BEATA MARIA ASSUNTA MARCHETTI
Maria Assunção (Assunta) Catarina Marchetti nasceu em
Lombrici di Camaiore, província de Lucca, na região da Toscana, Itália, no dia
15 de Agosto de 1871, e foi baptizada, no dia seguinte, na paróquia Santa Maria
Assunta, que ficava ao lado da casa da família.
De acordo com os documentos históricos, os seus pais,
Ângelo Marchetti e Carolina Ghilarducci, eram moleiros. O trabalho da moagem
garantia o sustento da família como também a moradia. Os pais sempre contaram
com a ajuda de Maria Assunção para cuidar dos outros 10 irmãos, pois a sua mãe tinha
uma saúde muito frágil.
Desde jovem, Maria Assunção sentia-se chamada a uma
vida de total dedicação e de doação a Deus, na vida religiosa contemplativa.
Mas as tarefas domésticas, a doença da mãe e a morte prematura do pai
impediram-na de realizar, imediatamente, as suas aspirações.
No final do séc. XIX, muitos italianos deixaram a
Itália e imigraram para as Américas, especialmente para o Brasil. O irmão de
Maria Assunção, José Marchetti, entrou no Seminário de Lucca e foi ordenado
sacerdote, em 1892. Foi nomeado pároco de Compignano, na diocese de Lucca, e constatou
que a maioria dos seus paroquianos deixavam a Itália, em busca de uma vida
melhor, capaz de lhes oferecer melhores condições de sobrevivência. Então, de
sacerdote diocesano passou a ser missionário de São Carlos Borromeu,
congregação fundada em 1887 pelo Bispo de Piacenza, o Beato João Baptista
Scalabrini que, compadecido dos imigrantes italianos, organizou um grupo de
missionários para os acompanhar os nas suas viagens que, na época, não eram nada
fáceis.
O Padre José passou a ser capelão dos navios que
transpotavam os imigrantes. Durante as viagens da Itália para o Brasil, atendia
e servia os imigrantes, administrando os Sacramentos, inclusive as exéquias
para os que morriam e eram lançados ao mar.
Numa dessas viagens, uma jovem mãe morreu a bordo do
navio, deixando órfã uma filha pequena e o marido desesperado. O pai deixou a
bebé aos cuidados do Padre José que assumiu a responsabilidade de cuidar da
menina. Ao desembarcar no Brasil, o Padre José procurou encontrar,
imediatamente, um orfanato onde pudesse deixar a criança. A partir deste facto,
ele entendeu que a sua missão não era a de ser capelão de navios, mas de cuidar
dos órfãos, filhos dos imigrantes italianos e africanos que viviam na cidade de
São Paulo.
Em 1895, o Padre José construiu dois orfanatos, em São
Paulo: um no alto do Ipiranga e outro na Vila Prudente. Com tantos órfãos para
cuidar, voltou a Itália e convenceu a sua irmã, Maria Assunção, a ir com ele
para o Brasil, para ajudar a cuidar das crianças. Juntamente com a sua mãe e
duas jovens amigas, Maria Assunção foi apresentada ao Bispo D. Scalabrini.
Em 25 de Outubro de 1895, Maria Assunção, o seu irmão
e as suas duas amigas emitiram os primeiros votos religiosos, numa celebração
presidida por D. João Baptista Scalabrini, fundador da Congregação das Irmãs
Missionárias de São Carlos Borromeo - chamadas Scalabrinianas – dando origem às
"Servas dos Órfãos e Abandonados".
No dia 27 de Outubro, partiram para o Brasil como
missionários entre os imigrantes e nunca mais voltaram a Itália, fazendo do
Brasil a sua pátria.
Ao chegarem a São Paulo, dedicaram-se ao cuidado dos
órfãos e dos imigrantes italianos afectados pela febre tifoide e pela difteria.
O Padre José Marchetti morreu aos 27 anos, vítima da febre tifoide, doença
muito comum entre os imigrantes, naquele período.
