BEATO JESÚS
EMILIO
JARAMILLO MONSALVE
Jesús Emilio Jaramillo Monsalve nasceu no dia 16 de Fevereiro
de 1916, em Santo Domingo, na província de Antioquia, diocese de Medellín,
Colômbia. Era filho de Alberto Jaramillo, artesão, e Cecilia Monsalve, dona de
casa. Foi baptizado no dia seguinte ao seu nascimento, na igreja paroquial,
dedicada a São Domingos de Guzmão. Tinha uma irmã, Maria Rosa, com quem frequentou
a escola primária, na aldeia. A família era pobre, mas não reclamava da sua
condição.
Os pais, profundamente crentes, receberam bem a notícia de que Jesús Emilio estava disposto a entrar no seminário. Não na diocese, mas no Instituto das Missões Estrangeiras de Yarumal, fundada recentemente por Dom Miguel Ángel Builes, bispo de Santa Rosa de Osos. O objectivo deste Instituto era preparar padres para serem enviados para as zonas mais carentes de assistência espiritual da Colômbia.
Os pais, profundamente crentes, receberam bem a notícia de que Jesús Emilio estava disposto a entrar no seminário. Não na diocese, mas no Instituto das Missões Estrangeiras de Yarumal, fundada recentemente por Dom Miguel Ángel Builes, bispo de Santa Rosa de Osos. O objectivo deste Instituto era preparar padres para serem enviados para as zonas mais carentes de assistência espiritual da Colômbia.
Em Fevereiro de 1929, com treze anos de idade, Jesús
Emilio começou a frequentar o Seminário Menor do Instituto das Missões Estrangeiras
de Yarumal. Naquela altura, este Seminário era frequentado por setenta rapazes,
acompanhados por cinco padres, mas todos estavam animados por um profundo sentimento
missionário, incutido pelo exemplo do fundador.
Jesús Emilio começou a mostrar as suas qualidades: tinha
uma bela voz; gostava de praticar desporto e dedicava, muito do seu tempo, à leitura.
Era de poucas palavras, excepto quando tinha de falar em público. Acima de
tudo, começou a destacar-se pela sua dedicação ao trabalho - cumprindo os seus
deveres com prontidão e alegria – à oração e ao estudo.
Em 1934, iniciou os estudos em ordem ao sacerdócio, frequentando
dois anos de Filosofia. Uma vez terminado o curso de Filosofia, começou o
noviciado. Três meses depois, no dia 3 de Dezembro de 1936, fez o seu primeiro
compromisso no Instituto: a promessa de obediência.
Entre 1937 e 1940, frequentou o Curso de Teologia. Se,
por um lado, se destacava como um grande orador nos principais eventos do
Seminário, por outro, procurava ser humilde, serviçal, amigo de todos,
merecendo, por isso, o respeito dos seus companheiros e dos seus educadores.
As várias etapas, no caminho para o sacerdócio, foram
superadas com dedicação e com simplicidade: a tonsura, as ordens menores, o
diaconado. Finalmente, foi ordenado sacerdote, no dia 1 de Setembro de 1940, e
celebrou a sua primeira missa (a missa nova) na igreja paroquial da sua terra
natal.
Depois de passar algum tempo com a sua família, o Padre
Jesús Emilio foi enviado, pelos seus superiores, para Sabanalarga, na época na
diocese de Barranquilla. Três semanas depois da ordenação, Jesús Emilio
escreveu ao Reitor do Seminário, Padre Aníbal Muñoz Duque, dizendo: "Creio
que agora o meu espírito está mais capaz de apreciar a grandeza da minha
vocação missionária. Sinto-me totalmente de Cristo. Sinto nascer nas minhas
entranhas um imenso amor pelas minhas ovelhas».
Esta experiência durou apenas quatro meses. Em 1941,
foi nomeado professor do Seminário. Ao mesmo tempo, foi capelão da Prisão Feminina
de Bogotá, onde fez nascer um grande fervor espiritual.
Orientou, também, muitos retiros para sacerdotes e leigos. Pregou muitos sermões, sobretudo por ocasião das solenidades litúrgicas da Semana Santa. Em suma, tornou-se um dos maiores oradores sacros do país. Além disso, exerceu a missão de director espiritual de muitos religiosos e seminaristas.
