero, 10 de Abril de 1948».
Na tarde do dia 10 de Abril, por volta das 16h30, um
grande número de liberais invadiu a igreja e o convento, sob o pretexto de
procurar armas escondidas, destruindo tudo o que podiam. Não encontrando nada,
gritaram às freiras: "Entregai-nos o padre, ou todas morrereis". As
Irmãs Mercedárias Eucarísticas fugiram pelos telhados, deixando o Padre Pedro
sozinho.
Amarrado e trazido para fora, foi arrastado, entre
gritos e palavras de gozo, até à praça central da vila. Mais de mil pessoas atiraram-se
a ele, ferindo-o, repetida e mortalmente, com facalhões. Enquanto era sujeito a
esta barbárie, o Padre Pedro perdoava àqueles que o estavam a matar. Como
Cristo crucificado, as suas últimas palavras foram: "Pai, perdoai-lhes…
Tudo por Cristo". Os seus algozes terminaram a “festança” e o seu
sofrimento com uma bala na parte de trás da cabeça.
O seu cadáver, despojado das suas vestes sacerdotais,
foi abandonado na entrada do cemitério da cidade. Algumas prostitutas, que o
encontraram, atiraram-no para cova, deixando-o a céu aberto. O Padre Pedro, na
sua morte, não teve quem rezasse por ele, nem sequer um Pai-Nosso. Naquela
hora, estava só e abandonado, como o Senhor crucificado!... Somente no dia 21
de Abril, quando chegaram as autoridades, é que o seu corpo foi retirado da
cova para ser realizada a autópsia. Um mês depois, os familiares do Padre Pedro
puderam levar o seu corpo para lhe darem condigna sepultura, no cemitério de La
Plata, a sua terra natal. O Padre Pedro Ramos foi sepultado no túmulo da sua família.
Os seus restos mortais foram transferidos, no dia 24 de Agosto de 2017, para a
igreja de São Sebastião, em La Plata, onde ele foi baptizado e onde celebrou a sua
primeira missa.
A fama do martírio do pároco de Armero espalhou-se,
imediatamente, por toda a região e foram-lhe atribuídos muitos milagres,
sobretudo muitas curas. No entanto, muitas calúnias foram, também, ditas contra
ele. A mais surpreendente foi a acusação de que ele tinha lançado uma maldição
sobre a cidade, que teria causado a avalanche de 13 de Novembro de 1985, em que
morreram mais de vinte mil pessoas.
Em 23 de Fevereiro de 1993, começou o processo
canónico, em ordem à sua beatificação. Em 7 de Julho de 2017, o Papa Francisco
aprovou o decreto que declarava que o Padre Pedro Maria Ramírez Ramos fora
morto por ódio à fé católica.
O Padre Pedro foi beatificado, pelo Papa Francisco, no
dia 8 de Setembro de 2017, em Villavicencio, cidade capital do departamento do
Meta, em Los Llanos Orientales, durante a sua
visita apostólica à Colômbia. Na homilia da Missa, o Papa disse: “…A
reconciliação não é uma palavra que devemos considerar abstracta; se assim
fosse, traria apenas esterilidade, traria maior distância. Reconciliar-se é
abrir uma porta a todas e cada uma das pessoas que viveram a realidade
dramática do conflito. Quando as vítimas vencem a tentação compreensível da
vingança - quando vencem esta tentação compreensível da vingança - tornam-se
nos protagonistas mais credíveis dos processos de construção da paz. É preciso
que alguns tenham a coragem de dar o primeiro passo nesta direcção, sem esperar
que o façam os outros. Basta uma pessoa boa, para que haja esperança. Não
esqueçais isto: basta uma pessoa boa, para que haja esperança. E cada um de nós
pode ser essa pessoa! Isto não significa ignorar ou dissimular as diferenças e
os conflitos. Não é legitimar as injustiças pessoais ou estruturais. O recurso
à reconciliação concreta não pode servir para se acomodar em situações de
injustiça. Pelo contrário, como ensinou São João Paulo II, «é um encontro entre
irmãos dispostos a vencer a tentação do egoísmo e a renunciar aos intentos duma
pseudo-justiça; é fruto de sentimentos fortes, nobres e generosos, que levam a
estabelecer uma convivência fundada sobre o respeito de cada indivíduo e dos
valores próprios de cada sociedade civil» (Carta aos Bispos de El Salvador,
6/VIII/1982). Por isso, a reconciliação concretiza-se e consolida-se com a
contribuição de todos, permite construir o futuro e faz crescer a esperança.
Qualquer esforço de paz sem um compromisso sincero de reconciliação será sempre
um fracasso.
O texto do Evangelho, que ouvimos, culmina chamando a
Jesus, o Emanuel, que significa Deus connosco. E como começa, assim termina
Mateus o seu Evangelho: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (28,
20). Jesus é o Emanuel que nasce e o Emanuel que nos acompanha todos os dias; é
o Deus connosco que nasce e o Deus que caminha connosco, até ao fim do mundo.
Esta promessa realiza-se também na Colômbia: D. Jesús Emilio Jaramillo
Monsalve, Bispo de Arauca, (nota:
foi beatificado, juntamente com o Padre Pedro) e o sacerdote Pedro Maria Ramírez Ramos, mártir de Armero, são sinal
disso, expressão dum povo que quer sair do pântano da violência e do rancor.
Neste ambiente maravilhoso, cabe a nós dizer «sim» à
reconciliação concreta; e, neste «sim», incluamos também a natureza. Não é por
acaso que, inclusive sobre ela, se tenham desencadeado as nossas paixões
possessivas, a nossa ânsia de domínio. Um vosso compatriota canta-o com primor:
«As árvores estão a chorar, são testemunhas de tantos anos de violência. O mar
aparece acastanhado, mistura de sangue com a terra» (Juanes, Minhas Pedras). A
violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, manifesta-se também
nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos
(cf. Francisco, Carta enc. Laudato si’, 2). Cabe-nos dizer «sim» como Maria e
cantar com Ela as «maravilhas do Senhor», porque, como prometeu aos nossos
pais, Ele ajuda todos os povos e ajuda cada povo, e ajuda a Colômbia que hoje
quer reconciliar-se e à sua descendência para sempre…”
A memória litúrgica do Padre Pedro é celebrada, na
Colômbia, no dia 24 de Outubro, dia do seu baptismo; na liturgia da Igreja
universal, será feita a sua memória, no dia 10 de Abril, dia do seu martírio.