O orfanato tinha como objectivo ser um ambiente familiar
para os pequenos que tinham perdido os pais nos trajectos da imigração e no
trabalho nas fazendas de café. Eram órfãos italianos e africanos; e todos eram
bem acolhidos. Assunção dedicou-se ao próximo com heroísmo e não media esforços
quando se tratava de atender o mais necessitado.
“O primeiro doente da Santa Casa de Monte Alto, em São
Paulo, foi um homem negro, mendigo. A Madre Assunção compadeceu-se dele porque
estava sozinho na enfermaria, quando não havia ainda enfermeiros. Colocou uma
cama no fundo do corredor, do lado oposto do doente, e dormiu ali algumas
noites para poder atendê-lo logo que chamasse. Via Cristo no irmão pobre,
sofrido ou doente”, contou a Irmã Afonsina Salvador que conviveu com a Madre
Assunção. “Tudo o que acontece é bom, porque vem de Deus”, dizia, sempre a
Madre Assunção, como que fazendo ecoar o mesmo pensamento do seu irmão José, que
em todos os acontecimentos dizia: “Deo gratias”! (graças a Deus)
Uma ferida grave, na perna, provocada durante a visita
a um doente, causou-lhe longos anos de sofrimento. A Madre Assunção passou os
últimos meses da sua vida numa cadeira de rodas, mas sempre atenta em servir o
próximo. Morreu no dia 1 de Julho de 1948, no meio dos órfãos, no Orfanato da
Vila Prudente – São Paulo, hoje, a “Casa Madre Assunção Marchetti”, onde se
encontram os seus restos mortais.
A Madre Assunção Marchetti é considerada a cofundadora
da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas.
Foi beatificada no dia 25 de Outubro de 2014, pelo
Papa Francisco, numa cerimónia realizada na Catedral de São Paulo, presidida
pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, na presença do
Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Ângelo Amato, em representação
do Papa. Na homilia, o Cardeal Odilo disse: “…Assunta (Assunção) Marchetti, foi
uma cristã extraordinária, que viveu de maneira exemplar a fé, a esperança e a
caridade; ela (…) testemunhou a caridade de Cristo para com os órfãos,
migrantes e demais pessoas necessitadas. (…)
A bem-aventurada Assunta foi uma mulher muito forte e
empreendedora; como jovem, nada lhe faltava para ter uma boa posição na sua
comunidade local, na Itália. No entanto, motivada pela sua fé em Deus e pelo
amor ao próximo, abandonou tudo, inclusive a sua pátria e as seguranças que
tinha, para seguir a vocação religiosa e missionária, dedicando a vida aos
migrantes, sobretudo os pobres e os doentes, os órfãos e os desamparados… Para
eles, ela foi “mãe” solícita, que, como a mulher descrita na 1ª. leitura,
trabalhou muito para não lhes deixar faltar nada… A sua vida foi inteiramente
orientada pela caridade de Cristo, que ardia no seu coração, e que a ajudava a
ver, em cada pessoa, um filho de Deus, um irmão e uma irmã, imagem e semelhança
do próprio Jesus Cristo. (…)
A bem-aventurada Assunta Marchetti deixou-nos um
testemunho de caridade. Na sua doação aos órfãos e aos pobres, ela não buscou
vantagens pessoais e, por isso, também conseguiu mover tantas pessoas a
colaborarem com ela - quer as irmãs que se uniam à Congregação que ela ajudou a
fundar, quer os leigos e as comunidades locais - na busca de servir os irmãos. “Seria
como o bronze que soa ou o sino que retine”… Os santos ensinam-nos, com o
testemunho da sua vida, a viver a caridade de modo autêntico.
Assunta Marchetti não viveu somente segundo as
bem-aventuranças - consagrando-se inteiramente a Deus, na vida religiosa - mas
ainda dedicou a sua vida inteira ao bem do próximo…”
A memória litúrgica da Beata Assunção Marchetti
celebra-se no dia 1 de Julho.