Orientou, também, muitos retiros para sacerdotes e leigos. Pregou muitos sermões, sobretudo por ocasião das solenidades litúrgicas da Semana Santa. Em suma, tornou-se um dos maiores oradores sacros do país. Além disso, exerceu a missão de director espiritual de muitos religiosos e seminaristas.
Entre 1942 e 1944 frequentou a Pontifícia Universidade
Saveriana de Bogotá, obtendo o doutorado em Teologia Dogmática com uma tese -
que obteve a mais alta classificação – intitulada "A liberdade de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Tomás de Aquino."
Aos trinta anos, o Padre Jesús Emilio foi nomeado
mestre de noviços. Ocupou esta função até ao primeiro Capítulo-Geral do Instituto,
em 1950, quando foi eleito Segundo Assistente do Superior -geral e Reitor do Seminário.
Os seus discípulos lembram da sua vitalidade –
continuava a praticar patinagem e ciclismo - e do seu riso aberto e cordial. Não
fugia das situações difíceis, mas fazia-se perto dos seus filhos que aspiravam
à missão. Quando estava em oração, o seu rosto era sereno, desprovido de afectações,
sinal de uma fé firme e segura.
Em 1956, depois do segundo Capítulo-Geral, foi
escolhido pelo novo Superior Geral, Monsenhor Gerardo Valencia Cano, como seu
Vigário Delegado, com as funções do Ordinário. Três anos depois, monsenhor Cano
renunciou ao cargo de Superior-Geral. Então, o Padre Jesús Emilio tornou
Superior-Geral do Instituto das Missões Estrangeiras de Yarumal
Neste período, os Missionários de Yarumal receberam o
primeiro convite para passar as fronteiras da Colômbia e partir em missão: África
foi o seu primeiro destino. Ao mesmo tempo, o Padre Jesús Emilio fundou o
Colégio Ferrini, em Medellín, em homenagem ao franciscano terciário e professor
universitário, Contardo Ferrini (beatificado em 1947). Durante muitos anos,
este colégio, foi um centro de excelência, dedicado à formação dos leigos.
O mandato do Padre Jesús Emilio como Superior-Geral deveria
durar dez anos; ele, porém, apressou-se a implementar as directrizes promulgadas
durante o Concílio Vaticano II, que limitava esta tarefa a um período de seis
anos.
Livre dos compromissos de governo do Instituto, serviu
a Conferência Episcopal da Colômbia, como Conselheiro, no Conselho Nacional de
Leigos. Retomou, também, a sua actividade de professor no Colégio Ferrini, de
Medellín.
Em 8 de Janeiro de 1970, morreu Monsenhor Luis Eduardo
García, Prefeito-Apostólico de Arauca e missionário de Yarumal. Pouco depois, a
Santa Sé elevou esta Prefeitura a Vicariato-Apostólico: o seu primeiro
Vigário-Apostólico foi o Padre Jesús Emilio, nomeado no dia 11 de Novembro de
1970.
No dia 10 de Janeiro de 1971, foi ordenado bispo, por
Monsenhor Ângelo Palmas, Núncio-Apostólico na Colômbia, com o título episcopal de
Strumizza. Como um lema, assumiu um versículo do profeta Zacarias (14, 5):
"Vigiai! O Senhor vem!”
No dia da sua Ordenação episcopal, rezou, assim, no
seu discurso: "Concede-me, Senhor, o dom imerecido de não desiludir as
esperanças daqueles que confiam na debilidade das minhas forças. Espero que se
tornem fortes como funda de David, apoiado pelo poder invencível da tua graça”.
Em 19 de Julho de 1984, o Vicariato de Arauca foi
elevado a Diocese: Dom Jaramillo tornou-se o seu primeiro bispo residencial. O
seu vasto território incluía duas regiões muito diferentes: as Planícies Orientais
e a floresta de Sarare. O bispo exerceu o seu novo ministério nessas áreas,
onde tinha recomeçado a violência armada contra os senhores que punham e
dispunham do povo. Entre o clero, Dom Jaramillo, encontrou, também, muitas resistências.
Para libertar o país da miséria e da opressão, alguns padres tornaram-se
guerrilheiros. Era evidente a descristianização, que avançava na Colômbia.
Monsenhor Jaramillo estava ciente de tudo isso:
trabalhou, arduamente, para proteger a vida e a dignidade dos seus fiéis.
Promoveu várias iniciativas em defesa dos direitos humanos, especialmente dos
pobres, sem perder de vista importância da Palavra de Deus. Criou novas paróquias
e fundou dois organismos especiais: o Instituto São José Operário, em Saravena,
para a formação humana e cristã dos camponeses, e a “Equipa do Índio”, para a evangelização
dos índios do Sarare.
Estas actividades não eram bem vistas pelas forças que
queriam libertar a Colômbia usando a violência, de modo especial o Exército de
Libertação Nacional (ELN). Surgiram muitos ataques difamatórios e muitas
calúnias. Outros acusavam-no de ser morno e medíocre, não perdoando os seus
erros humanos.
Monsenhor Jaramillo não se deixou perturbar e perdoou
aos que o ofenderam. Não se gabava dos dons recebidos e continuou com o seu treinamento
artístico e cultural. Continuou a proclamando o Evangelho, mesmo sabendo bem o
que poderia acontecer-lhe.
No Sábado, 30 de Setembro de 1989, Dom Jaramillo dirigiu-se
a La Esmeralda e dali, no dia seguinte, partiu para Fortul, onde era esperado
para a visita pastoral. No dia seguinte, foi para Puerto Nidio, também para a
visita pastoral. Estava acompanhado pelo Padre Rubin, pároco de Fortul, pelo Padre Leon, pároco de Zarabanda,
pelo Padre Helmer Muñoz, que conduzia o jipe, pelo seminarista Germán Piracoca
e pela secretária da Paróquia de Fortul.
Depois de atravessarem uma ponte de madeira, na
estrada entre Fortul e Tame, o veículo foi forçado a parar, por três homens
armados e vestidos como camponeses. Minutos depois, os três perguntaram quem
era Jesús Jaramillo Monsalve. O bispo respondeu. Com modos gentis, ordenaram
que todos saíssem do jipe e repetiram a mesma pergunta. Monsenhor Jaramillo
respondeu de novo que era ele. Naquele momento, disseram-lhe que precisavam
dele para que fizesse uma breve declaração a ser enviada ao Governo nacional.
Em seguida, perguntaram quem é que sabiam conduzir o jipe. O Padre Helmer deu
alguns passos em frente e logo percebeu que o Bispo estava prestes a ser
sequestrado. Os sequestradores, membros do ELN, ordenaram que todos se
colocassem na beira da estrada e partiram, seguindo primeiramente para o norte
e, depois, para leste.
Quando chegaram a um lugar isolado, por volta das sete
horas da tarde, fizeram-nos sair do jipe e disseram-lhes que deviam esperar
ordens dos seus superiores. Disseram ao Padre Helmer para se afastar, porque só
o bispo deveria ir com eles.
Perante a insistência do padre, que não o queria
deixar só, Dom Jaramillo chamou-o à parte e disse-lhe: "Coloquemo-nos nas
mãos do Senhor e que seja feita a Sua vontade”.
Dito isto, deram-se um ao outro a absolvição. O Bispo
pediu ao Padre Helmer que, por obediência, saísse dali, para não complicar as
coisas.
Até os sequestradores lhe ordenaram que se fosse
embora, prometendo que no dia seguinte voltariam com Bispo. Enquanto se
afastava, o Padre Helmer ouviu as últimas palavras de Monsenhor Jaramillo:
"Eu falo com quem devo falar mas, por favor, não façam nada ao meu rapaz".
Nas primeiras horas do dia 3 de Outubro, o Padre Helmer
veio à procura do seu Bispo, no lugar indicado pelos guerrilheiros. Por volta
das 8 horas, encontrou-o morto: tinha sinais de tortura e várias feridas feitas
por arma de fogo. Não tinha o anel episcopal nem a cruz peitoral; a corrente da
qual pendia tinha sido quebrada.
Através do então Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal
Agostino Casaroli, o Papa João Paulo II enviou as suas condolências à Conferência
Episcopal Colombiana, onde assegurava as suas orações para obter "o
descanso eterno à alma exemplar do zeloso Pastor, que dedicou toda a sua vida
ao serviço do povo de Deus, pregando a reconciliação e o amor cristão ".
Os restos mortais de Monsenhor Jesús Emilio Jaramillo
Monsalve foram sepultados na Catedral de Arauca. No dia 24 de Agosto de 2017,
foram exumados e colocados numa capela lateral, da mesma catedral.
No dia 7 de Julho de 2017, o Papa Francisco autorizou
a promulgação do decreto que declarava que o Bispo Dom Jesús Emilio Jaramillo foi
considerado mártir da fé.
Dom Jesús Emilio - juntamente com o Padre Pedro María
Ramírez Ramos - foi beatificado no dia 8 de Setembro de 2017, em Villavicencio,
pelo Papa Francisco, durante a sua visita apostólica à Colômbia.
Na Eucaristia, o Papa disse: “…A reconciliação não é
uma palavra que devemos considerar abstracta; se assim fosse, traria apenas
esterilidade, traria maior distância. Reconciliar-se é abrir uma porta a todas
e cada uma das pessoas que viveram a realidade dramática do conflito. Quando as
vítimas vencem a tentação compreensível da vingança, quando vencem esta
tentação compreensível da vingança, tornam-se nos protagonistas mais credíveis
dos processos de construção da paz. É preciso que alguns tenham a coragem de
dar o primeiro passo nesta direcção, sem esperar que o façam os outros. Basta
uma pessoa boa, para que haja esperança. Não esqueçais isto: basta uma pessoa
boa, para que haja esperança. E cada um de nós pode ser esta pessoa! Isto não
significa ignorar ou dissimular as diferenças e os conflitos. Não é legitimar
as injustiças pessoais ou estruturais. O recurso à reconciliação concreta não
pode servir para se acomodar em situações de injustiça. Pelo contrário, como
ensinou São João Paulo II, «é um encontro entre irmãos dispostos a vencer a
tentação do egoísmo e a renunciar aos intentos duma pseudo-justiça; é fruto de
sentimentos fortes, nobres e generosos, que levam a estabelecer uma convivência
fundada sobre o respeito de cada indivíduo e dos valores próprios de cada
sociedade civil» (Carta aos Bispos de El Salvador, 6/VIII/1982). Por isso, a
reconciliação concretiza-se e consolida-se com a contribuição de todos, permite
construir o futuro e faz crescer a esperança. Qualquer esforço de paz sem um
compromisso sincero de reconciliação será sempre um fracasso.
O texto do Evangelho, que ouvimos, culmina chamando a
Jesus o Emanuel, que significa Deus connosco. E como começa, assim termina Mateus
o seu Evangelho: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (28, 20).
Jesus é o Emanuel que nasce e o Emanuel que nos acompanha todos os dias, é o
Deus connosco que nasce e o Deus que caminha connosco até ao fim do mundo. Esta
promessa realiza-se também na Colômbia: D. Jesús Emilio Jaramillo Monsalve,
Bispo de Arauca, e o sacerdote Pedro Maria Ramírez Ramos, mártir de Armero, são
sinal disso, expressão dum povo que quer sair do pântano da violência e do
rancor.
Neste ambiente maravilhoso, cabe-nos a nós dizer «sim»
à reconciliação concreta; e, neste «sim», incluamos também a natureza. Não é
por acaso que, inclusive sobre ela, se tenham desencadeado as nossas paixões
possessivas, a nossa ânsia de domínio. Um vosso compatriota canta-o com primor:
«As árvores estão a chorar, são testemunhas de tantos anos de violência. O mar
aparece acastanhado, mistura de sangue com a terra» (Juanes, Minhas Pedras). A
violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, manifesta-se também
nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos
(cf. Francisco, Carta enc. Laudato si’, 2). Cabe-nos dizer «sim» como Maria e
cantar com Ela as «maravilhas do Senhor», porque, como prometeu aos nossos
pais, Ele ajuda todos os povos e ajuda cada povo, e ajuda a Colômbia que hoje
quer reconciliar-se e à sua descendência para sempre…”
A sua memória litúrgica faz-se no dia 3 de Outubro.